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quinta-feira, 28 de março de 2024

‘Mitzvá Legal’ - Dever de alimentar os civis iminigos

DEVER DE ALIMENTAR OS CIVIS INIMIGOS DURANTE A GUERRA 

Por Angelina Mariz de Oliveira


Existe obrigação de os grupos em conflitos militares proverem alimentos para as populações inimigas durante os períodos de guerra? É razoável a exigência mundial de que Israel seja responsável pela segurança alimentar da população de Gaza? Em nenhuma das outras guerras que atualmente se desenvolvem os organismos internacionais requerem o cumprimento dessa obrigação. Por que apenas ao Estado de Israel é imposto o ônus de alimentar a população civil inimiga? 

A guerra do Hamas contra Israel, iniciada em 7 de outubro de 2023, passou do território israelense para o território de Gaza. É uma típica guerra de defesa, e até março de 2024 o conflito está em curso. Ainda não existe ‘território ocupado’, mas ‘zona de guerra’. Enquanto Israel não instituir suas estruturas de administração e de policiamento em Gaza, juridicamente não se pode falar em ‘ocupação’. Se não há ocupação, e a situação é de combates intensos em curso, é razoável exigir que Israel tenha que dirigir parte de seus recursos e estratégias para alimentar a população inimiga? Parece uma questão que facilmente pode ser respondida com um ‘não’. No entanto, para o Judaísmo a resposta é ‘sim’. 

Há milhares de anos nós sabemos a tragédia que é a fome em tempos de guerra para a população não combatente. O Tanach nos traz diversos relatos da dureza e do sofrimento provocados pela falta de alimentos em tempos de guerra. Podemos ler algumas descrições como: “E te sitiará em todas tuas cidades, até subjugar teus muros altos e fortes nos quais tu confias, em toda tua terra, que te tem dado o Eterno, teu Deus. E comerás o fruto de teu ventre, a carne de teus filhos e tuas filhas que te deu o Eterno, teu Deus, por causa do sítio e do aperto com que te apertarão teus inimigos” (Devarim 28:52). “Farei com que devorem a carne de seus filhos e de suas filhas, e cada um devorará a carne de seu amigo, durante o cerco e as agruras que seus inimigos, e todos que anseiam por destruí-los lhes imporão” (Jeremias 19:9). “Quando, para destruição, enviar contra vós, as flechas malignas da fome, será retido o pão do vosso sustento, sereis tingidos por fome (...)” (Ezequiel 5:16-17). 

Por isso, temos mandamentos relativos à população civil inimiga, que se aplicam durante guerras de defesa entre o Estado de Israel e outros povos contemporâneos. Entre elas destaca-se que mulheres, crianças e animais não podem ser mortos como estratégia de guerra. Desde o século XX a Convenção de Genebra IV distingue em seu artigo 14 as seguintes pessoas entre a população não combatente em zonas de operações militares: “os feridos e os doentes, os enfermos, os velhos, as crianças com menos de 15 anos, as mulheres grávidas e as mães de crianças com menos de 7 anos”. Todos que se enquadrem nessa categoria devem ser protegidos pelas partes no conflito. A proteção conferida pela Torá é mais ampla em relação às mulheres, pois todas são incluídas sem exclusão de nenhuma natureza. Não se refere, porém, a homens em situação de vulnerabilidade, como consta na convenção de Genebra. Essa proteção à vida pode se interpretada como incluindo garantia de acesso deste grupo aos meios de sobrevivência, incluindo alimentação. 

Essa constatação decorre da leitura conjunta do mandamento de preservação das árvores frutíferas, que são necessárias para a alimentação humana (Deuteronômio 20:13-15 e 20:19). O artigo 14 do Protocolo II Adicional às Convenções de Genebra, por sua vez, estabelece que “É proibido utilizar contra as pessoas civis a fome como método de combate. É, portanto, proibido atacar, destruir, tirar ou pôr fora de uso com essa finalidade os bens indispensáveis à sobrevivência da população civil, tais como os gêneros alimentícios e as zonas agrícolas que os produzem, as colheitas, o gado, as instalações e as reservas de água potável e os trabalhos de irrigação”. Demonstrando que o Direito internacional há muito tempo busca civilizar aqueles que combatem, com respeito a proteções humanitárias que cada um gostaria de receber para si próprio e para sua família. As regras que garantem a vida da população civil inimiga, inclusive a garantia de acesso a alimentos durante os conflitos, são contrárias ao senso comum de uma humanidade brutal. Seu cumprimento não é visto ou noticiado. 

Sempre é bom lembrar como a fome é uma arma de guerra amplamente utilizada ao longo da História até nossos dias, semelhantemente às violências sexuais contra mulheres. Israel, porém, deve se esforçar para garantir segurança à população civil de Gaza, mesmo sendo ela inimiga e amplamente favorável ao Hamas e a seus objetivos de destruição de Israel de extermínio dos judeus. Por quê? Para cumprirmos integralmente o mandamento de apagar a memória de Amalek debaixo dos céus, e não esquecer Amalek (Devarim, 25:17-19). 

Deus nos instrui não apenas para derrotar nossos inimigos nas guerras de defesa, mas também a não esquecer o que eles nos fizeram, para que não nos tornemos iguais a eles. Essa é uma das partes mais desafiadoras e difíceis de ser lembrada e cumprida, nos campos de batalha e nas vitórias.

Acontece - a cada Shabat, rezando para que seja o último nestas circunstâncias

 


Nesta semana, mais uma vez, uma subida e descida na montanha russa que vem se desenrolando na guerra entre Israel e o Hamas. Estavam chegando a possíveis resultados envolvendo reféns… ainda longe de satisfatórios, negociadores de Israel voltaram para casa… e então, pela primeira vez em muito tempo, os EUA, ao invés de vetarem o voto dos demais, se abstiveram. Os EUA só não aprovaram a Resolução porque - pasmem - ela não continha uma condenação do Hamas no processo! Como é possível governos não condenarem uma organização, que, se não era considerada terrorista antes, assim definitivamente tornou-se em 7 de outubro de 2023, numa sequência de eventos complexos como a dos últimos 5 meses?

Com isso passou a resolução de imediato cessar-fogo e devolução de reféns. 

Qual o valor das palavras e das decisões? O que significa isso? Hamas e Irã, que nem eram próximos, comemoram o crescente isolamento de Israel enquanto não há nenhuma aparente possibilidade nem de listarem os reféns ainda vivos, e do outro lado, Israel volta a atacar alvos localizados identificados como bases do Hamas e não sente nenhuma garantia de governança no território que já havia desocupado em 2005… qual o poder deste Conselho sobre a realidade local? Para além da efervescência das narrativas e vendas de publicidade nas mídias, qual a utilidade destas custosas reuniões no lindo prédio em Nova York? E, acima de tudo, como vão suportando o passar do tempo os corações dos familiares israelenses que perderam seus queridos ou estão para perdê-los a qualquer momento? Ou os corações palestinos que se encontram em locais restritos pelo Hamas, com suas famílias há décadas empobrecidas pelo mesmo Hamas, e com fome e medo, correndo risco iminente de bombardeio?

A cada Shabat nos unimos e rezamos para que seja o último nestas circunstâncias, e falamos o Kadish pelos que perderam a preciosa vida na semana…  

Neste Shabat, quando interrompermos nossas regulares ocupações, e lermos a Parashá Tzav, onde são descritos os diferentes tipos de oferendas ou “sacrifícios” que Moisés instrui aos sacerdotes a comando de Deus, será inevitável pensar nos diversos tipos e intensidades dos sofrimentos que se somam nas guerras humanas. Nos complexos indesejáveis conflitos em que tantos estão envolvidos, nos vários cantos do planeta, mesmo que repetidamente ao longo da história os que envolvem o povo judeu sejam os mais ruidosos, mais destacados…

Neste Shabat é um dever, uma responsabilidade, refletirmos como podemos, no nosso canto do mundo, com as condições e o poder que temos, individual ou coletivamente, aliviar ou evitar estes sofrimentos que percebemos, e com os quais convivemos, para de fato contribuirmos em um desejável desvio de rumo destas situações humanas, a caminho do Tikun Olam, a comando… de Deus, ou do que acreditamos…

Shabat Shalom


Juliana Rehfeld

Diário de Guerra - 1 - Por Vivian Hamermesz Schlesinger




1.

Alguém devia ter caluniado Josef K., porque ao acordar, certa manhã, recebeu aviso de que seria julgado por cometer genocídio sem que tivesse feito alguma coisa de mal. Atordoado, vestiu-se e foi ao fórum para descobrir onde estava o engano. Depois de atravessar um túnel escuro, labiríntico, cheio de armadilhas explosivas, encontrou uma carta assinada em código com a chancela da África do Sul. Nela também se via o brasão da Coreia do Norte, do Irã, da China e outros brasões menores, inclusive um do Brasil. Josef K. finalmente decifrou o engano: o datilógrafo, no lugar da palavra “agressor”, escrevera “vítima”, e vice-versa.

Diferentemente do Josef K. de O processo, de Kafka, esse nosso Josef K. empenhou-se em uma luta de morte e conseguiu, a enorme custo pessoal, ganhar algum tempo de sossego para continuar a se defender (enquanto não chega outra acusação invertendo vítima e algoz). Kafka morreu há 100 anos e nos deixou de herança a certeza de que a realidade é absurda e que o absurdo é real. Verdade hoje, como há 100 anos.

