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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

VOCÊ SABIA? - Duas Religiões, Dois Profetas; Uma Crença em D’us e no Valor do Ser Humano

 

Por Itanira Heineberg


“Racismo é satanismo, mal absoluto.

Você não pode adorar a Deus e ao mesmo tempo olhar para o homem como se ele fosse um cavalo.”

Abraham Joshua Heschel


Rabino Abraham Joshua Heschel, segundo da esquerda e Dr. Martin Luther King, ao centro, participando de um protesto contra a guerra do Vietnam na tumba do soldado desconhecido  no cemitério de Arlington, 6 de fevereiro de 1968.

Rabino Maurice Eisendrath segura a Torah. (Charles Del Vecchio/The Washington Post via Getty Images)


Você sabia que Joshua Heschel (1907-1972), sobrevivente do Holocausto, teólogo, filósofo, erudito, profeta de nossos dias associado ao movimento conservador do Seminário Teológico Judaico, experimentou um espanto radical – “radical amazement”, ou seja, uma experiência única, particular, jamais mencionada por nenhum movimento ou denominação?

Heschel, nascido na Polônia e refugiado nos Estados Unidos, uniu-se ao Dr. Martin Luther King na luta contra o racismo americano.

O primeiro encontro dos religiosos aconteceu em 1963, em Chicago, na conferência “Religião e Raça”, organizada pela Conferência Nacional de Cristãos e Judeus.

 

King em seu discurso disse:

“As igrejas e sinagogas têm a oportunidade e o dever de erguer suas vozes como uma trombeta e declarar ao povo a imoralidade da segregação. Devemos afirmar que toda vida humana é um reflexo da divindade, e todo ato de injustiça estraga e desfigura a imagem de Deus no homem. A filosofia subjacente da segregação é diametralmente oposta à filosofia subjacente de nossa herança judaico-cristã, e toda a dialética dos sensatos não pode fazê-los se enfileirarem juntos.”

 

Heschel, após King, abriu seu discurso trazendo o público para uma narrativa bíblica dramática:

Na primeira conferência sobre religião e raça, os principais participantes foram Faraó e Moisés…. O resultado dessa reunião de cúpula ainda não chegou ao fim.

Faraó não está pronto para capitular. O êxodo começou, mas está longe de ser concluído. Na verdade, era mais fácil para os filhos de Israel cruzar o Mar Vermelho do que para um negro atravessar certos campi universitários.”

 

Cornel West chamou o discurso de Heschel a mais forte condenação ao racismo por um homem branco desde William Lloyd Garrison. Este discurso eletrizou o público.

 

“A religião não pode coexistir com o racismo: é uma grave violação do princípio religioso fundamental de não matar. O racismo é a humilhação pública, que é condenada no Talmud como equivalente ao assassinato: “Deve-se antes cometer suicídio do que ofender uma pessoa publicamente”.

 

Mas Heschel avança em suas atividades e descobertas e chega à maravilha ou espanto radical, através da adoração e admiração pelo Criador.

O homem atual esquece as maravilhas da Criação. Está absorvido por seus negócios, realizações materiais, os olhos fechados para a Natureza e sua perfeição.

Isto apesar de rezarmos o Barechu, todas as sextas-feiras durante o serviço religioso - “Ilumina nossos olhos para que vejamos teu poder orientador em toda a natureza, desde a longínqua estrela até o íntimo de nossa alma.”

Mas deixemos Heschel falar e nos despertar:


Um experimentalista religioso


A maneira mais segura de suprimir nossa capacidade de entender o significado de Deus e a importância da adoração, é tomar as coisas como certas.

A indiferença à maravilha sublime de viver é a raiz do pecado. Maravilha ou espanto radical é a principal característica da atitude do homem religioso em relação à história e à natureza. Uma atitude é estranha ao seu espírito: tomar as coisas como certas, encarar os acontecimentos como um curso natural das coisas. Encontrar uma causa aproximada de um fenômeno não é a resposta para sua maravilha final. Ele sabe que existem leis que regulam o curso dos processos naturais; ele está ciente da regularidade e do padrão das coisas. No entanto, tal conhecimento falha em mitigar sua sensação de perpétua surpresa com o fato de que existem fatos.

