Por Juliana Rehfeld
Como chegamos nisso? Todas as atenções do planeta voltadas para o que acontece até fins de novembro em Belém. A COP 30 é um evento no qual todos querem ser vistos, querem ver o que os outros vieram mostrar, querem saber como e quando o efeito das mudanças climáticas pode ser retardado, já que efetivamente evitado ele não mais pode ser. Desta vez houve uma inversão de agenda, o encontro entre líderes está sendo feito antes de todas as apresentações e negociações, o que provavelmente vai pressionar os acordos e compromissos de cada país e região com a real implementação das promessas que vêm sendo repetidas ao vento já há décadas… E a feliz circunstância de ocorrer na Amazônia, cantada como o “pulmão do planeta”, aumenta a importância e urgência das soluções que são esperadas. Vamos acompanhar!
Onde está Israel? Um pequeno e jovem país, ainda em guerra, estabelecido em pleno deserto, portanto sem água, quase sem recursos minerais, com apenas gás natural (menos de 0,1% das reservas mundiais) e potássio (cerca de 6% se dividirmos o total de 11,5% no Mar Morto, compartilhada com a Jordânia). Mesmo com este pouco talento natural, o pequeno país tornou-se autossuficiente em gás com a produção nos campos estratégicos nas plataformas no Mediterrâneo e até exporta ao Egito e Jordânia, e ocupa a 6a posição mundial na produção do potássio e é um grande exportador do produto. Isto mostra o que Israel vem fazendo com o pouco que tem.
Mas o principal “pouco que tem” se refere ao DESERTO. O deserto, sabemos, não tem água e lá nada consegue viver. Israel já “nasceu desmatado”. A escassez de água foi superada com inovações como a dessalinização, o reuso de água tratada e outras fontes não tradicionais, tornando o país um dos líderes mundiais em gestão hídrica. Com a água foi possível plantar. Israel focou em pesquisa e desenvolvimento, tornando-se líder mundial em inovação climática, agricultura sustentável e tecnologias para a gestão de água e resíduos.
A cobertura vegetal “produzida” é pequena se comparada à média mundial (mais de 6,5% - dos quais 2,2% são florestas naturais - o que o classifica na 160a posição). A cobertura vegetal em Israel aumentou aproximadamente 1800% desde o início do século XX, como resultado de um projeto florestal maciço liderado pelo Fundo Nacional Judaico (KKL-JNF). O governo criou 142 reservas naturais e 44 parques nacionais para preservar o patrimônio natural do país, incluindo florestas, áreas marinhas, dunas, desertos e oásis. A localização geográfica de Israel, na junção de três continentes, resultou em uma grande diversidade de flora e fauna, com cerca de 2.800 espécies de plantas catalogadas, e uma importante rota migratória para aves.
E Israel é considerado líder em inovações climáticas em agricultura, lixo, água e alimentos (assista ao vídeo abaixo, de 2023).
Portanto onde está Israel agora em novembro/2025, na COP30 em Belém? Pela primeira vez desde o inicio das Conferências da ONU sobre o clima, o governo de Israel anunciou através de seu Ministério do Meio Ambiente hoje que não enviará uma delegação oficial completa e alegou: tensões diplomáticas com o país anfitrião (a postura pró-palestina de Lula), preocupação com segurança e potenciais provocações, alocação de recursos (drenados para a atual guerra), e a pressão internacional expressa por uma autodenominada coalizão Palestina da COP 30 que havia pedido ao Brasil e a UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - que o país fosse excluído do evento por “não cumprir a lei internacional e não respeitar os direitos dos palestinos".
Infelizmente e diferentemente da COP29, realizada em 2024 no Azerbaijão, quando Israel enviou mais de 100 representantes e apresentou 20 projetos climáticos em um pavilhão próprio, desta vez a presença será simbólica. Apenas dois funcionários do Ministério da Proteção Ambiental acompanharão os trabalhos da COP30, um por vez o chefe da Divisão de Resiliência Climática participará da primeira semana, e o líder do Departamento de Relações Internacionais, da segunda.
É realista a preocupação de Israel com a "bagunça" que seria a presença de uma grande delegação e os prováveis protestos, e danos, que a instalação de um stand poderia causar… mas é uma grande perda! Para quem? Para Israel, que não poderá compartilhar e ser reconhecido pelas incríveis soluções de sustentabilidade que tem, para o público ávido de bons exemplos, para a ciência, a pesquisa, a tecnologia ambiental, para a força das ações multilaterais, para a biodiversidade, para o planeta. Não acho que isso seja exagero…
É similar ao rompimento de laços acadêmicos de universidades brasileiras, entre outras, com as instituições israelenses como a Universidade Hebraica de Jerusalém, Universidade de Tel Aviv, Universidade Bar-Ilan, Universidade de Haifa, Universidade Ariel e Technion - Instituto de Tecnologia de Israel. Este movimento que diz que pretende “punir as instituições por serem coniventes com as práticas criminosas de guerra do governo” e “atender ao clamor da sociedade palestina” mancha a liberdade acadêmica, desconsidera a realidade da postura pacifista de muitos dos membros destas instituições, não contribui em nada para a paz, mas, acima de tudo, mais uma vez, distingue Israel de outros países e instâncias em conflito o que claramente demonstra antissemitismo!
Perdemos todos. Perde, como sempre, o debate, o conhecimento, e portanto, o nosso futuro como humanidade…
Que a luz ilumine os grandes resquícios de trevas que ainda carregamos ou que estupidamente recriamos ao longo da história…e que nós humanos consigamos nos manter vivos no planeta que ainda nos hospeda e acolhe apesar do muito que fazemos para destruir nossas chances de aqui habitar!
Shabat Shalom


Nenhum comentário:
Postar um comentário