Você
sabia que em Budapeste há o Memorial “Sapatos às Margens do Danúbio”, em honra
aos judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial? Conduzidos até o local,
enfileirados em ordem, eles eram obrigados a tirar os sapatos e então alvejados
na nuca, na beira d’água, para que seus corpos caíssem no rio e fossem
gratuitamente levados embora para sempre.
Este
memorial lembra os sapatos abandonados na margem do rio pelas vítimas do
regime. É também um alerta para que atrocidades desta natureza não venham a ser
repetidas.
Os
sapatos ali “abandonados” causam um choque aos passantes, que lembram do
passado e tentam imaginar quem eram os seus donos e o que poderiam ter eles
pensado em seus últimos instantes de vida. Os sapatos infantis me causaram uma
profunda impressão e muita tristeza. Como jogar crianças indefesas às águas
geladas de um rio?
O
ser humano trocou as cavernas por habitações mais confortáveis, dominou o fogo,
enfrentou as águas e conquistou os ares e o espaço, mas no quesito
compaixão-misericórdia, ainda tem muito a evoluir.
O
memorial foi idealizado pelo cineasta Can Togay e executado pelo artista e
escultor Gyula Pauer, ambos húngaros de Budapeste.
O
escultor criou 60 pares de sapatos de metal, obedecendo o estilo da época.
“O rio Danúbio corta a
cidade e em um ponto de sua margem pode-se observar vários sapatos feitos em
bronze rodeados de flores e velas. Os sapatos são feitos de bronze e seu donos
nunca voltarão.
Trata-se de um memorial, em
homenagem aos judeus húngaros executados pelo governo fascista durante a
segunda guerra mundial. No outono de 1944, o partido húngaro fascista executou
diversos judeus, entre eles crianças e mulheres, e também oponentes ao governo.
Os judeus eram alinhados na beira do Danúbio, baleados e seus corpos eram
jogados no rio. Antes, removiam seus sapatos, já que este item era valioso na
época.”
Esta imagem
nos remete à dor de quem tirou seus sapatos já sabendo o que lhe aconteceria,
sentiu a friagem da pedra ao nela pisar e antecipou a frieza da água que a
esperava após a pancada da bala certeira em seu corpo exaurido pelos dias de cativeiro
e desnutrição.
Vítimas
assassinadas no Danúbio pelos militantes da Cruz de Flecha
1944-45
/ Memorial concluído em 16 de abril de 2005
Os
sapatos tinham valor e não podiam ser desperdiçados, por isso não pereciam com
seus donos.
Assim como estes jovens húngaros tentaram homenagear e
lembrar as vítimas do nazismo em sua cidade, também em Berlim acontece um
movimento semelhante. É o “Stolpersteine”, ou “As pedras de Tropeço”.
Criado pelo artista Gunter Demnig em 1996, estas pequenas
placas com informações pertinentes aos antigos habitantes daquelas casas têm o
objetivo de devolver o nome àquelas pessoas que o perderam em troca por um
número calcado em seus braços.
Pedras de
Tropeço no Bairro Judeu, Grosse Hamburger Strasse
Nas plaquinhas pode-se ver o nome da pessoa, data de
nascimento e data de seu fim, como deportação, suicídio, assassinato,
humilhação.
Assim há mais de 60 mil pedras de tropeço espalhadas pela
Europa, a maioria na Alemanha.
Recentemente soube-se da primeira pedra de tropeço
colocada fora da Europa, em Buenos Aires.
Mesmo levando em conta a beleza e simbolismo das
pedrinhas, as polêmicas sempre existem.
Este é um tema delicado!
Em
sua Agenda Berlim, os brasileiros Nicole e Pacelli escrevem:
“Já houve, inclusive,
ameaças de processos judiciais. Até onde isso foi, eu não sei.
Mas eu diria, sem medo
de errar, que a esmagadora maioria das pessoas gosta.
É sempre legal estar passeando pela cidade e
ver alguém se abaixando, quase que do nada, para ler o que está escrito na
pedrinha.
E, logo depois de ler, o
passante olha para o prédio em frente, imaginando a vida daquela pessoa, tão
prejudicada e interrompida, que morava ali. E de repente nos sentimos tão
próximos dessas vítimas. Poderia ter sido conosco. “
Stolpersteine No. 5000 lembrando
Paul Höhlmann (Fonte: juedische-allgemeine.de)
Com este nome para a homenagem, Pedras de Tropeço,
um estudante perguntou ao artista se as pessoas tropeçariam realmente nas
pedras ao que ele respondeu:
“Não,
ninguém tropeça e cai, a gente tropeça com a cabeça e o coração”.
As placas, incrustadas na calçada,
não têm relevo, não permitindo assim que nelas se tropecem.
E nesta onda de lembranças,
memórias e homenagens póstumas, está surgindo em Amsterdã uma maneira diferente
de relembrar os judeus da cidade, através de plaquinhas de identidade junto às
portas de suas antigas residências.
Como dizia o carismático Rabino
Sobel, “Se continuarmos a amar aqueles que perdemos, nunca perderemos aqueles
que amamos."
Amsterdã.
Colaboração de Helena Frankenberg (fotos da família).
Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do Esh Tamid.
FONTES:
365diasembudapeste.wordpress.com/2015/10/22/sapatos-sobre-a-margem-do-danubio/
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