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quinta-feira, 25 de julho de 2024

ACONTECE: 30 anos... AMIA... tudo muda, nada muda.....


Por Raul Meyer

 

Manifestação em Buenos Aires em memória das vítimas do atentado contra a sede da AMIA, ocorrido em 18 de julho de 1994  (irina dambrauskas)


No último dia 18 de Julho foi lembrado o 30o aniversário do trágico atentado à AMIA (Asociación Mutual Israelita Argentina) em Buenos Aires com um emotivo ato, que teve a participação de representantes dos diversos setores da Argentina,inclusive o Presidente Javier Milei.

85 pessoas que perderam a vida e mais de 300 feridos foi o resultado daquele fatídico evento, que aliás tinha sido precedido pelo atentado à Embaixada de Israel dois anos antes, também na capital Argentina.

O acompanhamento dos acontecimentos levou a indicar o Irã como o mentor de ambas as iniciativas.

Mas... tudo muda... nada muda...

Em 22 de Julho da semana passada o centro de Tel Aviv foi atingido às três horas da madrugada por um drone de grande porte proveniente do Yêmen, que atingiu um prédio mantando um israelense e ferindo dezenas.

Mas o que é que o Yêmen tem contra Israel com o qual nem fronteiras possui e está a mais de 1800 km de distância?

Outra questão: o que o Irã tinha contra a AMIA, contra a comunidade judaica argentina, contra a sociedade “Portenha” (quem vive em Buenos Aires)... derrubando um edifício no meio da cidade de Buenos Aires... atingindo a população que circulava na rua...?

Uma emissora de rádio comenta que “em um minuto tudo pode mudar”... e é o que vivemos nos últimos tempos.

A AMIA foi escolhida pois a Argentina possuía naquela época (1994) a maior população judaica da América Latina, com mais de 500 mil integrantes.

Hoje, a comunidade judaica argentina é formada por aproximadamente 250 mil pessoas - o que, aliás, continua sendo uma importante comunidade.

Embaixada de Israel na Argentina em 1992; AMIA 1994; diversas instituições judaicas atacadas, como sinagogas, nos últimos tempos... o que acontece com a humanidade?

Então a pergunta... o que o Irã tem contra Israel com o qual também não tem fronteiras – considerando que Israel nunca fez nada contra o Irã?

Outro dia escutei um Sheik do Irã comentando que o país “nada teria contra Israel e sim contra os Estados Unidos”... e que Israel é um exemplo da cultura norte-americana no Oriente Médio, e que isso deveria ser eliminado. Uma simples resposta possível é: o que é diferente da cultura iraniana pode ser um risco para ela... e como solução, então deve ser eliminado.

O Irã é um país muçulmano chiita e possui em sua cultura religiosa  severidade e radicalismo. Pretende se impor sobre todos os países árabes com sua filosofia religiosa e política. É um dos maiores financiadores do terrorismo mundial, abastecendo o Hamas, o Hezbolah e os Houties no Yêmen com armas.

Na última semana foi reimplantada a lei da obrigatoriedade da cobertura das mulheres em suas cabeças, que aliás já custou a vida de muitas que no passado tinham se oposto à sua aplicação.

Mas o que há contra a diferença cultural que leva radicais islâmicos a atacarem alvos diferentes de sua cultura? O que faz que haja um movimento para a simples destruição de Israel com o slogan “do Rio  ao Mar”...

A cultura muçulmana é uma cultura bastante diferente da cultura ocidental, seja no comportamento humano entre os sexos, seja na atuação da religião. Ela não se identifica com a ocidental - tal é o caso que diversos países europeus como França, Bélgica, Alemanha e Holanda já possuem uma importante parcela de sua população pertencente à cultura muçulmana que já reivindica a aplicação da Shaaria, a legislação muçulmana no seu dia a dia.

Isto está criando uma reação islamofóbica por parte da população que pertence a outras religiões e luta pela liberdade democrática de culto. Na Alemanha, dias atrás o governo fechou institutos islâmicos e mesquitas que propagavam movimentos de ódio.

O movimento contra Israel por parte de radicais islâmicos arrastou milhares de pessoas no mundo inteiro, especialmente estudantes universitários que absolutamente sem conhecimento de causa aderem às mensagens antissemitas, anti-israel,  inclusive contra judeus que vivem espalhados pelo mundo.

A razão desta “aderência ao radicalismo islâmico” certamente é “proforma” - pois são pessoas vivendo em países democráticos onde podem ter a liberdade de aderir à mensagens antissemitas, mas não se mudariam para o oriente médio radical.

