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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Editorial - SER JUDEU

 

Quem é judeu?

O que é ser judeu? O que quer dizer que somos judeus? O que vem a ser o judaísmo e os judeus? Afinal, o judaísmo é apenas um aspecto de nossas vidas? E por fim, acredito que o mais importante: quando você é chamado ou se reconhece como judeu, de que tipo de comunidade você deseja fazer parte (construir)?

Um poeta em idish escreveu: “...ser judeu é correr sempre para D-us, mesmo sendo alguém que foge dele; é esperar ouvir a trombeta de D-us em qualquer dia, mesmo sendo ateu. É esperar ouvir a trombeta do Mashiach em qualquer dia, mesmo que se seja ateu. Ser judeu significa não poder abandonar a D-us, mesmo que se queira; significa não conseguir deixar de (lhe) rezar para ele, mesmo depois de todas as orações, sejam estas as da noite e mesmo depois de todas as da tarde...”[1]

Há quem afirme que o sentimento de pertencimento do ser humano, do indivíduo a um grupo ou a uma comunidade, se constitui a partir de três aspectos principais: a pátria, a língua e seus costumes (cultura). No entanto, realmente, o que faz com que se pertença a uma nação? O que faz que um indivíduo tenha uma realidade autónoma na alma e na vida, mas se sinta integrado a um Povo? O que é que faz o indivíduo se sentir parte de seu povo?  O que é que faz não apenas que o seu Povo esteja à sua volta, mas também dentro de si mesmo? [2]

Todas são questões feitas por Martin Buber na década de 1920 e que ainda são válidas em nossos tempos e para o Estado de Israel. E ainda, acrescentaria, em vista aos acontecimentos das últimas semanas em Israel e no Mundo, aos ataques a minorias e à democracia. Tais fatos me trouxeram angústia sobre o papel das democracias na segurança, no que é “Ser Judeu”.

Qual é o preço de se viver em uma democracia e em uma sociedade diversa? Estamos dispostos a pagá-lo? Aqueles que estão no topo da cadeia destas sociedades se incomodam com os direitos das minorias? E as minorias em uma democracia devem se curvar à maioria? O que tem a ver democracia com a identidade coletiva e com a individual?  

Buber ainda nos conta, para explicar o sentimento de pertencimento, que o ser humano em seu processo de descoberta de seu mundo repete em um nível superior os mesmos processos desenvolvidos por uma criança ao longo de sua vida. Em primeiro lugar, percebe seu pequeno entorno, posteriormente de forma lenta e gradativa, seu EU.

Assim nos comportamos, ao longo de nossa jornada em nossas vidas, na compreensão de nossa relação com a comunidade em que atuamos. Nos descobrimos indivíduos autônomos, nos expressamos, experimentamos, nos integramos e desta forma podemos criar junto à nossa comunidade. Deste modo, descobrimos nosso entorno a partir dos aspectos emocionais e experiências pessoais, nos perguntamos quem somos e como nos inserimos na comunidade.

 

 

Martin Buber

 

Continua Buber, “não nos sentimos apenas indivíduos particulares, se não que cada um sente-se ser o Povo e sente em si mesmo o Povo” [3]. Deste modo, o passado judaico faz parte de nós, não nos compadecemos do sofrimento das gerações passadas, mas sim, conhecemos este sofrimento porque é nosso. Reconhecemos o sofrimento e, ao reconhecê-lo, buscamos corrigir o presente e garantir um futuro melhor às gerações vindouras.

O judaísmo é também, e não apenas, um conjunto de ideias básicas de disciplina para a alma e para o corpo, provando que não se termina aqui. A Torá marca uma jornada como bússola e um manual de instruções para nossas vidas pessoais e comunitária. O judaísmo é plural e ético ao considerar todas as opiniões e perguntas de gerações passadas, presentes e refletir o futuro... e aqueles que não compreendem e não aceitam esta realidade diversa, é porque não compreendem o judaísmo plenamente. “O judaísmo não é preto e branco. É um arco-íris de cores”.[4]

O ser judeu é uma multiplicidade de dimensões que incluem e vão além do nacional, do linguístico, do religioso e do ideológico. Se desdobra num fascinante conjunto cultural e social que, apesar da sua diversidade, apresenta características e valores comuns, constituindo e refletindo uma civilização.

Sim, como afirma Mordecai Kaplan, o judaísmo como civilização é uma finalidade em si mesma[5]. E o judaísmo como civilização floresce com os princípios de liberdade, igualdade e democracia, princípios que estão em nosso DNA como Povo.  Para mencionar apenas um exemplo: a garantia dos direitos das minorias. Em Pessach lembramos de quando éramos escravos e o respeito ao estrangeiro que vive entre nós.

A diversidade judaica é reconhecida por todos: há judeus europeus, asiáticos, árabes, africanos, brancos e negros. A multiplicidade faz parte de Israel, mesmo com seus desafios de convívio, o que demostra até hoje o desejo de estabelecer uma sociedade eclética. Numa grande parte, esta característica eclética é fruto da Lei de Retorno, vitória de netos(as) de judeus e de judeus conversos que foram aceitos de igual para igual, na fundação de princípios básicos de civilidade e convívio sociais.

E Israel, refletindo um sintoma mundial, não está imune ao vírus da intolerância e dos extremismos ideológicos que assolam o Mundo. Porque Israel, desde de sua criação, acolheu toda a diversidade judaica conhecida. Mas vale lembrar que não se trata de apoiar ou não o Estado Israel, isto não está em questão. Nosso apoio a Israel é incondicional. Se trata da defesa dos direitos e garantias individuais e coletivos de milhões de judeus, e de não transformar um Estado laico em teocrático.

