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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Minha visita ao MUJ - Por Pedro Bandeira

 

Minha visita ao Museu Judaico de São Paulo

Colaboração do amigo Pedro Bandeira, escritor e jornalista.


Foto de Henrique Treumann


Caros amigos, visitei o Museu de Cultura Hebraica que fez voltar com força a minha certeza de que o povo Hebreu foi mesmo o pioneiro do registro do Conhecimento e de sua perpetuação ao longo de milênios, isso para todos os povos até a Modernidade.

Vamos a uma breve repassada na Antiguidade Oriental e do Norte da África pela época da formação e consolidação dos povos dessas regiões, coisa de quatro mil anos atrás.

Aceitamos que o primeiro povo a inventar a escrita, a princípio cuneiforme, foram os Sumérios. Muito bem, mas onde estão eles? Por que seus registros não se perpetuaram garantindo a continuidade de sua cultura? Onde estão seus descendentes? Cadê o “Povo” Sumério? Por que desapareceu? Palpito que isso ocorreu devido ao fato de que sua escrita limitava-se ao registro em pedra dos éditos dos governantes e pouco mais. Como carregar uma pedra ao mover-se? Bem difícil.

Tivemos também os Fenícios, criadores do primeiro Alfabeto. Por onde andam eles? Por que, ao moverem-se ao longo dos séculos, não carregaram consigo sua cultura? Não tinham como fazê-lo. Eles foram morrendo junto com sua História, sua moral, suas ideias, porque elas jamais foram registradas em um suporte que poderia ser transportado e protegido por seu povo em seus deslocamentos.

Houve também os Acádios, os Amoritas ou Babilônicos, os Assírios e os Caldeus, alguns deles que até formaram poderosos Impérios, belicosos exércitos e influenciaram o mundo a sua volta. Mas desapareceram todos, na medida em que perdiam seu poder e eram engolidos e absorvidos por culturas mais poderosas como as dos Gregos e logo dos Romanos.

Assim, ao perderem batalhas com muitas mortes, perderem suas terras e posses, foram forçados a moverem-se, a exilarem-se, e os sobreviventes de cada um desses povos não conseguiram reproduzir a própria cultura na diáspora a que foram forçados. Para sobreviver, a eles só restava adaptar-se e aos poucos permitir que a cultura do dominador sobrepujasse a sua maneira de ser. Até mesmo sua língua não resistia, acabando por ser assimilada à de povos mais cultos e que já registravam suas ideias e sua História, como os Gregos e os Romanos.

O povo Hebreu nem teve a ventura de ter sido um dia politicamente poderoso e sequer pôde contar com uma plena liberdade. Escravizado que foi pelo Babilônios e pelo Egípcios, por que com eles não se impôs o destino reservado aos derrotados? Não tenho dúvidas de que isso não aconteceu por ser este o primeiro Povo do Livro. Mesmo derrotado, mesmo escravizado, mesmo com boa parte de sua pequena população dizimada, somente eles carregavam sua História, suas crenças, seus costumes, sua moral e sua própria língua registrados e eternizados em um Livro. Tudo escrito não na pedra, mas em suaves peles de carneiro, tudo isso enrolado e sempre carregado nos ombros dos sobreviventes, que partiam para a diáspora mantendo íntegros todos os séculos de seu pensamento: a Torá.

No Museu, foi emocionante notar como até hoje esse povo preserva o respeito ao Livro, rigidamente, religiosamente, sabendo que, desde que mantenham o Livro, seu povo sempre existirá e se sentirá fortalecido, mesmo nos horrendos momentos em que mais uma nação vitoriosa tentou barbaramente eliminá-los da face da Terra. Mas cada judeu sabia que, ainda que apenas uma meia dúzia deles conseguisse sobreviver, algum terá levado nos ombros os rolos da Torá e a integridade de sua cultura se reproduziria alhures, com confiança.

Bem disse Ben Gurion, ao fundar o Estado de Israel: “Não foi o povo judeu que fez a Torá sobreviver. Foi a Torá que fez sobreviver o povo judeu”.

Para mim, que vivo de registrar ideias no papel, foi um momento de grande admiração verificar como esse povo tão ciosamente me ensinou como o respeito ao Livro é a única forma de garantir a sobrevida da Humanidade, à qual todos pertencemos.

Abração do Pedro

PS: Quem ainda não foi, vá ao Museu e, se já foi como eu, que volte para lá, sente-se num dos bancos e pense que você existiu, pôde progredir, pôde avançar, porque, bem antes de você, alguém lhe ensinou o mágico poder do Livro. De todos os livros.










10/02/2022

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