"Judeus,
muçulmanos, cristãos – éramos todos iraquianos – era o paraíso..."
Sim, judeus
no Iraque, um dos povos mais antigos do mundo.
Por Itanira Heineberg
Exílio dos
Judeus de Canaã à Babilônia, por James Tissot |
VOCÊ SABIA que os judeus do Iraque constituem uma das comunidades mais antigas e
historicamente significativas do mundo, desde os judeus que lá viveram por mais
de 2.600 anos até recentemente, início do século XXI?
Sim, a
história do país é tão rica em acontecimentos e influências humanas quanto em
nomes que recebeu através dos tempos:
Babilônia,
Shinar, Caldéia, Al-Jazireh, Mesopotâmia, Iraque.
Algumas dezenas de anos mais tarde, o
reino foi conquistado pelos persas com Ciro, em 539 AC, e os judeus foram
liberados para voltar à Judeia - porém uma grande maioria preferiu permanecer.
Ciro revelou ter recebido uma mensagem de Deus ordenando-lhe que permitisse a
volta dos judeus à sua terra de origem.
“Do período
babilônico até o século XX, o Iraque prosperou como um centro de aprendizagem
judaica. Após a queda de Jerusalém em 70 DC, o reino acolheu muitos refugiados judeus
em busca de um novo lar e assim o Iraque se tornou o centro da tomada de decisões
nos assuntos judaicos. O Cristianismo alcançou a Mesopotâmia no primeiro século
DC e as religiões viviam lado a lado.
Judeus em
Rawanduz - norte do Iraque |
As
academias babilônicas estavam em seu auge no século III DC, que marcou o início
de uma nova era para os judeus. Foi quando eles estabeleceram o estilo de
aprendizagem encontrado no Talmud, um livro de estudos jurídicos com histórias
folclóricas, piadas, debates e divergências em que todos os tópicos imagináveis
são cobertos, desde o debate jurídico,
teologia e música, até armadilhas para ratos.
O Talmud,
democracia ancestral. |
O Islã
chegou na década de 630 e a comunidade judaica tornou-se parte do califado
muçulmano. A cidade de Bagdá foi construída no século VIII e logo se tornou o
principal centro do mundo muçulmano durante os séculos da Idade de Ouro Islâmica.
Todas as
minorias tiveram que pagar um “poll tax”, imposto, e experimentaram alguma
discriminação, mas como “o povo do livro”, os judeus tinham um lugar amplo e
bem regulamentado na sociedade.
Sinagoga no
Iraque |
A
comunidade judaica sobreviveu às invasões mongóis da Idade Média e se saiu bem
sob o Império Otomano (1533–1918).
Durante o
governo dos otomanos, mais de 40% dos habitantes da cidade de Bagdá eram
judeus.
A
comunidade estabeleceu escolas modernas na segunda metade do século 19 com
financiamento de filantropos franceses.
Crianças
em uma escola judaica em Bagdá. |
Após a
Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano foi dividido e o Mandato Britânico
da Mesopotâmia foi estabelecido pela Liga das Nações, posteriormente chamado de
Iraque. Uma guerra de rebelião consumiu vastos recursos e colocou o povo do
Iraque um contra o outro. Mas Winston Churchill estava determinado a permanecer
no território, ciente de quanto petróleo seria necessário para abastecer uma
frota e que a Grã-Bretanha se beneficiaria com o controle de uma rota comercial
aberta para a Índia.
Em 1921, a
Grã-Bretanha impôs uma monarquia hachemita (administração semelhante à da
Jordânia) ao Iraque e definiu os limites territoriais do país. Depois de
centenas de anos como súditos de segunda classe institucionalizados, os judeus
começaram a desempenhar um papel importante na administração do país.
O primeiro-ministro
das finanças era um judeu, Sassoon Eskell. No entanto, isso criou uma divisão
entre muçulmanos e não muçulmanos. As minorias eram consideradas instrumentos
de política europeia.”
Sassoon
Eskell, o estadista que ajudou a fundar o Moderno Iraque. |
A virada
histórica no Iraque começou com os primeiros pogroms em meio ao século XX.
Em 1941,
durante a Segunda Guerra, aconteceu a Noite dos Cristais em Bagdá, quando 180 judeus
perderam a vida e mais de 2000 ficaram feridos.
A partir de
então os judeus foram perdendo a confiança no país e em 1948 quando o Iraque
entrou na coalizão árabe contra a criação do Estado de Israel, quase todos os
150.000 judeus foram exilados e perderam permanentemente a cidadania através de
uma lei que proíbe a restauração da mesma para sempre.
Judeus
iraquianos chegando a Israel em um voo de Chipre - 1950 |
Em 1951, 96%
da comunidade judaica havia saído do país.
A comunidade
judaica no Iraque hoje abriga menos de 5 indivíduos, mas em Israel vivem 219
mil judeus iraquianos.
Há poucas
semanas uma nova estrela pareceu brilhar sobre a terra que por mais de 2.500 anos
acolheu os judeus. Confira abaixo reportagem da revista Kadimah, traduzida por
Marcus Susskind:
“Um
evento sem precedentes no Iraque: Líderes sunitas e xiitas proeminentes pediram
abertamente a paz com Israel.
Em uma
conferência realizada em 24 de setembro 2021 em Irbil, capital do Curdistão
iraquiano, os líderes, incluindo o líder da maior federação tribal do Oriente
Médio - a Tribo Shemer - e ex-generais do exército iraquiano, exigiram que o
Iraque aderisse aos "Acordos de Abraham" - acordos de paz assinados
pelos Emirados Árabes Unidos e Bahrein com Israel.”
FONTES:
https://www.france24.com/en/live-news/20210328-iraq-s-jewish-community-dwindles-to-fewer-than-five
https://rememberbaghdad.com/history
https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_the_Jews_in_Iraq
https://www.ebiografia.com/dario_i/
https://www.enlacejudio.com/2017/09/07/el-talmud-democracia-ancestral/
https://www.revistakadimah.com/inicio/categories/mundo-judaico
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