Em tempos de
muitas trevas e alguma luz nos horizontes judaicos, rumemos em direção à ilha
de Djerba, na Tunísia, em busca de paisagens melhores.
Sinagoga El Ghriba (ou de la Ghriba) em Djerba, um oásis de coexistência
pacífica no mundo árabe em atividade há mais de dois mil anos. |
Você sabia que a sinagoga de la Ghriba, templo judaico em Djerba - um dos
principais marcos identitários dos judeus tunisianos e uma das comunidades
judaicas mais antigas do mundo - conta uma bela história de convivência
pacífica com muçulmanos e cristãos há mais de dois mil anos?
A ilha de Djerba, também conhecida como a ilha dos Cohanim (plural de
Cohen, sacerdote), apesar de estar em uma região dominada por extremismo
religioso mostra-se um exemplo de sucesso de integração pacífica entre judeus,
cristãos e muçulmanos.
A vida dos judeus na Tunísia, há mais de dois mil anos segundo os
historiadores, remonta à era púnica.
Seguindo a tradição local, os primeiros judeus de Djerba povoaram a ilha
depois da destruição do templo de Salomão por Nabucodonosor II, em 586 a.C..
“Uma das portas desse templo teria sido incorporada à sinagoga de la
Ghriba, que ainda hoje existe no centro da ilha.
Os judeus djerbanos reclamam-se descendentes de exilados de Jerusalém que
foram para a ilha após a destruição do Templo de Salomão.
Segundo outras versões, os judeus ter-se-iam instalado em Djerba em 71
d.C., quando Jerusalém foi destruída por Tito. A comunidade viveu durante
séculos praticamente isolada do resto do mundo judaico, «petrificada nas
tradições hebraicas mais antigas».
A sinagoga de la Ghriba, situada na aldeia de Hara Sghira (oficialmente Er
Riadh), 9 km a sul de Houmt Souk, é muito antiga e célebre entre os judeus de
origem africana. A crer nos rabinos djerbanos, os primeiros judeus que chegaram
à ilha levaram com eles alguns manuscritos das Tábuas da Lei, que salvaram das
ruínas do Templo de Jerusalém destruído por Nabucodonosor, bem como algumas
pedras daquele templo sobre as quais construíram o santuário.
Todos os anos, três semanas após a Páscoa judaica, a sinagoga atrai
peregrinos vindos do mundo inteiro, principalmente da Europa e da África do
Norte, que levam em procissão as Tábuas da Lei para o exterior da sinagoga, num
baldaquino multicolorido.”
Mercado de Ajim em Djerba Em 1976 algumas ruas de Ajim viraram cenários para rodagem do primeiro
filme da saga Star Wars, Guerra das Estrelas. |
Em 2016 Kristen Mc Tighe afirmou com confiança:
“Mezuzás estão pendurados nas portas, enquanto jovens usando quipás se
reúnem nas esquinas das ruas de bairros empoeirados. Mulheres com saias longas
e véus cobrindo os cabelos passam em frente a açougues kosher.
Aqui neste enclave isolado no meio do mundo muçulmano está Hara Kabira, a
maior de duas vizinhanças judaicas no sul da ilha tunisiana de Djerba, onde
judeus, cristãos e muçulmanos vivem e trabalham lado a lado pacificamente.
A comunidade tem resistido ao tumulto que abalou a região após a fundação
de Israel, em 1948, e às mudanças após os levantes de 2011. Agora, com as
atenções centradas na crescente onda de extremismo que tomou conta da região, a
comunidade diz que sua intenção é ficar.
‘Pela graça de Deus, os judeus podem viver aqui e podemos nos multiplicar’,
afirma Youssef Oezen, presidente da comunidade judaica de Djerba. A ilha viu
sua população judaica – cujas raízes remontam ao exílio da Babilônia – cair de
5 mil em 1948 para menos de 700 em meados da década de 1990.
Mas, ao longo das últimas duas décadas, essa população começou novamente a
crescer, aos poucos. Hoje, cerca de 1.100 judeus moram na ilha, segundo Oezen.
