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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Editorial - Av, as inovações na agricultura em Israel e a revolução alimentar

 


Av não é só chorar! É também comer e rezar? 

Esta semana começou o mês hebraico de Av, “décimo primeiro dos meses na contagem desde a criação do mundo”, quinto dos onze meses do calendário desde o Êxodo do Egito. E a semana termina em 8, no qual, em 1929, foi criada a Agência Judaica para a Terra de Israel ou só Agência Judaica (Sochnut) e véspera do muito temido 9 de Av - Tishá be Av. 




Por que temido? Muitos acontecimentos trágicos são relatados neste dia, a começar pela destruição do primeiro templo em 586 a.e.c. e a coincidente (!) destruição do segundo templo no ano 70 já da nossa era. Teria sido nesse dia que Deus decretou que a geração do deserto não entraria em Canaã e em que houve expulsões dos judeus de muitos países da Europa… e o mês segue triste, sem comemorações. Só a partir do dia 15 começa uma espécie de trégua, com alguns bons momentos ao longo da história como a revogação de decretos punitivos romanos, e mesmo a criação, no mais recente ano de 1936, do Congresso Judaico Mundial. E ao fim, em 28 de Av, diz a Torá que Moshé desceu da montanha, quebrou as Tábuas da Lei e esculpiu outras novas, sendo que no dia seguinte subiu novamente e então recebeu as novas tábuas.

Em um calendário e manual agrícola hebraico encontrado nas escavações arqueológicas de Gezer este mês de Av é chamado o “mês do estio, verão”, da colheita das frutas de verão. 

Deus havia dito “Eu vou lhes dar as chuvas nas devidas estações para que a terra faça sua produção e as árvores deem seus frutos”, e em Devarim são listados os cultivos da terra de Israel, as sete espécies (Shivat Haminim) fornecidos à terra: trigo, cevada, uvas, figos, romãs, olivas e tâmaras (estas últimas também chamadas de mel). A colheita da primavera incluía várias ervas e legumes mas o principal eram o trigo e a cevada ao fim da colheita dos grãos em Shavuot. Diz Oded Borowski, em “Agriculture in Iron Age Israel”, de 1987, que nos princípios do assentamento dos israelitas o cereal mais importante era a cevada pela necessidade de estabelecer áreas de borda e que por causa da tolerância da cevada a condições difíceis, amadurece primeiro. E o autor atribui aos camponeses bíblicos várias inovações: terraços de plantação em larga escala, irrigação, restauração da fertilidade do solo.

Já o trigo, cuja cultura tem seu plantio limitado apenas a alguns terrenos com maior e melhor distribuição de chuvas (vales como o de Megido, o do norte do Jordão e Beth-Shan) amadurece mais tarde que a cevada e era colhido, de acordo com o Manual de Gezer, na sexta estação, até fim de maio. Mas e em Av, no verão? Era (e é) a temporada primordialmente das frutas. Depois de Shavuot, a maior parte da colheita era de uvas, olivas, tâmaras, figos, romãs e numerosas outras frutas, sementes e vegetais. Estes últimos aparentemente tinham menor presença na dieta da época em Canaã devido ao terreno escarpado, “em contraste com os irrigados jardins de vegetais do Egito”. A colheita da primavera era mais proteica que a do verão, mais cheia de vitaminas…



E a cada estação de colheita havia uma comemoração. O Festival do vinho novo só ocorria 7 semanas após Shavuot e ninguém estava autorizado a tomar suco antes antes do novo vinho ser anunciado. E havia também o festival do novo azeite de oliva, 14 semanas após Shavuot. 

A tabela a seguir, da página 37 do referido livro mostra as estações de colheita herdadas e mantidas hoje em Israel.



É interessantíssimo estudar como a natureza e a contagem do tempo foram determinando as crenças e tradições ancestrais. A dependência das condições climáticas foi determinante para os hábitos e dietas que chegaram a nossos dias. 

Mas o aumento da população, a péssima distribuição de renda trazendo insegurança alimentar, a evolução dos princípios alimentares (vegetarianismo, veganismo…) e ainda, acima de tudo, a terrível e concreta ameaça climática vêm alterando a relativa importância das “condições naturais”. O que você quer comer, quanto, quando e onde começam a ser decisões bem diferentes: é a tecnologia de alimentos em ação e Israel tem um papel muito ativo, importante e valioso nisso!