Nossos sábios ensinam que “tal como os rostos dos seres humanos diferem uns dos outros, o mesmo acontece com as suas convicções, também são diferentes. E tal como você pode tolerar um rosto diferente do seu, deve respeitar as opiniões de pessoas que pensam de forma diferente de você.[6]



Marcelo Cardoso



[1] Arn Tzeitlin - Poeta de língua idish de raiz chassídica (Rússia Branca 1889 - Nova York / 1973). Tradução livre realizada pelo autor do artigo.

[2]  Trecho retirado do artigo “El Judaísmo y Los Judíos”, Martin Buber (1923) do libro “Über das Judentum”.

[3] El Judaísmo y La Humanidad”, Martin Buber (1923).

[4] Rabina Irina Gritsevskaya - Diretor da Midreshet Schechter Ucrânia

[5] Mordecai M. Kaplan, em “La Civilización de Israel em la Vida Moderna”, Israel 1944.

[6] Rabi de Kotzk – Lider do movimento chassídico Bilgoray, Polonia (1787/1859).

 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

VOCÊ SABIA? - Dia das Meninas

 Hanukkah já chegou e o Dia das Meninas, Eid- al Banat, também!

Por Itanira Heineberg



Você sabia que o Dia das Meninas, também conhecido como Rosh Hodesh L'Banot, tem sido celebrado em Israel por mais de uma década em uma variedade de configurações e geralmente em grandes agrupamentos?



Antigamente este dia era celebrado no norte da África, e agora está sendo renovado em Israel. Muitos eventos de poesia e estudos são realizados para comemorar a fraternidade e o poder femininos.

A origem da festa atribuída à Torá foi observada modernamente no norte da África e no Oriente Médio em países como Tunísia, Líbia, Marrocos, Argélia, Turquia e em Tessalônica, na Grécia.

As comunidades que preservam o festival repetem as requintadas e múltiplas tradições que envolvem este dia. A princípio, as práticas eram como um segredo de posse apenas das mulheres das comunidades observadoras - porém rapidamente as celebrações passaram ao conhecimento de todos e as famílias começaram a participar publicamente das cerimônias sem os mistérios do passado.



 

*Na Tunísia, uma celebração conjunta era realizada neste dia para as meninas que faziam o Bat Mitzvá naquele ano. Todas as meninas da mitzvá se reuniam, agradeciam suas mães e avós, recebiam presentes e, dentre eles, o grande presente - a mitzvá.

*Em Salonica, Grécia, as mulheres pediam perdão umas às outras animadamente, como na véspera do Yom Kippur. Em Djerba, era considerado o dia das solteiras, que se reuniam para comemorar. Participar do evento era considerado uma virtude para se casar naquele ano.

 

Miriam Peretz falou sobre esta noite em sua infância no Marrocos:

 

"Parávamos a vida por causa de um dia cheio de mim e você, um dia de saudação ao heroísmo feminino diário. O heroísmo não está apenas no campo de batalha, mas também na educação de crianças, na comunidade. Era o dia de todas as heroínas do dia a dia.”

 

Existe uma lenda antiga sobre esta data que se refere aos dias do Segundo Templo, os dias de Ezra e Nehemia, em que os casamentos mistos aumentavam consideravelmente. Assim, neste mesmo dia Ezra exigiu que a assimilação acabasse e os homens parassem de se unir a mulheres estrangeiras e se casassem com as filhas de Israel.

 

Este feriado observado na sétima noite de Hanukkah acontece às vésperas do primeiro dia do mês hebraico de Tevet. Assim sendo, este dia lembra também a coroação da Rainha Ester ocorrida no dia primeiro de Tevet.

Não podemos esquecer que o Dia das Meninas não homenageia uma única heroína judia e sim todas judias valorosas que se destacaram: Esther, com certeza por salvar os judeus da Pérsia; Judith, que matou Holofernes, o terrível general de Nabucodonosor; e Hannah, filha de Matatias, que encorajou seus irmãos contra os gregos - o que provocou a Revolta dos Macabeus!

 

A escritora Esther Dagan Kaniel relata com saudades seus dias de criança no Dia das Meninas na Tunísia, lá denominado em francês  “La fête des filles”:

 

“Segundo a tradição, os sacerdotes exilados do Primeiro e do Segundo Templos chegaram à ilha de Djerba trazendo consigo suas antigas tradições, entre elas a celebração do Eid al-Banat. Isso é o que há de belo nas tradições judaicas da Tunísia; tradições como os rituais do Dia das Meninas não se desenvolveram na Diáspora, mas remontam à época do Templo.

No Dia das Meninas, a mãe contava o heroísmo de Judith, que salvou o povo de Israel, e Yael e a rainha Ester, que foi coroada rainha neste dia. Não era diferente dos outros feriados, pois a mãe associava cada feriado a um caráter diferente. Por exemplo, ela dizia que a pessoa que jejuou no Jejum de Ester foi capaz de “provar” um pouco do que Ester experimentou.”

