Você sabia
que, em abril de 2018, uma série de músicas desperdiçadas, infrutíferas, perdidas
em campos de concentração durante a Segunda Guerra (1939-1945), serão ouvidas
em um concerto em Jerusalém em meio às comemorações dos 70 anos de Israel?
Francesco Lotoro,
na foto acima, conhecido pianista italiano, após uma busca de mais de 30 anos
garimpando músicas compostas pelas vítimas de campos nazistas, resgatou estas
obras que considera “a cultural heritage
of humanity“ (“patrimônio cultural da humanidade”) e as apresentará no
próximo mês em um concerto da Orquestra Sinfônica de Israel .
Lotoro nasceu
em 1964 em Barletta e desde cedo sentiu uma grande inclinação pela música.
Estudou na
Academia de Música de
Franz Liszt em Budapeste e direcionou suas atividades para as
composições de Johann Sebastian Bach.
Em 1995
fundou a Orquestra Música Judaica após ter iniciado suas viagens pelo mundo desenterrando
e devolvendo à vida sinfonias, canções, sonatas, óperas, canções de ninar e até
mesmo jazz riffs adormecidos nas ruínas e destroços dos campos de concentração
nazistas.
Em sua busca
desde 1991, nada encontrou além de anotações em cadernos, cartas ou pedaços de papel.
Muitas composições aí estavam! Outras, só na memória de sobreviventes.
Ao serem
deportados de Westerbork para Auschwitz, Willy Rosen e Max Ehrlich conseguiram
contrabandear uma pasta com seus manuscritos para fora do campo.
Na prisão
Pankrac em Praga, o compositor checo Rudolf Karel usou folhas de papel
higiênico para registrar suas criações.
Nada disto
impediu Lotoro de continuar. Para ele “a música é um fenômeno social.”
O pianista
iniciou sua procura por Terezin onde dois músicos já conhecidos no repertório
internacional antes da guerra tinham sido aprisionados. Viktor Ullmann e Gideon
Klein lá estiveram mas infelizmente tiveram suas vidas interrompidas em
Auschwitz.
Após Terezin,
Lotoro permaneceu investigando na área por três semanas e ao cabo deste tempo
precisou comprar outra mala para colocar o material coletado.
Grande e
exaustivo foi o trabalho de Lotoro e de sua esposa Grazia Tiririello, sua maior
colaboradora. Finalmente ele criou o CD enciclopédia KZ Musik (48 volumes de
CDs) contendo a música composta em campos de concentração da Segunda Guerra.
Grazia Tiririello |
Grazia T. e
seu esposo Francesco L. converteram-se ao judaísmo em 2004.
Lotoro também
completou e gravou a Oitava Sinfonia para coro masculino e piano de Erwin
Schulhoff.
No concerto
de abril, entre as peças a serem apresentadas pela primeira vez, destaca-se uma,
escrita pela compositora, instrumentista e poeta Ilse Weber, que trabalhou como
enfermeira no hospital em Terezin e ensinou suas canções às crianças do campo.
Ilse, seu
esposo Willy e seu filho caçula Tommy pereceram nos gases de Auschvitz e suas
criações nunca foram escritas.
Porém uma das
meninas por ela tratada, Aviva Bar-On, memorizou uma canção.
Aviva Bar-On apresentará
esta canção aprendida em dias de
sofrimento e incertezas em Jerusalém, cantando-a
pela primeira vez desde a guerra.
Ao descrever seu projeto, Lotoro disse:
“The
compositions from the concentration camps are a world heritage, a legacy to
those artists who despite losing their freedom in the most unimaginable
circumstances persevered through their music. Through the concert we are
striving to both restore life and dignity to these artists.”
“As composições dos campos de concentração são uma herança
mundial, um legado para aqueles artistas que, apesar de perderem sua liberdade
nas circunstâncias mais inimagináveis, perseveraram através de sua música. Através
do concerto nos esforçamos para restaurar a vida e a dignidade a esses artistas.”
FONTES:
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