Assim, vivemos num paradoxo... o que nos obriga a ficarmos mais atentos do que nunca.

Israel tomou a iniciativa de combater com mão forte aqueles que pretendem destruí-lo (o grupo terrorista Hamas na faixa de Gaza) e isto está sendo combatido pela maioria dos países da ONU, que aliás são da cultura árabe e não permitem uma liberdade religiosa.

O paradoxo é que os imigrantes muçulmanos requerem que sua cultura seja implantada em países para onde migraram, mas que a recíproca não é verdadeira - ou seja, em seus países de origem não são permitidas culturas ou religiões diferentes.

Perguntei antes: o que está acontecendo com a humanidade? Embora sua evolução na técnica, na medicina, na agricultura, nas artes, na música... etc tenha criado um mundo que eu chamaria de “moderno”, estamos regredindo no aspecto humanitário. O radicalismo evolui a passos largos, mas o relacionamento humano aos tropeços.

A lembrança dos atentados em Buenos Aires serve apenas como uma recordação de uma tragédia e a incessante procura por respostas a milhares de perguntas. O passado não pode ser esquecido com tanta facilidade.

Entre as perguntas que eu gostaria deixar para o leitor tentar responder, coloco aqui algumas:

- Onde estão os movimentos feministas que se lutam contra o estupro e nada, repito, nada fizeram quanto aos acontecimentos de 7 de Outubro passado em Israel?

- Quem é realmente a ONU que reivindica ser uma organização que visa o relacionamento fraterno entre as nações “Unidas”?

- Onde estão e como opinam instituições e países que fizeram doações bilionárias a entidades como Hamas, Hezbolah e Houties dando o título de ajuda humanitária?

- Onde está a justiça em países onde houve atentados e estes foram “varridos para baixo de tapetes”?

- Onde estão países que não se manifestam para que sua cultura seja preservada quando seus governos estão sendo guiados a absorver culturas diferentes e radicais?

Onde está a maioria silenciosa que prega a liberdade mas nada faz para que ela seja o foco diário em suas vidas?

Acredito que a humanidade precisa urgentemente acordar, antes que a evolução do radicalismo terrorista islâmico atinja todos os demais países.

Sei perfeitamente que não todos muçulmanos são terroristas, muito ao contrário, só uma grande minoria da população adere ao radicalismo, mas a maioria islâmica se cala, e muitas vezes é subjugada. Cabe a cada um de nós aproximarmos desta maioria e mostrar que nosso pleito é que se unam pela liberdade de religião, aliás, de todas as religiões pois qualquer radicalismo religioso induz à eliminação da liberdade humana.

Não é fácil no presente combater o radicalismo, não será fácil no futuro acredito, mas não temos outra saída... pois nada parece mudar... lamentavelmente.

Shabat Shalom!

Raul Meyer


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Alma

 

Portrait of Alma Mahler by Oskar Kokoschka, 1912

Alma

          Lembram lá atrás quando eu falei de Walter Gropius e da escola Bauhaus de arquitetura e design? Eu até usei uma fonte não-serifada, que rimava mais com o sabor modernista... Lembraram? Faltou um detalhe que, de tão importante, era a alma daquela história...

          Pra contar essa história de som e fúria a gente precisa de uma trilha sonora especial. Intensa e solene. Emoção pura. Sinfonia n. 2 de Gustav Mahler, “Ressurreição”! Pra quem gosta, e eu aprecio bastante, que tal uma taça de vinho? Uma dose de whisky? Uma cachacinha?

          Sabe qual é a alma da Bauhaus? Era a Alma... Alma Mahler, cuja artes criativas explodiam pelos poros numa chama de crise e caos. É nessa baderna, nesse solo revoltoso, que as mais belas flores criativas podem ser cultivadas. Dia a dia, disciplinadamente, sob as lágrimas e os risos...

          Alma era filha de um grande pintor vienense, Emil Jakob Schindler. O lirismo era seu parceiro de vida. Seu humor, como o dos grandes artistas, era um café forte de torra escura: amargo e delicioso. Perfumado e inacessível aos incautos. Um alerta: “não se aproxime, mas se for, que vá até o fim”!

Quando os europeus pensavam na América, eles tremiam de medo. Europa era o cosmos, o controle, a linha reta. A gente era o caos, o imponderável, a curva... Alma tinha essa selvagem essência americana... Um tigre que nunca se domestica!

Compositora desde criancinha, casou com seu grande mestre, Gustav Mahler! Surpresa! Ele queria que ela fosse bela, recatada e do lar. Nada contra! Se alguém quiser ser feliz assim, eu acho lindo. Mas esse nunca foi o caminho dela! Gustav queria engaiolar o tigre! Felinos não são canários...

