Que estranho, mas que comum: uma mulher que conseguiu algo enorme, mas que foi esquecida pela história. Aconteceu com Gracia Nasi Mendes, que só foi redescoberta a partir dos anos 80 quando se começou a buscar sobre as mulheres da história judaica, e de fato conhecida a partir de 2010 quando se comemorou o 500.º aniversário dela.
Gracia Nasi nasceu em Lisboa em 1510, em uma família portuguesa que não tinha fugido de Portugal mas cujos membros haviam sido batizados para fugir da inquisição. Gracia – o nome é a forma portuguesa para hebreu “Hanna”, – foi chamada oficialmente “Beatrice de Luna” quando batizada. Mas a família continuou praticando o judaísmo em segredo, como muitos cristãos novos.
Em 1528 Beatrice casou com Francisco Mendes Benveniste, também um cristão novo. Foi uma festa pomposa, oficialmente católica, porém, a cerimônia mais importante para a família aconteceu em segredo: a chuppa, o casamento judeu.
Beatrice viajou então para a Antuérpia. Sofreu várias ameaças, mas conseguiu salvar a sua família e a sua fortuna, e em 1544 se mudou-se para Veneza e depois, em 1547, para Ferrara. Lá, pela primeira fez, a família pôde viver livre como família judia. Em Ferrara viviam muitos judeus portuguesas e lá Beatrice de Luna começou usar o nome da família judeu: Gracia Nasi.
Ainda em Ferrara, em 1553, Gracia pagou a impressão da primeira tradução da Bíblia, que hoje em dia se chama a “Bíblia de Ferrara”. Era uma bíblia em Ladino.
Mas Gracia Nasi acabou por ter que fugir de novo e já não estava mais em Ferrara quando o livro foi lançado. Era a época da Contra-Reforma, viver na Itália tornara-se difícil, e Gracia foi para Constantinopla (atual Istambul), que pertencia ao Império Otomano.
Continuou a gerir os negócios da família e usou sua influência e dinheiro para ajudar os cristãos novos portugueses a fugir da Inquisição. Estabeleceu uma frota comercial para levar sefarditas a Israel, que foi parte do império otomano. Financiou a reconstrução das cidades de Tibérias, Gaza, Jafo, Safed e Jerusalém, tornando possível que yeshivot (escolas) e sinagogas pudessem ser estabelecidas. Em 1555, o novo Papa colocou sob prisão toda a comunidade de judeus portugueses em Ancona. Quando a notícia das prisões chegou a Constantinopla, Gracia Nasi convenceu o sultão a intervir, o que levou a um boicote de Ancona por parte dos comerciantes judeus, resultando na ruína financeira do Vaticano. Dentro do mundo judaico, no entanto, a opinião sobre este boicote ficou dividida.
Gracia Nasi Mendes morreu em 1569, em Constantinopla, e sua história ficou esquecida por cerca de 500 anos.
Conhecer a vida de Doña Gracia é saber como ao Inquisição foi vencida e também como as mulheres foram importantes ao longo da vida judaica.
Texto adaptado de: https://hehaver-oheljacob.org/dona-gracia-nasi-mendes-1510-1569-uma-lisboeta/
Para ler mais (em inglês), consulte: Miriam Bodian, “Doña Gracia Mendes”, Jewish Women’s Archive: Encyclopedia, disponível em http://jwa.org/encyclopedia/article/nasi-dona-gracia .
Mulher fantastica
ResponderExcluirGostei de saber
ResponderExcluirRegina, aproveito para mandar um abraço, com carinho que vem dos quase tempos de D. Gracia!!!! também para dizer que admiro esta personagem cuja historia é riquíssima de conteúdos e, fofoca, estão preparando um filme ou uma serie sobre ela, que aguardo curiosa. beijos Nadine Stambouli Trzmielina (nadinet@terra.com.br)
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