Com a metade deles com menos de 20 anos, vivendo numa comunidade conservadora
onde a regra é ter grandes famílias, ele afirma estar firme em sua crença de
que esse número vai continuar a crescer.”
O muçulmano Madji Barouni, numa joalheira no antigo mercado de Houmt Souk,
comenta: "Nós nos misturamos, respeitamos uns aos outros, essa é a
situação normal".
Durante o dia, judeus trabalham ao lado de muçulmanos e cristãos como
comerciantes em Houmt Souk, vendendo joias de ouro e prata, têxteis e
suvenires. "Não há problemas", diz Barouni, no momento em que, ao
fundo, se escuta a chamada para orações de uma mesquita nas proximidades.
Assim corre a vida para os judeus na Tunísia, onde 99% da população é muçulmana,
de maioria sunita.
Apesar da integração com muçulmanos e cristãos, judeus preservam sua vida
na comunidade judaica. Desfrutando relações amigáveis e cordiais com outros
residentes da ilha, quando terminam seu trabalho a maioria dos judeus volta
para casa, mantendo uma vida isolada em sua comunidade. Para os líderes
judaicos, essa é uma forma de proteger tradições e resistir à assimilação.
Apesar de sua resistência, a comunidade não escapou de todo o tumulto que
atingiu a região nas últimas seis décadas.
“Em 2002, um caminhão cheio de gás propano atravessou as barreiras na
sinagoga El Ghriba e explodiu em frente do lugar sagrado, cerca de duas dezenas
de pessoas, principalmente turistas alemães, foram mortas no ataque
reivindicado pela Al Qaeda.
Quando os tunisianos se rebelaram, em 2011 (Primavera Árabe), para
derrubar Ben Ali, e islamistas subiram ao poder nas primeiras eleições livres,
mais uma vez surgiu o medo de que os judeus tunisianos sofressem perseguições.
Na sequência do levante, diversos cemitérios judaicos teriam sido violados, e
foram reportados diversos incidentes contra a comunidade.
Mas, numa de suas primeiras medidas após subir ao poder, Rashid
Ghannoushi, o chefe do Nahda, o principal partido islâmico da Tunísia, enviou
uma delegação até os judeus em Djerba num esforço para assegurar à comunidade
que ela seria protegida.
Hoje, os esforços do governo para proteger os judeus da ilha são visíveis.
A polícia está estacionada nas entradas de Hara Kabira para monitorar quem
entra e quem sai, e postos de segurança estão espalhados por toda a vizinhança."
Uma imagem de tolerância |
“Protegidos pela polícia armada tunisiana, judeus dançam e cantam em uma
peregrinação de três dias à sinagoga El Ghriba, localizada em Djerba, a 500 km
ao sul de Túnis.”
Assistamos agora a este bem feito vídeo, mostrando em detalhes a sinagoga que
todos desejam visitar.
Aproveitemos para fazer uma peregrinação virtual a este templo sagrado
estabelecido em um distante terrotório árabe onde os judeus são preservados e respeitados:
Mapa da
Tunísia com a ilha de Djerba à direita. |
“Assim,
nesta ilha-encruzilhada, as populações berberes, judeu-berberes, árabes,
africanas islamizadas, negras, alguns turcos e mesmo velhos pescadores malteses
se encontraram e viveram pacificamente, mas sem se misturarem. A barreira
religiosa, apesar da proximidade das raças, constituiu um obstáculo quase
intransponível e os casamentos, pelo carácter endogâmico, permitiram manter uma
certa homogeneidade étnica.”
—
Salah-Eddine Tlatli, 1967[96], em seu Livro a Ilha dos Lotófagos (comedores de
lótus).
Ponte de El
Kantara, também chamada de calçada romana, que liga a ilha ao continente.
FONTES:
https://stringfixer.com/pt/Tunisian_Jew
https://exame.com/mundo/judeus-fazem-peregrinacao-anual-a-sinagoga-mais-antiga-da-africa/
https://www.viajecomigo.com/2016/05/22/sinagoga-la-ghriba-djerba-tunisia/
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