TURQUIA, um governo ditatorial e cruel ...
...a beleza de um país que sofre em seus direitos humanos e com
a separação de famílias.
Por Itanira Heineberg
VOCÊ SABIA que os membros da Família Abraâmica - judeus,
cristãos e muçulmanos - sofrem com a situação de seus amigos turcos refugiados
no Brasil, seguidores do Hizmet e perseguidos em seu país de origem, obedientes
aos princípios democráticos e antirracistas, incapazes de se comunicarem
livremente com seus irmãos?
Os turcos que não compactuam com a autocracia de Erdogan, seu
governante atual, refugiam-se como podem
e quando podem escapar, por todos os cantos do mundo, muitos aqui no Brasil e
em São Paulo.
Mustafá Goektepe, Fatih Ozorpak e mais tarde Atilla Kus, junto
com Raul Meyer e o Cônego Bizon, criaram
a associação Família Abraâmica, onde os membros das três religiões oriundas de
Abraão convivem em harmonia, se encontrando regularmente, se conhecendo e
aprendendo sobre suas diferenças, crenças e tradições.
Em pé: Cônego Bizon, diretor da Casa de Reconciliação, e Ruth Junginger de Andrade, da Igreja Mórmon Sentados: Raul Meyer e Atilla Kus |
Os turcos exilados sofrem com as notícias do país e de seus
familiares presos, banidos de suas funções habituais, sendo taxados de
terroristas por não concordarem com a falta de democracia em sua nação.
E assim, em nossas reuniões mensais, entre refeições típicas
preparadas pelos membros dos grupos, conversando sobre os problemas dos
refugiados, entrevistei a professora de física Melek Ozorpak que nos oferece abaixo um relato apaixonado da
situação atual da Turquia e de seu povo.
Professora Melek, última à direita |
“O Hizmet, um movimento por um mundo melhor, com milhares de
participantes no mundo atuando em atividades humanitárias como educação, saúde
e desigualdade, teve seu início na década de 70. O movimento chamou atenção de pequenos grupos de
empresários e alunos universitários com seus discursos valorizando a educação e
o investimento na nova geração.
Gulen é um erudito
turco, pregador, pensador, autor, líder de opinião e inspirador do Movimento
Hizmet (significa “serviço”) que surgiu para solucionar problemas comuns
na sociedade turca onde era tão dificil estudar, conseguir terminar faculdade e
avançar ao futuro junto com os seus objetivos como qualquer jovem gostaria.
Só que os anos eram difíceis na Turquia com as brigas de
esquerda e direita dentro das ideologias extremistas via polarização. E no meio
desse ambiente tumultuoso, Gulen apareceu com seus discursos, orientando e estimulando o povo para se dedicar à
preparação dessa nova geração pela profundidade de conhecimento, sensibilidade
e eloquência.
A partir daí ele conseguiu mobilizar as pessoas através de sermões nas mesquitas
e discursos ao povo em diversos lugares
da cidde de Izmir.”
Mesquita Azul - ISTAMBUL |
“Gulen encorajou as pessoas a abrirem escolas e estabelecimentos
privados para a promoção de uma melhor educação aos jovens. Aqueles que
seguiram os pensamentos do Gulen, passaram a oferecer bolsas de estudo a
estudantes carentes. Logo depois, esses jovens apareceram nas primeiras colocações
nas provas nacionais e internacionais e também nas provas de vestibular da Turquia.
A maiorias destes alunos tornou-se médicos,
engenheiros, professores, arquitetos, cientistas. Durante esse periodo, décadas
de 80 e 90, participantes do Movimento
Gulen fundaram várias universidades, hospitais, associações empresariais, centros de estudo, orgãos de mídia,
etc... com o passar do tempo, o movimento se espalhou pelo mundo. Até hoje o
Movimento Hizmet abriu mais de 1500 escolas internacionais em cerca de 160 países.”