 

2.

Enquanto isto, Claudio e eu estamos nos acostumando a essa vida de operário de fábrica: dirigir uma hora e meia para chegar ao trabalho, dobrar milhares de sacos plásticos, montar centenas de caixas de papelão, intervalo, mais sacos plásticos ou caixas, almoço, tarde igual à manhã. Na fábrica de sacos plásticos nos colocaram juntos para fazer o trabalho que normalmente seria feito por uma pessoa só. Acho que ficaram com dó dos velhinhos... mas já que essa é a missão, dobramos plásticos como eles nunca foram dobrados, com precisão milimétrica de um casal com TOC. A diversão ficou por conta do esforço em adivinhar os comandos em russo na máquina. Russo? Exato. Desde 1989 imigraram para Israel quase um milhão e meio de cidadãos da União Soviética (devem ter se entediado daquela vida segura, da liberdade, da fartura). Hoje, um em cada quatro israelenses é ucraniano ou russo da Geórgia, do Uzbequistão, da Bielorússia. Na brincadeira, dizemos que a segunda língua mais falada em Israel é o hebraico.

Na fábrica de embalagens plásticas em que trabalhamos esses dias, não vimos nem um funcionário que não fosse russo. Boris, nosso supervisor, é um dos mais jovens, com cerca de 40 anos. Vários parecem ter nossa idade (70), e operam máquinas sofisticadas, carregam caixas pesadas, falam pouco, trabalham muito. Bem diferente da fábrica de papelão, que fica a poucas quadras de distância. Lá, operários mais jovens, de vários continentes, parecem mais soltos. Os africanos são os mais amistosos, falam sem parar, seja com a gente ou com outros, seja por celular - 100% do tempo entubados em fones de ouvido. Zuma, minha jovem chefe etíope, trabalha por uma hora ou menos, aí circula, conversa com um, com outro, sempre rindo, sempre o brilho no olhar e a música no andar. Será que é a essa herança que devemos nossa decantada simpatia brasileira? Será que há um gene para simpatia? E nesse caso, podemos replicá-lo?

 

3.

Em russo, árabe, hebraico ou amharic, sei que ontem o grande assunto era Eden Golan. Não conhece? Nem eu conhecia... mas agora sei que é a artista escolhida para representar Israel no Eurovision, concurso musical anual, este ano em Malmö, Suécia. Eden Golan tem 20 anos, é alta, magérrima, olhos quase orientais e longos cabelos em vários tons de rosa. Ela nasceu em Israel, cresceu na Rússia, faz parte de uma banda de garotas. Tem respostas ingênuas a perguntas óbvias sobre ter medo do palco, sobre quando começou a cantar (todos começamos a cantar na infância, não?), sobre como concilia estudos e vida arkstica (como se fosse possível).

É uma garota normal que canta bem, talvez muito bem. Como qualquer garota da sua idade, deveria ter liberdade para escolher seu caminho, apresentar-se aonde quer que seu talento a levasse. Mas assim como Josef K., Eden está descobrindo que a realidade é absurda. Que há grupos políticos na Suécia, Finlândia e outros países que querem impedir que ela, ou qualquer artista israelense, participe do Eurovision. Isso porque ela e sua música com certeza são culpadas da guerra em Gaza. Do que será que eles têm medo? Que ela conquiste, com sua ingenuidade, seu olhar de dois mundos, a simpatia daqueles que a virem como ela é, e não como um símbolo? Não sei se Eden é uma das favoritas, não ligo a mínima para Eurovision, mas se for para cancelar países em um evento artístico por seus atos políticos, acho que só sobram Monaco e Lichtenstein. Se sobrarem.

 

4.

A tentativa de cancelar Eden Golan é uma maneira de impor a discussão sobre a guerra em cada mesa de restaurante, mas o israelense lida com isso de outra forma. Não se sente a guerra.

Trabalha-se, vai-se ao cinema, os shoppings estão cheios. No trânsito, os israelenses brigam, ultrapassam pela direita, xingam com as mãos. Vida normal. Os moradores das cidades do sul e do norte, deslocados para locais mais seguros, estão começando a voltar para suas casas. É difícil explicar este país a alguém que nunca esteve aqui. A filha universitária de um senhor sequestrado está em semana de provas. Ela está estudando. Levanta-se todos os dias na hora certa, prepara seu lanche, vai às aulas, paga suas contas, presta os exames. Com certeza chora em alguns momentos, liga e desliga a TV com raiva e esperança, mas a vida? Essa não para.

Passado o choque do massacre (a raiva ainda não passou, nem vai) comecei a pensar em como seriam as relações entre israelenses judeus e israelenses árabes após a guerra. Cerca de 2 milhões de árabes têm cidadania israelense, vivem e trabalham em Israel, pagam impostos, usufruem do sistema de saúde e de educação, votam livremente (há vários membros do Parlamento que são árabes), como qualquer outro israelense. Dos enfermeiros, aqui, 55% são árabes; dos médicos, são 40%, para citar só um campo de atividade. Não são obrigados a servir o exército – os homens judeus sim, são, por 32 meses, e mulheres judias, por 24) – mas há milhares de árabes israelenses que se apresentam espontaneamente para o serviço militar.

Mas.

7 de outubro divide o tempo em um antes e um depois. E confiança só existe se for de duas mãos. Como vai ficar isso? Por enquanto, não se vê mudança: no shopping que mais frequento, 100% classe média, judeus e árabes estão convivendo pacificamente. Praticamente todas as vendedoras na Zara são árabes, e no mínimo 50% dos consumidores, também. Sentamo-nos lado a lado (e na cultura mediterrânea, lado a lado é quase coxa com coxa) nos cafés, nos parques, compramos os mesmos esmaltes, moletons, brincos.

Mas.

 

5.

Os árabes falam árabe entre si, hebraico com os outros. Aqui se aprende árabe na escola.

Noam, meu neto de quase 14 anos, que tem enorme facilidade para línguas, está aprendendo a escrever árabe. Fica exasperado com as múltiplas formas de uma mesma letra, dependendo se está no meio ou no fim da palavra, etc. Mas gosta. Vai falar mais essa, além do hebraico, português (a mãe é brasileira), castelhano (o pai é argentino), inglês (aprendeu sozinho jogando videogame). Não haverá barreira de idioma entre judeus e árabes em Israel. A barreira, se houver, será de outra natureza. O árabe israelense, ao menos em tese, aceita a existência do Estado de Israel. Não canta a o mantra assassino “from the river to the sea...” Ele sabe que Israel fica precisamente entre o river e o sea, e que para o Estado Palestino incluir essa área, Israel teria o destino de Atlântida. Isso sim, genocídio. Podemos ficar tranquilos que o árabe israelense prefira viver como está? No dia a dia do israelense, a pergunta parece já estar respondida.

A triste piada é que todos já devem ter visto jornalistas perguntando a manifestantes nas demonstrações pró-Hamas (pois é, pró-terroristas - a realidade é absurda) em Londres, Paris, São Paulo, de que river e de que sea se fala. Invariavelmente, a resposta é a cara de ué dos entrevistados. “Black sea...?” “Pacific...?” Dã.

 

6.

Na fábrica de plásticos nosso trabalho ontem era dobrar sacos grandes que saem rápido e com um suspiro de uma máquina, um material muito liso e transparente. A cada 50 suspiros, dobramos o conjunto em 3 partes, repetimos a operação para mais 50, e a 4 mãos inserimos os 100 em um envelope plástico de medidas perfeitas. Aí fechamos e transferimos cada pacote para uma caixa do tamanho de uma casa de bonecas, life-size. A cada 3 minutos sai um conjunto de 50 sacos, então ao final de algumas horas, a casa de bonecas vai se enchendo, e nós, idem. Mas compromisso é compromisso. Suspira daqui, suspira dali, eu sonhando com uma coca light, e eis que toca um alarme inconfundível: mísseis. Tzeva adom, cor vermelha. Esse é o nome do alarme. Estávamos a poucos passos do quarto anti-misseis, então não houve a menor dúvida, fomos sem correr, com calma e celular em punho, junto com mais 6 russos e 2 russas para dentro. O chefe – fica imediatamente claro quem é o chefe nessas horas – fechou a porta, e começamos a olhar uns aos outros, esperando o sinal para sairmos. Silêncio. O “domo de ferro”, um equipamento de alta tecnologia, detecta ao longe quando um míssil é disparado na direção de Israel e automaticamente dispara contra-mísseis para destruir o que vem, ainda no ar. Há uma explosão (que eu pensei que fosse audível, mas nem sempre é), míssil inimigo é destruído por contra-míssil, fragmentos caem ao solo, ou sobre as casas, ou a qualquer coisa que por azar estiver bem ali. Tudo muito simples.

Not.

Cada disparo desses custa milhões. O “domo de ferro” é um dos maiores símbolos do valor que Israel dá à vida. Golda Meir dizia que só teremos paz com os árabes o dia em que eles amarem seus filhos mais do que odeiam os nossos. Israel usa o armamento para proteger a população. O Hamas usa a população para proteger o armamento.

