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segunda-feira, 23 de julho de 2018

VOCÊ SABIA? - SAPATOS E TROPEÇOS




Você sabia que em Budapeste há o Memorial “Sapatos às Margens do Danúbio”, em honra aos judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial? Conduzidos até o local, enfileirados em ordem, eles eram obrigados a tirar os sapatos e então alvejados na nuca, na beira d’água, para que seus corpos caíssem no rio e fossem gratuitamente levados embora para sempre.






Este memorial lembra os sapatos abandonados na margem do rio pelas vítimas do regime. É também um alerta para que atrocidades desta natureza não venham a ser repetidas.
Os sapatos ali “abandonados” causam um choque aos passantes, que lembram do passado e tentam imaginar quem eram os seus donos e o que poderiam ter eles pensado em seus últimos instantes de vida. Os sapatos infantis me causaram uma profunda impressão e muita tristeza. Como jogar crianças indefesas às águas geladas de um rio?







O ser humano trocou as cavernas por habitações mais confortáveis, dominou o fogo, enfrentou as águas e conquistou os ares e o espaço, mas no quesito compaixão-misericórdia, ainda tem muito a evoluir.
O memorial foi idealizado pelo cineasta Can Togay e executado pelo artista e escultor Gyula Pauer, ambos húngaros de Budapeste.
O escultor criou 60 pares de sapatos de metal, obedecendo o estilo da época.

“O rio Danúbio corta a cidade e em um ponto de sua margem pode-se observar vários sapatos feitos em bronze rodeados de flores e velas. Os sapatos são feitos de bronze e seu donos nunca voltarão.
Trata-se de um memorial, em homenagem aos judeus húngaros executados pelo governo fascista durante a segunda guerra mundial. No outono de 1944, o partido húngaro fascista executou diversos judeus, entre eles crianças e mulheres, e também oponentes ao governo. Os judeus eram alinhados na beira do Danúbio, baleados e seus corpos eram jogados no rio. Antes, removiam seus sapatos, já que este item era valioso na época.”







Esta imagem nos remete à dor de quem tirou seus sapatos já sabendo o que lhe aconteceria, sentiu a friagem da pedra ao nela pisar e antecipou a frieza da água que a esperava após a pancada da bala certeira em seu corpo exaurido pelos dias de cativeiro e desnutrição.






Vítimas assassinadas no Danúbio pelos militantes da Cruz de Flecha
1944-45 / Memorial concluído em 16 de abril de 2005







Os sapatos tinham valor e não podiam ser desperdiçados, por isso não pereciam com seus donos.







Assim como estes jovens húngaros tentaram homenagear e lembrar as vítimas do nazismo em sua cidade, também em Berlim acontece um movimento semelhante. É o “Stolpersteine”, ou “As pedras de Tropeço”.

Criado pelo artista Gunter Demnig em 1996, estas pequenas placas com informações pertinentes aos antigos habitantes daquelas casas têm o objetivo de devolver o nome àquelas pessoas que o perderam em troca por um número calcado em seus braços.



Pedras de Tropeço no Bairro Judeu, Grosse Hamburger Strasse


Nas plaquinhas pode-se ver o nome da pessoa, data de nascimento e data de seu fim, como deportação, suicídio, assassinato, humilhação.
Assim há mais de 60 mil pedras de tropeço espalhadas pela Europa, a maioria na Alemanha.
Recentemente soube-se da primeira pedra de tropeço colocada fora da Europa, em Buenos Aires.
Mesmo levando em conta a beleza e simbolismo das pedrinhas, as polêmicas sempre existem.
Este é um tema delicado!

Em sua Agenda Berlim, os brasileiros Nicole e Pacelli escrevem:
“Já houve, inclusive, ameaças de processos judiciais. Até onde isso foi, eu não sei.
Mas eu diria, sem medo de errar, que a esmagadora maioria das pessoas gosta.
 É sempre legal estar passeando pela cidade e ver alguém se abaixando, quase que do nada, para ler o que está escrito na pedrinha.

E, logo depois de ler, o passante olha para o prédio em frente, imaginando a vida daquela pessoa, tão prejudicada e interrompida, que morava ali. E de repente nos sentimos tão próximos dessas vítimas. Poderia ter sido conosco. “



Stolpersteine No. 5000 lembrando Paul Höhlmann (Fonte: juedische-allgemeine.de)
 Com este nome para a homenagem, Pedras de Tropeço, um estudante perguntou ao artista se as pessoas tropeçariam realmente nas pedras ao que ele respondeu:
 “Não, ninguém tropeça e cai, a gente tropeça com a cabeça e o coração”.
As placas, incrustadas na calçada, não têm relevo, não permitindo assim que nelas se tropecem.
E nesta onda de lembranças, memórias e homenagens póstumas, está surgindo em Amsterdã uma maneira diferente de relembrar os judeus da cidade, através de plaquinhas de identidade junto às portas de suas antigas residências.

Como dizia o carismático Rabino Sobel, “Se continuarmos a amar aqueles que perdemos, nunca perderemos aqueles que amamos."




Amsterdã.
Colaboração de Helena Frankenberg (fotos da família).

Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do Esh Tamid.




FONTES:


365diasembudapeste.wordpress.com/2015/10/22/sapatos-sobre-a-margem-do-danubio/


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