Brigas! Explosões! Gritos! Ranger de dentes!

Quanto mais Gustav abafava Alma, mais ela o feria em busca de ar, de Liberdade, de Criação!

Sabe as sinfonias de Mahler? Foram compostas nessa atmosfera de perfume e fedor. Acho que por isso são tão estupendas! O estrume é adubo... O milho só vira pipoca quando passa pelo fogo! A pérola só nasce da ostra incomodada!

O casamento já ruía como pau a pique na tempestade. Antes que Gustav pudesse fazer algo para se redimir, ela conheceu Walter Gropius... Na verdade, ela conheceu muito bem! Tanto que depois da morte de Mahler, se casaram.

E mais uma vez as cores da Alma brilharam! Ela não era arquiteta nem designer, mas a arte era o perfume que sua pele exalava. Sempre que a gente vê uma obra de Gropius, a gente enxerga a alma da Alma... Foi ela o fogo que fez a fornalha gritar! Ela era a corredeira que movia o monjolo!

Mas... Nenhuma alma inquieta consegue descansar... Aos poucos, a música de Walter não cabia mais na partitura de Alma... E assim como se conheceram, se desconheceram... Ela foi beber da lírica de um novo poeta, Franz Werfel, quando o cosmos europeu gestava o bolor nazista.

O caos aportou na América. Los Angeles. Alma caiu em braços de anjos, embalada pela poética de Werfel.

Mas, os ídolos nunca morrem, não é mesmo?  Até o dia de sua morte ela ainda prestava homenagem a seu grande mestre, tão incompreendido como genial, Gustav Mahler. Na lápide, até hoje, Alma Mahler-Werfel!

Alma iluminada, poética!

Alma LIVRE!

André Naves.:

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Estrategista. Comendador Cultural.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

 

terça-feira, 23 de julho de 2024

VOCÊ SABIA? - Passeio pela história e pela memória da imigração judaica no Rio Grande do Sul

 

Um convite: passeio pela história e pela memória da imigração judaica no Rio Grande do Sul

Por Itanira Heineberg



Você sabia que o Polo de Turismo Histórico Judaico de Quatro Irmãos e Região tem como objetivo recuperar, preservar e divulgar a memória e legados da imigração judaica no Brasil?

Já é possível conhecer a história, os locais, a cultura da imigração e a vida da comunidade judaica no sul do país vivenciando a Rota Judaica, um passeio original e inesquecível pelo estado do Rio Grande do Sul.

 

Nesta rota vamos conhecer a história da imigração judaica das Colônias do início do Século XX, derivadas de uma missão de vida do casal de filantropos Barão e Baronesa Hirsch, que por iniciativa própria retiraram da pobreza e perseguições milhares de famílias judias do leste europeu, deslocando-as para as Américas em procura de cidadania e liberdade.”


Brasão da família Hirsch auf Gereuth


“Foi um passado de comunidade construindo soluções de sobrevivência, de saúde, de empreendedorismo, e especialmente, na busca de um local – no Alto Uruguai gaúcho – que oferecesse tolerância e preservação da identidade cultural e religiosa.”

Moritz von Hirsch, (1831-1896) banqueiro e filantropo alemão, empenhou-se em reassentar os judeus da Rússia perseguidos pelos Czares, doando £ 10.000 aos fundos arrecadados para a repatriação dos refugiados em 1882.

 

“Insatisfeito com as condições impostas pelo governo russo, Hirsch resolveu dedicar o dinheiro a um esquema de emigração e colonização que deveria proporcionar aos Judeus perseguidos oportunidades de se estabelecerem em colônias agrícolas fora da Rússia.

Ele fundou a Associação de Colonização Judaica como uma sociedade inglesa, com um capital de £ 2.000.000, e em 1892 apresentou a ela uma soma adicional de £ 7.000.000. Com a morte de sua esposa em 1899, o capital foi aumentado para £ 11.000.000, dos quais £ 1.250.000 foram para o Tesouro, após alguns litígios, em impostos sucessórios. Este enorme fundo, que na época era provavelmente o maior fundo de caridade do mundo, era administrado por delegados de certas sociedades judaicas, principalmente a Anglo-Jewish Association de Londres e a Aliança Israelita Universal de Paris, entre as quais as ações da associação foram divididos.”


Mapa do estado do Rio Grande do Sul com a região do Alto Uruguai ao norte.



