Educar para o saber? Para combater? Para ser uma melhor pessoa?
Este tema é recorrente para nós pela sua grande importância na construção e manutenção de uma comunidade e da sociedade como um todo.
Esta semana a parasha é Tetsavé, na qual Deus ordena a Moisés e Aarão como liderar, empodera os sacerdotes e detalha procedimentos do Templo, inclusive a vestimenta do Cohen. Uma ordem direta a Aarão é de que seja lá mantida uma luz permanentemente acesa - Ner Tamid - o que se mantém até hoje. Nossa chavurá mantém o fogo aceso, EshTamid.
É natural associar isto ao fato de a sinagoga ser um lugar que traz luz, um abrigo que ilumina quem o procura, onde há ou se sente a presença de Deus. O rabino e professor Jonathan Sacks disse que uma diferença importante entre a Grécia antiga e Israel é que os gregos acreditavam na santidade da beleza e os judeus falam da beleza da santidade, “hadrat kodesh”. A beleza tem poder e no judaísmo é um poder espiritual; poderia ser chamado de uma beleza moral. A espiritualidade judaica é mais sobre escutar do que olhar. Por isso cobrimos os olhos quando recitamos o Shemá Israel. Tiramos o mundo da vista e focamos no mundo do som, das palavras, da comunicação e do significado e não devemos deixar de valorizar o que expressamos.
Resulta inevitável associar a luz ao poder da educação porque é esta que, em tese, lembra o passado para consertar, no presente, o futuro; é ela que dissolve o pré-conceito e coloca informação e formação no seu lugar; é ela que pavimenta a convivência saudável e frutífera na sociedade.
Esta semana muito chamou a atenção e ocupou a mídia um episódio de comunicação no qual pessoas conhecidas, influenciadores e produtores de leis mostraram-se despreparados para uma discussão sobre nazismo: falou-se no suposto direito à liberdade de odiar um povo inteiro, de eliminá-lo… de cultivar e fomentar o ódio. Não só esse não é um direito como, de fato, é um crime perante a lei em vigor. Banalizar este tipo de discussão só tem audiência porque muitos no público não tiveram uma formação básica consistente e “compram” o peixe, vendendo-o pouco tempo depois como o compraram.
Muitos outros famosos e diversas instituições judaicas e não judaicas repudiaram as falas de incitamento, e o mais importante foi a rápida e veemente reação de parte do público que assiste ao programa e pressionou os patrocinadores a cortar o aporte financeiro; ainda houve o rápido posicionamento dessas empresas e do programa em si: patrocínio cortado e podcaster sumariamente demitido. Vozes dentro e fora da comunidade explicaram aos desavisados que o nazismo perseguiu e matou, além de judeus, muitas minorias como negros, homossexuais, deficientes… o pensador mais citado nos comentários destes dias foi Karl Popper por ter proferido o "paradoxo da intolerância: até que ponto a sociedade deve ser tolerante com os intolerantes?”
Assim acreditamos que a real e única arma contra a intolerância é a educação, a luz que ilumina discussões construtivas e, basicamente, tece a cultura.
Isso é exatamente a essência da Esh Ta na Midia, que foi criada para compartilhar fatos e opiniões que nos ajudem a todos a esclarecer, para ter os argumentos necessários para que nossos leitores possam também combater o antisemitismo local ou internacional.
A intolerância é global e existe em todas as partes, acontece fundamentalmente por ignorância e é assim que acaba com vidas de muitas maneiras diferentes, como aconteceu com Moise Kabagamba, refugiado congolês que fugindo da violência encontrou esta semana sua violenta morte aqui no Brasil.
Só educando para um mundo com mais conhecimento nos permite ser melhores. Educar para saber... para combater... procurando um Tikun Olam, um mundo melhor!
Ajudem-nos a fazer isso!
Boa semana a todos e Shabat Shalom!
Juliana Rehfeld e Marcela Fejes
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