Por Juliana Rehfeld
Mais uma semana em que esperamos por um acordo de cessar-fogo em troca de recebimento de reféns porque há muitos sinais disso. E basicamente o mundo está exausto dessa guerra, não há perspectiva nenhuma de que a situação melhore com a continuação dos bombardeios, das mortes, com as declarações estúpidas dos ministros de extrema direita israelenses, do aumento da crise humanitária… O desconforto de Netanyahu com a pressão do presidente americano, Donald Trump, está visível. O desespero do Hamas está exposto: a população em Gaza se revolta abertamente contra a organização que a ameaça e mata quando esta, a população, derruba paredes e invade armazéns cheios de ajuda humanitária represada pelo Hamas para revenda, o que de fato passou a aumentar a situação de fome na faixa. Diz o jornalista Henrique Cymerman que esta grande fonte de renda do grupo terrorista alcançou 2 bilhões de dólares! E eles utilizaram esta receita para recrutar novos membros já que de fato foram dizimados pelos ataques de Israel.
A situação chegou a este ponto de iminente cessar até porque as reações negativas e pressões vêm de todos os lados incluindo governos que tradicionalmente apoiam Israel como Reino Unido, França e Canadá.
Como estas horas destes dias “finais” de conflito passam para as famílias dos reféns e para as famílias de árabes de Gaza… cada minuto na verdade é terrível.
Mas a postura da imprensa e das redes sociais continua indefensável: conta-se das histórias apenas a metade. Quem ataca o Hamas por ter iniciado esta guerra há 600 dias? Quem acusa o Hamas pela crise humanitária em Gaza? Quantos hoje não falam abertamente sobre um “genocídio” por parte de Israel omitindo que a população de Gaza cresceu nestes 19 meses? E, pior de tudo, quantos passaram a questionar a própria existência do Estado de Israel e ameaçar, com base nesses “mitos e gritos”, a vida de judeus em qualquer parte do mundo, assim como eu ou você?
Com esta situação extrema surgiram movimentações no tabuleiro geopolítico que podem trazer oportunidades de acordos para uma paz na região. Há conversas inimagináveis há poucos anos entre Israel e Líbano que estão ambos satisfeitos com o amortecimento do Hezbollah, conversas entre Israel e o novo governo da Síria sobre a questão comum dos drusos e sobre redução do poder de grupos terroristas, muitas conversas entre europeus e países árabes sobre como conduzir a possível solução de dois estados…
Enquanto isso, as horas passam e nós nos perguntamos quem são e como estão os estimados vinte reféns vivos, quanto mais aguentarão? E os reféns que retornaram? Hoje pela primeira vez a soldada resgatada Ori Megadish falou sobre suas experiências incluindo abuso sexual de um guarda do Hamas, disse que quase morreu em um bombardeio, que foi tratada em um hospital em Gaza sem anestesia… isso em 23 dias após os quais ela respondeu ao hebraico de um homem que surgiu no túnel e o seguiu até ser libertada pela primeira operação do exército…
Sorte? Destino?
Na Parashá desta semana, Bamidbar, “no deserto”, há mais um censo dos “visíveis” homens entre 20 e 60, uma nova contagem aliás sábado terminam os 49 dias da contagem do Omer e será Shavuot. Aqui contamos 600 dias de cativeiro para os ainda vivos reféns, 19 meses de guerra, 2 milhões de árabes ainda vivos em Gaza, 5 sanguinários líderes do Hamas e mais de 30 mil terroristas mortos, mais de 1700 soldados israelenses mortos. Muitos jovens hoje convocados não querem ser contados como ativos e preferem ser presos. Sofrerão consequências mas estão exercendo o direito de não serem contados…
Poucos líderes decidem sobre o destino dos poucos que foram sequestrados e ainda estão lá, e também pelo destino de muitos que lá ainda moram. Em Gaza e na conturbada região.
Que sejam iluminados para decidir, mas com nosso monitoramento, mesmo que frágil e distante, para que o resultados das pressões e das conversas possibilite um futuro melhor. E que os “contadores das histórias”, os e as jornalistas e analistas sejam mais profundos na leitura do mundo complexo e que vivemos.
Shabat Shalom.