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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

VOCÊ SABIA? - Sinagoga de la Ghriba

 

Em tempos de muitas trevas e alguma luz nos horizontes judaicos, rumemos em direção à ilha de Djerba, na Tunísia, em busca de paisagens melhores.

Por Itanira Heineberg


Sinagoga El Ghriba (ou de la Ghriba) em Djerba, um oásis de coexistência pacífica no mundo árabe em atividade há mais de dois mil anos. 



Você sabia que a sinagoga de la Ghriba, templo judaico em Djerba - um dos principais marcos identitários dos judeus tunisianos e uma das comunidades judaicas mais antigas do mundo - conta uma bela história de convivência pacífica com muçulmanos e cristãos há mais de dois mil anos?

A ilha de Djerba, também conhecida como a ilha dos Cohanim (plural de Cohen, sacerdote), apesar de estar em uma região dominada por extremismo religioso mostra-se um exemplo de sucesso de integração pacífica entre judeus, cristãos e muçulmanos.

A vida dos judeus na Tunísia, há mais de dois mil anos segundo os historiadores, remonta à era púnica.

Seguindo a tradição local, os primeiros judeus de Djerba povoaram a ilha depois da destruição do templo de Salomão por Nabucodonosor II, em 586 a.C..

 

“Uma das portas desse templo teria sido incorporada à sinagoga de la Ghriba, que ainda hoje existe no centro da ilha.

Os judeus djerbanos reclamam-se descendentes de exilados de Jerusalém que foram para a ilha após a destruição do Templo de Salomão.

Segundo outras versões, os judeus ter-se-iam instalado em Djerba em 71 d.C., quando Jerusalém foi destruída por Tito. A comunidade viveu durante séculos praticamente isolada do resto do mundo judaico, «petrificada nas tradições hebraicas mais antigas».

A sinagoga de la Ghriba, situada na aldeia de Hara Sghira (oficialmente Er Riadh), 9 km a sul de Houmt Souk, é muito antiga e célebre entre os judeus de origem africana. A crer nos rabinos djerbanos, os primeiros judeus que chegaram à ilha levaram com eles alguns manuscritos das Tábuas da Lei, que salvaram das ruínas do Templo de Jerusalém destruído por Nabucodonosor, bem como algumas pedras daquele templo sobre as quais construíram o santuário.

Todos os anos, três semanas após a Páscoa judaica, a sinagoga atrai peregrinos vindos do mundo inteiro, principalmente da Europa e da África do Norte, que levam em procissão as Tábuas da Lei para o exterior da sinagoga, num baldaquino multicolorido.”


Mercado de Ajim em Djerba

Em 1976 algumas ruas de Ajim viraram cenários para rodagem do primeiro filme da saga Star Wars, Guerra das Estrelas.



Em 2016 Kristen Mc Tighe afirmou com confiança:

“Mezuzás estão pendurados nas portas, enquanto jovens usando quipás se reúnem nas esquinas das ruas de bairros empoeirados. Mulheres com saias longas e véus cobrindo os cabelos passam em frente a açougues kosher.

Aqui neste enclave isolado no meio do mundo muçulmano está Hara Kabira, a maior de duas vizinhanças judaicas no sul da ilha tunisiana de Djerba, onde judeus, cristãos e muçulmanos vivem e trabalham lado a lado pacificamente.

 

A comunidade tem resistido ao tumulto que abalou a região após a fundação de Israel, em 1948, e às mudanças após os levantes de 2011. Agora, com as atenções centradas na crescente onda de extremismo que tomou conta da região, a comunidade diz que sua intenção é ficar.

‘Pela graça de Deus, os judeus podem viver aqui e podemos nos multiplicar’, afirma Youssef Oezen, presidente da comunidade judaica de Djerba. A ilha viu sua população judaica – cujas raízes remontam ao exílio da Babilônia – cair de 5 mil em 1948 para menos de 700 em meados da década de 1990.

Mas, ao longo das últimas duas décadas, essa população começou novamente a crescer, aos poucos. Hoje, cerca de 1.100 judeus moram na ilha, segundo Oezen. Com a metade deles com menos de 20 anos, vivendo numa comunidade conservadora onde a regra é ter grandes famílias, ele afirma estar firme em sua crença de que esse número vai continuar a crescer.”

