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segunda-feira, 20 de julho de 2020

VOCÊ SABIA? - TURQUIA

TURQUIA, um governo ditatorial e cruel ...

...a beleza de um país que sofre em seus direitos humanos e com a separação de famílias.

Por Itanira Heineberg





VOCÊ SABIA que os membros da Família Abraâmica - judeus, cristãos e muçulmanos - sofrem com a situação de seus amigos turcos refugiados no Brasil, seguidores do Hizmet e perseguidos em seu país de origem, obedientes aos princípios democráticos e antirracistas, incapazes de se comunicarem livremente com seus irmãos?

Os turcos que não compactuam com a autocracia de Erdogan, seu governante atual,  refugiam-se como podem e quando podem escapar, por todos os cantos do mundo, muitos aqui no Brasil e em São Paulo.

Mustafá Goektepe, Fatih Ozorpak e mais tarde Atilla Kus, junto com  Raul Meyer e o Cônego Bizon, criaram a associação Família Abraâmica, onde os membros das três religiões oriundas de Abraão convivem em harmonia, se encontrando regularmente, se conhecendo e aprendendo sobre suas diferenças, crenças e tradições.

Em pé: Cônego Bizon, diretor da Casa de Reconciliação, e Ruth Junginger de Andrade, da Igreja Mórmon 

Sentados: Raul Meyer e Atilla Kus


Os turcos exilados sofrem com as notícias do país e de seus familiares presos, banidos de suas funções habituais, sendo taxados de terroristas por não concordarem com a falta de democracia em sua nação.

E assim, em nossas reuniões mensais, entre refeições típicas preparadas pelos membros dos grupos, conversando sobre os problemas dos refugiados, entrevistei a professora de física Melek Ozorpak  que nos oferece abaixo um relato apaixonado da situação atual da Turquia e de seu povo.


Professora Melek, última à direita


“O Hizmet, um movimento por um mundo melhor, com milhares de participantes no mundo atuando em atividades humanitárias como educação, saúde e desigualdade, teve seu início na década de 70.  O movimento  chamou atenção de pequenos grupos de empresários e alunos universitários com seus discursos valorizando a educação e o investimento  na nova geração.

 Gulen é um erudito turco, pregador, pensador, autor, líder de opinião e inspirador do Movimento Hizmet (significa “serviço”) que surgiu para solucionar problemas comuns na sociedade turca onde era tão dificil estudar, conseguir terminar faculdade e avançar ao futuro junto com os seus objetivos como qualquer jovem gostaria.

Só que os anos eram difíceis na Turquia com as brigas de esquerda e direita dentro das ideologias extremistas via polarização. E no meio desse ambiente tumultuoso, Gulen apareceu com seus discursos, orientando  e estimulando o povo para se dedicar à preparação dessa nova geração pela profundidade de conhecimento, sensibilidade e eloquência.

A partir daí ele conseguiu mobilizar as  pessoas através de sermões nas mesquitas e  discursos ao povo em diversos lugares da cidde de Izmir.” 

Mesquita Azul  -  ISTAMBUL


“Gulen encorajou as pessoas a abrirem escolas e estabelecimentos privados para a promoção de uma melhor educação aos jovens. Aqueles que seguiram os pensamentos do Gulen, passaram a oferecer bolsas de estudo a estudantes carentes. Logo depois, esses jovens apareceram nas primeiras colocações nas provas nacionais e internacionais e também nas provas de vestibular da Turquia. A maiorias destes alunos  tornou-se médicos, engenheiros, professores, arquitetos, cientistas. Durante esse periodo, décadas de 80 e 90,  participantes do Movimento Gulen fundaram várias universidades, hospitais, associações  empresariais, centros de estudo, orgãos de mídia, etc... com o passar do tempo, o movimento se espalhou pelo mundo. Até hoje o Movimento Hizmet abriu mais de 1500 escolas internacionais em cerca de 160 países
.”

 

E a professora Melek continua seu relato, instruindo-nos a respeito de seu distante país:


Da esquerda para a direita:

Fatih Ozorpak, Raul Meyer, Cônego Bizon, Atilla Kus, Alessandra e Anderson Figueiredo


“O movimento Hizmet tem como suas principais ideias o diálogo interreligioso e intercultural, compartilhando as convivências sem diferenciar raça, cultura e religião. Ele sempre atua em prol da democracia, de liberdades, buscando  integrar a tradição com a modernidade através do olhar humanístico.

A Turquia, depois de um período instável economicamente e em termos de direitos simples de estudar, trabalhar e conviver num ambiente de tensões políticas nos anos  90  sofreu uma série de intervenções militares de forma mais pós-moderna. Quase diariamente surgiam tensões enormes entre segmentos diferentes da sociedade turca. Os partidos que dominavam o país estavam numa discussão grande de polêmicos religiosos e políticos, chegando ao ponto de proibirem a entrada de jovens universitárias nas salas de aula ou em campus com seus hijabs, os lenços religiosos que cobrem a cabeça e os cabelos. Essa discussão começou há algumas décadas mas nenhum dos lados politicos queria resolver.

Chegando ao final dos anos 90, no início dos anos 2000, Erdogan surguiu com seu novo partido oferecendo uma solução para os três problemas cruciantes da Turquia: pobreza, proibições e corrupções, problemas estes sempre presentes nas nações do mundo.

Como político de um paÍs emergente que sofrera na década de 90 com muitas notícias de corrupção, Erdogan queria oferecer e ganhar a confiança de milhões usando sua boa performance de anos de governo na prefeitura de Istanbul.      

Entre muitas confusões e sua determinada conduta, com seus recentes apoiadores mal informados, ele ganhou a eleição. Porém durante os três mandatos seguidos em que Erdogan permanceu, vieram as mudanças e as tendências autocratas.