À medida que a civilização avança, a sensação de admiração diminui. Tal declínio é um sintoma alarmante de nosso estado de espírito. A humanidade não perecerá por falta de informação; mas apenas por falta de apreciação. O começo de nossa felicidade está na compreensão de que a vida sem admiração não vale a pena ser vivida. O que nos falta não é vontade de acreditar, mas vontade de admirar.

A consciência do divino começa com a admiração. É o resultado do que o homem faz com sua incompreensão superior. O maior obstáculo a essa consciência é nosso ajuste às noções convencionais, aos clichês mentais. Maravilha ou espanto radical, o estado de desajuste com palavras e noções, é, portanto, um pré-requisito para uma consciência autêntica daquilo que é.

O espanto radical tem um alcance mais amplo do que qualquer outro ato do homem. Enquanto qualquer ato de percepção ou cognição tem como objeto um segmento selecionado da realidade, o espanto radical refere-se a toda a realidade; não apenas ao que vemos, mas também ao próprio ato de ver, bem como a nós mesmos, aos eus que veem e se surpreendem com sua capacidade de ver.

A grandeza ou mistério do ser não é um enigma particular para a mente, como, por exemplo, a causa das erupções vulcânicas. Não precisamos ir até o fim do raciocínio para encontrá-lo. Grandeza ou mistério é algo com o qual nos deparamos em todos os lugares e em todos os momentos.

Até o próprio ato de pensar confunde nosso pensamento, assim como todo fato inteligível é, em virtude de ser um fato, embriagado com desconcertante indiferença. O mistério não reina no raciocínio, na percepção, na explicação? Que fórmula explicaria e resolveria o enigma do próprio fato de pensar?”

 

--Rabino Abraham Joshua Heschel


A descoberta do espanto radical proclamado por Herschel abriu meus olhos, ou talvez, me fez estremecer, me sacudiu.

Que grande verdade é “não tomar as coisas como certas” ou “do not take things for granted”.

Onde está nossa admiração pela realidade total?

Como não perceber o “enigma do próprio fato de pensar”?

Devemos levar em conta os mistérios da vida e do universo e sempre agradecer por tudo que vivemos e recebemos, conscientes de toda a realidade que vemos e do próprio ato de ver.



Ao limpar a mesa onde minhas netas haviam comido frutas, minha ajudante encantou-se com um caroço ou semente desconhecida. Presa por sua admiração e espanto, Cida enfiou a semente num vasinho com terra e passou a observá-lo com carinho, água e sol.

Tempo depois ficou extasiada ao encontrar duas folhinhas na ponta de uma minúscula e delgada haste. Que alegria!

Passou então a vibrar a cada dia com o desenvolvimento de sua nova criação. E toda a família também! Tudo tão perfeitinho, delicado, cores suaves.

Foi um momento de descoberta, admiração, espanto e felicidade para todos nós. Era o começo de um pé de lichia. E motivo para muita conversa e apreciação.



FONTES:

https://www.plough.com/en/topics/community/leadership/two-friends-two-prophets

https://www.jta.org/2023/01/15/opinion/on-one-foot-five-essential-things-to-know-about-abraham-joshua-heschel-on-his-50th-yahrzeit?utm_source=JTA_Maropost&utm_campaign=JTA_DB&utm_medium=email&mpweb=1161-52884-141166

https://www.jta.org/2023/01/15/opinion/on-one-foot-five-essential-things-to-know-about-abraham-joshua-heschel-on-his-50th-yahrzeit

https://www.awakin.org/v2/read/view.php?tid=1080

https://www.sourcesjournal.org/articles/books-radical-amazement

Um comentário:

  1. https://topicosprofeticos.blogspot.com/2023/02/a-duracao-de-uma-geracao-biblicamente.html?m=1
    Última geração cristã = Lucas 21:32 = 40 anos = 1990 d.c. + 40 anos = 2030 d.c.

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