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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

VOCÊ SABIA? - Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul Desobediente que virou herói






Você sabia que Portugal também teve o seu altruísta e generoso Schindler, que com bravura e determinação salvou a vida de mais de 30 mil judeus perseguidos pelo Nazismo alemão durante a Segunda Guerra, ao NÃO negar-lhes os preciosos carimbos em seus passaportes com vistos de trânsito portugueses?



Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul Desobediente, nascido em 1885 em Cabanas de Viriato, Viseu, Portugal, filho de uma família católica, aristocrática, optou pela licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra.
Em 1910 ingressou na carreira diplomática atuando como Cônsul em Zanzibar, em várias capitais do Brasil, Estados Unidos, Espanha, Bélgica, e em 1938, na França, na cidade de Bordéus, ou seja, Bordeaux. 
Em 1939 temos o início da guerra.  Hitler, aos poucos, inicia suas investidas contra os países vizinhos, prendendo e perseguindo seus inimigos políticos e cidadãos por ele considerados abjetos. E neste contexto os perseguidos iniciam sua corrida para a salvação.

Com os alemães cada vez mais perto de Bordeaux, Sousa Mendes atira-se de corpo e alma na árdua tarefa de emitir o maior número de vistos, o mais rapidamente possível. A operação de socorro tomou a forma de trabalho em cadeia. O filho de Mendes, José, seu genro Jules, o rabino Kruger e outros refugiados, além de dois colegas de Jules do Ministério das Colônias belgas, Van Acht e Vingerhoedt, preparavam os vistos com estampilhas. Mendes não tinha senão que assinar. Em seu depoimento para o Yad Vashem, o rabino Kruger contou que sentados, sem perder tempo com comida ou descanso, eles carimbaram milhares de passaportes com vistos de trânsito portugueses. Em uma corrida contra o tempo, tomado pelo cansaço, Sousa Mendes decidiu abreviar sua assinatura nos vistos, passando a escrever apenas "Mendes".
Em quatro dias, estimam-se em 30 mil os vistos emitidos, a maioria para judeus. Para o historiador do Holocausto Yehuda Bauer, "a operação comandada por Sousa Mendes foi a maior realizada por um único homem para salvar os judeus durante o Shoá".
Como cônsul-geral em Bordeaux, Aristides Sousa Mendes era também responsável pelo vice-consulado de Toulouse e de Bayonne. A situação dos refugiados se repetia nas duas cidades. Quando o vice-cônsul de Portugal em Toulouse, Émile Gissot, telefonou a Sousa Mendes, perguntando-lhe como lidar com a situação, ouviu a seguinte resposta: "Emita os vistos para os refugiados".
Em Bayonne, onde o chefe da missão era Faria Machado, o número de recém-chegados era enorme. Quando Sousa Mendes ficou sabendo que Faria Machado se recusava a emitir vistos sem autorização do Ministério das Relações Exteriores, ele próprio vai até Bayonne. Era o dia 18 de junho. Ao chegar, pergunta por que o vice-cônsul não estava ajudando os refugiados. "Gostarias de estar na mesma situação, junto com tua mulher e teus filhos? Afirmas seguir as ordens de teus superiores, pois eu sou teu superior e ordenei que emitisses tantos vistos quantos necessários". E Sousa Mendes ficou três dias em Bayonne para assegurar a liberação dos vistos e ter a certeza de que as pessoas poderiam atravessar a Espanha antes da chegada dos alemães.
Mendes estava ainda em Bayonne quando Salazar decidiu tomar providências contra o diplomata.
Sousa Mendes segue então para Hendaye, onde continuou a emitir vistos.
No dia 23 de junho, Salazar tomou a primeira medida punitiva contra o diplomata, retirando sua autoridade para emitir vistos e ordenando seu retorno imediato a Portugal.”


No início de julho, Aristides e sua família retornaram a Portugal e o diplomata logo recebeu uma informação preocupante: Salazar iniciara um inquérito contra sua pessoa.
Além da desobediência ao Ministério das Relações Exteriores, permitindo a saída dos fugitivos, havia o aspecto prejudicial ao prestígio do país frente às nações em comando.
Apesar da defesa apresentada, Aristides não foi absolvido de suas ações e foi afastado do serviço por um ano recebendo apenas a metade de seu salário habitual.
Finalmente, foi forçado à aposentadoria, perdendo de vez o seu salário.
Assim precisou vender seus bens pois a única ajuda que recebeu para amparar sua família foi uma quantia mensal da comunidade judaica portuguesa.
Também a organização judaica de auxílio aos refugiados, HIAS, ajudou dois de seus filhos a se instalarem nos Estados Unidos.
Em 1954 Aristides faleceu. Apesar da miséria em que foi obrigado a viver com sua família, nunca lastimou o que fizera em prol dos desesperados.




Com o fim da ditadura militar de Salazar em 1974, aos poucos a vida voltou ao normal no país. E com a eclosão da Revolução dos Cravos que derrubou o governo totalitário, teve início o processo de reabilitação da figura pública de Aristides de Sousa Mendes.
A residência de Aristides em estado avançado de degradação esteve a ponto de ruir enquanto a casa de Salazar que tanto o prejudicou, em sua vida profissional bem como em sua vida familiar, virou museu - fato inexplicável à luz do documento universal dos Direitos Humanos.




Cordão Humano, um abraço de reconhecimento tardio à volta da casa de Aristides, o herói inesperado!





A recuperação da casa-museu aqui aparece em sua primeira tentativa de musealização.
Em 2001 a Fundação Aristides de Sousa Mendes comprou a Casa do Passal com ajuda financeira do Ministério de Negócios Estrangeiros e após 10 anos o prédio foi denominado Monumento Nacional.





O presidente de Portugal externou seu desejo de ver a casa aberta ao público até 2019   como museu dedicado à vida e obra de Aristides de Sousa Mendes.

Aristides de Sousa Mendes morreu pobre e desonrado e a sua bravura e honradez só começaram a ser restituídas em seu país em 1987, altura em que o presidente Mário Soares entregou a “Ordem da Liberdade” à filha do ex-Cônsul, em cerimônia realizada na “Embaixada de Portugal”, em Washington. A honra do Cônsul só foi restaurada completamente em 1989, quando a Parlamento português o reintegrou, por “unanimidade e aclamação”, no serviço diplomático português. Mas um ato em agradecimento ao valor da ação de Aristides Sousa Mendes já havia acontecido em Israel, no ano de 1966, quando ele foi reconhecido, em Jerusalém, como “Justo entre as Nações” pelo “Yad Vashem”, o “Museu Memorial do Holocausto”, com a sua mais elevada distinção, uma medalha com a seguinte inscrição do Talmude: “Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro”.”



Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do grupo Esh Tamid.

FONTES -


Um comentário:

  1. Deus em sua graça e misericórdia usa pessoas importantes para salvar pessoas. Quando atendemos o Seu chamado, seremos honrados, não importando como vivemos, mas sim como terminamos, Deus é soberano e justo, e seus caminhos inescrutáveis, fazer o bem é o legado que vamos deixar de herança eternamente. Ótima matéria e informações. Obrigada!

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