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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Editorial - ENVIAR (enviou, וישלח)- A forma judaica de se comunicar

 

ENVIAR (enviou, וישלח)- A forma judaica de se comunicar



 

Seguindo a cada semana as "prashiot" da Torah, encontramos uma quantidade infinita de ensinamentos e mensagens que singram os tempos e encontram eco na atualidade. Esta semana lê-se a parashá Vaishlach (enviou, Genesis 32:13 - 36:43). Uma porção densa, repleta de pontos de grande importância na formação do Povo de Israel. Jacob sai da casa de Laban e segue ao encontro de seu irmão (inimigo?) Esaú. Sobre estes poucos versículos vamos basear este texto. Mas antes, e de forma resumida, lembramos que também nesta parashá lemos a história de Diná, única filha de Jacob. Teve um filho do príncipe de Shechen e seus irmãos (Shimon e Levi) resgatam Diná. Frase curta que admite muitas versões, mas ficará para uma outra oportunidade. E segue o texto contando que Jacob segue para o local onde havia sonhado com os anjos subindo e descendo uma escada, retorna a Bet-El, e lá ergue um altar onde será o futuro Templo de Jerusalém. É quando D'us abençoa Jacob e troca seu nome para Israel. Aqui está a união entre O Monte do Templo, como é chamado o Har Moriah, e o Povo de Israel. Também na leitura desta semana são relatadas a morte de Rachel após dar à luz seu segundo filho, Benjamin, e a morte de Jacob com 180 anos.

 

Leitura analisada ao longo dos séculos por muitos talmudistas, pensadores e cientistas. O episódio em que vou focar e transportar para o nosso século está na primeira parte, quando Jacob é informado que Esaú vem em sua direção com um exército e com presentes. Jacob tinha gado e grande família, e eram muitos os que estavam a caminho. Mas ele resolveu sair sozinho para se encontrar com seu irmão. A noite chegou e é então relatado um dos episódios mais comentados e que encontra várias interpretações: Jacob luta com um ser que muitos dizem que é um anjo – mas um anjo do mal. Como mostrando que o irmão de Jacob, apesar de ser um homem de guerra e caça, era também uma criação Divina. Assim, Jacob lutou com seus demônios, que também era seu irmão. Luta com força e destreza e vence, mas a marca da luta fica em seu corpo, especificamente na região do quadril, dificultando a sua marcha. Em nome desta luta, quando Jacob vence um enviado, seu nome é, no final do texto, mudado para Israel.

 

O Povo de Israel convive com esta dualidade por milênios. Quando observamos a GALUT, uma das grandes questões é se os descendentes de Israel (Jacob) devem ou não assimilar os hábitos e costumes dos países em que moram, ou devem usar indumentárias e manter hábitos triviais que destoam da comunidade em geral de forma a marcar sua presença? Esta foi uma questão levantada no Egito, na Grécia e em Roma e ainda é uma questão relevante nos nossos dias.

 

Acompanha este editorial um texto da jornalista inglesa Melanie Phillips que foca no antissemitismo nos tempos modernos. Usa como mote o lançamento de uma coletânea de livros intitulada "Biblioteca do Povo Judeu" pela Editora Koren. O primeiro livro é uma coletânea dos escritos de Theodore Herzl (1860-1904). Nascido com Benjamin, troca o nome para Theodor para estar melhor inserido na comunidade austríaca. Segue a vida sem muito judaísmo e sem se dar conta do antissemitismo que está à sua volta.


Nas palavras de Melanie "Herzl estava em permanente crise de identidade - um conflito entre o iluminismo europeizante e a cultura judaica, cuja importância fundamental só iria entender aos poucos". A mesma luta de Jacob entre distinguir o irmão do inimigo. E chega um momento em que Herzl vê além do que está sendo transmitido: ao cobrir como jornalista a degradação de Dreyfus, passa a ter a certeza que não era um caso de traição, mas sim de antissemitismo. Passa então a ser um tradutor e propalador dos ideais sionistas que borbulhavam na Europa Oriental, lá pelas terras do Czar, que também tinha um forte componente de antissemitismo.

 

Se pularmos para os dias de hoje, temos inúmeros exemplos de antissemitismo na Europa, nos Estados Unidos e aqui mesmo no Brasil. As universidades brasileiras, a exemplo do que acontece nas principais universidades americanas, têm episódios de antissemitismo explícito! Mas ao mesmo tempo existe um redescobrir do judaísmo e sua cultura. Novamente estamos entre o A e o B. Nos dias de hoje adicionamos um novo componente - O Estado de Israel é uma realidade. Pequeno em matéria de território e população, mas com uma pujança impressionante quando pensamos em ciência e inovação.