Pensei que ficaríamos ali dentro um bom tempo. Passados uns dois minutos, eu me preparava para fazer um selfie de nós dois (ok, parece brega, e é, em parte), e começa um diálogo rápido em russo. Adivinhei: Vamos, vamos, se não vai virar um balagan (bagunça, em hebraico – com essa palavra deduzi o resto). O chefe, que por seus modos me lembrava Vronsky, amante de Anna Karenina, achou ótima ideia, abriu o abrigo e saímos como se nada tivesse acontecido. De fato, nada aconteceu. O míssil provavelmente caiu em algum campo. Mais tarde soubemos pela minha filha que deveríamos ter ficado ali no mínimo 10 minutos, até que todos os eventuais fragmentos caíssem. Mas a população de Sderot está ao lado de Gaza, tem 15 segundos para se abrigar. Há 8 ou 10 anos eles são bombardeados diariamente. Tzeva adom faz parte da rotina.

Nada de pânico, nem um café depois, nada. Vida que segue.

Ah, o abrigo? De fora parece um banheiro químico obeso, mas com travas tipo cofre de banco na porta. Por dentro, limpíssimo, iluminado, equipamento para ventilação, uma cápsula perfeita para viagem no tempo. O selfie que eu ia tirar não era completamente inútil, eu queria avisar a família que estávamos bem. Todos têm um aplicativo no celular, no qual você seleciona as cidades que interessam, e toda vez que tocar o alarme em uma delas, ele tocará também no seu celular. Mas tudo voltou ao normal em poucos minutos. Logo depois, Boris, nosso supervisor, passou por cada um para saber se estava tudo bem, sem drama. Comparado ao tiroteio na minha rua, em São Paulo, há duas semanas, onde 2 pilantras tentaram assaltar uma mulher e tiveram a ingrata surpresa de escolher uma delegada... ela se defendeu muito bem, os dois acabaram no chão, um baleado mas vivo, o outro desmoralizado. Foi muito mais emocionante.

Em poucos minutos havia 15 viaturas no local. Quando nos dizem que somos corajosos de vir a Israel durante uma guerra, sempre respondo que coragem é morar em São Paulo, no Rio, no Arraial d’Ajuda...

 

7.

Emily voltou. Liguei a TV e lá estava ela. Ruivinha, pele muito clara, olhos meigos, distantes. O sorriso é contido. Enquanto seu pai conversa com a jornalista, Emily olha para o chão ou para o pai, mas se lhe fazem perguntas, ela se volta diretamente à pessoa e responde, sorrindo ao final de cada frase. A voz é contida. As mãos, muito comportadas para uma menina de 9 anos.

Sabemos que ela mudou. Ela gostava de cantar e dançar com sua amiga Hila, mas no dia 7 de outubro Emily, Hila, e Raani, mãe de Hila, foram sequestradas. Emily e Hila foram devolvidas.

Raani, ainda não. Enquanto estavam reféns, Raani cuidou das duas, rasgou um pedaço de sua roupa para poder banhar as meninas quando e onde era possível. Cortou-lhes o cabelo, para facilitar o cuidado. Foi uma mãe para Emily, mas não está com ela agora.

Raani foi a terceira mãe de Emily. Sua mãe biológica, Liat, e Thomas, seu pai, viviam em cidades diferentes quando ela nasceu. Quando Emily tinha 2 anos, Liat foi diagnosticada com câncer, então mudou-se para o kibut Be’eri, onde Thomas vivia, para que a criança pudesse se acostumar ao pai quando a mãe não estivesse mais. De fato, poucos meses mais tarde Liat faleceu. Thomas e Narkis, sua ex-esposa, criaram Emily. No dia 7 de outubro, Emily não estava em casa, dormia na casa de Hila; Narkis foi assassinada em casa pelos terroristas.

Enquanto refém, Emily era levada para esconderijos diferentes a cada poucos dias, obrigada a ficar em silêncio, sob a mira de uma faca. Em alguns momentos, havia até 8 homens lhe ameaçando. Após 50 dias ela foi devolvida, junto com Hila. Thomas pesava 65kg até 7 de outubro, pesa 52kg desde então. Ele temia que sua filha estivesse muito decepcionada por ele não ter conseguido protegê-la, mas quando finalmente pôde vê-la, soube que ela imaginou que ele também tivesse sido assassinado. Enquanto era arrastada para Gaza, ela havia visto dezenas de corpos. Seu tempo, enquanto presa pelo Hamas, foi de luto pelo pai. O pai, por sua vez, de início recebeu a notícia que Emily havia morrido, o que lhe deu um certo alívio: ele não conseguia enfrentar as possibilidades, se ela estivesse viva nas mãos desses demônios. Mas quando descobriu que ela estava viva, sua alma encheu-se de alegria. No dia 25 de novembro, aniversário da minha filha, Emily foi devolvida. Lembro-me de não conseguir conter as lágrimas ao vê-la “abraçada” pelos funcionários da Cruz Vermelha, esses parasitas hipócritas. Durante os 50 dias de seu cativeiro não tiveram sequer a dignidade de exigir que o Hamas lhes deixassem ver os reféns. E agora, perante as câmeras, faziam esse teatro. Se Emily sobreviveu, assim como os outros, não foi graças a Cruz Vermelha, e sim apesar dela. Emily gostava de cantar e dançar, seu coraçãozinho de 9 anos teve corda para 50 dias. Por enquanto ela ainda fala baixo, às vezes sussurra sem necessidade. Verifica várias vezes se a casa está bem trancada. Usa nome de alimentos que não gosta para indicar palavras inomináveis: terroristas são azeitonas. Gaza é a caixa. 50 dias foi um ano. Mas ela voltou, ela os derrotou. O demônio não pode com um anjo.


Vivian Schlesinger nasceu em São Paulo. É bióloga, trabalhou na área até 2009, e desde então dedica-se principalmente à literatura. É escritora (Papaya na madrugada, Dobra Editorial, 2011 - poemas); seus poemas e ensaios têm sido premiados e publicados em antologias no Brasil e no exterior. É tradutora técnica e literária, colaboradora de jornais como o Web Mosaica, a Tribuna Judaica, e o Jornal Rascunho. É maratonista e avó.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Orelhas de H




Orelhas de H...

          Num dia como hoje, com as águas de março que fecham o verão, fui visitar o risonho seu Isaque e a prestimosa dona Débora.

          Era um casal já idoso, cujos filhos tinham ido estudar e acabaram escolhendo morar em terra estrangeira. Para lembrar deles, bebiam pelas manhãs, antes do Sol nascer, um leite bem quente adoçado com o melhor mel do Vale.

          É... Eles produziam mel... Não eles, lógico! Criavam abelhas, e delas extraíam o mais puro e cheiroso visco dourado de toda região... Diziam que a voz de dona Débora era tão bonita por causa dele...

          Ao cair da tarde, depois da lida diária, ele tocava uma clarineta que herdara de seu avô, e ela cantava... Era um pássaro! Um bem-te-vi com aquele coletinho amarelo que canta, feliz, ao anunciar a boa água que cai do céu.

          Seu Isaque era um piadista gozador: adorava os causos da roça. Contava um atrás do outro, e, às vezes, dona Débora ralhava em tom de brincadeira. Uma das preferidas dele era falar dos filhos que trocaram a paz, a água e a fartura por um deserto de segurança e riqueza. Era um jeito carinhoso de mostrar todas as suas saudades e todo o seu gosto pelo caminho que eles escolheram.

          “Fio é prá voá!”, falava ele, e ria...

          De repente, apitou o celular. Era o alarme, contando que dona Débora já podia retirar os biscoitinhos bem perfumados do forno. “Saíram as orelhas de H...”, nessa hora ela foi interrompida por uma revoada de maritacas que, fazendo aquela algazarra, tinha pousado na árvore em frente.

          “Vem ver meus canarinho verde! Eles sempre vêm essa hora pra cumê e durmi. Eu ponho aguinha, deixo tudo certinho pra eles! Quando eles se recolhe, já falo pro véio que é nossa hora também... Mas eu ia falando da orelhas de H...”

          PAAPAA! PRAAA! RECO! TEC!

          “Corre aqui gente!”, interrompeu, mais uma vez, seu Isaque! “Achei a matraca que meu pai fez pra mim! Procurei em tudo quanto é canto! Que nó nos gargomilo...” chorava o idoso roceiro.

          “Fica assim não, véio! Vem pra mesa. Nóis vamo cumê uns biscoitinho e tumá leite com mel... Vem conversá com as visita qu´ocê miora!”

          Já na mesa, sentado e mais calmo, ele começou a contar a história da matraca, dos biscoitos, do leite e do mel...

“Os antigo contava que tudo aqui era uma fazenda só! Aqui, nessas roça, o povo era tudo colono... O dono, fazendeiro, era bom. Mas tinha um padre que morava com ele que era ruim que só o tinhoso!

Esse padre chamava H...”

RRÁ! RRÁ! RRÁ! A festa das maritacas, mais uma vez, impediu seu Isaque de prosseguir... Depois, tudo acalmado, ele continuou.

“Então... Nessas roça vivia um estrangeiro véio que chamava Mordechai. Que nome! Coisa de gente de fora... Nem é brasileiro isso... Ele era tipo o sábio daqui da colônia: sabia tudo! Tempo das chuva, da seca, da plantação, da criação... Tudo!

Ele tinha uma neta muito formosa, a Esther! Os home tudo da aldeia queria casá cum ela! Dizem que até aquele padreco de festa junina quiria... Foi pur isso que ele armô tudo...

Convenceu o fazendeiro de que ele tinha de plantá só café. Toda gente ia sê tocada daqui... Tudo ia sê cafezá! Falô que mió que isso, só Jesus Cristo! E todo mundo? Ia fazê o que? De certo, morrê!