 

O muçulmano Madji Barouni, numa joalheira no antigo mercado de Houmt Souk, comenta: "Nós nos misturamos, respeitamos uns aos outros, essa é a situação normal".

Durante o dia, judeus trabalham ao lado de muçulmanos e cristãos como comerciantes em Houmt Souk, vendendo joias de ouro e prata, têxteis e suvenires. "Não há problemas", diz Barouni, no momento em que, ao fundo, se escuta a chamada para orações de uma mesquita nas proximidades.

Assim corre a vida para os judeus na Tunísia, onde 99% da população é muçulmana, de maioria sunita.

Apesar da integração com muçulmanos e cristãos, judeus preservam sua vida na comunidade judaica. Desfrutando relações amigáveis e cordiais com outros residentes da ilha, quando terminam seu trabalho a maioria dos judeus volta para casa, mantendo uma vida isolada em sua comunidade. Para os líderes judaicos, essa é uma forma de proteger tradições e resistir à assimilação. Apesar de sua resistência, a comunidade não escapou de todo o tumulto que atingiu a região nas últimas seis décadas.

 

“Em 2002, um caminhão cheio de gás propano atravessou as barreiras na sinagoga El Ghriba e explodiu em frente do lugar sagrado, cerca de duas dezenas de pessoas, principalmente turistas alemães, foram mortas no ataque reivindicado pela Al Qaeda.

Quando os tunisianos se rebelaram, em 2011 (Primavera Árabe), para derrubar Ben Ali, e islamistas subiram ao poder nas primeiras eleições livres, mais uma vez surgiu o medo de que os judeus tunisianos sofressem perseguições. Na sequência do levante, diversos cemitérios judaicos teriam sido violados, e foram reportados diversos incidentes contra a comunidade.

Mas, numa de suas primeiras medidas após subir ao poder, Rashid Ghannoushi, o chefe do Nahda, o principal partido islâmico da Tunísia, enviou uma delegação até os judeus em Djerba num esforço para assegurar à comunidade que ela seria protegida.

Hoje, os esforços do governo para proteger os judeus da ilha são visíveis. A polícia está estacionada nas entradas de Hara Kabira para monitorar quem entra e quem sai, e postos de segurança estão espalhados por toda a vizinhança."


Uma imagem de tolerância



E todo ano, no 33º dia do Lag Baômer, dia festivo no calendário judaico, entre Pessach e Shavuot, acontece a peregrinação anual judaica à ilha, quando judeus de todos os cantos do mundo para lá se dirigem, hospedando-se no albergue ao lado da famosa sinagoga durante a celebração das festas.

 

“Protegidos pela polícia armada tunisiana, judeus dançam e cantam em uma peregrinação de três dias à sinagoga El Ghriba, localizada em Djerba, a 500 km ao sul de Túnis.”

 

Assistamos agora a este bem feito vídeo, mostrando em detalhes a sinagoga que todos desejam visitar.

Aproveitemos para fazer uma peregrinação virtual a este templo sagrado estabelecido em um distante terrotório árabe onde os judeus são preservados e respeitados:  



Mapa da Tunísia com a ilha de Djerba à direita.


“Assim, nesta ilha-encruzilhada, as populações berberes, judeu-berberes, árabes, africanas islamizadas, negras, alguns turcos e mesmo velhos pescadores malteses se encontraram e viveram pacificamente, mas sem se misturarem. A barreira religiosa, apesar da proximidade das raças, constituiu um obstáculo quase intransponível e os casamentos, pelo carácter endogâmico, permitiram manter uma certa homogeneidade étnica.”       

— Salah-Eddine Tlatli, 1967[96], em seu Livro a Ilha dos Lotófagos (comedores de lótus).



Ponte de El Kantara, também chamada de calçada romana, que liga a ilha ao continente.

 

 

FONTES:

https://stringfixer.com/pt/Tunisian_Jew

https://www.dw.com/pt-br/um-o%C3%A1sis-de-coexist%C3%AAncia-pac%C3%ADfica-no-mundo-%C3%A1rabe/a-19280835

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/04/judeus-fazem-peregrinacao-anual-a-sinagoga-mais-antiga-da-africa.html

https://exame.com/mundo/judeus-fazem-peregrinacao-anual-a-sinagoga-mais-antiga-da-africa/

https://www.viajecomigo.com/2016/05/22/sinagoga-la-ghriba-djerba-tunisia/


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