Assistamos agora a este vídeo complementar sobre a bem-sucedida experiência em terras brasileiras:




A verdadeira esperança era encontrar, do outro lado do Atlântico, uma terra acolhedora. Não apenas para ganharem dinheiro e voltar, como era o desejo de tantos imigrantes que queriam simplesmente “fazer a América”; os judeus queriam fazer de terras distantes - na América do Norte (Canadá e Estados Unidos) ou do Sul (Argentina e Brasil) seu novo lar.

E graças ao Barão Hirsch e sua esposa, preocupados com o sofrimento de seus irmãos do leste europeu, observantes da caridade e justiça social (tzedacá), estes judeus e suas famílias encontraram uma terra acolhedora, distante dos pogroms e perseguições do passado, onde se estabeleceram em paz e criaram seu novo lar.





FONTES:

https://poloturismojudaico.com.br/

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cj79kpjlp59o

https://www.morasha.com.br/biografias/maurice-de-hirsch-o-barao-da-tzedaca.html

https://www.jornalbomdia.com.br/noticia/67717/barao-hirsch-anunciado-para-2024-o-grande-encontro-dos-judeus-descendentes-das-colonias-gauchas


sexta-feira, 19 de julho de 2024

ACONTECE: Quebra de Rotinas


da antiquidade aos dias de hoje,
a gentileza e o cuidar adornam o futuro


Quando foi proposto trocar o nome desta sessão de Editorial para Acontece, achei interessante o desafio proposto por Juliana e embarquei no dia a dia. Novidades a cada momento que saltavam aos olhos e mereciam uma reflexão. Hoje é dia 19 de julho de 2024. Fatos como o atentado contra Trump e a convenção republicana nos Estados Unidos, a morte de dirigentes do Hamas, o acirramento da guerra no norte de Israel, manifestações climáticas extremas ao redor do planeta, manisfestação dos familiares dos reféns presos há mais de 9 meses em Gaza... E a lista vai se transformando em uma rotina e a reação da imprensa cada vez mais segmentada. UMA ROTINA. Nada a ver com a ritmicidade da vida, que inclui rotinas geológicas, biológicas, sociais e pessoais. Aqui menciono a rotina de horrores que estamos vivendo e que gostaríamos de ver o fim. Mas, hoje entra um fato novo dentro da rotina de guerra. Um drone disparado pelos Houtis a partir do Iêmen atinge Tel Aviv. Li a notícia no i24 News e o texto sobre ROTINA tem que incluir um PONTO DE INFLEXÃO, um fato novo que pode ou não alterar a rotina.

Iniciamos por um fato que não pode ser rotina! Não podemos deixar que as pessoas que estão em GAZA presas pelo HAMAS, independente de serem homens, mulheres ou crianças, independente de sua nacionalidade e de qualquer outra forma de classificação, continuem sob o jugo de um grupo que ganhou visibilidade oprimindo a população que deveria liderar. 

REFÉNS EM GAZA

Este é um ponto que não pode ser uma rotina. O fato de Israel ter sido atacado em 7 de outubro e que a morte de 1200 ou mais pessoas inocentes que estavam em suas casas dormindo ou celebrando a alegria em uma RAVE jamais pode virar rotina. A Praça dos Reféns em Tel Aviv é um dos palcos. Este dia é transformado num marco da estupidez humana quando líderes que pouco se importam com a população sob sua responsabilidade transformam o gosto do sangue em momentos de vitória. OS REFÉNS DE GAZA serão uma mantra para lembrar que a VIDA é o nosso bem maior. Vamos mantê-los vivos.

TEL AVIV ATINGIDA...



Olhar a foto de um míssel caído em Tel Aviv postada pelo jornalista Ariel Oseran (@ariel_oseram) do i24 News, TAV. Um veículo aéreo não tripulado que caiu na rua Ben Yehuda, esquina com a Shalom Aleichem. Matou um morador do prédio atingido e feriu outros; eram três horas da manhã em Israel. Segundo a Revista Brasil IL, a partir de notícias do Jerusalem Post, N12, The Yeshiva World e Comunidade Plus a vítima fatal foi um homem de 50 anos ferido por estilhaços que entraram em um apartamento próximo. 

A Magen David Adom chegou ao local e encaminhou os feridos para os hospitais próximos. Dos 4 objetos voadores lançados, um não foi intereceptado na região de Eilat.

Aqui saímos da rotina. Os mísseis do HOUTIS - um outro braço armado do Irã -  sobre Israel, estavam apontados para Tel Aviv. 

