Após uma
tragédia familiar, como sobreviver entre inimigos?
“My Name is
Sara”, uma história verdadeira...
Por Itanira Heineberg
Você sabia
que esta menina polonesa escapou do extermínio do gueto de judeus em sua cidade,
perdeu sua família e refugiou-se nos campos até chegar à Ucrânia, onde foi
acolhida por uma família de agricultores enquanto passava-se por cristã
ortodoxa?
No início do
Holocausto, Sara Góralnik ficou órfã aos 12 anos pelas mãos dos nazistas,
conseguiu fugir do gueto para o país vizinho levando consigo a identidade de
uma amiga e quando acreditou estar finalmente a salvo, descobriu que o casal que
a aceitou como babá de seus filhos não era um porto seguro.
Esta história
real, de uma jovem que nos piores dias da Segunda Guerra nunca pôde dizer seu
nome pois isto já seria uma confissão aos soldados alemães, está sendo contada
no filme “My Name is Sara” que recebeu o Grande Prêmio do Festival de Filmes
Judeus de Varsóvia em 2019 e só agora aparecerá nos cinemas das grandes
capitais do mundo devido à ocorrência inesperada da pandemia.
O filme tem
recebido as mais variadas críticas, algumas muito positivas e outras muito
negativas. Não nos deteremos aqui neste detalhe, pois foi a decisão do filho de
Sara que o levou a ser produzido. É mais uma história do Holocausto e Mickey
Shapiro surpreendeu-se ao descobrir as agruras de sua mãe durante a ocupação
nazista em Korets, cidade polonesa, hoje ucraniana.
Mickey, filho
mais velho de Sara G. e Asa Shapiro, pouco sabia dos sofrimentos de sua mãe
durante o Holocausto. Ela pouco falava, nada contando dos episódios cruéis e
chocantes pelos quais passara em sua juventude.
Mas nos
últimos dez anos de vida sua história veio à tona e Sara passou a falar sobre
sua infância agradável em Korets, onde frequentava a escola pública, tinha
amigos judeus e não judeus e falava iídiche em casa. De sua família de 6
pessoas, os pais e três irmãos, ela foi a única com vida ao final da guerra.
Sua sobrevivência deveu-se muito à sua agilidade, ou quem sabe à habilidade em
manter-se firme ao tomar decisões certas ou não a cada nova situação que se apresentava.
Muitos desafios para uma menina tão jovem, subitamente jogada numa realidade
muito diferente da que conhecera até então. Com a chegada dos alemães em sua
cidade e a prisão dos judeus no gueto, os pais pagaram conhecidos para cuidar
de Sara e do irmão mais velho, Moishe, caso algo lhes acontecesse. Os jovens fugiram
para a casa de seus futuros cuidadores e a família ficou em casa com os filhos
menores onde foram exterminados junto a todos os companheiros do gueto.
Ao chegarem
aos seus futuros guardiões, Sara e Moishe não foram bem recebidos e ao
descobrirem a morte de seus pais, resolveram fugir.
Moishe
preferiu separar-se da irmã pois ele seria mais facilmente identificado como
judeu, e realmente não se salvou.
Sara roubara
a identidade de sua amiga Manya Romanchuk e, escondendo-se na floresta,
conseguiu chegar à Ucrânia apresentando-se como cristã ortodoxa ao pedir
trabalho a uma família de agricultores onde, apesar das desconfianças e
perguntas traiçoeiras de seus novos patrões, trabalhou cuidando de seus dois
filhos.
Mais uma vez Sara depara-se com desafios inimagináveis como frequentar a missa aos domingos, confessar-se com o pastor da igreja, receber a comunhão, comportar-se como uma cristã devota. Para completar o quadro preocupante de sua nova vida, a jovem menina descobre os problemas de relação entre os familiares da fazenda e o apoio por eles dispensado aos nazistas.
Mickey ficou enlevado
ao ouvir a história de sua mãe e quis contá-la ao mundo. Contactou Steven
Oritt, famoso diretor de documentários que já conhecia a história de Sara, e
atuou como diretor-executivo do filme acelerando assim sua produção.
Sara e Asa
deixaram gravadas longas entrevistas sobre suas experiências durante o
Holocausto que podem ser encontradas no United States Holocaust Memorial
Museum, em Washington D.C.
Temos aqui
uma entrevista emocionante de Sara relatando como foi a difícil separação da
família e sua fuga até a Ucrânia.
Sara (Guralnik) Shapiro com seu filho, Mickey Shapiro, em um campo de pessoas deslocadas em 1948, após sobreviver ao Holocausto. - Cortesia de Mickey Shapiro |
Fica aqui
mais uma história guardada durante muitos anos no coração de uma mulher
valente, lutadora, heroína de tempos difíceis, que felizmente chegou até nós
devido à admiração e amor de seu filho ao redescobrir sua verdadeira mãe já no
final de sua vida.
Muitos
sobreviventes relutaram em contar suas histórias de dor e angústia durante a
ocupação nazista na Europa e a perseguição aos judeus, mas a cada relato que vem
ao nosso conhecimento vem também a história verdadeira deste período negro e
imperdoável do Holocausto, e uma mensagem de Nunca Mais.
Apresentamos
abaixo um curto trailer (1:52) do filme em pauta, produzido por USC Shoah
Foundation.
FONTES:
https://www.rottentomatoes.com/m/my_name_is_sara
https://www.adorocinema.com/filmes/filme-278245/criticas/espectadores/#review_1008191906
https://www.rogerebert.com/reviews/my-name-is-sara-movie-review-2022
https://sfi.usc.edu/storytelling/my-name-sara
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