E a professora Melek continua seu relato, instruindo-nos a
respeito de seu distante país:
Da esquerda para a direita: Fatih Ozorpak, Raul Meyer, Cônego Bizon, Atilla Kus,
Alessandra e Anderson Figueiredo |
“O movimento Hizmet tem como suas principais ideias o diálogo
interreligioso e intercultural, compartilhando as convivências sem diferenciar
raça, cultura e religião. Ele sempre atua em prol da democracia, de liberdades,
buscando integrar a tradição com a
modernidade através do olhar humanístico.
A Turquia, depois de um período instável economicamente e em
termos de direitos simples de estudar, trabalhar e conviver num ambiente de tensões
políticas nos anos 90 sofreu uma série de intervenções militares de
forma mais pós-moderna. Quase diariamente surgiam tensões enormes entre segmentos
diferentes da sociedade turca. Os partidos que dominavam o país estavam numa
discussão grande de polêmicos religiosos e políticos, chegando ao ponto de proibirem
a entrada de jovens universitárias nas salas de aula ou em campus com seus
hijabs, os lenços religiosos que cobrem a cabeça e os cabelos. Essa discussão
começou há algumas décadas mas nenhum dos lados politicos queria resolver.
Chegando ao final dos anos 90, no início dos anos 2000,
Erdogan surguiu com seu novo partido oferecendo uma solução para os três
problemas cruciantes da Turquia: pobreza, proibições e corrupções, problemas
estes sempre presentes nas nações do mundo.
Como político de um paÍs emergente que sofrera na década de
90 com muitas notícias de corrupção, Erdogan queria oferecer e ganhar a confiança
de milhões usando sua boa performance de anos de governo na prefeitura de
Istanbul.
Entre muitas confusões e sua determinada conduta, com seus recentes
apoiadores mal informados, ele ganhou a eleição. Porém durante os três mandatos
seguidos em que Erdogan permanceu, vieram as mudanças e as tendências
autocratas.
Em 2010, recebeu muito apoio e começou a mudar
seu estilo mostrando-se um personagem mais forte ao interferir na mídia e ao
fechar as instituições educacionais.
Em 2012 surgiram novos
problemas no país. Em meados de 2016,
cerca de 150 mil servidores públicos e soldados perderam seus cargos sendo
demitidos e mais de 96 mil pessoas ainda estão presas, à espera de julgamento.
A oposição afirma que pelo menos 6 mil acadêmicos foram atingidos, mais de 3
mil escolas foram confiscadas e fechadas, e mais de 33 mil professores perderam seus empregos. E,
segundo a Plataforma para o Jornalismo Independente, uma organização local,
mais de 319 jornalistas estão detidos desde a tentativa de golpe, em 2016.
Nos anos de 2012, 2013 teve início uma luta política contra o
movimento Hizmet, querendo fechar as instituições educacionais como cursos de
vestibular e fichar as pessoas simpatizantes pelas organizações Hizmet.
Em 2014 foram abertas
duas operações grandes de corrupção contra o governo de Erdogan, em centenas de
bilhões de dólares e a polícia chegou a prender alguns filhos de ministros do
governo. A partir desse momento então, o Movimento Hizmet foi acusado de não
ter apoiado o presidente. Erdogan começou a culpar o Movimento por tudo e iniciou
uma grande perseguição, uma “caça às Bruxas”.
A Turquia passou por uma nova época de tirania, confiscando
empresas, preendendo jornalistas, policiais que fizeram parte da investigação
da corrupção, empresários, professores,
juizes, promotores e procuradores, acadêmicos, médicos.
