Pessoas se reúnem perto do Panteão de Paris antes de homenagem à ativista
e sobrevivente do Holocausto Simone Veil, na França – foto:REUTERS/Pascal
Rossignol
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Você
sabia que a França homenageou Simone Veil, sobrevivente do Holocausto conhecida
por garantir a legalização do aborto no país nos anos 1970, enterrando-a ao
lado de grandes cidadãos franceses no Panteão de Paris?
Simone Veil, política e advogada
francesa, nascida em Nice em 1927 vindo a falecer aos 89 anos no dia 30 de junho
de 2017 em Paris, repousará com o marido Antoine Veil, falecido em 2013, na
cripta do mausoléu do Panteão ao lado de outros símbolos nacionais, como os
escritores Émile Zola e Victor Hugo.
"A França ama Simone Veil e a ama por suas
lutas", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, em discurso no
Panteão. "Queríamos que Simone Veil entrasse no Panteão sem esperar que
gerações passassem para que suas batalhas, sua dignidade e sua esperança
continuem sendo uma bússola nestes tempos turbulentos".
Sobrevivente judia dos campos de extermínio
nazistas de Auschwitz-Birkenau e Bergen-Belsen, Simone tinha o número de
prisioneira 78651 tatuado no braço, e era uma europeia fervorosa e defensora
das liberdades civis. Tornou-se a primeira presidente eleita do Parlamento
Europeu em 1979.
Foto:
DW / Deutsche Welle
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O
presidente Emmanuel Macron cumpriu sua promessa de oferecer à feminista Simone
Veil uma homenagem à altura de sua vida e carreira através de uma cerimônia que
emocionou os milhares de participantes. A cantora lírica Bárbara Hendricks
entoou o hino nacional da França, A Marselhesa.
“’Veil foi uma mulher que fez a
França maior e mais forte, que lutou contra a barbárie e é hoje um modelo para
os franceses’, disse Macron, acrescentando que seu ingresso no Panteão, apenas
um ano depois de morta, é um desejo de todos os franceses.”
“Veil é apenas a quinta mulher no
Panteão, que fica no Quartier Latin da capital francesa e abriga os restos
mortais de 75 homens, entre os quais Voltaire, Victor Hugo, e Jean Moulin.
Retornando um pouco ao
passado, a partir de 1940 a França foi invadida pela Alemanha nazista e a
família de Simone, bem como as de todos os judeus franceses, começou a sofrer
perseguições.
Com muitas dificuldades,
Simone conseguiu concluir o ensino liceal em 1943 e no ano seguinte sua família foi enviada ao campo de
concentração em Auschwitz-Birkenau onde todos pereceram com exceção de Simone e
de sua irmã Madeleine graças aos exaustivos e infindáveis trabalhos por elas
realizados .
Em 1945 iniciou o curso de Direito em Paris e lá conheceu Antoine Veil, com
quem se casou em 1946. Juntos construíram uma linda história
de vida com três filhos, muita justiça, dignidade e amor aos semelhantes.
A mãe de Simone morreu aos 44
anos de febre tifoide e suas últimas palavras foram “Nunca deseje o mal aos
outros; nós sabemos bem demais o que é isto.”
Simone soube honrar as
palavras da mãe. Foi uma sobrevivente do ódio que destruiu sua própria
juventude, mas nunca se entregou ao desespero. Conforme Macron ressaltou, ela
enfrentou suas batalhas com dignidade e esperança; um exemplo para todos nós.
Simone marcou a história da
Europa, defendendo os direitos das mulheres, sem apelar para a vitimização.
Em 1979 sua lei foi aprovada:
a “Lei de Veil” garantia às mulheres o direito do aborto até a décima semana de
gestação.
Bernard Greensfeld, um dos
participantes da homenagem, explicou: “Simone Veil destruiu vários tabus, como
o das mulheres na sociedade, mas também o da exterminação dos judeus. Ela não ingressa
no Panteão como vítima do Holocausto, mas como alguém que derrotou o horror e
por isso está no coração das pessoas.”
Em 2005, Simone escreveu sua
biografia “Une Vie” (“Uma Vida”), contando em detalhes suas experiências nos
campos de concentração e reforçando sua dificuldade em esquecer os sofrimentos
e humilhações passados. “Não há dia em que não recorde a Shoah. Estou sempre
atormentada, perseguida pelas imagens, odores, gritos!.”
Como muitos outros sobreviventes,
Simone decidiu testemunhar o passado às novas gerações.
Em uma de suas últimas
entrevistas ao Libération, afirmou:
“Continuo a acreditar que vale
sempre a pena batermo-nos por qualquer coisa. Digam o que disserem, a
humanidade está hoje mais suportável do que no passado.”
Conhecer a trajetória de Simone
Veil, uma trajetória nem um pouco fácil, é um alento para todos os seres de
bem, que como ela aspiram por um mundo melhor, mais justo e mais tolerante.
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg especialmente para os canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
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