Diacho de padre!

Mas acontece que o fazendeiro, um dia, resolveu passeá de cavalo, e avistô a Esther na bera do córgo lavando roupa. Apaxonô!

Mordechai viu isso tudo e começô a matutá um plano! Juntô todo mundo e foi dividindo as lida! Deu tudo do bom e do mió pra cada um. Um colono ia plantá fruta e a muié ia fazê compota! O outro, verdura. Mais um, beterraba e a muié ia fazê a mió sopa!

Ele escolheu criá abelha. Ia fazê mel! É que o mais gostoso é o mel feito com abelha livre pra cumê o que quisé!

Logo, essas banda viraram uma festa danada! Tudo daqui era bom, o mió!

Mas o plano ainda tava pela metade! Mordechai aproveitou uma ida do padre pra paróquia central e ajeitou o casamento dela com o fazendeiro. Aos poucos, ela convenceu ele a deixá o café de lado e aproveitá mió nossos produto...

Quando o padreco voltô, nada mais tinha a fazê! Pediu pra ir pra Capitá!

É por isso que esses biscoito chamam orelha de H...”

MÉ! GRÉ! PPRR!, se alarmaram os bichos da roça... Devem ter visto um Saci!

“É pra gente cumê contando essa história. Assim aquele dito cujo ouve bem, sempre, e vê se aprende que o povo unido vale mais do que qualqué saca de café! É por isso que meu pai me fez aquela matraca! Pra eu fazer muito barulho e espantar aquele nome maldito daqui...

H...”

TRRR! TRRRR!, os trovões anunciavam que o toró se aproximava!

“Mas hoje... Hoje... Nem da minha matraca precisei! O mundo já falô!”

  

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.

quinta-feira, 21 de março de 2024

ACONTECE: TEMPOS CAÓTICOS

TEMPOS CAÓTICOS - TEMPOS de.... PURIM (Sorte!)



CAOS - todas as figuras seguem a mesma evolução

             - o que muda é o ponto de partida!!!


O tempo voa. Na segunda metade do mês de março marchamos céleres para completar meio ano do massacre de 7 de outubro perpetrado por habitantes da Faixa de Gaza em pequenas cidades, moshavim e kibutzim fronteiriços. Também foram massacrados, violados e levados como reféns o público que foi à rave NOVA - que acontecia naquela noite ao norte do Deserto do Neguev. REFÉNS - bebês, crianças, jovens, adultos, idosos - de todos os gêneros, de diversas nacionalidades, etnias e religiões foram levados para Gaza e muitos ainda lá estão sem alimentação, remédios, visita da Cruz Vermelha. Pessoas que como a população civil de Gaza, serve de escudo humano para o grupo político de articulação internacional que tem como objetivo... a reticência não é um respiro, ou uma vontade que todos imaginem algo que não precisa ser escrito, algo que todos sabem. Não, o símbolo de reticência é uma forma de deixar em suspense e deixar claro que não é possível delinear para onde estamos marchando. PURIM - SORTE - e o futuro lá está.

Na realidade, após quase seis meses, nem sabemos muito bem por que começou. Mas vai ficando cada vez mais evidente que o ataque não foi aleatório e que teria como objetivo cumprir as muitas mensagens de líderes mundiais e de movimentos políticos independentes que propõem a eliminação do único Estado Nacional Judaico existente no planeta. Muitos definem estes meses como caóticos - usando a palavra caos como um estado de completa desordem.

Caos determinista é um dos campos da física-matemática que une o determinismo e o caos. Fenômenos muito complexos poderiam ser previstos se cada um de seus elementos fosse equacionado. Isto é determinismo. O caos introduz um fato novo. O ponto inicial do processo é que determina o seu desfecho! 

A educação pode ser a mesma, as oportunidades podem ser as mesmas e o destino de cada indivíduo é diferente.

CAOS - o que estamos presenciando nesta guerra em que o Estado de Israel foi brutalmente atacado não é um acaso, e nem uma pressão do mundo ocidental. Como é possível que os reféns tenham sido esquecidos, ou se transformem em fatos longínquos? Como é possível que fatos importantes que ocorreram no dia 7 de outubro de 2023 nem tenham tido repercussão entre nós? Vejam o relato, publicado esta semana, de como os corpos foram recolhidos por voluntários (vídeo abaixo) ao longo das estradas de Israel! Estradas em que cadáveres, muitos deles muitilados, e outros transformados em cinzas ficavam à beira da estrada. 




Alimentos e remédios para Gaza entram normalmente ao longo de anos. Como aquela região não consegue plantar e colher alimentos como era feito pelos israelenses que lá habitavam até 2015? É uma grande incógnita. Mesmo nestes tempos de guerra, habitantes da faixa de Gaza têm sido levados a Israel para atendimento médico.

Por outro lado, choca o envolvimento de funcionários da UNRWA (United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East) no ataque de 7 de outubro e em outras ações anti-Israel! Outras ações da ONU em detrimento do Estado de Israel estão sendo amplamente divulgadas e já foram tema do ETNM.

Após o dia 7 de outubro, o antissemitismo aflorou de maneira inaceitável. Perseguições, ataques, mortes em sinagogas, nas ruas, em escolas, universidades, locais de trabalho, estabelecimentos comerciais e restaurantes são notícias diárias ao redor do mundo e aqui no Brasil.

A posição do Presidente da República e de muitos partidos políticos também é um fato bem conhecido. Na esteira destes pronunciamentos que ocuparam por semanas as manchetes de todos os jornais brasileiros e muitos estrangeiros vemos artistas, comunicadores, educadores, etc. difamando o Estado de Israel e os judeus em geral. 

A entrega do Oscar foi um capítulo à parte! Vestes e símbolos exaltando o jargão "From the River to the Sea" - a forma marketeira de dizer "joguem os judeus no mar" - dominaram o espetáculo.

No meio deste turbilhão, perguntamos "AONDE VAMOS?" - e a resposta pela teoria do CAOS DETERMINISTA é que deverámos perguntar "DE ONDE PARTIMOS?".

Creio que a maioria de nós hoje sabe que até 7 de outubro não tínhamos a dimensão do grau de antissemitismo latente. Esta ponta do "ab initio" é razoavelmente fácil de desvendar e rastrear, apesar de não ser fácil de resolver. No outro lado da moeda, está o conjunto de ações realizado pelos grupos que visam destruir o Estado de Israel e varrer os judeus deste planeta. De preferência sem deixar memória. Não querem seguir o exemplo de Tito, ao comemorar a queda do Segundo Templo com um Arco do Triunfo que validava de forma pictórica os escritos da época. Assim, o nome de Jerusalém foi mudado! No lugar do Templo foram contruídas mesquitas. Atentados terroristas acontecem de forma sistemática há mais de 100 anos e após a criação do Estado de Israel, todas as guerras travadas foram provocadas - e o objetivo era sempre o mesmo.

Existe um comando unificado para estas ações? Fora da grande mídia a importância do Irã dos Ayatolás como liderança deste movimento é conhecida. Países árabes como Iraque, Catar, Líbia e mulçumanos como Turquia também estão entre os que podem compor este comando. Será que o bom andamento dos Acordos de Abraão, que focaram no comércio, ciência, inovação, educação, esporte e turismo foi um momento de virada? O momento para atacar de forma assustadora o Estado de Israel?

Este "ab initio" é altamente relevante para que previsões que considerem o caos determinista possam ser feitas e com isso buscar pontos de intervenção para direcionar o processo. 

Finalizando, aqui apenas tratei de questões macro. Não podemos esquecer do microcosmos quando árabes e judeus se encontram, são amigos e convivem sem problemas. Quando israelenses e cidadãos de países vizinhos ou países do Oriente Médio estabelecem vínculos pessoais, reduzindo a força de lideranças. 

Ações coletivas também afloram a cada dia. Neste mês de março líderes religiosos de Haifa assinaram uma carta conjunta que reflete a respeito à individualidade de cada comunidade e à convivência harmoniosa (veja abaixo). Aqui no Brasil, temos há 6 anos na cidade de São Paulo o grupo chamado Família Abraâmica. Reuniões mensais de judeus, cristãos e mulçumanos que se reunem para vivenciar datas marcantes no calendário. Alguns dos membros de nossa comunidade fazem parte da família Abraâmica. 

ESPERANÇA - HATIKVA - esta é a palavra da SEMANA - Será este um novo "ab initio".

E nada melhor do que a CHEGADA DE PURIM - para que possamos nos alegrar pelo que somos e pelo que seremos. A Festa em que a sagacidade de uma mulher e o valor intrínseco de muitos homens transformaram um destino!



Chag  Purim Sameach

Regina P. Markus

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Notícia veículada pelo Israel News em 20/03/2024

ATUALIZAÇÃO DE NOTÍCIAS🚨🇮🇱✡️✝️☪️Líderes religiosos de comunidades muçulmanas, cristãs, drusas e judaicas na área de Haifa assinam uma carta declarando seu compromisso com a coexistência pacífica e o respeito.

“Nosso diálogo, tolerância e respeito mútuo estão enraizados na tradição e nas escrituras sagradas de cada um de nós”, afirma a carta, publicada após um esforço conjunto de redação por 16 co-signatários.