A pergunta que não quer calar: Por que às três horas da manhã? Mísseis que atingissem aquele endereço às três horas da tarde matariam centenas de pessoas! E aqui vai a minha opinião, seguindo o título deste texto: assim atuam os terroristas iranianos. Injetar MEDO, injetar DESCONFORTO, injetrar INCERTEZA é uma forma muito eficaz de gerar Doença do Pânico e com isso criar mais desarmonia e desconfiança. Dentro da sociedade israelense serão abertos debates para entender por que o míssel atravessou as barreiras de segurança, serão buscados culpados para esta falha e será iniciada mais uma rotina de desunião.

Isto tornará mais fácil deixar de focar no real inimigo: o antissemitismo, que vem floreado de palavras como sionismo! 

Agora é a hora de UNIÃO e de busca dos pontos comuns para podermos o mais rápido possível quebrar a rotina iniciada em 7 de outubro de 2023!

AM ISRAEL CHAI!

Regina P. Markus


terça-feira, 16 de julho de 2024

VOCÊ SABIA? - Nazismo e Racismo no Brasil

 

Por Itanira Heineberg


Objetos apreendidos durante investigação contra célula nazista em SC no ano de 2022 — Foto: Polícia Civil/ Divulgação/Arquivo


Você Sabia que o Brasil tem mais de 300 células nazistas em funcionamento?

E que há mais de 6.500 endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa e dezenas de milhares de neonazistas brasileiros em fóruns internacionais?




Um professor de História, em uma escola no Rio de Janeiro, foi dar aula sobre nazismo. Ele mostrou para seus alunos a suástica e disse que aquele era o símbolo dos nazistas. Uma aluna levantou a mão e disse que já havia visto no sítio da sua família um tijolo com aquele mesmo símbolo.



Isso despertou a curiosidade no professor, que procurou saber mais sobre o assunto. Aquele tijolo pertencia a uma construção demolida no sítio que era um casebre.



 

 Até as vacas da fazenda recebiam a suástica  - BBC

Sidney Aguilar (o professor) não sabia que em sua pesquisa iria descobrir uma história tão bizarra que iria se transformar no documentário chamado "Menino 23".

 

Esse sítio pertence à família Rocha Miranda, uma das famílias mais importantes da História do Rio de Janeiro de origem escravocrata. Em sua pesquisa, Sidney descobriu que a família Rocha Miranda tinha um integrante que era MEMBRO do partido nazista aqui no Brasil, que era o MAIOR partido nazista fora da Alemanha e que outras pessoas da família eram ligadas ao Partido Integralista Brasileiro, que era um "fascismo tupiniquim".

Achando bizarro? Calma que vai ficar ainda mais. Em sua pesquisa, Sidney descobriu que a família Rocha Miranda adotou 50 crianças de um orfanato para escravizá-las, todas negras. No documentário, um homem conhecido como Seu Aloísio, que foi uma das vítimas, disse que as crianças não eram chamadas por nomes, mas sim por números e o seu era 23.


BBC WORLD SERVICE

Aloysio Silva era conhecido apenas pelo número 23


Os meninos só foram libertados do cárcere quando o governo Vargas rompeu de vez as relações com o Eixo. Daí, os nazistas, assim como o Partido Integralista, foram perseguidos e a família Rocha Miranda perdeu o status que tinha.

Hoje isso parece algo extremamente absurdo, mas para época não era. Segue uma frase de um Deputado Federal chamado Alfredo da Matta em discurso no ano de 1933: "A eugenia, senhor presidente, visa a aplicação de conhecimentos úteis e indispensáveis para reprodução e melhoria da raça."

No tempo em que os garotos foram feitos de escravos, o Brasil vivia o ápice da política de superioridade racial e de "branqueamento", impulsionadas pelo darwinismo social. Isso não faz 200 ou 100 anos: isso faz apenas 89 anos. Como que em tão pouco tempo o nosso país deixou de ser racista? Aos que dizem que o Brasil não é um país racista: será mesmo?

Hoje, o nome da família Rocha Miranda carrega o nome de um importante bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. 


Pesquisa do professor Sydney Aguilar


Fontes:

https://g1.globo.com/sao-paulo/sorocaba-jundiai/noticia/documentario-menino-23-infancias-perdidas-no-brasil-e-exibido-em-sorocaba.ghtml

https://www.metropoles.com/sao-paulo/suastica-armas-e-fardas-policia-identifica-celulas-neonazistas-em-sp

https://piaui.folha.uol.com.br/as-novas-caras-do-neonazismo-no-brasil/

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024-04/conselho-leva-onu-alerta-sobre-avanco-do-neonazismo-no-brasil

https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/em-2003-tijolos-com-suasticas-revelaram-fazenda-de-trabalho-forcado-no-brasil.phtml

 


quinta-feira, 11 de julho de 2024

Acontece - Qual a primeira coisa que se diz a um prisioneiro que retorna?