Até o golpe frustrado de 2016, ainda havia um pouco de
esperança no país, mas a partir de então, Erdogan passou a culpar ainda mais o Movimento
Hizmet e a polícia prendeu em massa milhares das pessoas fichadas
anteriormente. Sem acusação concreta, muitas pessoas passaram anos esperando um
julgamento justo, os familiares dos que foram perseguidos tinham de sair fugidos
do país por meios ilegais. Morreram mais
de 200 pessoas em meio a fugas do país, tendo seus barcos afundados nas
águas do mar Egeu. Isto não fez parar o governo de Erdogan, preendeu ainda
milhares de mulheres com suas crianças, idosos, mulhares grávidas, incluindo muitas
pessoas deficientes.“
Da esquerda para a direita : Atilla Kuss, Raul Meyer, Cônego Bizon, Mustafá Goektepe,
Padre Fernando |
“Uma história muita parecida com o Holocausto repetiu-se,
sendo considerada um grande crime pois ambos os lados pertencem à mesma raça, à
mesma religião, porém com opinões diferentes, sendo um dos grupos realmente pacífico,
totalmente diferenciado do grupo oponente.
“Quase 50 mil pessoas foram obrigadas a pedir refúgio a outros países, e milhares de pessoas ficaram na Turquia em condição de aniquilamento. Não é permitido trabalhar, abrir uma empresa, ou mesmo viajar para outro país, enfim, começar a uma nova vida.
Em poucas pinceladas, vemos que um país emergente em busca de
melhoria pelo futuro, de repente viu-se atacado por parte de sua própria
população, num movimento anti democrático e cruel que tratou os simpatizantes do
Hizmet e da igualdade racial como se não fossem humanos.”
Melek relata mais injustiças e sofrimentos de seus irmãos
turcos. E lembra com tristeza as agruras do povo judeu:
“Assim, somos irmãos judeus, cristãos e muçulmanos; somos
seres humanos, todos nós temos nossas opções de escolha entre o bem e o mal.
Podemos conviver juntos sem a preocupação da invasão dos direitos dos outros. Os
cruéis devem saber que os verdadeiros crentes de um único Deus são amigos, e
devem contar com um mundo melhor, sempre consagrando a vida dada por Deus, a
coisa mais importante de tudo.
Igual a Moisés que com muita perseverança salvou seus
seguidores do Faraó mais cruel da história da humanidade.
Sentimos a mensagem de
Jesus como um salvador que mostrou o caminho da fé e do amor em sua trajetória
terrena.
O Profeta do Islam, o Profeta Muhammad, a paz de Deus esteja
sobre todos Eles, mostrou o caminho de perdoar as pessoas e lembrou sempre a
misericórdia de Deus.
Todos eles pronunciaram a mesma mensagem em uma boca
diferente. Vimos nitidamente na história que todos os crentes sofreram
perseguições e crueldade. Acabaram tornando-se refugiados em alguma parte do
mundo, isso foi um destino comum, e todos nós somos simplesmente filhos de
Adão.”
E a professora finaliza magistralmente, com a beleza e a luz
de seu coração:
“Estamos testemunhando mais uma vez que desenvolver
estratégias e capacidades para uma coexistência pacífica, em meio às diferenças
radicais e recursos naturais extinguíveis, é o principal desafio da nossa era.
O mundo tem mais graça com aqueles que não são iguais a você. Ele é mais belo
com aquilo que você aprende dos outros. Tenha a visão dos outros ao lado da sua
própria visão... para sua própria
existência, você precisa dos outros também.
Talvez precisemos ver o mundo com um olhar diferente do
outro. Nossas diferenças revelam nossa existência e nos enriquecem. Eu sou mais
eu, com a presença daquilo que não é igual a mim. Se não houver outro, eu
também não existirei.
Assim não sobrará nada, nem cor, nem amor e nenhuma harmonia na vida!”
Que o poder milenar do olho turco traga de volta a esperança
para um mundo melhor!
FONTES:
O site oficial do Fethullah Gulen:
Expurgo
do Governo Turco depois do golpe 2016
Portal
da voz da Turquia
Stockholm
center for freedom
Lindo país, cultura encantadas povo sofrido pela ganacia de poucos...
ResponderExcluir