Relíquias
antigas e um centro inter-religioso futurista: cresce a presença judaica nos
Emirados Árabes Unidos.
Por Itanira Heineberg
Você sabia
que hoje em dia os israelenses desejosos de conhecer o esplendor dos hotéis à
beira-mar, os arranha-céus nas alturas e as multidões globais de Dubai, a
cidade mais populosa dos Emirados Árabes Unidos, assim como a sua capital Abu Dhabi,
poderão realizar seus sonhos de ver o outro lado do mundo assim como o rabino Benjamin
de Tudela o fez no século XII?
A lápide
de Davi, filho de Moisés, no Museu Nacional de Ras al-Khaimah, no pano de fundo
do horizonte de Abu Dhabi (Departamento de Antiguidades e Museus, Ras Al
Khaimah, Emirados Árabes Unidos; Nousha Salimi/AP Imagens)
Dizem que
os israelenses, grandes andarilhos pelo mundo, sempre almejaram experimentar
humus em Beirute, visitar velhos cemitérios judeus no Iêmen, conhecer as
centenárias sinagogas do Iraque!
A partir do
acordo de da paz assinado com os Emirados Árabes em agosto de 2020, estes
sonhos poderão se transformar em realidade.
Com este
ato pacífico, os Emirados Árabes Unidos, um país conhecido como o bastião da
tolerância, vive a celebração da Diversidade.
Courtesy is a core value.
“Cortesia,
um valor fundamental”
é o mote do país.
Uma visão
cosmopolita e uma compreensão de tolerância determinaram a história dos Emirados
Árabes já muito antes do século XX, cultura esta da qual o país muito se
orgulha. Os EAU foram o primeiro país da península arábica a receber o atual
Papa Francisco, líder espiritual da igreja católica, em seu território.
No
entanto, os novos turistas não conhecerão a fundo a vida no mundo árabe, se
levarmos em conta que apenas 11% da população dos emirados é árabe. A grande
maioria dos residentes é constituída por trabalhadores de fora do país.
Porém, o
rabino Benjamin de Tudela, na ilustração acima, o primeiro viajante europeu a
explorar e conhecer a Europa e Ásia em meados dos anos 1100, teve oportunidade
de sentir a vida como ela era, entrando em contato direto com os naturais das
terras visitadas enquanto dialogava com seus próprios patrícios habitando em
mundos distantes.
“Benjamin
de Tudela, nascido no século 12 em Navarra, na França, foi o primeiro viajante
europeu conhecido a se aproximar das fronteiras da China e cujo relato de viagem,
Massaʿot (O Itinerário de Benjamin de Tudela,
1907), ilumina a situação dos judeus na Europa e na Ásia no século XII.”
Este
rabino de Navarra, saindo de Tudela, sua cidade, atingiu Saragoça, Barcelona,
percorrendo a França e sempre em frente. Foi um precursor dos caminhos para o
oriente, antecedendo Marco Polo por um século, que ao peregrinar pelos mesmos
rincões, escreveu sua obra ”O Livro das Maravilhas: A descrição do Mundo”
baseado em suas viagens entre 1271 e 1295.
Para o
judeu turista do século XXI, apenas vestígios da presença de seu povo ainda se
encontram no pequeno país do Golfo.
Seguindo o
famoso humor judaico, se há mais de um judeu, obviamente haverá duas sinagogas!
“A
moderna comunidade judaica dos Emirados Árabes Unidos só foi formalmente
estabelecida em 2008, e compreende inteiramente os imigrantes. Embora pequena,
numerando cerca de 2.000-3.000 pessoas, ela já está participando do que poderia
ser chamado de uma tradição próspera do debate judaico: não uma, mas duas
organizações alegaram em um ponto representar a comunidade dos Emirados Árabes
Unidos.
O
Conselho Judaico dos Emirados de Ross Kriel em Dubai abriga serviços em uma
sinagoga conhecida como "a vila", uma residência convertida, alugada
pela comunidade, com um santuário, cozinha completa, áreas para socializar e
brincar, uma piscina ao ar livre e vários quartos no andar de cima onde os
visitantes religiosamente observadores podem ficar durante o Shabbat.
A
existência de uma antiga comunidade judaica na área sobre a qual os Emirados
Árabes Unidos estão agora está mal documentada. Benjamin de Tudela disse que
encontrou uma comunidade judaica em Kis no emirado moderno de Ras al-Khaimah, mais
ao norte dos Emirados. Além de suas palavras, pouco traço dessa comunidade
permanece.
Mas os
registros de comunidades judaicas na área não desapareceram completamente. No
Museu Nacional de Ras al-Khaimah está a lápide de um Davi, filho de Moisés, desenterrada
na década de 1970 por moradores locais.
A
lápide apresenta escrita hebraica claramente legível, com alguns judaico-árabe
misturados. De acordo com o historiador Timothy Power, o misterioso Davi pode
ter migrado da Pérsia para o cosmopolita hormuz próximo no auge de seu
esplendor comercial, entre os séculos XIV e XVI.
A mensagem
escondida na antiga lápide judaica de Ras Al Khaimah. Esta lápide judaica
centenária foi desenterrada na década de 1970 por moradores locais na área de
Shimal de Ras Al Khaimah. (Cortesia do Departamento de Antiguidades e Museus em
Ras Al Khaimah)
Algo novo
está encantando os moradores do país e com certeza agradará os novos turistas:
"No
mês passado, um novo fornecedor kosher foi lançado em Dubai para servir a
crescente comunidade judaica, a primeira nova comunidade no mundo árabe em mais
de um século".
KOSHERATI:
Elli Kriel, foto acima, esposa do presidente da JCE, Ross Kriel, abriu
recentemente um bufê chamado "Elli's Kosher Kitchen" com a ministra
da Cultura dos Emirados Árabes Unidos, Noura al-Kaabi, saudando-a como um novo
capítulo na "história da comida do Golfo".
Como
podemos ver, os Emirados estão em paz com os judeus: já podemos visitar, há comida
kasher para quem desejar ou necessitar e temos direito de frequentar as
sinagogas ... e a “Casa da Família Abraâmica”.
“No
final de 2019, os Emirados Árabes Unidos anunciaram planos para um complexo de
oração inter-religiosa para as chamadas "crenças abraâmicas" —
muçulmanos, cristãos e judeus. Se a paz ainda se mantiver até 2022, os judeus,
incluindo israelenses judeus, poderão comparecer.
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A Casa da Família Abraâmica, a ser construída em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos (cortesia do Comitê Superior para a Fraternidade Humana) |
O
complexo será construído na Ilha Saadiyat, na costa de Abu Dhabi, capital do
país, o emirado mais rico e poderoso. Um dos edifícios será mais uma sinagoga
dos Emirados Árabes Unidos, ao lado de uma igreja, uma mesquita e outras
exposições que promovem a compreensão inter-religiosa.”
FONTES:
https://www.timesofisrael.com/ancient-relics-and-a-futuristic-interfaith-hub-4-jewish-thi
https://www.britannica.com/biography/Benjamin-of-Tudela
https://www.thenational.ae/opinion/comment/the-message-hidden-in-ras-al-khaimah-s-ancient-jewish-tombstone-1.1063162
https://www.timesofisrael.com/for-the-first-time-dubais-jewish-community-steps-hesitantly-out-of-the-shadows/