Nascida da iniciativa do Laboratório de Estudos Religiosos da Universidade de Haifa e do Ministério do Interior, a carta apresenta citações da tradição judaica rabínica, das escrituras muçulmanas e da Bíblia Hebraica. O esforço visa “promover uma liderança activa que trabalhará em conjunto para salvaguardar uma sociedade cívica partilhada e prevenir a violência”, afirma a carta. Observa “os desafios actuais”, referindo-se à guerra em curso de Israel contra o Hamas em Gaza e ao conflito com o Hezbollah no Líbano.

Os signatários incluem Rashad Abu al-Hijaa, imã da mesquita al-Jarina em Haifa; William Abu Shkara, sacerdote da Igreja Católica e chefe do escritório do Arcebispo em Haifa; e o Xeque Tawfik Halabi, imã e membro do comitê religioso druso em Daliyat al-Karmel.

Os co-signatários judeus incluem o Rabino Ben-Zion Gagula da Chabad House no bairro da Colônia Alemã de Haifa e o Rabino Ne'ama Dafni-Keln da congregação Or Hadash Reform.

Haifa, onde vivem aproximadamente 285 mil pessoas, tem uma minoria árabe de cerca de 35 mil árabes, que estão divididos aproximadamente igualmente entre as religiões muçulmana e cristã. A cidade é amplamente considerada um modelo de coexistência inter-religiosa. (ToI)

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 LUZES E FLORES PARA TEMPOS SOMBRIOS.





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Tempos difíceis, tempos em que parte da humanidade perde a sua orientação por um mundo de maior desenvolvimento e relacionamento. A esperança de dias melhores se reduz cada vez mais. 

Milhares de opções para cada ser humano se apresentam a cada instante, fazendo com que para uma minoria, por ora, a procura por um radicalismo se torne uma importante atração. 

Para estes radicais, diferenças sociais, religiosas, culturais não são vistas como importantes diversidades na humanidade, mas como alvos para serem destruídos, mesmo quando trazem assuntos de interesse para todos, como a medicina e a tecnologia. 

O relacionamento inter-religioso foi sempre um assunto limitado a poucos líderes religiosos que se abriram ao diálogo e à troca de experiências de suas religiões. 

Entretanto, vale ressaltar que o Brasil, formado pela integração de incontáveis culturas humanas de incontáveis países, resultou numa sociedade de alto relacionamento cultural, religioso, que está protegida por uma severa lei antirracismo no seu amplo espectro. 

Há 7 anos, a fraterna relação entre as comunidades judaica, católica e muçulmana gestou um grupo de diálogo que continua até hoje. Através de laços comunitários respectivos, criou-se o grupo Família Abraâmica, que alude essa relação ao ponto em comum entre as três religiões monoteístas: Abraão. 

A Família Abraâmica possui como foco principal o relacionamento inter-religioso e cultural, incentivando seus membros a serem divulgadores da importância do conhecimento da diversidade e serem ativos na forte condenação a qualquer radicalismo e violência. 

Como diz o ditado: “Conhecer é amar, desconhecer é temer...”. 

Através dos anos, os participantes do grupo criaram um forte e fraterno relacionamento pessoal, o que fez com que mensalmente se reunissem, trazendo sempre temas de interesse à diversidade inter-religiosa e intercultural, com experiências e tradições das 3 religiões. 

Neste contexto, os conflitos que começaram no dia 7 de outubro no Oriente Médio e a escalada da violência foram um baque, que impactou de forma diferente cada integrante da Família Abraâmica e ocasionou emoções. 

No entanto, os membros das 3 linhas religiosas mantiveram o diálogo fraterno e, na data de 25 de novembro passado, aconteceu a reunião previamente marcada do grupo. 

O ambiente familiar comum nos encontros anteriores se manteve. 

Todos os presentes manifestaram suas preocupações com o crescimento vertiginoso do antissemitismo, da islamofobia e com o radicalismo religioso e cultural, que tem mostrado um apoio a movimentos extremistas espalhados pelo mundo. 

Como expressão desse sentimento, o acendimento de velas, acompanhado de mensagens incentivadoras e esperançosas, foi completado com a troca de flores e abraços entre todos os presentes nesta reunião da Família Abraâmica. 

Assim, o exemplo da Família Abraâmica, com seu relacionamento fraterno inter-religioso e cultural de judeus, muçulmanos e católicos pode e deverá ser um exemplo por um mundo melhor e mais humano para esta e as próximas gerações. 

Que as velas que acendemos no último dia 25 de novembro, no nosso encontro inter-religioso, sejam símbolos de luz para as nações, e que as flores, trocadas junto com os abraços, façam o mundo mais florido e amistoso, enfrentando todo tipo de radicalismo. 

São Paulo, 30 de novembro de 2023 

Assinam, os líderes da Família Abraâmica; 

Raul Meyer – do grupo judaico 

Cônego Bizon – do grupo católico 

Mustafá Goktepe, Atilla Kus – do grupo muçulmano 

E todos os membros da Família Abraâmica 





terça-feira, 19 de março de 2024

VOCÊ SABIA? - Hospital Leonardo Cohen



Primeiro hospital judaico no Brasil 1929, Quatro Irmãos, R.G. do Sul


 

DIVERSIDADE CURIOSA

Tem grupos humanos que planejam guerras, massacres, destruição de VIDAS...

Tem outros grupos que constroem hospitais para salvar VIDAS.


Por Itanira Heineberg


Você sabia que o primeiro hospital judaico no Brasil, construído em 1929, foi o Hospital Leonardo Cohen, arquitetado por um grupo de colonos judeus no sul do país?

A vinda destes colonos para o Brasil foi financiada pela organização filantrópica do Barão Moritz von Hirsch, um dos cinco homens mais ricos do mundo no século XIX. A História registra que Barão Hirsch investiu uma quantia no valor de US$300 bilhões para salvar a vida dos judeus maltratados e massacrados durante os pogroms. Os pogroms eram os ataques violentos e desumanos à população judia durante o Império Russo.

De lá eles eram enviados aos Estados Unidos, Canadá, Austrália e países da América do Sul como Brasil e Argentina

 

“No caso do Rio Grande do Sul, os imigrantes chegaram em duas levas – primeiro em Santa Maria, em 1904, e depois em Quatro Irmãos, em 1912. No total, vieram cerca de 2,5 mil famílias.”

 

Os colonos receberam lotes de terra, vacas e ferramentas, sabendo que mais tarde teriam que pagar, pois as colônias deveriam ser autossustentáveis.

 

“Já na época, como filantropo, o barão possuía uma visão próxima da ideia profissionalizada de terceiro setor que temos hoje – diz o jornalista e cineasta Sérgio Lerrer, secretário-geral da comissão do Polo de Turismo Judaico de Quatro Irmãos.”

 

O hospital foi construído no alto de uma colina para ser bem avistado, localizado e acessível a todos.

O projeto do hospital tentava tirar vantagem da luz natural, pois a luz elétrica na região era insuficiente.

Aproveitava ainda corredores de vento que garantiam a ventilação do interior do edifício.

Foi um inteligente projeto arquitetônico que recebia e atendia judeus e não judeus.

 

“O corpo médico incluía experientes doutores europeus, a exemplo do alemão Otto Golberg que havia atuado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Habituado a trabalhar em condições adversas, Otto sabia improvisar na mesa de cirurgia, como na ocasião em que um rapaz apareceu com o crânio afundado após levar um coice de um cavalo. Na falta de outro instrumento, Otto pegou um desentupidor de pia e pressionou até desafundar o crânio. O paciente viveu ainda bons anos e não morreu por conta do coice – assegurou Moyses Henkin, genro de Otto, em depoimento a Lerrer.”

 

Ouvindo-se esta vitoriosa história de um crânio sendo desafundado com sucesso por um instrumento da cozinha, podemos imaginar a riqueza dos acontecimentos naqueles pagos distantes da cidade e da criatividade de seus médicos e dirigentes.

Este estabelecimento dedicado a diminuir o sofrimento humano funcionou até 1961, quando foi tombado como patrimônio histórico pela municipalidade de Quatro Irmãos.

É agora um Memorial da Imigração Judaica e faz parte da Rota Judaica que está sendo implantada na região.

Em meio às desavenças e disputas dos variados grupos humanos em nossos dias, este exemplo de generosidade e tolerância às diferentes classes sociais e religiosas dos pioneiros de Quatro Irmãos deve ser apregoado ao mundo como um modelo a ser seguido. Quantas vidas aqui foram salvas. E quantas mais deveriam ser salvas pelos governos das nações!

Abaixo apresentamos a cópia de uma folha de jornal sobre este caridoso Hospital Leonardo Cohen, uma gentileza de Daniel Markus, um de nossos leitores.




FONTES:

https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/almanaque/noticia/2024/01/hospital-leonardo-cohen-o-mais-antigo-da-comunidade-judaica-no-brasil-hoje-e-memorial-da-imigracao-no-alto-uruguai-clrl4o1kz004o0150h32wgmiq.html

https://gauchazh.clicrbs.com.br/passo-fundo/saude/noticia/2024/02/jornada-medica-internacional-arrecada-fundos-para-o-primeiro-hospital-judaico-do-brasil-clsqlaine002w014ldgf0dzhe.html

https://www.simers.org.br/noticia/i-jornada-medica-internacional-leonardo-cohen-homenageia-o-pioneiro-hospital-israelita-no-brasil

quinta-feira, 14 de março de 2024

ACONTECE - Detalhes

 

Por Juliana Rehfeld




Esta semana começou com rumores otimistas de que estava para ser fechado um acordo para um cessar fogo satisfatório para ambos os lados (e para o mundo!) mas de fato nada de concreto veio depois disso. A fonte dessas expectativas é a pressão que o Qatar vem progressivamente fazendo sobre os principais líderes do Hamas que, como sabemos, lá residem confortavelmente. A pressão vem ameaçando-os de serem deportados e de ter seu dinheiro cortado.

