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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Editorial - Intolerância religiosa e a anulação do diferente

 


“INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E ANULAÇÃO DO DIFERENTE”

 

Este foi o tema de um encontro realizado na PUC no último dia 7 de Novembro.

Na oportunidade éramos 3 palestrantes representando a Igreja Católica, a religião Bahai e eu, o Judaísmo, para comentar o que acontece em nossos dias nas 3 religiões no que toca à intolerância.

A realidade mostra que vivemos num mundo em que cada vez mais a intolerância cresce entre as mais diversas culturas humanas - e as religiões são um dos focos mais visados.

Outro foco visado pelos radicais da intolerância é a diferença cultural. Esta diferença cultural entre os seres humanos é uma das bases do desconhecimento; e este desconhecimento da outra cultura, o alicerce da ignorância.

Tanto a Igreja Católica como a religião Bahai, além, claro, do Judaísmo, são alvos de perseguições em nossos dias e da tentativa de anulação do diferente. Aliás, a mesma realidade acontece com outras religiões em outros países e locais do globo.

O que me chamou a atenção foi o relatório da representante da religião Bahai comentando que no Irã, um país de maioria muçulmana Xiita, a perseguição a participantes da sua religião está tomando aspectos dramáticos e extremamente preocupantes. Dezenas de participantes da religião Bahai são presos semanalmente. Aliás, temos acompanhado o movimento do povo Iraniano contra o radicalismo religioso dos seus dirigentes.

Demonstrações a favor da liberdade acontecem por iranianos em várias partes do mundo contra a tentativa de anulação do diferente em seu país como, por exemplo, na copa do mundo no Catar.

A representante Bahai no evento comentou que o país de maior liberdade religiosa é Israel, onde se situa um dos maiores e mais bonitos templos Bahai do mundo, na cidade de Haifa.   

A representante da Igreja católica, aliás da “Igreja que Sofre” uma das correntes com sede no Vaticano,  também comentou as perseguições que acontecem a seus participantes.

Acabo de ler na internet sobre o sequestro no Mali do padre Hans-Joachim Lohre, também conhecido entre os amigos como Ha-Jo, que desenvolvia um importante trabalho ao nível do diálogo inter-religioso, lecionando no Instituto de Educação Cristã-Islâmica.

Perseguições a judeus fazem parte, lamentavelmente, do dia a dia em alguns países – inclusive os muito desenvolvidos como a França, como por exemplo.

Em nosso país, incontáveis mostras de intolerância permeiam o noticiário.

Assassinatos em escolas por jovens ainda em idade de formação, ataques a templos de religiões de raízes africanas, demonstrações nazistas em crescimento... enfim... lamentavelmente.... demais.

Pergunto aos “meus botões” o porquê desta intolerância com o alvo de anulação do diferente em nossos dias, quando o conhecimento da cultura ou da religião “do outro” não é difícil...? É só consultar o Dr Google... lá tem praticamente tudo...

Será que a história humana já não tem exemplos suficientes de tragédias humanas, como por exemplo a tentativa de aniquilar a cultura judaica na Europa pelo regime nazista, que para tal criou uma “máquina de morte” sistemática? A ideia nazista de criar uma raça superior e, havendo uma superior haveria uma ou várias inferiores... não foi o suficiente?

No evento da PUC pude mostrar que no judaísmo o respeito pelo ser humano de religião ou cultura diferente, qualquer que seja a sua origem, faz parte de nossa religião. O falecido e conhecido rabino Henry Sobel costumava falar uma frase que ficou na minha memória: “A missão de um judeu não é fazer o mundo virar judeu, a missão de um judeu é fazer o mundo melhor”.

No Judaísmo o conhecimento do diferente é importante... para podermos avaliar a nossa religião devemos conhecer as dos outros, e o conhecer não é mostrar as diferenças religiosas ou culturais, muito pelo contrário, é mostrar o que temos de semelhanças.

Finalmente as religiões abraâmicas – ou seja o Judaísmo, o Cristianismo e a religião islâmica - todas têm profundas raízes no judaísmo.

Finalizando, iniciativas como a da PUC permitem a troca do conhecimento da realidade de outras religiões e culturas que nos possibilitam unirmo-nos para o trabalho de divulgação de nossas raízes e com isto criarmos um mundo melhor, mais humano e respeitoso.

Em poucas semanas teremos a festa de Chanuká, onde acenderemos um candelabro de 9 braços para 9 velas relembrando a reinauguração do Templo de Jerusalém que tinha sido profanado pelos Gregos-Sírios no passado, e por outro lado nossos irmãos cristãos farão a festa do Natal onde a árvore de natal é um dos símbolos. Ambos os símbolos têm como a base as Luzes.

Que cada um seja uma luz forte num mundo tão escuro dos nossos dias,

Shabat Shalom

Raul Meyer


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