A história judaica está repleta de episódios que destacam a diferença entre os judeus e a população majoritária de cada país. Em geral, quando estas diferenças ganham destaque os resultados são o aparecimento de ondas de antissemitismo e de perseguições. O fato de terem mantido por milênios uma identidade cultural e principalmente educacional faz com que, apesar das muitas tendências de se igualarem à população majoritária, tenham seguido sua história.
O princípio da diversidade é básico para que isto possa ocorrer. De tempos em tempos, surgem grupos que focam em alguns aspectos específicos e gostam de ditar regras gerais. Mas a sobrevivência ao longo dos anos mostra que há uma mudança ao longo dos séculos, sem que haja a perda de um processo básico: a capacidade de seguir em frente considerando princípios básicos que incluem não apenas regras sociais e regras de conduta. O D'us único, acompanhado da responsabilidade social e da capacidade de criar e transformar são características que não podem ser afastadas.
Esta semana, lemos um texto do Rabbi Jonathan Sacks que toca a todos que respeitam as diferenças humanas. Usando sua voz e meios de comunicação, ele coloca foco sobre vítimas coletivas do século XXI que são perseguidas, aterrorizadas, vitimizadas, exploradas e assassinadas por terem uma maneira especial de reverenciar D'us. A população Uighur muçulmana na China é um foco no momento, assim como os Tutsis em Ruanda são perseguidos pelos Hutus.
Essas barbáries são parte da dificuldade de se aceitar a diversidade humana. Se por um lado o proselitismo de muitas seitas religiosas ou ideológicas é inaceitável, por outro o combate sistemático é outro lado da mesma moeda.
Humanodiversidade seria uma forma de admitir as diferenças. Mas, para isto é preciso admitir que o conflito e a divergência são fatores com os quais devemos conviver e saber lidar. O oposto da diversidade é a igualdade. Muitos creem que se todos forem considerados iguais, haverá paz. Uma paz silenciosa, na qual as expectativas pessoais e grupais são abandonadas em nome da não existência de conflitos.
No judaísmo encontramos vários momentos que mostram ser este um caminho idealizado, que leva a uma ideologia e não a uma forma de conviver. A humanodiversidade é tão importante quanto a biodiversidade, e portanto tem que haver formas de lidar e crescer com as opiniões diferentes.
Neste ponto, o saber perguntar talvez seja mais importante que o saber responder. Perguntar mostra interesse no esclarecimento, no entender da lógica e no encontro de pontos de contato e de exclusão. Perguntar é a forma que temos para contrapor idéias gerais com exemplos individuais e com isto criar vias de comunicação.
Criar painéis de discussão que permitam o convívio e o aprendizado de quem é o outro é a forma que o judaísmo encontra para sobreviver por tantos anos - e é perguntando que as gerações se encontram e é perguntando que se abre a possibilidade de conviver na diversidade.
Regina P. Markus
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