Esta foi praticamente a única boa (quase) notícia entre tantos fatos internacionais deprimentes e, sinceramente, incompreensíveis: manifestações em Londres, no Rio de Janeiro, em Melbourne, em Los Angeles na porta da cerimônia do Oscar e por aí afora; não mais falam em civis palestinos inocentes mas sim, em expresso apoio à “resistência do Hamas”. Atores na cerimônia trouxeram um pin com palma vermelha que fez, anos atrás, menção à tortura, morte e celebração da morte em Gaza de 2 israelenses sequestrados - quem os assassinou na cela onde estavam mostrou à multidão as palmas ensanguentadas. Como é possível pessoas famosas se prestarem a celebrar ou desejar esses fatos- seja por ignorância ou por terem mau caráter?

E as informações truncadas ou distorcidas sobre número de mortes e sobretudo sobre os comboios humanitários os quais são protegidos pelo exército, mas o que circula pelas redes é que são impedidos pelo mesmo de chegarem à população civil. Desvios! Esta semana também os dois ex-reféns argentinos informaram que os remédios que foram especificamente enviados a eles nunca chegaram! 

Eu não pretendia fazer um artigo negativo, que reproduzisse os problemas que temos… mas repassei as notícias e deu nisso. Contabilidade e… detalhes…

Encontrei o paralelo com a Parashá da semana: Pekudei, que muitas vezes é comentada junto com a anterior, Vaiakel. E por quê? Porque ela fala, ou melhor, repete e ratifica o que acontece antes nos registros - pekudei - das ações e doações para o Tabernáculo. Ela revisita os detalhes da construção, peças e materiais. E quando está tudo revisto e Aarão e filhos vestidos e preparados para exercer o sacerdócio, uma nuvem com a “presença de Deus” cobre a Tenda onde está o tabernáculo. Ou seja, com todos os detalhes verificados, Deus ocupa sua posição. 

Mas, popularmente, não dizem que o Diabo é quem mora nos detalhes? 

Não ler os detalhes pode nos por em maus lençóis! Mas ficar demais nos detalhes põe o público a dormir, em quaisquer lençóis…

E de qualquer forma, quem hoje para nos detalhes? Quem, ou quantos, principalmente na geração entre 18 e trinta, presta atenção ou mesmo escuta os detalhes? É “mais rápido e parece prático” comprar o quem vem já todo embalado, e colorido, para poder ser usado ou repassado com agilidade…

São detalhes que têm, há 160 dias, impedido um acordo entre Israel e o Hamas - enquanto todos gritam contra os bombardeios e o genocídio ou massacre de civis, passa despercebido o detalhe de que o Hamas simplesmente não entrega nem os nomes dos dos reféns - civis - vivos. É um detalhe! Uma longa investigação da ONU comprovou a atrocidade e os crimes bárbaros perpetrados pelo Hamas em 7 de outubro mas, para a imprensa, isso é um detalhe esquecido - quem no protesto da praça tem tempo de relembrar isso?

“É fundamental haver um Estado Palestino", porque a ONU não cria? Bem, o detalhe é que em 1947 ela determinou onde e como poderia ser criado um Estado árabe (além do Estado árabe recente chamado Jordânia), pequeno detalhe…

“Israel está fazendo o que sempre desejou: aniquilar os palestinos!” Bem, se quisesse, já teria feito é rapidinho já que venceu 5 guerras não desejadas contra mais de 5 países árabes… mas esta lógica, este detalhe é despercebido…

Fala-se de Israel, é “assim ou assado” quando a população do país vem há tantos anos dividida que fez 6 eleições em 5 anos, ou algo assim, e se as manifestações contra Netaniahu conseguirem, irá para uma próxima eleição logo… é muito complicado pensar em trocar de governo em meio a uma guerra, a pior de todas,  mas, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come… são detalhes que vão acabar definindo os próximos passos. 

Shabat Shalom

quinta-feira, 7 de março de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Choro: uma palavra feminina

 

Choro: uma palavra feminina

Há pouco eu falei da Bauhaus e de Walter Gropius. Lembram? Eu até usei uma fonte não serifada em homenagem aos princípios daquela escola de pensamento... a gente, inclusive, conversava como ela influenciou um grupo muito especial de arquitetos e urbanistas brasileiros...

Na verdade, enquanto suas ideias eram enxertadas nas mentes deles, esses também plantavam novas noções nos padrões estéticos dela... ou seja, o Brasil ia se aproximando da Bauhaus, mas, no caminho, ela ia se abrasileirando... pegando o cheiro da nossa gente, as cores da nossa terra, os traços que amamos...

Oscar Niemeyer, por exemplo. Um dos maiores, senão o maior, gênio da arte arquitetônica, bebeu das águas que jorravam daquele riacho chamado Bauhaus. Mas como um beija-flor, que ao se adocicar com a seiva da suculenta flor se veste com uma camada de pólen e passa a polinizar toda a plantação, ele também derramou o pólen da brasilidade na estética do grupo de Gropius...

Enquanto a turma europeia ainda era fissurada pelos traços retos, ele os ensinou a enxergar a beleza da curva: a sensualidade feminina da sinuosidade. A criatividade é uma mulher! A criação é feminina! O traço reto não pode violentar a beleza tão delas...

Dizem as melhores línguas que não há coincidências nesse mundão de meu deus! Niemeyer desenhou prédios por todo o Brasil e por todo o mundo, mas se deu bem mesmo com os projetos femininos...

A lagoa da Pampulha. A capital, Brasília. A sede da ONU... Mulheres! A Beleza, a Criação, a Mãe! 

E lá em Brasília ele tentou, ainda que simbolicamente, corrigir uma violência histórica cometida décadas antes pela desmemoriada modernidade.

Ao lado do Planetário de Brasília, no Eixo Monumental, Oscar colocou o Clube do Choro... o mais reluzente astro do universo musical tupiniquim, aquele que, saído do povo, derrama suas luzes sorridentes e floridas sobre toda a nação, estava lá... num trono urbanístico junto com estrelas, planetas, cometas...

A bem da verdade, quem colocou o clube lá foi o urbanista Lúcio Costa. Mas, é evidente que Niemeyer deu seus pitacos... é que não existe arquitetura isolada, sem entorno... arquitetura também é urbanismo e vice-versa!

O Choro voltava para o seu Trono!

É que ele também já tinha levado suas rasteiras... aliás, foi em nome da modernidade urbanística que essa tradição quase nos foi usurpada... dá pra imaginar nossa gente sem o Choro e o Samba?

No tempo em que o mar ainda banhava a capital do Brasil, em que as decisões eram tomadas no Catete sob as bençãos do Pão de Açúcar, as mais diversas pessoas jogavam suas ancoras nas terras fluminenses...

Rio de Janeiro: uma cidade da gente e do futuro!

Naquela época, os comuns, porém extraordinários, se cruzavam na praça Onze. Era lá que a pluralidade fermentava: judeus vindos da Europa, negros africanos, nordestinos, ciganos... 

A praça Onze era o território dos marginalizados trabalhadores onde morava a diversão, a musicalidade e a criatividade. Já repararam como um grupo de Choro se parece com um de Klezmer?

Quer outro exemplo? Ouça, por gentileza, “Vocalise”, do compositor russo Sergei Rachmaninoff. Agora ouça, por favor, o samba “As rosas não falam”, do precioso Cartola. Os gramofones trocavam ideias com as rodas de samba! 

Foi nesse jardim bem adubado que germinou o lirismo musical de Jacob do Bandolim. Sua mãe, a polaca Raquel Pick, lutava pelo apoio mútuo entre as prostitutas traficadas e pela dignidade na hora do sepultamento...

Dizem que ele morreu nos braços do seu grande amigo Pixinguinha... fala a verdade: esse abraço não é a cara do Brasil? 

Eu imagino que muita gente nunca havia enxergado essa parecença tão óbvia... é pra isso que servem as Artes: elas abrem os olhos e os ouvidos da Alma!

Mas nem tudo são flores...

Com asco da voz popular, o autoritarismo do asfalto, violento e ignorante, destruiu esse rubi histórico e democrático em nome de um futuro automobilístico... no seu lugar, os vermes cinzentos e cafonas.

É tão trágico esse deslembramento, não é? Povo desmemoriado ou autoridades da amnésia?

Pelo menos a gente sempre vai saber... quem tentou destruir a praça Onze, a Criatividade, a Democracia, a Beleza e a Tradição foi a soberba virulenta de quem nunca enxergou as trovas populares...

E quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir continuará escutando a doçura lírica da praça!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.


