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quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Editorial: Um pouco da Liturgia Judaica





Kedushá, Kidush, Kadish - Ao ler estas três palavras, aqueles que não conhecem a liturgia judaica podem imaginar que é a mesma palavra apenas com pronúncias diferentes. Na realidade, são três palavras e três rezas diferentes, ditas em momentos diferentes. Contextos diferentes para um mesmo texto. Cenários diferentes para adequar a mensagem a um momento específico. Mas, é no encontro entre estes diferentes cenários que encontramos a unicidade da diferença.

K(ק) –D (ד)-SH (ש) é a raiz da palavra sagrado. E as três rezas acima são textos
de santificação.

KEDUSHÁ faz parte da AMIDÁ – da reza central nas liturgias da sinagoga e
que também é chamada de Grande Oração. Na semana que se encerrou, no
primeiro dia de Rosh Hashaná, ao ver e ouvir o chazan (lê-se razan – e é o
cantor que dirige a oração) fazendo a Kedushá, com toda a reverência e
proclamando a frase do Profeta Isaías que dizia que o Santo dos Santos está na
multidão, pensei nas outras três rezas. E pensei que, assim como na Biologia, o que vale é a diversidade - assim na vida as repetições têm que ser diversas.
Na Kedushá fala-se do Senhor nas Multidões.

O KIDUSH é rezado em família, abençoando a fruta da vinha, que alegre e
entristece, que une e separa, que é santificado na forma de vinho, unindo o
processo do homem e a dádiva da natureza.

Mas a forma mais interessante de santificação para mim sempre foi o
KADISH. A reza é falada em aramaico, o idioma das ruas nas épocas dos
Templos de Jerusalém; dita muitas vezes e que separa cada uma das
partes da liturgia. A reza dita em homenagem aos mortos e que santifica a
VIDA. Como vemos, uma forma muito especial de dizer a cada um de nós que
os mortos e os vivos caminham juntos no mundo da KEDUSHÁ – no mundo
do sagrado.

Esta é a semana dos Iamim Noraim. A semana que une Rosh Hashaná a
Iom Kipur. O momento em que somos inscritos no Livro da Vida e o
momento em que esta sentença é Selada. Mas, para não tornar a vida
estéril e passível de ser apagada, há um momento na liturgia de Iom
Kipur – o momento da lembrança (Izkor) - dedicado aos que já foram. É o
momento que através do KADISH lembramos das conexões entre os
vários mundos, o momento em que as sinagogas do mundo inteiro estão
com um enorme número de pessoas e o momento em que muitas pessoas
que não vão às sinagogas lembram dos seus. Este é o momento em que o
Povo Judeu em 2018 deixa de ser composto por apenas 14,3 milhões de
pessoas e incorpora todos os que já se foram e mantém viva a sua
história.

K-D-SH – representam os três cenários importantes na vida humana – a
multidão (todos os povos, todos os homens e mulheres, o outro) – a família e
os amigos (com quem brindamos os momentos alegres) – e a eternidade,
representada por um momento único no ano em que os vivos e os mortos se
encontram nos portões abertos em Iom Kipur.

Shaná Tová u Metuká


 Regina P. Markus

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