Tribo perdida das estepes, uma comunidade de 2000 anos à beira de desaparecer.
Por Itanira Heineberg
Multidão de
judeus de Bukhara, 1890. Desde a
década de 1990, milhares partiram para Israel. |
Você sabia
que os judeus bucaranos do Uzbequistão, em número de 20.000 meio século atrás, estão
desaparecendo?
Em setembro
2023 a revista The Economist relatou a história desta tribo de judeus orientais
do Uzbequistão:
“Ao por do
sol de uma sexta-feira recente, o canto de oração ecoou em torno dos azulejos
azul-turquesa de Bukhara, a antiga cidade uzbeque que os muçulmanos consideram
a mais sagrada da Ásia Central. No entanto, não veio de uma mesquita ou
madrassa, mas de uma sinagoga.”
Há mais de 2.000
anos os judeus vivem naquela cidade, um oásis localizado na antiga e conhecida
Rota da Seda (mapa abaixo).
Fato
relevante e recorrente entre os judeus da diáspora, eles têm cultura e língua
distintas, o Bukhori, ou seja, um dialeto do persa. Infelizmente a comunidade
está diminuindo rapidamente em números e pode desaparecer em pouco tempo.
Durante o
governo da União Soviética, estes 20.000 judeus de Bukhara e outros mais 20.000
viviam espalhados pela Ásia Central – porém, atualmente, não há mais do que uma
centena na cidade e outras centenas em todo o Uzbequistão.
Abraham
Iskhakov, 73 anos de idade e cantor da sinagoga quatrocentona da cidade,
lastima o fato de serem muito poucos os judeus ali residentes. Desde a morte do
rabino há cinco anos ele tem conduzido os serviços religiosos da comunidade, na
falta de um substituto.
Conta a
tradição local que os judeus vieram para Bukhara em 538 BC, após serem
libertados do jugo na Babilônia.
Mais judeus
artesãos se dirigiram a Bukhara no século XIV ao serem convidados pelo
imperador Tamerlane a viverem em suas terras e a comunidade floresceu com a
chegada de artistas e comerciantes.
Ishkakov
relata os ensinamentos de seu pai ao dizer que judeus e muçulmanos são irmãos
pois o pai de ambos é Abraão. Mas, segundo ele, pairava sempre no ar a sensação
de que judeus eram pessoas de segunda classe no reino muçulmano pois as portas
de entrada de suas casas eram todas rebaixadas do nível da rua para mostrar que
judeus deviam se curvar antes de entrar em casa.
Após a
revolução russa, os comunistas donos do poder trataram todas as religiões com
desdém. A maioria das sinagogas foi fechada e somente os velhos ainda podiam
orar nas que sobraram.
Sinagoga de Bukhara |
Em 1970 os
comunistas permitiram a emigração para Israel e assim o êxodo teve início,
acelerado com a queda da União Soviética em 1991.
Rabino
Babayev abençoou muitas famílias que partiram para fazer a Aliyah (imigração de
um judeu para Israel). Em 1997 também ele se foi.
A diáspora
contabiliza aproximadamente 200.000 judeus de Bukhara entre Israel e Estados
Unidos.
O rabino
voltou algumas vezes ao país para alguns serviços religiosos, mas a
septuagenária Marusya Malkyieva que havia imigrado para Israel voltou para
sempre à sua terra natal. Ela conta que reservou sua cova ao lado da de sua
mãe, no cemitério judaico que agora é muito bem cuidado por um muçulmano.
Mas seu
filho, em Israel, telefona, reclamando que não encontra maridos aceitáveis para
suas 3 filhas em Bukhara.
Judeus bucaranos em NYC. |
FONTES:
http://www.anussimbrasil.com.br/news-detalhes/475/os-judeus-bukharim-
https://herancajudaica.com/2017/11/05/judeus-de-bukharan/
https://www.economist.com/asia/2023/09/07/uzbekistans-bukharan-jews-are-disappearing
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