Você sabia que Golda Meir, Primeira Ministra de Israel de
março de 1969 a junho de 1974 e a Dama de Ferro dos políticos israelenses, viveu
momentos de grande tensão durante os encontros secretos que manteve com o rei
Abdullah, da Transjordânia, antes da declaração da independência do Estado de
Israel?
Em 1947, antes da criação do Estado de Israel, Golda
recebeu a tarefa de se encontrar com o rei da Transjordânia, o rei Abdullah, no
intuito de apaziguar a atmosfera hostil que já vibrava no ar.
Golda, então chefe do Departamento Político da Agência
Judaica, e Eliahu Sasson, expert em temáticas árabes, encontraram-se com o rei
em uma usina elétrica às margens do rio Jordão. Golda relatou:
"Bebemos as
costumeiras xícaras cerimoniais de café e depois começamos a falar. Abdullah
era um homem de baixa estatura, belo porte e grande encanto. Não tardou a ir
direto ao assunto; ele não se associaria a qualquer ataque árabe contra nós.
Disse que permaneceria sempre nosso amigo e que, como nós, queria a paz acima
de tudo. Afinal de contas, tínhamos um inimigo comum: o Mufti de Jerusalém, Haj
Amin el-Husseini. E não só isso. Sugeriu ainda que voltássemos a nos encontrar
após a votação nas Nações Unidas".
Porém, Ezra Danin, outro expert em assuntos árabes, tinha
outras impressões sobre Abdullah e desconfiava de suas boas intenções para com
Israel. E não se enganou: com a passagem do tempo, o rei filiou-se à Liga
Árabe.
Quatro dias antes da proclamação da independência, dia 10
de maio de 1948, Bem Gurion e Golda Meir quiseram tentar mais uma conversa com
o rei porém ele exigiu que os israelenses fossem até Amã, a capital, pois tinha
receio de ir até a usina novamente, e não se responsabilizaria pela segurança
de Golda nem de Danin. Golda e Danin partiram de Haifa. Como ele falasse árabe
com maestria, usaria como “disguise”, disfarce, uma kafiah na cabeça. Golda
escreveu sobre sua camuflagem:
"Quanto
a mim, iria com as volumosas vestes escuras de uma mulher árabe; eu não falava
uma só palavra de árabe, mas como uma esposa muçulmana, acompanhando o marido,
era pouco provável que tivesse que dizer qualquer coisa a quem quer que
fosse".
Para não serem seguidos, efetuaram várias trocas de
veículos em seu trajeto até o local onde seriam esperados e de lá levados até a
casa de um dos assistentes de Abdullah.
Conforme relato de Golda, o rei estava em pânico, pálido,
gaguejando, e após a conversa introdutória confessou que não mais poderia
manter sua palavra de apoio a Israel. Agora já não estava mais agindo independentemente,
agora havia 5 países: Egito, Líbano, Síria, Iraque e ele. Perguntou então qual
a pressa de proclamar a independência do Estado de Israel, ao que Golda
respondeu sabiamente:
"Quem
já está esperando há dois mil anos, certamente ignora o que seja pressa. Vossa
Majestade não compreende que nós somos seus únicos aliados nesta região? Se
formos forçados à guerra, lutaremos e venceremos". Ele respondeu:
"Vocês têm o dever de lutar. Mas por que não esperam alguns anos? Desistam
de suas exigências de livre imigração. Eu assumirei o controle de todo o país e
vocês serão representados no meu parlamento".
Ao ouvirem suas palavras desencorajadoras, Golda e Danin
fizeram suas despedidas e regressaram a Tel Aviv numa viagem digna de ser
apresentada em um filme de terror.
O motorista transjordaniano, apavorado a cada parada nos
postos de controle da Legião Árabe, fez com que eles abandonassem o carro num
local bem distante da usina elétrica. Em plena madrugada, mais de duas horas da
manhã, os dois caminharam a esmo no escuro, incertos sobre a direção da usina
em Naharaym.
Enorme
foi o medo de Golda e maior ainda a sensação de fracasso por não obter o
resultado esperado na conversa com o rei.
Golda e
Danin foram encontrados por um jovem da Haganá que os esperava perto da usina.
Mais
tarde, em julho de 1951, o rei Abdullah foi assassinado em uma visita à
mesquita de Al Aqsa em Jerusalém.
Acredita-se
que o responsável pelo crime tenha sido o Mufti de Jerusalém, desconfiado do
desejo secreto de Abdullah de estabelecer a paz com Israel.
Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
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