 

A estudiosa Yael Levine relata como cada comunidade judaica do norte da África celebrava o empoderamento feminino:

 

“Na Tunísia, as meninas judias trocavam presentes e comida e abstinham-se do trabalho neste dia. Na Líbia, as meninas se visitavam e davam uma festa alegre. Na ilha de Djerba, na Tunísia, mulheres solteiras também comemoravam o feriado, que se pensava trazer boa sorte para um casamento bem-sucedido. Além disso, uma comemoração especial era realizada para os noivos: à tarde, a família da noiva trazia uma bandeja de doces para a família do noivo e, à noite, o noivo retribuía trazendo presentes como perfume e joias para a casa de sua noiva. Mais tarde, seus parentes se juntariam e as duas famílias concluiriam a noite com uma refeição festiva compartilhada. Também era costume na Tunísia celebrar festas conjuntas de bat mitzvah no Dia das Meninas. Alguns até se deliciavam com refeições de leite e laticínios, presumivelmente para comemorar o heroísmo da heroína bíblica Yael, que matou o general cananeu Sisra depois de sedá-lo com leite.”

 

A contadora de histórias Shoshana Krebsy nos contou sobre o significado do feriado no Marrocos:

 

 “As comemorações do Dia das Meninas no dia primeiro de Tevet eram menos comuns nas comunidades marroquinas pela simples razão de que uma celebração semelhante era realizada no primeiro dia de cada mês do calendário hebraico. Nas sociedades e famílias patriarcais, as mulheres precisavam ser capazes de expressar seus sentimentos, e os círculos femininos se formavam como grupos de apoio para as mulheres, especialmente para as jovens noivas. Pensando nessa cerimônia, é realmente uma espécie de contrato entre as mulheres – uma irmandade.”

 

Como vemos, o feriado é para todos mas teve inspiração no desempenho das mulheres em tempos difíceis em que a fé era muito importante.

Já no acontecimento do bezerro de ouro as mulheres demonstraram a força de sua fé inabalável ao se recusarem a doar suas joias para um ídolo no qual não acreditavam.

Comemora-se este dia com um gostoso Rosh Hodesh, ou seja, Um Bom Ano, quando as mulheres diminuem seus trabalhos caseiros e todos reunidos ao redor da mesa proferem orações especiais agradecendo pelos alimentos e a grande bondade de D’us. Esta é uma refeição mais festiva com música, pão, vinho e outras iguarias de acordo com as receitas das famílias.


Eid al-Banat em Israel


A grande mudança na celebração desta festa ocorreu num dos jogos favoritos das crianças, o jogo dos piões de quatro faces, que sempre joguei com meus alunos nesta época do ano.

Em Israel após a Guerra dos Seis Dias os sevivonim, ou piões, que as crianças usam passaram a ter uma pequena diferença: ao invés da letra shin (para designar sham, 'lá') em uma das faces do pião, aparece a letra pei, de pô, 'aqui'. Assim as letras do sevivon formam a frase: "Um grande milagre aconteceu aqui", isto é, aqui em nossa Terra de Israel.



FONTES:

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=pfbid036HB6xyvtk5mpZTk7Vz8WRJTeHo25fjyqV4mmdBRj2E

http://www.morasha.com.br/chanuca/chanuca-atraves-do-mundo.html

http://www.institutobrasilisrael.org/2018/09/09/como-o-rosh-hashana-e-comemorado-em-israel/

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/2227921/jewish/Por-Que-Rosh-Chodesh-Considerado-Feriado-das-Mulheres.htm


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Editorial - A FESTA DAS LUZES

 



Chegamos na última quinzena de dezembro e última quinzena de Kislev. No próximo domingo à noite, dia 25 de Kislev (18 de dezembro 2022), inicia-se a comemoração de Chanucá, a FESTA DAS LUZES. Também as cidades das Américas e da Europa se iluminam anunciando a chegada do Natal. Tempo de Luzes... Tempo de Liberdade... Tempo de Consagração.

Chanucá celebra "a conquista de Jerusalém pelos Macabeus e a consagração do Templo de Jerusalém após a vitória sobre os gregos". O fato histórico é verídico e coincide com as comemorações de Chanucá, mas o que realmente é lembrado em cada casa judaica é um "impossível" mais sutil.

A Judéia estava sob domínio grego e no ano 164 aEC (antes da era comum), Jerusalém foi reconquistada pelos judeus liderados por Yehuda ha Macabi. A dinastia dos Hasmonaim (חשמונאים) reinou até o ano de 37 aEC. Foi nesta época que se iniciou a diáspora judaica que durou dois mil anos até a fundação do moderno Estado de Israel. Vale lembrar que um pequeno grupo de judeus permaneceu em Israel durante toda a diáspora e que a volta de outros foi ocorrendo ao longo dos séculos. Mas foi o movimento sionista, iniciado no Leste Europeu em resposta às perseguições antissemitas nos territórios da Rússia czarista e fortalecido por Theodor Herzl, junto aos Congressos Sionistas Mundiais em resposta ao antissemitismo francês que degradou o Capitão Alfred Dreyfus, deportado para a Ilha do Diabo na América do Sul, que promoveram o restabelecimento do Estado de Israel.

