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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Perseverança

 


Perseverança

         No mundo da literatura tem uma lenda tão asquerosa que me arrepia sempre que penso nela. Camões sofreu um naufrágio (na verdade, ele tripulava um barco que foi devorado pelo mar)...

Naquele clima de barata-voa, no corre-corre do “deusnosacuda”, ele correu para salvar “Os Lusíadas”, e deixou sua “amada” Dinamene, uma Alfonsina ancestral, ter como tumba a pacífica imensidão azul...

         Se essa história torta sobreviveu a todos os cataclismas, ainda hoje sendo contada de boca em boca, é que muita gente acredita que essa incivilidade traiçoeira seja um ato de heroísmo travestido.

Eu, tão ufanista como qualquer Policarpo, sempre admiro as vantagens brasileiras, desde suas raízes também lusitanas. Admirar Camões já é pedir demais!

         Sabe, não me importa que o cidadão escreva os maiores tesouros da última flor... Ele é um lixo de ser humano! Pelo menos ele perdeu um olho na confusão... Camões, o caolho d’Os Lusíadas, que deixou a covardia vencer e perdeu o mais valioso tesouro...

         Mas a gente nunca pode desistir de buscar o entendimento... Lixo também aduba!

Ao que parece, ele se arrependeu. A partir daquilo, sua pena começou a homenagear o Amor. Igual um lobo, uivando para a Lua, ele parece, nos versos dos sonetos, procurar o olhar de sua Dinamene... Olhar submerso, salgado... Lágrimas e mar... Quanto do sal que tempera o mar são lágrimas portuguesas?

         Se pelo menos o tempo voltasse... Mas ele é implacável! Tão grande Amor para tão curta vida! Séculos depois, um outro poeta português, esse sim, enorme em honra e sensibilidade, parecia dialogar com Camões, perguntando:  “Valeu a pena?”...

         Soneto 29 de Camões. De verdade! Nunca li nada tão lindo! O tema é conhecido... Jacó trabalhava para Labão. Amava Raquel. Depois de sete anos, Labão o fez casar com Lia... E Jacó perseverou por outros 7 anos buscando os favores de Raquel, e dizendo que, feliz, ainda trabalharia mais sete se “Para tão longo amor, (não fora) tão curta a vida!”

         Camões, o caolho arrependido! Daria tudo para voltar no dia fatal. Lá seria perdido o maior poema épico ocidental desde a Antiguidade! Os argonautas se perderiam nas brumas do olvido... O velho do Restelo se calaria... O gigante Adamastor ruiria...

         Nesse dia, Dinamene, como uma Raquel, como uma matriarca amorosa e bela, perdoaria... O perdão de quem enxerga.

         No fim, ela teria essa beleza da mulher...

Perseverança e perdão!

André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University.  Comendador Cultural. Escritor e Professor.

www.andrenaves.com 

Instagram: @andrenaves.def

 


ACONTECE: Hillel

 



Antes de visitarmos os fatos e discussões mais recentes em Israel, abaixo, quero falar brevemente do que faz a diferença aqui fora do país: ontem foi lançado o ramo São Paulo da Fundação internacional HILLEL, organização universitária judaica. Estabelecida em 1923 em Illinois por Benjamim Frankel, ela cresceu e se expandiu para 80 localidades nos Estados Unidos e mais 16 países em 4 continentes no mundo. No Brasil, há 20 anos está no Rio de Janeiro e, agora (só agora!), chegou a São Paulo. O que ela promove? Informação e oportunidades de estudo incluindo bolsas, viagens guiadas a Israel, eventos de intercâmbio e comemorações das festas judaicas… mas, em resumo, e sobretudo, CONEXÃO de jovens judeus com o judaísmo, com Israel e entre eles e elas. Fiquei impressionada com a “vibração” que senti nesta instituição que afinal é canal fundamental de entrada, de alimentação das nossas instituições que há muito, eu sinto, carecem desta energia para se manterem vivas e atuantes. Nestes tempos de antissemitismo crescente e complexo isto se torna mais importante ainda. E, com isto em mente, a fundação convidou para o lançamento ontem seu xará, Hillel Neuer. 



Este é um obstinado e brilhante ativista que comanda o UN Watch, ONG que monitora a Comissão de Direitos Humanos da ONU, e seus movimentos. Há 30 anos ele vem denunciando ações, resoluções e informações antissemitas em tribunas sempre hostis que tentam continuamente, mas com pouco sucesso,  calá-lo. Eu já escrevi sobre ele aqui, e na Internet há muito material sobre sua luta, seus discursos e ações. A atual difícil batalha - expressa no abaixo-assinado neste link - é contra a reeleição, para a presidência da Comissão, da Francesca Albanese, que é expressa e publicamente antissemita. 

O que ele trouxe de novo agora é que eles tiveram acesso a documentos de  comunicação interna do Hamas, da Jihad Islâmica e da UNRWA - Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente - surpreendentes mas reais, material explosivo a ser denunciado na imprensa global… ele disse: “já estamos sendo acusados de inventar calúnias junto com o governo americano e o Mossad, mas agora temos como mostrar a fonte que são de autoria desses mesmos! “. Vamos aguardar alguns dias para o lançamento desta divulgação, vou trazer informações aqui neste espaço…

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Enquanto ressoam sirenes e bombardeios, Israel se debate com o dilema estratégico: o que vem a seguir em Gaza? Abaixo um podcast que analisa as opções a serem avaliadas das medidas que Israel pode tomar e suas respectivas consequências. Clicando duas vezes e indo para o YouTube, você pode selecionar a legenda que preferir.




Ainda sobre as notícias em Israel, ou melhor, em Gaza, as manifestações sem precedentes já duram dias, e mesmo sofrendo perseguições e tendo um dos líderes assassinado, os manifestantes são  barulhentos. Hamas, é claro, alega que Israel é quem está sendo criticado mas é fácil ouvir o que eles gritam… eles não absolvem Israel mas muitos pedem que “Israel mate o Hamas e não a eles…”. Manifestantes de várias idades declaram que o regime do Hamas deve terminar. Há notícias e imagens (pesadas) de membros do Hamas sendo executados mas a triste imagem é a do líder dos manifestantes de apenas 22 anos, Oday Nasser Al Rabay, que foi torturado e morto na terça feira. Aparentemente mais alguns caíram hoje, mas está ficando difícil ao movimento terrorista se manter firme.


Juliana Rehfeld