Por Itanira Heineberg
Você sabia que Marc Chagall foi o artista que mais consagrou seu talento e obra para celebrar a mulher de sua vida, sua musa inspiradora Bella Rosenfeld?
Ao
contrário da lenda da poeta gaúcha Carmen Vianna...
“Era uma
vez, e o romance começou numa noite de luar, tinha príncipe encantado, tinha
Bela Adormecida,
Luxo,
pompa, esplendor... mas a história durou pouco, pois tendo tanta beleza, tendo
príncipe e princesa, a história não tinha amor!”
... os
jovens Marc (1887-1985) e Bella (1889-1944) não se conheceram numa noite de
luar, mas viveram uma linda história de amor e fidelidade por quase trinta anos.
Bella, moça
bonita, inteligente e gentil, realmente compreendia Chagall e o aceitava tal
qual era.
Sua
percepção ao encontrá-lo foi como se sempre o tivesse sabido e percebido.
Eles se descobriram
em 1909, na fase dos vinte anos, na casa de Théa, namoradinha de Chagall.
Instantaneamente
foram atingidos pelas flechas do Cupido: um verdadeiro caso de amor à primeira
vista. Chagall sentiu que era com aquela jovem de olhos grandes e escuros que
ele queria estar para sempre.
A partir
de então viveu sob uma grande inspiração, a mulher por ele idolatrada era seu
símbolo de amor em todas suas obras.
Os jovens
cresceram em Vitebsk, Bielorússia (Rússia Branca), uma cidade na fronteira do
povoado destinado à população judaica por Catarina no século XVIII. Em meio a
dezenas de igrejas e sinagogas, a “Russian Toledo” da época era composta por
milhares de judeus, número equivalente a mais da metade de sua população. Este
foi o cenário onde Marc e Bella viveram o início de seu romance.
Vitebsk era bastante grande, com vários teatros, uma orquestra sinfônica da cidade e uma escola de arte fundada por Yehuda Pen. Na cidade se falava iídiche e as lojas e o comércio local fechavam às 15 horas da tarde nas sextas-feiras.
O artista Chagall,
Moïshe Zakharovich Shagalov, gravador e vitralista, lá nasceu em uma família
judaica humilde de dez filhos, numa periferia pobre, entre simples casinhas de
madeira, com galinhas e vacas soltas pelas ruelas.
A família de Bella, ricos comerciantes de joias, no início não aprovou a união dos jovens e não imaginava o que estaria por vir. Os joalheiros viviam no centro e possuíam uma vaca no celeiro que sempre os acompanhava ao campo.
Bella, escritora e tradutora, tinha grande interesse por arte e teatro e um belo futuro pela frente.
Chagall
encantou-se com a pintura desde muito cedo, ao conhecer o ateliê de um grande
retratista em sua cidade natal.
Em São Petersburgo perseguiu sua paixão pela arte e em 1910 mudou-se para Paris onde residiu até 1914.
Talvez as
saudades de Bella o tenham levado de volta à sua cidade onde, em 1915, casaram
e um ano mais tarde nasceu sua única filha, Ida.
Sempre
atrás de sua arte e dos movimentos por ela originados, a família mudou-se para
Petrogrado e em 1918 voltaram a Vitebsk onde Chagall tornou-se diretor da
Escola de Belas Artes.
Como todos
sabemos, a vida não foi clemente para os apaixonados, difíceis acontecimentos e
asperezas tiveram de enfrentar: duas revoluções, duas guerras, pobreza, riqueza
e ... várias viagens, às vezes em fuga para se salvarem.
Em 1924
estabeleceram-se em Paris e em 1941, com a chegada da ocupação nazista no país,
refugiaram se em Marselha como muitos outros judeus, e de lá seguiram para os
Estados Unidos onde Bella foi vítima de uma infecção viral vindo a falecer em
1944.
Este
grande amor ultrapassou várias barreiras, oceanos e perseguições, mas foi interrompido
pela doença.
Na obra “Près de la Fenêtre”, acima, Chagall faz uma homenagem póstuma à sua querida companheira. |
A mim parece
que aqui está me faltando uma certa inspiração romântica, um pouco do lirismo
de Goethe, para melhor expressar a força deste sentimento que nasceu num
primeiro olhar e nunca mais se extinguiu.
Este laço
de amor indestrutível conservado por quase uma centena de anos existiu e reviveu
nas telas de Chagall, nas características pinturas oníricas onde encontramos
pairando sobre as tonalidades do céu, a imagem de sua sempre noiva eterna!
Chagall amou sua esposa e companheira como jamais visto, com fervor e
idolatria, sentimentos estes que ele
carregou consigo até o final de seus dias, já beirando os 98 anos.
Chagall
apreciava as sessões de pintura em que Bella posava para ele, e as telas sempre
passaram por sua aprovação antes de receberem o toque final do artista.
E aqui fica uma divagação: como conseguiu o debutante pintor, encantado com as jovens de seu tempo, focar intensamente em sua obra, no amor e na consagração da mulher amada...
A leveza e o
flutuar de Chagall
FONTES:
https://www.beauxarts.com/grand-format/bella-rosenfeld-leternelle-fiancee-de-marc-chagall/
https://www.infoescola.com/biografias/marc-chagall/
https://www.jewishvirtuallibrary.org/bella-rosenfeld-chagall
https://periodicos.ufpb.br/index.php/letraseideias/article/view/26431
https://www.actualidadliteratura.com/pt/goethe-padre-romanticismo-aleman/
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