Chanucá é chamada a Festa das Luzes porque nela é celebrada a iluminação do Templo de Jerusalém - manter uma chama acesa dentro do Templo era uma forma de consagração. Mas conta a história que os Macabeus encontraram óleo suficiente para manter uma chama acesa por apenas um ou dois dias. A chama foi acesa e durou 8 dias, o tempo suficiente para que mais óleo fosse produzido. Assim, em Chanucá celebra-se a luz. Não uma luz que cega e perturba, mas a luz de uma chama que aquece e permite que as formas reais mostrem suas sombras. Uma luz que guia. Lembrando fatos e celebrando o impossível, acendemos a Chanukiá, uma vela por noite. Contamos a história dos Macabeus em prosa, versos e canções. Ao longo dos séculos foram sendo criados costumes especiais - e um deles é rodar um pião em que, em cada um de seus quatro lados, está gravada uma letra que compõe a frase NESS GADOL HAIA SHAM (Grande Milagre Aconteceu Lá) (Nun נ; Guimel ג ; He ה ; Shinש ).  E se estivermos em Jerusalém?  A brincadeira é feita com um dado que substitui a palavra “Lá” por “Aqui”... e a letra Shin por Pei (פ).

E se passaram 127 anos entre os gregos e os romanos. Ao final desses 127 anos havia uma importante cisão entre os cidadãos da Judéia. A história contada por diferentes fontes traz informações díspares, confirmando que havia uma importante cisão. Os hasmoneus perderam o reino e a última batalha se deu nos anos de 73 e 74. Relatada pelo historiador da época, Flavius Joséfus, a última resistência localizou-se em Massada, um monte ao sul do Mar Morto cujo topo é uma plataforma e que abrigou as últimas famílias que tentaram reconquistar a Judéia.

Nos dias de hoje Chanucá é uma festa dos sonhos! Delícia de sonhos com chocolate ou creme! Estar em família e acender as velas é sempre muito especial. Comer o doce e abençoar a vida e o momento é delicioso. E olhar o futuro com a "História na Mão", como cantavam os versos de Geraldo Vandré, é necessário.

Desejamos a todos um Chag Sameach - com muitos sonhos e luzes - muitas luzes que não anulem o escuro e com muitos dias e noites pela frente.


Regina P. Markus


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

VOCÊ SABIA - Sir Evelyn de Rothschild

 Por Itanira Heineberg

Sir Evelyn de Rothschild, descendente de judeus do gueto de Frankfurt,

patriarca da rica família bancária, morre aos 91 anos em novembro 2022.


Você sabia que o Banco Rothschild, da família de Sir Evelyn, originou-se em 1700 no gueto judeu de Frankfurt, Alemanha?

Segundo a historiadora Natalie Livingstone, naquela época os judeus viviam confinados em uma pequena área, um gueto ao redor da margem leste da cidade - o Judengasse, ou "Faixa dos Judeus", de onde esperava-se que os judeus nunca saíssem até o fim de seus dias.

 

“Os judeus de Frankfurt nasceram entre as casas densamente lotadas do Judengasse, adoravam seu shul (sinagoga) e faziam compras em seu mercado; estudaram, trabalharam e morreram lá... Ao longo dos séculos, sem ter para onde ir, os edifícios foram forçados a subir, e saliências em balanço foram construídas para maximizar o espaço de vida na mesma pequena área. Havia pouca luz do dia e o ar denso e esfumaçado e os esgotos a céu aberto dificultavam a respiração.” (Citado em TheWomen of Rothschild: The Untold Story of the World's Most Famous Dynastypor Natalie Livingstone. John Murray: 2001)

 

Durante o dia os judeus tinham permissão para sair do gueto, mas nos feriados cristãos os portões eram trancados e os habitantes lá dentro permaneciam.

Os cristãos de Frankfurt não tinham consideração ao se depararem com judeus nas ruas da cidade, gritavam “Judeu, cumpra seu dever”, e o coitado era obrigado a tirar o chapéu e se afastar.

Também eram proibidos de trabalhar nas empresas, e assim operavam no comércio de empréstimo de dinheiro.


 Judengasse – Caminho do Judeus em Frankfurt


Amschel Moses, o patriarca da família Rothschild, era conhecido por todos os moradores do gueto por sua piedade e desprendimento. Trabalhava como assistente de um rabino próximo, distribuindo semanadas para os pobres.

Amschel morreu em 1757 e em seu túmulo encontramos a frase: "Um homem que observou o tempo prescrito para o estudo da Torá".


“Quando Amschel morreu, seu filho Mayer estava estudando em uma yeshiva. Agora chefe da família, Mayer deixou a escola para aprender com uma empresa bancária em Hanôver. Eventualmente, Mayer, juntamente com sua esposa Gutle, construiu sua própria casa de empréstimo bem-sucedida, ainda vivendo no gueto de Frankfurt.

Apesar de sua riqueza, eles viviam em uma casa apertada onde eles e seus dez filhos dormiam juntos em um quarto. Cinco filhos de Mayer fundaram suas próprias empresas financeiras Rothschild em cinco cidades europeias diferentes. Amschel permaneceu em Frankfurt; Karl construiu um banco em Nápoles; Jakob fundou a empresa Rothschild Freres em Paris; Nathan fundou o banco N. M. Rothschild em Londres; Salomão construiu seu próprio banco em Viena. Após as Guerras Napoleônicas, as empresas bancárias Rothschild foram fundamentais para ajudar a reconstruir a Europa, criando muitos dos mecanismos bancários modernos que conhecemos hoje ao longo do caminho.”

 

Em poucas linhas temos a história de Amschel Moses e seus filhos batalhadores!

Edmond James de Rothschild foi um dos mais amados e admirados descendentes dos Rothschild. No final dos anos 1800/início dos anos 1900 os imigrantes judeus iniciaram a construção de novos assentamentos agrícolas na terra de Israel e ele e sua esposa Adelheid ampararam estes esforços, fornecendo apoio para 44 cidades e fazendas judaicas.


