ENVIAR
(enviou, וישלח)- A forma judaica de se comunicar
Seguindo
a cada semana as "prashiot" da Torah, encontramos uma quantidade
infinita de ensinamentos e mensagens que singram os tempos e encontram eco na
atualidade. Esta semana lê-se a parashá Vaishlach (enviou, Genesis 32:13 -
36:43). Uma porção densa, repleta de pontos de grande importância na formação
do Povo de Israel. Jacob sai da casa de Laban e segue ao encontro de seu irmão
(inimigo?) Esaú. Sobre estes poucos versículos vamos basear este texto. Mas
antes, e de forma resumida, lembramos que também nesta parashá lemos a história
de Diná, única filha de Jacob. Teve um filho do príncipe de Shechen e seus
irmãos (Shimon e Levi) resgatam Diná. Frase curta que admite muitas versões,
mas ficará para uma outra oportunidade. E segue o texto contando que Jacob
segue para o local onde havia sonhado com os anjos subindo e descendo uma
escada, retorna a Bet-El, e lá ergue um altar onde será o futuro Templo de
Jerusalém. É quando D'us abençoa Jacob e troca seu nome para Israel. Aqui está
a união entre O Monte do Templo, como é chamado o Har Moriah, e o Povo de
Israel. Também na leitura desta semana são relatadas a morte de Rachel após dar
à luz seu segundo filho, Benjamin, e a morte de Jacob com 180 anos.
Leitura
analisada ao longo dos séculos por muitos talmudistas, pensadores e cientistas.
O episódio em que vou focar e transportar para o nosso século está na primeira
parte, quando Jacob é informado que Esaú vem em sua direção com um exército e
com presentes. Jacob tinha gado e grande família, e eram muitos os que estavam
a caminho. Mas ele resolveu sair sozinho para se encontrar com seu irmão. A
noite chegou e é então relatado um dos episódios mais comentados e que encontra
várias interpretações: Jacob luta com um ser que muitos dizem que é um anjo –
mas um anjo do mal. Como mostrando que o irmão de Jacob, apesar de ser um homem
de guerra e caça, era também uma criação Divina. Assim, Jacob lutou com seus
demônios, que também era seu irmão. Luta com força e destreza e vence, mas a
marca da luta fica em seu corpo, especificamente na região do quadril, dificultando
a sua marcha. Em nome desta luta, quando Jacob vence um enviado, seu nome é, no
final do texto, mudado para Israel.
O
Povo de Israel convive com esta dualidade por milênios. Quando observamos a
GALUT, uma das grandes questões é se os descendentes de Israel (Jacob) devem ou
não assimilar os hábitos e costumes dos países em que moram, ou devem usar
indumentárias e manter hábitos triviais que destoam da comunidade em geral de
forma a marcar sua presença? Esta foi uma questão levantada no Egito, na Grécia
e em Roma e ainda é uma questão relevante nos nossos dias.
Acompanha
este editorial um
texto da jornalista inglesa Melanie Phillips que foca no antissemitismo nos
tempos modernos. Usa como mote o lançamento de uma coletânea de livros
intitulada "Biblioteca do Povo Judeu" pela Editora Koren. O primeiro
livro é uma coletânea dos escritos de Theodore Herzl (1860-1904). Nascido com
Benjamin, troca o nome para Theodor para estar melhor inserido na comunidade
austríaca. Segue a vida sem muito judaísmo e sem se dar conta do antissemitismo
que está à sua volta.
Nas
palavras de Melanie "Herzl estava em permanente crise de identidade -
um conflito entre o iluminismo europeizante e a cultura judaica, cuja
importância fundamental só iria entender aos poucos". A mesma luta de
Jacob entre distinguir o irmão do inimigo. E chega um momento em que Herzl vê
além do que está sendo transmitido: ao cobrir como jornalista a degradação de
Dreyfus, passa a ter a certeza que não era um caso de traição, mas sim de
antissemitismo. Passa então a ser um tradutor e propalador dos ideais sionistas
que borbulhavam na Europa Oriental, lá pelas terras do Czar, que também tinha
um forte componente de antissemitismo.
Se
pularmos para os dias de hoje, temos inúmeros exemplos de antissemitismo na
Europa, nos Estados Unidos e aqui mesmo no Brasil. As universidades
brasileiras, a exemplo do que acontece nas principais universidades americanas,
têm episódios de antissemitismo explícito! Mas ao mesmo tempo existe um
redescobrir do judaísmo e sua cultura. Novamente estamos entre o A e o B. Nos
dias de hoje adicionamos um novo componente - O Estado de Israel é uma
realidade. Pequeno em matéria de território e população, mas com uma pujança
impressionante quando pensamos em ciência e inovação.