 

Itai Pessach, diretor do Hospital Infantil Edmond e Lily Safra do Sheba Medical Center e chefe da equipe especial de Sheba para o retorno de reféns


Há ainda muita guerra no front e muitas discordâncias nos “back-offices”, nos bastidores. Notícias chegam de discussões entre os seniores do Hamas sobre a necessidade de  exercer pressão sobre a liderança da organização, o que reflete um desacordo fundamental dentro do grupo sobre a vontade de continuar a lutar ou de chegar rapidamente a um acordo. 

Do lado de cá um membro haredi (ultra ortodoxo) do Knesset reclama em alto e bom som do fato de Netanyahu “desnecessariamente profanar o Shabat” quando no sábado o primeiro ministro divulga resultados das negociações entre o chefe do Mossad e o Hamas para libertação dos reféns. E ainda este parlamentar, em outra discordância, ironizou a fraqueza de sua bancada ao que seus adversários do partido Iesh Atid de Yair Lapid reagiram sugerindo que se retirem… 

Debates políticos são importantes e desejáveis quando tratam de como solucionar problemas, como melhor construir algo para a população; mas quando se alastram de maneira totalmente impotente para trazer uma luz no fim de um túnel de 9 meses de guerra são inócuos e deprimentes. E não são muitos os que se mantém firmes nas manifestações semanais para gritar que esta situação é sufocante e precisa parar!

Mas no front, Israel e Hamas acabaram de concordar que não governarão em Gaza durante o cessar fogo que estão em vias de assinar. “O cessar-fogo seria implementado em três fases, com a primeira a durar seis semanas e a ver o Hamas libertar 33 reféns, incluindo todas as mulheres soldados, os feridos e aqueles com mais de 50 anos. Israel libertaria centenas de terroristas palestinianos detidos nas suas prisões. A libertação dos restantes reféns israelitas raptados em 7 de Outubro ocorreria em fases posteriores”, informa a agência  I24. Mais uma tentativa!

Enquanto este triste cenário se desenrola, os médicos e os hospitais em Israel vêm se preparando e aprendendo a tratar de reféns que ficaram tanto tempo sequestrados, e cujo retorno traz questões inéditas: 

Qual é a primeira coisa que você diz a um prisioneiro que sai de um helicóptero? Que tom de voz você usa? Você os abraça? Você os toca? O que você diz quando ele pergunta "Por que minha mãe não está aqui para me encontrar?"




Das 251 pessoas levadas pelo Hamas em 7 de outubro, 120 foram libertadas ao longo de 9 meses e todas foram encaminhadas para hospitais. 

O hospital Sheba, que recebeu 36 deles, conta que criaram uma equipe dedicada, composta por psiquiatras especializados no trauma de soldados e prisioneiros de guerra, especialistas no tratamento de mulheres que foram vítimas de violência sexual e aqueles com experiência no trabalho com crianças vítimas de violência, e eles até procuraram a opinião de especialistas em trauma que lidaram com meninas sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria, crianças sequestradas por cartéis de drogas no México e crianças em zonas de guerra como a Bósnia e a Ucrânia. Como não se conhecia as condições em que os reféns chegariam, o Hospital infantil Safra preparou uma ala especial - trocou móveis e equipamentos para parecer um hotel-butique com iluminação reduzida - mas por trás toda uma infraestrutura para pronto atendimento. O histórico médico de cada um foi estudado, receitas para os respectivos remédios foram aviadas e novos aparelhos disponibilizados. Há chefs para cozinhar os pratos que eles pedirem e salões de beleza para as mulheres para ajudá-las a “voltarem a se sentir seres humanos”… 

Mas talvez a tarefa mais difícil foi, pelo menos em relação aos reféns soltos nos primeiros acordos, contar as muitas más notícias sobre tudo que ocorreu. Tinha que ser sob medida para cada um, em colaboração com cada família. 

Todos esses aprendizados, ainda em curso, criaram protocolos de conduta que são intercambiados por todos os hospitais. 

O pessoal do Sheba conta que a equipe presumiu que os reféns que retornavam não gostariam de falar ou ser tocados, como é típico das vítimas de violência. Eles presumiram que inicialmente os reféns só desejariam ter contato com pessoas selecionadas e deveriam ser protegidos de outras pessoas. Mas foi o contrário: “eles ansiavam pelo contato físico conosco e com as suas famílias e queriam partilhar as suas experiências e a sua dor. Eles queriam conversar e ver os amigos o mais rápido possível, para experimentar alegria e felicidade. Eles não queriam ficar sozinhos”. 