Edmond James de Rothschild


Na década de 1930 o casal faleceu em Paris, e após o estabelecimento do Estado de Israel seus restos mortais foram levados para Israel e sepultados entre duas das cidades das quais participaram da criação.

O então primeiro-ministro David Ben Gurion disse em seu funeral:

 

"Duvido que, em toda a história do povo judeu na Diáspora, um período de 2.000 anos, alguém possa encontrar um homem comparável em estatura ao incrível personagem que foi o Barão Edmond de Rothschild - o construtor do Yishuv judeu (comunidade) em nossa pátria renovada".

 

Falemos agora de Sir Evelyn, nascido em 1931 às vésperas do nazismo na Alemanha. Já em sua infância, ele, seus familiares e amigos sofreram um aumento do assédio e perseguição aos judeus, o que alterou a vida de todos no continente europeu.

 

“A mãe de Sir Evelyn era Yvonne Lydia Louise de Rothschild, descendente de uma família de banqueiros judeus de Antuérpia; ela e seu marido Anthony de Rothschild viviam uma vida de luxo, dividindo seu tempo entre Londres e Ascott, sua bela casa de campo.”

 

Ao perceberem o perigo o casal tomou uma atitude. Com a chegada de Hitler ao poder em 1933 Yvonne participou da fundação de um grupo para ajudar as mulheres judias alemãs, arrecadando fundos e levando centenas de crianças judias para a Grã-Bretanha e para Israel.

Com o advindo da guerra eles transformaram sua elegante residência em Ascott em hospital e abrigo para veteranos bombardeados e assim expulsos de suas casas em Londres. Ascott também se tornou um depósito seguro para itens salvos de museus e sinagogas em Londres.

O menino Evelyn atravessou tempos difíceis, mas nunca se afastou dos princípios de sua educação.

Defender o bom nome de seus antecessores fazia parte de suas crenças, "E defendê-lo ele fez", observou The Economist, onde atuou como presidente por 17 anos. 


Seguindo os princípios de Tikun Olam, consertar o mundo e praticar a caridade, Tsedaká, Sir Evelyn viveu suas 9 décadas de olhos abertos para todos os que o rodeavam.

Seu maior legado é a instituição de caridade por ele iniciada em 1967, a Fundação Eranda Rothschild, que traz seu nome assim como os de suas duas irmãs, Renée e Anne.

 

“Sir Evelyn apoia a pesquisa médica, programas sociais e as artes na Grã-Bretanha e em Israel, e oferece um testemunho duradouro de um homem que trabalhou duro para defender os ideais de integridade, caridade e compromisso de sua família com as causas israelenses.”

 

FONTES:

https://aish.com/remembering-sir-evelyn-de-rothschild/?acid=fadd240d104f4473d37020b15fc03c91&src=ac-txt

https://www.therichest.com/celebnetworth/celebrity-business/men/sir-evelyn-de-rothschild-net-worth/

https://www.celebritynetworth.com/richest-businessmen/richest-billionaires/sir-evelyn-de-rothschild-net-worth/

https://www.agenzianova.com/news/morto-a-91-anni-evelyn-de-rothschild-il-finanziere-filantropo/


quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Editorial - ENVIAR (enviou, וישלח)- A forma judaica de se comunicar

 

ENVIAR (enviou, וישלח)- A forma judaica de se comunicar



 

Seguindo a cada semana as "prashiot" da Torah, encontramos uma quantidade infinita de ensinamentos e mensagens que singram os tempos e encontram eco na atualidade. Esta semana lê-se a parashá Vaishlach (enviou, Genesis 32:13 - 36:43). Uma porção densa, repleta de pontos de grande importância na formação do Povo de Israel. Jacob sai da casa de Laban e segue ao encontro de seu irmão (inimigo?) Esaú. Sobre estes poucos versículos vamos basear este texto. Mas antes, e de forma resumida, lembramos que também nesta parashá lemos a história de Diná, única filha de Jacob. Teve um filho do príncipe de Shechen e seus irmãos (Shimon e Levi) resgatam Diná. Frase curta que admite muitas versões, mas ficará para uma outra oportunidade. E segue o texto contando que Jacob segue para o local onde havia sonhado com os anjos subindo e descendo uma escada, retorna a Bet-El, e lá ergue um altar onde será o futuro Templo de Jerusalém. É quando D'us abençoa Jacob e troca seu nome para Israel. Aqui está a união entre O Monte do Templo, como é chamado o Har Moriah, e o Povo de Israel. Também na leitura desta semana são relatadas a morte de Rachel após dar à luz seu segundo filho, Benjamin, e a morte de Jacob com 180 anos.

 

Leitura analisada ao longo dos séculos por muitos talmudistas, pensadores e cientistas. O episódio em que vou focar e transportar para o nosso século está na primeira parte, quando Jacob é informado que Esaú vem em sua direção com um exército e com presentes. Jacob tinha gado e grande família, e eram muitos os que estavam a caminho. Mas ele resolveu sair sozinho para se encontrar com seu irmão. A noite chegou e é então relatado um dos episódios mais comentados e que encontra várias interpretações: Jacob luta com um ser que muitos dizem que é um anjo – mas um anjo do mal. Como mostrando que o irmão de Jacob, apesar de ser um homem de guerra e caça, era também uma criação Divina. Assim, Jacob lutou com seus demônios, que também era seu irmão. Luta com força e destreza e vence, mas a marca da luta fica em seu corpo, especificamente na região do quadril, dificultando a sua marcha. Em nome desta luta, quando Jacob vence um enviado, seu nome é, no final do texto, mudado para Israel.