Com o crescimento do movimento para alimentos baseados em plantas (e assim, kosher)  Israel está se tornando um líder global no mercado alternativo de proteínas, o qual pode mudar os hábitos alimentares das pessoas em todo o mundo. 

A “ foodtech” Tnuva, a maior do setor alimentício de Israel, inaugurou recentemente um novo centro de pesquisa focado em proteína alternativa, com um investimento de cerca de 12 milhões de dólares, sendo que as 8 “startups” trabalhando nisso devem crescer para 40 nos próximos anos. Alimentos baseados em plantas usam proteínas originárias de vegetais para criar produtos que contêm teor proteico similar ao de suas contrapartes em carnes, peixes ou laticínios, mas continuam puramente vegetais; e com isso reduzem significativamente as emissões de gases de efeito estufa dos rebanhos, o que no caso dos EUA, por exemplo, já representam quase 8% do total de emissões.

O mercado de alimentos à base de plantas atingiu o patamar mundial de 20 bilhões de dólares, já o negócio dos produtos sem laticínios deve chegar a 38 milhões de dólares em 2024. 

Há 28 laboratórios ativos em Israel pesquisando novos alimentos, segundo o Good Food Institute, e o país fica atrás apenas dos EUA no cenário mundial em termos da quantidade de empresas de agricultura celular e de fermentação.

Agricultura celular é a produção de alimentos de origem animal, mas feitos a partir da cultura de células - e das células cultivadas são fabricados produtos similares sem precisar criar ou matar animais. 

Já a fermentação de precisão usa micro-organismos para produzir ingredientes com funções específicas a partir de pequenas fábricas. É assim que se produz insulina para diabéticos, coalho para queijo, bem como outras eficientes específicas proteínas, enzimas, “moléculas de sabor”, vitaminas, pigmentos e gorduras.

É pouco? A startup /foodtech SavorEat produz carnes alternativas à base de plantas em impressoras 3-D, e acabou de lançar esta semana novos burguers de peru e croquetes de porco kosher, veganos, sem glúten e antialérgicos, que vêm se juntar aos já vendidos em Israel, e que serão em breve colocados no mercado americano. O processo combina a impressão 3-D, com cartuchos que contêm ingredientes à base de plantas embrulhadas em uma inédita fibra de celulose que envolve os ingredientes criando uma textura similar à carne. 

Esta fibra foi desenvolvida pelo Prof. Oded Shoseyov e pelo Prof. Ido Braslevsky, pesquisadores na empresa de desenvolvimento de pesquisa Yissum da Universidade Hebraica de Jerusalem e eles se tornaram sócios da empreendedora Rachel Vizman, hoje CEO, para criar a SavorEat em 2018, em Rehovot. Eles desenvolveram também um Chef-robô que cozinha os croquetes ou burguers sob especificação, acrescentando “pitadas” de proteína, gorduras, celulose, água bem como essências e colorante para então serem fritos ou grelhados, emitindo inclusive os mesmos ruídos e odores da carne em preparo! 

A empresa lançou ações na Bolsa de Tel Aviv em novembro de 2020 e levantou 13 milhões de dólares de investidores israelenses. Outra empresa, a Plantish, imprime salmão vegano em impressora 3-D e recentemente captou 12 milhões de dólares em fundos, enquanto a Redefine Meat, que produz, também por impressão tridimensional, cortes de carneiro, bife bovino, burguers, salsichas, kebabs de carneiro fornece a cerca de 200 restaurantes e outros estabelecimentos (inclusive alguns com estrela Michelin), e fechou acordo com o gigante grupo Selina de hospitalidade/hospedagem, para fornecer a 150 locais no mundo, começando por Tel Avis e Londres. Há pouco a Redefine Meat captou 135 milhões de dólares para expandir a linha de produtos em Israel e na Holanda.

Bem, você está com fome? Quer comer comida kosher, saudável, politicamente correta, mas não quer perder o sabor e o aroma? Em qualquer estação do ano, com qualquer condição, em algum lugar perto de você deve ser cada vez mais fácil de achar, qualquer comida, MADE ou THOUGHT in ISRAEL . 

Bom apetite!

Shabat Shalom!

Juliana Rehfeld


*Inspirado por material recebido de Cláudia Werner


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