Acontece: Versões e Narrativas - Israel e o Povo Judeu



No dia 4 de março completaram-se 150 dias desde o ataque sofrido por Israel a partir da faixa de Gaza. As mídias nacional e internacional estão inundadas de relatos sobre o comboio de carretas com alimentos e outros suprimentos que entraram no fim de semana anterior pela passagem entre Egito e Faixa de Gaza. Narrativas sobre narrativas difamam o Exército de Israel e o Estado de Israel. Narrativas sobre narrativas tornam este um momento de virada na guerra midiática. Os dirigentes internacionais, como é o caso do presidente brasileiro, que já haviam se declarado contra o Estado de Israel, ampliam os seus discursos. Alguns dirigentes que estavam na corda bamba aceitam a narrativa, e nem avaliam as imagens oficiais disponibilizadas pelo Exército de Israel. Em nenhum momento são mostrados os atentados que ocorreram em Israel nas últimas semanas. É difícil estar escrevendo com a imagem de uma garota que foi assassinada em um ponto de ônibus em Jerusalém. Mas, estes eventos nem são considerados, ou pior, para muitos são respostas aceitáveis. Respostas a que? Entrar neste jogo de A versus B nunca leva a lugar algum, se não for feito em uma quadra desportiva, com regras definidas! E aí vem a memória do Coliseu em Roma, onde tudo isto existia e o objetivo era matar ou morrer - e o povo aplaudia. 

Artistas como Caetano Veloso, que tinha feito um show muito concorrido em Tel Aviv e elogiado com euforia a liberdade que há nesta cidade cosmopolita que abriga a todos e parecia estar só em festa, faz declarações incontestáveis contra Israel e os judeus. Abraça bandeiras e saúda mandatários. Está nas primeiras páginas dos jornais. Muitos incautos não entendem a mudança de posição. Será que houve mudança?

O ruído aumenta, as narrativas contra os judeus sobem no mundo inteiro. As Universidades acham justo boicotar todos os produtos israelenses. PAUSA - PAUSA - todos continuam usando o Waze, o WhatsApp, Moovit... Hoje mesmo, num ponto de ônibus da Rua Augusta uma senhora elogiava o Moovit. "Não é possível viver sem esta maravilha - nem precisamos ler qual onibus está chegando e quanto tempo vai demorar o percurso". Claro que ela não sabia que estava utilizando uma tecnologia israelense. O Moovit não é boicotado - sua origem foi internacionalizada. Assim como o Povo Judeu. 


CHEGA!!!!! Este Acontece parece mais do mesmo. Será que nada mais aconteceu que valha à pena relatar? 
Isto parece missão imposível, mas no dia 4 de março foi disponibilizado o relatório da Missão ONU encabeçada pela Subsecretária da ONU Pramilla Pattern e nomeada desde 201 como Representante Especial das Nações Unidas para tratar de Violência Sexual em Conflitos 

O silêncio das Mulheres da ONU era ensurdecedor. Gritava mais alto que qualquer populacho. O relatório da equipe liderada pela Representante Especial do Secretário-Geral, Pramilla Pattern, que visitou Israel e a Autoridade Palestina de 29 de janeiro a 14 de fevereiro de 2024. Relatório publicado sem manifestação do Secretário Geral. A íntegra do relatório pode ser apreciada no site das Nações Unidas e a tradução feita com o Google translator está no final deste texto.

O relatório explicita a ocorrência de violência sexual:

"Com base nas informações recolhidasa equipe da missão encontrou informações claras e convincentes de que a violência sexual, incluindo violação, tortura sexualizada, tratamento cruel, desumano e degradante, foi cometida contra reféns e tem motivos razoáveis para acreditar que tal violência pode estar em curso contra aqueles ainda mantido em cativeiro. Em linha com uma abordagem centrada no sobrevivente/vítima, os resultados são transmitidos em termos genéricos e os detalhes não são revelados."

O relatório responsabiliza o Hamas e "outras entidades" pelos ataques e violências e descreve dificuldade em falar com as vítimas. Não há menção sobre a presença na ONU de uma das vítimas ocorrida no dia 7 de outubro.

O Presidente de Israel, Isaac Herzog, alerta que vai haver muitas narrativas descreditando o relatório e por isso é tão importante estas missões das pessoas que sofreram atrocidades na mão dos que cruzaram a fronteira de Israel a partir de Gaza. Militantes do Hamas, civis, jornalistas e mesmo funcionários das Nações Unidas. Todos participantes dos terríveis acontecimentos.


Ainda não encontrei comentários do Secretário Geral. E o Times of Israel também não!

Descaso, ou será uma postura que visa não desviar a atenção mundial das narrativas que difamam o Estado de Israel? Nestes útimos dias tem sido explorada a narrativa de que o Exército de Israel atirou contra famintos de Gaza que queriam retirar os suprimentos doados pelos Estados Unidos que entraram no Território de Gaza pelo Egito. Esta notícia ocupou os grandes veículos de comunicação. No Brasil foi tema de grande destaque e encontrou, em alguns momentos, uma repulsa generalizada ao Exército de Defesa de Israel.



No dia 5/10 estará sendo realizado em São Paulo uma reunião organizada pelo Hadassah Brasil e FISESP (Grupo de Empodeiramento e Liderança Feminino) com

*Michal Elon:* israelense sobrevivente dos ataques ocorridos em 07/10, cuja história é uma fonte de coragem e esperança para muitos. Enfermeira do Hospital Hadassah em Jerusalém, estava em uma base militar com marido e filhos para celebrar o Shabat junto com os soldados. Algo comum não só entre os ortodoxos, mas também conservadores e reformistas. No sábado de manhã foi surpreeendida com o ataque de 7 de outubro!

*Cochav Elkayam-Levy:* Lidera a Comissão Civil sobre os Crimes de 7 de Outubro contra Mulheres e Crianças; em sua fala perante o Comitê da ONU para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, representou o movimento de direitos das mulheres de Israel. Estará falando logo após a publicação do relatório!

Este é um acontece, que vem acontecendo durante a semana.


Está circulando um abaixo assinado ao redor do mundo para que o silêncio seja rompido! Importante chegar a um milhão de assinaturas! Vamos contribuir.

E, queria terminar por aí. Fui atrás das últimas noticias que o porta-voz do Exército de Israel apresenta no canal 12 ou 14. QUAL NÃO FOI A MINHA SURPRESA! 🥹🥹🥹  Só apareciam Newsletters e Links que direta ou indiretamente propagandeiam o encerramento do Estado Judeu no século XXI.

E OLHEM O QUE APARECEU:

Newsletters ligadas a partidos de esquerda, e também sites internacionais que diminuem sistematicamente Israel, informavam que todos os membros do Batalhão de Porta-vozes do Exército de Israel havia renunciado hoje, dia 6 de março. Fiquei uns dez minutos procurando fontes israelenses que pudessem confirmar - e... PURA NOTÍCIA FALSA - PURO FATO CRIADO... está viralizando a tal ponto que tive que dar muitas voltas até conseguir ativar a página do Jersualem Post e saber que nada havia acontecido! (por favor, autorizem a abertura)

Vejam a informação que chegou para conseguir acessar o Jerusalem Post, que faz parte de minha rotina. 




Relato esta informação que acaba de ACONTECER comigo - e que bem ilustra o poder destas falsas noticias. 

O LADO BOM para dar a certeza a todos que AM Israel Chai e Vekaiam!



O professor Haim Sompolinsky, da Universidade Hebraica de Jerusalém, recebeu o Brain Prize 2024, o maior e mais prestigiado prêmio internacional para pesquisa do cérebro. O premio é atribuído anualmente pela Fundação Lundbeck da Dinamarca.

Professor Sompolinsky, que também é afiliado à Universidade de Harvard, é físico e pioneiro no campo da neurociência teórica e computacional, particularmente no estudo da dinâmica dos circuitos neurais no cérebro. Sua pesquisa contribuiu significativamente para a compreensão de como os circuitos neurais processam e codificam informações, mapeiam o mundo externo e participam do aprendizado e da memória. Sompolinsky partilha o prémio anual totalizando 1,3 milhões de euros com o Professor Larry Abbott da Universidade de Columbia e o Prof. Terrence Sejnowski, do Instituto Salk, que também são amplamente reconhecidos pelo seu trabalho inovador em neurociência computacional e teórica, que aplica física, matemática e estatística como ferramentas para estudar o cérebro e como ele funciona.

Sua Alteza Real o Rei Frederik da Dinamarca entregará as medalhas do Brain Prize aos vencedores numa cerimónia em Copenhaga, no dia 30 de maio.
AM ISRAEL RAI


Regina P. Markus
 

-------------------------------------------------------------------------------------RELATÓRIO REPRESENTANTE ESPECIAL DO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU - Pramila Patten
(tradução do original)

Nova Iorque, 4 de Março de 2024: 

A convite do Governo, a Representante Especial do Secretário-Geral (RESG) Pramila Patten liderou uma visita oficial a Israel, apoiada por uma equipe de especialistas técnicos, de 29 de Janeiro a 14 de Fevereiro de 2024. O objetivo da visita foi recolher, analisar e verificar alegações de violência sexual relacionada com o conflito alegadamente cometida durante os brutais ataques terroristas liderados pelo Hamas de 7 de outubro de 2023 e no seu rescaldo, dada a ausência de entidades relevantes da ONU que operam em Israel, em a fim de informar relatórios no exercício do seu mandato, inclusive ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A RESG Patten e  equipe (a equipe da missão) também visitaram a Cisjordânia ocupada para dialogar com a Autoridade Palestiniana, organizações da sociedade civil, detidos libertados e outros intervenientes relevantes. Considerando as hostilidades em curso, a missão não solicitou visitar a Faixa de Gaza, onde estão presentes várias outras entidades das Nações Unidas, incluindo algumas que monitorizam e abordam a violência sexual  baseada no gênero.