 

O Povo de Israel convive com esta dualidade por milênios. Quando observamos a GALUT, uma das grandes questões é se os descendentes de Israel (Jacob) devem ou não assimilar os hábitos e costumes dos países em que moram, ou devem usar indumentárias e manter hábitos triviais que destoam da comunidade em geral de forma a marcar sua presença? Esta foi uma questão levantada no Egito, na Grécia e em Roma e ainda é uma questão relevante nos nossos dias.

 

Acompanha este editorial um texto da jornalista inglesa Melanie Phillips que foca no antissemitismo nos tempos modernos. Usa como mote o lançamento de uma coletânea de livros intitulada "Biblioteca do Povo Judeu" pela Editora Koren. O primeiro livro é uma coletânea dos escritos de Theodore Herzl (1860-1904). Nascido com Benjamin, troca o nome para Theodor para estar melhor inserido na comunidade austríaca. Segue a vida sem muito judaísmo e sem se dar conta do antissemitismo que está à sua volta.


Nas palavras de Melanie "Herzl estava em permanente crise de identidade - um conflito entre o iluminismo europeizante e a cultura judaica, cuja importância fundamental só iria entender aos poucos". A mesma luta de Jacob entre distinguir o irmão do inimigo. E chega um momento em que Herzl vê além do que está sendo transmitido: ao cobrir como jornalista a degradação de Dreyfus, passa a ter a certeza que não era um caso de traição, mas sim de antissemitismo. Passa então a ser um tradutor e propalador dos ideais sionistas que borbulhavam na Europa Oriental, lá pelas terras do Czar, que também tinha um forte componente de antissemitismo.

 

Se pularmos para os dias de hoje, temos inúmeros exemplos de antissemitismo na Europa, nos Estados Unidos e aqui mesmo no Brasil. As universidades brasileiras, a exemplo do que acontece nas principais universidades americanas, têm episódios de antissemitismo explícito! Mas ao mesmo tempo existe um redescobrir do judaísmo e sua cultura. Novamente estamos entre o A e o B. Nos dias de hoje adicionamos um novo componente - O Estado de Israel é uma realidade. Pequeno em matéria de território e população, mas com uma pujança impressionante quando pensamos em ciência e inovação.

 

Neste ponto surge uma nova questão: judeus israelenses e judeus da diáspora, cuja identidade civil não está ligada ao judaísmo. Esta nova questão é adensada pelas diferentes formas de praticar judaísmo e pelo fato de que judeus continuam sendo judeus independente de praticarem ou não a religião.

São vários conflitos com o que vou chamar de Anjo de Jacob - aquele que luta como inimigo e abençoa como irmão.

 

As lutas internas devem ser superadas e a vida deve seguir. Ao amanhecer, após lutar com o anjo e ficar ferido, Jacob segue ao encontro de seu irmão, Esaú. O encontro é pacífico, amigável e permite que cada um siga o seu caminho renovado.

 

Se ainda não estamos nesta fase, há muitos indícios de que podemos chegar lá, tanto nas relações externas do Estado de Israel com os países árabes quanto na relação entre judeus ortodoxos e liberais.

 

No dia 3 de dezembro de 2022 o Presidente de Israel chegou em Bahrein para assinar diversos acordos de cooperação e ficou emocionado ao escutar o Hino de Israel (Hatikva, Esperança) ao lado do Príncipe herdeiro Salman Bin Hamad al Khalifa. Também foram mantidas conversações com o Rei Hamad bin Isa al Khalifa. Histórica por ser a primeira, relevante por permitir que esta parte do mundo, com diferenças tão marcantes, possa aumentar nossa esperança em um futuro com mais paz.

 

Finalmente, a paz entre os irmãos pode significar separação total porque a diversidade foi admitida. Mas ao visitar o Estado de Israel e conviver intensamente com pessoas que lá residem, fica evidente que é preciso dar um outro passo. Conviver com os diferentes. Fazer com que objetivos comuns não sejam destruídos por diferentes formas de encarar o judaísmo. Tanto nos extremos liberais, quanto nos extremos ortodoxos vemos florescer a intolerância. Esta tem espaço garantido nas mais diferentes mídias. Atualmente com a mídia operada por todos nós, encontramos máquinas que tentam convencer que um lado é mais forte que o outro.

 

Como é bom quando vamos a uma sinagoga ortodoxa e nos sentimos benvindos e quando podemos receber ortodoxos em nosso meio. Isto tem ocorrido em São Paulo, mas em Israel?

 

Encerro esta reflexão sobre a parashat da semana mostrando que irmãos podem se encontrar no objetivo comum de manter o Estado de Israel para todos os judeus e conviver com as diferenças. Vejam o texto encaminhado por Beny Gantz, Ministro de Defesa de Israel, sobre o serviço militar de seu filho, Nadav.

 

Manter as diferenças e buscar a convivência é a forma que os anjos encontram de se aproximar dos homens. Vamos enviar esta mensagem!

 

Regina P. Markus

 

À direita - Nadav, o meu filho mais velho. Um soldado no 890o Batalhão. À esquerda - Mordechai, membro do Chabad e soldado do 13o batalhão em Golani. Recebi nesta semana esta foto histórica, do Rabbi Nahum, que atua na comunidade Chabad em Rosh Ha'ayin.