 

Neste ponto surge uma nova questão: judeus israelenses e judeus da diáspora, cuja identidade civil não está ligada ao judaísmo. Esta nova questão é adensada pelas diferentes formas de praticar judaísmo e pelo fato de que judeus continuam sendo judeus independente de praticarem ou não a religião.

São vários conflitos com o que vou chamar de Anjo de Jacob - aquele que luta como inimigo e abençoa como irmão.

 

As lutas internas devem ser superadas e a vida deve seguir. Ao amanhecer, após lutar com o anjo e ficar ferido, Jacob segue ao encontro de seu irmão, Esaú. O encontro é pacífico, amigável e permite que cada um siga o seu caminho renovado.

 

Se ainda não estamos nesta fase, há muitos indícios de que podemos chegar lá, tanto nas relações externas do Estado de Israel com os países árabes quanto na relação entre judeus ortodoxos e liberais.

 

No dia 3 de dezembro de 2022 o Presidente de Israel chegou em Bahrein para assinar diversos acordos de cooperação e ficou emocionado ao escutar o Hino de Israel (Hatikva, Esperança) ao lado do Príncipe herdeiro Salman Bin Hamad al Khalifa. Também foram mantidas conversações com o Rei Hamad bin Isa al Khalifa. Histórica por ser a primeira, relevante por permitir que esta parte do mundo, com diferenças tão marcantes, possa aumentar nossa esperança em um futuro com mais paz.

 

Finalmente, a paz entre os irmãos pode significar separação total porque a diversidade foi admitida. Mas ao visitar o Estado de Israel e conviver intensamente com pessoas que lá residem, fica evidente que é preciso dar um outro passo. Conviver com os diferentes. Fazer com que objetivos comuns não sejam destruídos por diferentes formas de encarar o judaísmo. Tanto nos extremos liberais, quanto nos extremos ortodoxos vemos florescer a intolerância. Esta tem espaço garantido nas mais diferentes mídias. Atualmente com a mídia operada por todos nós, encontramos máquinas que tentam convencer que um lado é mais forte que o outro.

 

Como é bom quando vamos a uma sinagoga ortodoxa e nos sentimos benvindos e quando podemos receber ortodoxos em nosso meio. Isto tem ocorrido em São Paulo, mas em Israel?

 

Encerro esta reflexão sobre a parashat da semana mostrando que irmãos podem se encontrar no objetivo comum de manter o Estado de Israel para todos os judeus e conviver com as diferenças. Vejam o texto encaminhado por Beny Gantz, Ministro de Defesa de Israel, sobre o serviço militar de seu filho, Nadav.

 

Manter as diferenças e buscar a convivência é a forma que os anjos encontram de se aproximar dos homens. Vamos enviar esta mensagem!

 

Regina P. Markus

 

À direita - Nadav, o meu filho mais velho. Um soldado no 890o Batalhão. À esquerda - Mordechai, membro do Chabad e soldado do 13o batalhão em Golani. Recebi nesta semana esta foto histórica, do Rabbi Nahum, que atua na comunidade Chabad em Rosh Ha'ayin.

        Nadav e Mordechai conheceram-se no curso de formação do exército de defesa de Israel (IDF). Dois jovens, um secular, o outro um membro Chabad alistaram-se para proteger todos os cidadãos de Israel. Esta é a história da IDF. Esta é a história da nossa sociedade.

Nos dias em que há discussão em torno da lei de recrutamento e, infelizmente, polarização entre diferentes setores na sociedade israelense, escolho lembrar a importância da unificação.

A nossa capacidade de ser uma sociedade que inclui todas as suas tribos e respeitam as crenças uns dos outros.

Nos últimos dois anos e meio, comecei a construir um modelo de serviço que permitirá manter a IDF como exército do povo e que todos os cidadãos contribuam para o estado.

Infelizmente eu não completei o ofício. O recrutamento e a contribuição para o país são parte integrante do nosso pertencimento, e são também um dos lugares onde diferentes pessoas, como Nadav e Mordachi, podem conhecer-se.

Em dias de tensões na nossa sociedade, devemos lembrar que temos apenas uma IDF, e que devemos zelar por ela acima de qualquer argumento político. A nossa segurança depende disto, a nossa força como sociedade é construída sobre isto.

Shabat Shalom,

Beny Gantz - 2 dezembro 2022

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