“Agora sabemos que ainda precisamos protegê-los até certo ponto, mas também precisamos dar-lhes muitas opções de escolha. Os últimos quatro reféns que voltaram queriam muito interagir com seus amigos e familiares, então permitimos isso desde o início”, comentou o pediatra de tratamento intensivo Itai Pessach. “Este é um processo contínuo de aprendizagem da solução exata apropriada para cada refém que retorna. Cada experiência é única, depende do local e condições do cativeiro, mas todos sofreram significativo trauma psicológico e físico. De maneira geral as crianças são mais resilientes que os adultos"…

E continua: “Há pelo menos mais 120 reféns ainda em Gaza, não podemos simplesmente sentar e esperar que eles voltem. A cada segundo, suas vidas estão em risco e sua saúde é afetada. Nós, em Israel e em todo o mundo, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir que eles voltarão.”

“Estamos prontos a qualquer momento para recebê-los e dar-lhes o melhor atendimento possível, mas isso não é suficiente. Só precisamos deles aqui!”

Essas famílias e comunidades estão impactados para sempre. Mas e para o resto da população, para o governo, como isso impactou? E para nós na diáspora que, apesar de vítimas, temos enfrentado antissemitismo crescente nas mais inesperadas circunstâncias, como isso nos tem impactado? 

Apesar de exaustos disso, precisamos justamente chorar, abraçar, falar, escrever, buscar colaboração mundo afora para preparar futuras gerações para enfrentar situações assim. Mesmo que muito melhor empregados são os esforços, dentro do nosso contexto, espaço e poder, no sentido de prevenir que isso se repita. 

Shabat Shalom.


Juliana Rehfeld

VOCÊ SABIA? - Casamenteiros

 

Por Itanira Heineberg


O casamento Judaico é a união de duas pessoas que se comprometem 100% no sucesso da relação de D’us com a criação.

E até hoje existem pessoas experts em colaborar para o êxito desta união: os Matchmakers, ou Casamenteiros(as).



Você sabia que encontrar um parceiro através de um casamenteiro, ou shadchan, foi uma prática milenar nas famílias judias através dos séculos e ainda hoje é uma tradição em algumas comunidades judaicas de nossos dias?




A arte de Matchmaking faz parte da vida judaica desde o Livro do Gênesis.

Qual a importância do casamento para os judeus? E por que a obrigação de sucesso total?

Nesta união sagrada, duas almas se abstêm de suas necessidades individuais na conquista absoluta de um relacionamento pleno, buscam a devoção de um para com o outro e se empenham no compromisso com a divindade: a continuação do povo judeu.

 

“Assim, o casamento tem como objetivo a efetivação do plano divino que gerou toda a criação. D’eus queria um lar, e é nossa missão santificar o mundo, tornando-o uma morada acolhedora para seu Criador. As munições que nós temos para cumprir esta tarefa são a Torá e seus mandamentos; e o lar é a primeira fronteira. Homem e mulher são o time perfeito para implementar este plano. Quando trabalham em harmonia eles têm a habilidade de fazer do lar um epicentro de santidade cujas ondas afetam a vizinhança, o país, o mundo e o cosmos.”




Esta prática de “casamenteiros” existe em algumas comunidades judaicas, inexiste em outras e apresenta diferenças em outras tantas.

Estas distinções aparecem com frequência como consequência dos costumes e interpretações da lei judaica de cada grupo. E o aspecto importante é a seriedade e eficiência do shadchan, o casamenteiro. Confiabilidade em sua pessoa é uma exigência indiscutível.

“Ser um shadchan de sucesso é considerado especialmente meritório — de acordo com a tradição oral judaica, a introdução de três casais que finalmente se casam garante ao shadchan um lugar no reino celestial da vida após a morte .“

 

O primeiro modelo de casamento judaico foi, sem dúvida, a convivência dos dois primeiros humanos na terra; D’us criou Eva para que Adão não ficasse sozinho.

E nos templos bíblicos os casamentos eram em geral planejados e negociados pelas famílias de cada jovem casal.

A descoberta do bashert - a alma gêmea - é uma tarefa de grande responsabilidade e conhecimento do ser humano, o que levou e leva até hoje muitas famílias a recorrerem a um casamenteiro de confiança.