        Nadav e Mordechai conheceram-se no curso de formação do exército de defesa de Israel (IDF). Dois jovens, um secular, o outro um membro Chabad alistaram-se para proteger todos os cidadãos de Israel. Esta é a história da IDF. Esta é a história da nossa sociedade.

Nos dias em que há discussão em torno da lei de recrutamento e, infelizmente, polarização entre diferentes setores na sociedade israelense, escolho lembrar a importância da unificação.

A nossa capacidade de ser uma sociedade que inclui todas as suas tribos e respeitam as crenças uns dos outros.

Nos últimos dois anos e meio, comecei a construir um modelo de serviço que permitirá manter a IDF como exército do povo e que todos os cidadãos contribuam para o estado.

Infelizmente eu não completei o ofício. O recrutamento e a contribuição para o país são parte integrante do nosso pertencimento, e são também um dos lugares onde diferentes pessoas, como Nadav e Mordachi, podem conhecer-se.

Em dias de tensões na nossa sociedade, devemos lembrar que temos apenas uma IDF, e que devemos zelar por ela acima de qualquer argumento político. A nossa segurança depende disto, a nossa força como sociedade é construída sobre isto.

Shabat Shalom,

Beny Gantz - 2 dezembro 2022

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

VOCÊ SABIA? - Montana Tucker

 

Montana Tucker educando sobre o Holocausto no Tik Tok e Instagram

Por Itanira Heineberg




Você sabia que uma atriz de 29 anos, cantora e criadora de conteúdo com mais de 11 milhões de seguidores nas redes, está iluminando o mundo com aulas sobre o Holocausto?

Ela se apresentava em suas redes como judia e contava as experiências dolorosas de seus antepassados durante o Holocausto, mas ao começar a ser insultada com menções antissemitas e afirmações de que o Holocausto era uma lenda, ela percebeu como as pessoas desconheciam esta parte triste da História. Descobriu que o assunto não fazia mais parte do currículo escolar e decidiu ensinar o mundo no projeto “How to Never Forget”, ou seja, Como Nunca Esquecer.



Além de seus shows e vídeos engraçados,  partiu para  estudar o assunto e apresentá-lo com exatidão ao seu público. Foi quando teve a ideia de convidar seus fãs a viajar com ela e sua mãe a Auschwitz, numa peregrinação de procuras e descobertas de sua própria família.

 

“Montana não queria apenas falar sobre o Holocausto; ela queria que seus milhões de seguidores se juntassem a ela em uma viagem a Auschwitz e a compartilhassem em tempo real.”

 

Em 1944 a avó de Montana, Lilly, tinha 13 anos quando foi colocada no vagão de gado junto à sua família. Ao chegar no campo ela e a irmã não foram direcionadas para a fila das câmaras de gás e se salvaram. Com muitos sofrimentos, perdas e dores elas sobreviveram.


Montana e sua avó Lilly.


Neste movimento de busca sobre o Holocausto, Montana conheceu Israel Schachter, CEO da Charity Bids, que a convidou para visitar a Polônia e Auschwitz. Eles decidiram usar sua plataforma para criar uma série educacional sobre o Holocausto a ser transmitida por Tik Tok e Instagram.

Nossa nova educadora preparou-se psicologicamente para a viagem. Ela conhecia todas as histórias, mas visitar in loco os lugares tristes era diferente. Ela e sua mãe foram muito bem recebidas e acompanhadas durante a viagem de 7 dias. A experiência foi mais intensa do que elas esperavam. Montana não podia entender todo o horror da situação:

"A Polônia é um país lindo. Achei incompreensível que todo esse mal estivesse acontecendo em um belo país. As pessoas estavam vivendo suas vidas normalmente, enquanto ao lado delas havia câmaras de gás. Havia prédios de apartamentos do lado de fora dos campos. Como as pessoas podiam viver assim?"


Montana e sua mãe se emocionam chegando ao lugar onde Lilly viu sua mãe pela última vez, ao entrar no trem da morte!



Após 100 horas de filmagem os produtores tiveram o exaustivo trabalho de editar e cortar cenas acomodando a matéria em clipes curtos ao invés de um vídeo completo e muito longo. O conteúdo pequeno do Tik Tok é uma maneira ideal para alertar as crianças, para que desde muito jovens comecem a aprender sobre o Holocausto.

O produto ficou pronto ainda antes da Noite dos Cristais e Montana recebeu 90% de aprovação em suas redes - porém 10% foram insultos e ofensas contra a matéria.

Assistamos clicando aqui a uma das curtas do Instagram.

Montana tem atingido um grande público e espera que sua série ajude a instruir e inspirar as pessoas que ignoram esta triste parte da História da humanidade.

O Holocausto foi um acontecimento que nunca poderá ser esquecido, mas ensinado a todos para que nunca mais se repita. Assim como ela, também nós da EshtanaMídia perseveraremos para exterminar qualquer ódio ao nosso redor, numa tentativa de unir a população global com o propósito de incutir aceitação e tolerância pelas diferenças humanas e amor incondicional por nossos semelhantes.

"Nada acontece por acaso", disse Israel Schachter. "Conheci Montana na hora certa. Tivemos a ideia no momento certo. Lançamos a série no momento certo. Deus estava liderando o caminho. Mas uma coisa que Deus não fez foi fazer de Montana a corajosa, genuína e sincera que ela é. Isso é tudo ela. Ela fez isso. E ela usou sua plataforma para fazer algo incrivelmente corajoso com o qual espero que outros influenciadores aprendam. Ter esse tipo de plataforma e alcance é uma tremenda responsabilidade, e ela mostrou ao mundo como isso é feito. Tenho muito orgulho de chamá-la de amiga."