Neste
ponto surge uma nova questão: judeus israelenses e judeus da diáspora, cuja
identidade civil não está ligada ao judaísmo. Esta nova questão é adensada
pelas diferentes formas de praticar judaísmo e pelo fato de que judeus
continuam sendo judeus independente de praticarem ou não a religião.
São
vários conflitos com o que vou chamar de Anjo de Jacob - aquele que luta como
inimigo e abençoa como irmão.
As
lutas internas devem ser superadas e a vida deve seguir. Ao amanhecer, após
lutar com o anjo e ficar ferido, Jacob segue ao encontro de seu irmão, Esaú. O
encontro é pacífico, amigável e permite que cada um siga o seu caminho
renovado.
Se
ainda não estamos nesta fase, há muitos indícios de que podemos chegar lá, tanto
nas relações externas do Estado de Israel com os países árabes quanto na
relação entre judeus ortodoxos e liberais.
No
dia 3 de dezembro de 2022 o Presidente de Israel chegou em Bahrein para assinar
diversos acordos de cooperação e ficou emocionado ao escutar o Hino de Israel (Hatikva,
Esperança) ao lado do Príncipe herdeiro Salman Bin Hamad al Khalifa. Também
foram mantidas conversações com o Rei Hamad bin Isa al Khalifa. Histórica por
ser a primeira, relevante por permitir que esta parte do mundo, com diferenças
tão marcantes, possa aumentar nossa esperança em um futuro com mais paz.
Finalmente,
a paz entre os irmãos pode significar separação total porque a diversidade foi
admitida. Mas ao visitar o Estado de Israel e conviver intensamente com pessoas
que lá residem, fica evidente que é preciso dar um outro passo. Conviver com os
diferentes. Fazer com que objetivos comuns não sejam destruídos por diferentes
formas de encarar o judaísmo. Tanto nos extremos liberais, quanto nos extremos
ortodoxos vemos florescer a intolerância. Esta tem espaço garantido nas mais
diferentes mídias. Atualmente com a mídia operada por todos nós, encontramos
máquinas que tentam convencer que um lado é mais forte que o outro.
Como
é bom quando vamos a uma sinagoga ortodoxa e nos sentimos benvindos e quando
podemos receber ortodoxos em nosso meio. Isto tem ocorrido em São Paulo, mas em
Israel?
Encerro
esta reflexão sobre a parashat da semana mostrando que irmãos podem se
encontrar no objetivo comum de manter o Estado de Israel para todos os judeus e
conviver com as diferenças. Vejam o texto encaminhado por Beny Gantz, Ministro
de Defesa de Israel, sobre o serviço militar de seu filho, Nadav.
Manter
as diferenças e buscar a convivência é a forma que os anjos encontram de se
aproximar dos homens. Vamos enviar esta mensagem!
Regina
P. Markus
À direita - Nadav, o meu filho mais velho. Um soldado no 890o
Batalhão. À esquerda - Mordechai, membro do Chabad e soldado do 13o
batalhão em Golani. Recebi nesta semana esta foto histórica, do Rabbi Nahum, que
atua na comunidade Chabad em Rosh Ha'ayin.
Nadav e Mordechai
conheceram-se no curso de formação do exército de defesa de Israel (IDF). Dois
jovens, um secular, o outro um membro Chabad alistaram-se para proteger todos
os cidadãos de Israel. Esta é a história da IDF. Esta é a história da nossa
sociedade.
Nos dias em que há discussão em torno da lei de recrutamento e,
infelizmente, polarização entre diferentes setores na sociedade israelense,
escolho lembrar a importância da unificação.
A nossa capacidade de ser uma sociedade que inclui todas as suas
tribos e respeitam as crenças uns dos outros.
Nos últimos dois anos e meio, comecei a construir um modelo de
serviço que permitirá manter a IDF como exército do povo e que todos os
cidadãos contribuam para o estado.
Infelizmente eu não completei o ofício. O recrutamento e a
contribuição para o país são parte integrante do nosso pertencimento, e são
também um dos lugares onde diferentes pessoas, como Nadav e Mordachi, podem
conhecer-se.
Em dias de tensões na nossa sociedade, devemos lembrar que temos
apenas uma IDF, e que devemos zelar por ela acima de qualquer argumento político.
A nossa segurança depende disto, a nossa força como sociedade é construída
sobre isto.
Shabat Shalom,
Beny Gantz - 2 dezembro 2022
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