A visita não se destinava nem tinha mandato para ser de natureza investigativa, um mandato conferido a outros órgãos das Nações Unidas, que manifestaram prontamente a sua vontade e disponibilidade para investigar todas as alegadas violações cometidas no contexto dos ataques de 7 de Outubro e suas consequências. O âmbito e os parâmetros da visita foram previamente acordados com as autoridades competentes, para garantir o acesso desimpedido e confidencial aos interlocutores e à informação. A  missão aderiu à metodologia padrão da ONU, incluindo os princípios de independência, imparcialidade, objectividade, transparência, integridade e princípios de “não causar danos”, relacionados com o respeito pela confidencialidade e pelo consentimento informado. A RESG Patten foi apoiada por uma equipe técnica composta por nove especialistas do sistema das Nações Unidas, incluindo especialistas em entrevistas seguras e éticas de vítimas/sobreviventes e testemunhas de crimes de violência sexual, um patologista forense e um analista de informação digital e de código aberto. A equipe não poupou esforços para recolher informações e encorajar as vítimas/sobreviventes e testemunhas a apresentarem-se e a partilharem as suas histórias.

A equipe da missão realizou um total de 33 reuniões com instituições nacionais israelenses, incluindo ministérios relevantes, bem como com as forças de segurança israelenses. Visitou o Centro Nacional Israelense de Medicina Forense, a base militar de Shura, a morgue para onde foram transferidos os corpos das vítimas, bem como quatro locais afetados pelos ataques de 7 de Outubro, em relação aos quais surgiram relatos de violência sexual. A equipe da missão analisou mais de 5.000 imagens fotográficas e aproximadamente 50 horas de filmagens dos ataques, num esforço concertado para identificar quaisquer potenciais casos ou indícios de violência sexual relacionada com o conflito. Conduziu entrevistas confidenciais com um total de 34 entrevistados, incluindo sobreviventes e testemunhas dos ataques de 7 de Outubro, reféns libertados, socorristas, prestadores de serviços de saúde, entre outros. Embora o número de sobreviventes/vítimas da violência sexual de 7 de Outubro permaneça desconhecido, a equipa da missão foi informada de que um pequeno número deles está supostamente a ser submetido a tratamento e continua a sofrer graves sofrimentos mentais e traumas. Apesar dos esforços concertados para os encorajar a apresentarem-se, a equipa da missão não conseguiu entrevistar nenhum destes sobreviventes/vítimas.

A equipe da missão também se reuniu com famílias e familiares de reféns ainda mantidos em cativeiro, membros de comunidades deslocadas dos kibutzim, bem como representantes de organizações da sociedade civil israelita e do meio académico.

As autoridades nacionais israelenses enfrentaram numerosos desafios na obtenção de provas no prosseguimento das suas investigações. Os esforços para recolher provas foram prejudicados pela disponibilidade limitada de informações forenses, devido ao grande número de vítimas e às cenas de crime amplamente dispersas; um contexto de hostilidades activas; a priorização das operações de busca e salvamento, bem como a recuperação, identificação e sepultamento dos falecidos de acordo com as práticas religiosas, em detrimento da recolha de provas forenses; a perda de evidências potencialmente valiosas devido às intervenções de alguns socorristas voluntários não treinados; a alteração das cenas dos crimes em alguns casos, bem como o grande número de corpos afetados por extensas queimaduras.

A equipa da missão também enfrentou desafios específicos na obtenção e verificação de incidentes de violência sexual, incluindo: material forense recolhido profissionalmente limitado; interpretações forenses imprecisas e não confiáveis por parte de não profissionais; a disponibilidade extremamente limitada de vítimas/sobreviventes e testemunhas de violência sexual devido, inter alia, ao deslocamento interno das comunidades ; a falta de confiança pública e de confiança nas instituições nacionais e internacionais; o questionamento por parte de alguns do enfoque estreito da missão sobre crimes de violência sexual dado a série de outros crimes graves cometidos em 7 de Outubro e as suas consequências; e o intenso escrutínio midiático de indivíduos cujas contas apareceram no domínio público, aumentando o trauma e os receios de estigmatização social.

Com base nas informações recolhidas, a equipe da missão encontrou informações claras e convincentes de que a violência sexual, incluindo violação, tortura sexualizada, tratamento cruel, desumano e degradante, foi cometida contra reféns e tem motivos razoáveis para acreditar que tal violência pode estar em curso contra aqueles ainda mantido em cativeiro. Em linha com uma abordagem centrada no sobrevivente/vítima, os resultados são transmitidos em termos genéricos e os detalhes não são revelados.

No contexto do ataque coordenado pelo Hamas e  outros grupos armados contra alvos civis e militares em toda a periferia de Gaza, a equipe da missão concluiu que existem motivos razoáveis para acreditar que a violência sexual relacionada com o conflito ocorreu em vários locais durante os ataques de 7 de Outubro, incluindo violação e violação colectiva em pelo menos três locais, nomeadamente: o local do festival de música Nova e seus arredores, Estrada 232, e Kibutz Re'im. Na maioria destes incidentes, as vítimas inicialmente vítimas de violação foram depois mortas, e pelo menos dois incidentes estão relacionados com a violação de cadáveres de mulheres.

A equipe da missão também encontrou um padrão de vítimas, principalmente mulheres, encontradas total ou parcialmente nuas, amarradas e baleadas em vários locais. Embora circunstancial, tal padrão pode ser indicativo de algumas formas de violência sexual, incluindo tortura sexualizada e tratamento cruel, desumano e degradante.

Noutros locais, como o kibutz Kfar Azza, embora a informação circunstancial possa indicar algumas formas de violência sexual, a missão não conseguiu verificar os incidentes de violação relatados. No Kibutz Be’eri, a equipa da missão determinou que pelo menos duas alegações de violência sexual, amplamente divulgadas nos meios de comunicação social, eram infundadas. Estes incluíram o caso graficamente divulgado de uma mulher grávida cujo útero teria sido rasgado, antes de ser morta, e o seu feto esfaqueado ainda dentro dela. Em relação à base militar de Nahal Oz, a equipe não foi capaz de verificar um caso de violação, nem encontrou um padrão discernível de mutilação genital em soldados do sexo feminino ou masculino, embora a análise forense tenha revelado lesões em múltiplas partes do corpo, incluindo genitália. No que diz respeito à mutilação genital em geral, a equipa da missão não foi capaz de estabelecer um padrão discernível.

No geral, a equipa da missão é de opinião que a verdadeira prevalência da violência sexual durante os ataques de 7 de Outubro e as suas consequências pode levar meses ou anos a emergir e pode nunca ser totalmente conhecida.

A equipe da missão também visitou Ramallah, na Cisjordânia ocupada, para ouvir as opiniões e preocupações das autoridades palestinianas e dos representantes da sociedade civil em resposta às alegações de violência sexual relacionada com o conflito recebidas pelo mandato na sequência dos ataques de 7 de Outubro, alegadamente implicando Israel forças de segurança e colonos. Os interlocutores levantaram preocupações sobre o tratamento cruel, desumano e degradante dos palestinianos detidos, incluindo várias formas de violência sexual sob a forma de revistas corporais invasivas, ameaças de violação e nudez forçada prolongada, bem como assédio sexual e ameaças de violação, durante a vida doméstica. ataques e em postos de controle. Esta informação complementará a informação já verificada por outras entidades da ONU sobre alegações de CRSV em Gaza e na Cisjordânia ocupada para potencial inclusão no Relatório anual do Secretário-Geral sobre Violência Sexual Relacionada com Conflitos.

Em termos de recomendações, o RESG Patten incentiva o Governo de Israel a conceder acesso ao Gabinete do Alto Comissariado para os Direitos Humanos e à Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre o Território Palestiniano Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental e Israel, para conduzir investigações independentes de pleno direito. em todas as alegadas violações para complementar e aprofundar as conclusões emergentes da sua missão. Ela apela ao Hamas para que liberte imediata e incondicionalmente todos os indivíduos mantidos em cativeiro e garanta a sua proteção, inclusive contra a violência sexual. A RESG apela ainda a todos os órgãos relevantes e competentes, nacionais e internacionais, para que levem todos os perpetradores, independentemente da posição ou afiliação, à justiça com base na responsabilidade individual, superior e de comando. Neste sentido, ela estende o apoio do seu Gabinete para melhorar a capacidade das autoridades nacionais.

Ela também insta todos os intervenientes relevantes a defenderem os mais elevados padrões de integridade da informação, incluindo o respeito pela segurança e pelos princípios éticos na denúncia de casos de violência sexual, dados os riscos da retórica inflamatória e das manchetes sensacionalistas que aumentam as tensões, bem como da pressão mediática e/ou política. agravando o trauma e a estigmatização de sobreviventes de violência sexual.

RESG Patten faz eco aos apelos do Secretário-Geral para um cessar-fogo humanitário e apela à inclusão de conhecimentos especializados na abordagem da violência sexual relacionada com conflitos para informar a concepção e implementação de todos os acordos de cessar-fogo e políticos, sublinhando que as vozes das mulheres e das comunidades afectadas devem ser ouvido em todos os processos de resolução de conflitos e de consolidação da paz.

Ela reitera a sua profunda simpatia e solidariedade para com todos os civis afetados pela violência brutal na região desde os ataques de 7 de Outubro e apela a um regresso sustentável ao caminho da paz.