How To Never Forget - Como Nunca Esquecer


FONTES:

https://aish.com/montana-tucker-is-bringing-holocaust-education-to-tiktok-and-instagram/?acid=fadd240d104f4473d37020b15fc03c91&src=ac-feattxt

https://www.timesofisrael.com/tiktok-influencer-montana-tucker-makes-holocaust-docu-series-for-gen-z/

https://people.com/human-interest/tiktoker-montana-tucker-debuts-holocaust-series-antisemitism/

https://www.facebook.com/IsraelNationalNews/videos/823449435392225


sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Editorial - Intolerância religiosa e a anulação do diferente

 


“INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ANULAÇÃO DO DIFERENTE”

 

Este foi o tema de um encontro realizado na PUC no último dia 7 de Novembro.

Na oportunidade éramos 3 palestrantes representando a Igreja Católica, a religião Bahai e eu, o Judaísmo, para comentar o que acontece em nossos dias nas 3 religiões no que toca à intolerância.

A realidade mostra que vivemos num mundo em que cada vez mais a intolerância cresce entre as mais diversas culturas humanas - e as religiões são um dos focos mais visados.

Outro foco visado pelos radicais da intolerância é a diferença cultural. Esta diferença cultural entre os seres humanos é uma das bases do desconhecimento; e este desconhecimento da outra cultura, o alicerce da ignorância.

Tanto a Igreja Católica como a religião Bahai, além, claro, do Judaísmo, são alvos de perseguições em nossos dias e da tentativa de anulação do diferente. Aliás, a mesma realidade acontece com outras religiões em outros países e locais do globo.

O que me chamou a atenção foi o relatório da representante da religião Bahai comentando que no Irã, um país de maioria muçulmana Xiita, a perseguição a participantes da sua religião está tomando aspectos dramáticos e extremamente preocupantes. Dezenas de participantes da religião Bahai são presos semanalmente. Aliás, temos acompanhado o movimento do povo Iraniano contra o radicalismo religioso dos seus dirigentes.

Demonstrações a favor da liberdade acontecem por iranianos em várias partes do mundo contra a tentativa de anulação do diferente em seu país como, por exemplo, na copa do mundo no Catar.

A representante Bahai no evento comentou que o país de maior liberdade religiosa é Israel, onde se situa um dos maiores e mais bonitos templos Bahai do mundo, na cidade de Haifa.   

A representante da Igreja católica, aliás da “Igreja que Sofre” uma das correntes com sede no Vaticano,  também comentou as perseguições que acontecem a seus participantes.

Acabo de ler na internet sobre o sequestro no Mali do padre Hans-Joachim Lohre, também conhecido entre os amigos como Ha-Jo, que desenvolvia um importante trabalho ao nível do diálogo inter-religioso, lecionando no Instituto de Educação Cristã-Islâmica.

Perseguições a judeus fazem parte, lamentavelmente, do dia a dia em alguns países – inclusive os muito desenvolvidos como a França, como por exemplo.

Em nosso país, incontáveis mostras de intolerância permeiam o noticiário.

Assassinatos em escolas por jovens ainda em idade de formação, ataques a templos de religiões de raízes africanas, demonstrações nazistas em crescimento... enfim... lamentavelmente.... demais.

Pergunto aos “meus botões” o porquê desta intolerância com o alvo de anulação do diferente em nossos dias, quando o conhecimento da cultura ou da religião “do outro” não é difícil...? É só consultar o Dr Google... lá tem praticamente tudo...

Será que a história humana já não tem exemplos suficientes de tragédias humanas, como por exemplo a tentativa de aniquilar a cultura judaica na Europa pelo regime nazista, que para tal criou uma “máquina de morte” sistemática? A ideia nazista de criar uma raça superior e, havendo uma superior haveria uma ou várias inferiores... não foi o suficiente?

No evento da PUC pude mostrar que no judaísmo o respeito pelo ser humano de religião ou cultura diferente, qualquer que seja a sua origem, faz parte de nossa religião. O falecido e conhecido rabino Henry Sobel costumava falar uma frase que ficou na minha memória: “A missão de um judeu não é fazer o mundo virar judeu, a missão de um judeu é fazer o mundo melhor”.

No Judaísmo o conhecimento do diferente é importante... para podermos avaliar a nossa religião devemos conhecer as dos outros, e o conhecer não é mostrar as diferenças religiosas ou culturais, muito pelo contrário, é mostrar o que temos de semelhanças.

Finalmente as religiões abraâmicas – ou seja o Judaísmo, o Cristianismo e a religião islâmica - todas têm profundas raízes no judaísmo.

Finalizando, iniciativas como a da PUC permitem a troca do conhecimento da realidade de outras religiões e culturas que nos possibilitam unirmo-nos para o trabalho de divulgação de nossas raízes e com isto criarmos um mundo melhor, mais humano e respeitoso.

Em poucas semanas teremos a festa de Chanuká, onde acenderemos um candelabro de 9 braços para 9 velas relembrando a reinauguração do Templo de Jerusalém que tinha sido profanado pelos Gregos-Sírios no passado, e por outro lado nossos irmãos cristãos farão a festa do Natal onde a árvore de natal é um dos símbolos. Ambos os símbolos têm como a base as Luzes.

Que cada um seja uma luz forte num mundo tão escuro dos nossos dias,

Shabat Shalom

Raul Meyer