 Em  2010, recebeu muito apoio e começou a mudar seu estilo mostrando-se um personagem mais forte ao interferir na mídia e ao fechar as instituições educacionais.

         Em 2012 surgiram novos problemas no país.  Em meados de 2016, cerca de 150 mil servidores públicos e soldados perderam seus cargos sendo demitidos e mais de 96 mil pessoas ainda estão presas, à espera de julgamento. A oposição afirma que pelo menos 6 mil acadêmicos foram atingidos, mais de 3 mil escolas foram confiscadas e fechadas, e mais de  33 mil professores perderam seus empregos. E, segundo a Plataforma para o Jornalismo Independente, uma organização local, mais de 319 jornalistas estão detidos desde a tentativa de golpe, em 2016.

Nos anos de 2012, 2013 teve início uma luta política contra o movimento Hizmet, querendo fechar as instituições educacionais como cursos de vestibular e fichar as pessoas simpatizantes  pelas organizações Hizmet.

 Em 2014 foram abertas duas operações grandes de corrupção contra o governo de Erdogan, em centenas de bilhões de dólares e a polícia chegou a prender alguns filhos de ministros do governo. A partir desse momento então, o Movimento Hizmet foi acusado de não ter apoiado o presidente. Erdogan começou a culpar o Movimento por tudo e iniciou uma grande perseguição, uma “caça às Bruxas”.

A Turquia passou por uma nova época de tirania, confiscando empresas, preendendo jornalistas, policiais que fizeram parte da investigação da corrupção,  empresários, professores, juizes, promotores e procuradores, acadêmicos, médicos.

Até o golpe frustrado de 2016, ainda havia um pouco de esperança no país, mas a partir de então, Erdogan passou a culpar ainda mais o Movimento Hizmet e a polícia prendeu em massa milhares das pessoas fichadas anteriormente. Sem acusação concreta, muitas pessoas passaram anos esperando um julgamento justo, os familiares dos que foram perseguidos tinham de sair fugidos do país por meios ilegais.  Morreram mais de 200 pessoas em meio a fugas do país, tendo seus barcos afundados nas águas do mar Egeu. Isto não fez parar o governo de Erdogan, preendeu ainda milhares de mulheres com suas crianças, idosos, mulhares grávidas, incluindo muitas pessoas deficientes.“


Da esquerda para a direita :

Atilla Kuss, Raul Meyer, Cônego Bizon, Mustafá Goektepe, Padre Fernando


Uma história muita parecida com o Holocausto repetiu-se, sendo considerada um grande crime pois ambos os lados pertencem à mesma raça, à mesma religião, porém com opinões diferentes, sendo um dos grupos realmente pacífico, totalmente diferenciado do grupo oponente.

 


“Quase 50 mil pessoas foram obrigadas a pedir refúgio a outros países, e milhares de pessoas ficaram na Turquia em condição de aniquilamento. Não é permitido trabalhar, abrir uma empresa, ou mesmo viajar para outro país, enfim, começar a uma nova vida.

 


Em poucas pinceladas, vemos que um país emergente em busca de melhoria pelo futuro, de repente viu-se atacado por parte de sua própria população, num movimento anti democrático e cruel que tratou os simpatizantes do Hizmet e da igualdade racial como se não fossem humanos.”

Melek relata mais injustiças e sofrimentos de seus irmãos turcos. E lembra com tristeza as agruras do povo judeu:

“Assim, somos irmãos judeus, cristãos e muçulmanos; somos seres humanos, todos nós temos nossas opções de escolha entre o bem e o mal. Podemos conviver juntos sem a preocupação da invasão dos direitos dos outros. Os cruéis devem saber que os verdadeiros crentes de um único Deus são amigos, e devem contar com um mundo melhor, sempre consagrando a vida dada por Deus, a coisa mais importante de tudo.

Igual a Moisés que com muita perseverança salvou seus seguidores do Faraó mais cruel da história da humanidade.

 Sentimos a mensagem de Jesus como um salvador que mostrou o caminho da fé e do amor em sua trajetória terrena.

O Profeta do Islam, o Profeta Muhammad, a paz de Deus esteja sobre todos Eles, mostrou o caminho de perdoar as pessoas e lembrou sempre a misericórdia de Deus.

Todos eles pronunciaram a mesma mensagem em uma boca diferente. Vimos nitidamente na história que todos os crentes sofreram perseguições e crueldade. Acabaram tornando-se refugiados em alguma parte do mundo, isso foi um destino comum, e todos nós somos simplesmente filhos de Adão.”

 

E a professora finaliza magistralmente, com a beleza e a luz de seu coração:

Estamos testemunhando mais uma vez que desenvolver estratégias e capacidades para uma coexistência pacífica, em meio às diferenças radicais e recursos naturais extinguíveis, é o principal desafio da nossa era. O mundo tem mais graça com aqueles que não são iguais a você. Ele é mais belo com aquilo que você aprende dos outros. Tenha a visão dos outros ao lado da sua própria visão...  para sua própria existência, você precisa dos outros também.

Talvez precisemos ver o mundo com um olhar diferente do outro. Nossas diferenças revelam nossa existência e nos enriquecem. Eu sou mais eu, com a presença daquilo que não é igual a mim. Se não houver outro, eu também não existirei.

Assim não sobrará nada, nem cor, nem amor e nenhuma harmonia na vida!”



Que o poder milenar do olho turco traga de volta a esperança para um mundo melhor!

 

 

FONTES:

O site oficial do Fethullah Gulen:

https://fgulen.com/pt/

Expurgo do Governo Turco depois do golpe 2016

https://turkeypurge.com/

Portal da voz da Turquia

http://vozdaturquia.com/

Stockholm center for freedom

https://stockholmcf.org/

 


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