Esta investigação e procura pela alma gêmea está baseada em uma antiga lei judaica que reza “D’us é o shadchan final por trás de cada união. De acordo com o Talmud (Sotá 2a), 40 dias antes de um embrião ser formado, uma voz divina declara: “A filha de fulano está destinada a se casar com beltrano”.

 

Documentos legais judaicos da Idade Média revelam que embora o uso do shadchan fosse difundido nas comunidades judaicas alemãs e francesas, o papel era quase inexistente entre os judeus sefarditas. Em Histórias Enredadas: Conhecimento, Autoridade e Cultura Judaica no Século XIII, Ephraim Kanarfogel explica que as famílias agiam como casamenteiras:

 

“As autoridades rabínicas espanholas, remontando ao período muçulmano e também a pelo menos vários Geonim no leste, sustentaram que o papel divino em unir marido e mulher era o fator predominante na determinação da existência de um casamento. A tarefa dos pais e avós era arranjar o casamento no âmbito terreno, do qual eles eram perfeitamente capazes. No entanto, em última análise, foi a agência divina que permitia que o casamento avançasse.”

 

Usar um shadchan continuou a ser a norma nas comunidades judaicas Ashkenazi por centenas de anos, independentemente da religiosidade. De acordo com Shaul Stampfer, o sistema shidduch era usado principalmente por famílias mais ricas que estavam preocupadas principalmente em manter sua riqueza e status social. Um par comum era um jovem e promissor estudioso da Torá emparelhado com uma jovem rica. Esta prática garantiu que o estudo da Torá e os estudiosos da Torá fossem adequadamente financiados.

 

Hoje, nas comunidades Haredi, o shidduchin é praticamente o único caminho para o casamento, pois todas as interações entre homens e mulheres são altamente circunscritas.

 

Assim que alguém decide que está pronto para começar a procurar seu par, ele se encontra com o shadchan para explicar o que está procurando em termos de hashkafa (filosofia religiosa), personalidade e construção de uma futura família. Os possíveis namorados geralmente criam um currículo que descreve sua altura e peso, sua formação educacional, as origens e costumes de sua família, suas afiliações à sinagoga e outras informações básicas. Um shadchan pode ter centenas de currículos arquivados a qualquer momento.

 

Fora do mundo Haredi, o matchmaking profissionalizado é menos comum. Mas a Internet criou novos caminhos para encontros judaicos em muitas comunidades.

Saw You At Sinai, um site de encontros lançado em 2003, une casais depois de preencherem um perfil abrangente. Embora a maioria dos sites de namoro use um algoritmo para mostrar os perfis uns dos outros aos usuários, Saw You at Sinai tem casamenteiros reais que analisam os perfis dos usuários e sugerem shidduchs. Outros sites, como Yismach e FindYourBashert, funcionam de forma semelhante para judeus ortodoxos.



 

O processo tradicional de matchmaking - shidduchim - foi apresentado ao mundo através do musical de grande sucesso do século 20, Fiddler on the Roof, e, mais recentemente, também apareceu com destaque na série de TV israelense Shtisel e no filme Jewish Matchmaking da Netflix.




FONTES:

https://www.myjewishlearning.com/article/how-does-jewish-matchmaking-work/

https://www.myjewishlearning.com/article/jewish-weddings-101/

https://chabadcuritiba.com/index.php/services/bat-mitzva?view=article&id=349&catid=58


Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Quem fala demais dá bom dia a cavalo

 

“Quem fala demais dá bom dia a cavalo!”


          “Pixinguinha e os Batutas estão denegrindo a música brasileira perante Paris! Quem aquela corja pensa que é para destruir a imagem cultural brasileira perante a sociedade europeia? Precisamos fazer algo, reagir, urgentemente!”

          Infelizmente essas palavras carregadas do mais fétido odor do chorume preconceituoso e do ódio racial estão grafadas e eternizadas nos anais da Câmara dos Deputados brasileira... Pelo menos esse inculto ignorante não se esconderá sob os mantos covardes do anonimato...

          Arthur Rubinstein falava que era melhor ser surdo do que ouvir certas nojeiras. No nosso caso, ler... É que ele ficou sabendo dessa burrice colossal pela boca de seu grande amigo, Villa Lobos, num sarau, na cidade Luz. Villa ria de como o cipó de aroeira costuma cantar no lombo de quem tenta açoitar.

          É que para “reparar” a imagem da música brasileira, depois do “estrago” feito por Pixinguinha, os deputados mandaram Villa Lobos para uma série de concertos parisienses.

Nunca se deram ao trabalho de, ao menos, pesquisar minimamente a obra e as influências dele: se o fizessem saberiam da centralidade do popular, do chorinho, da brasilidade amazônica, em sua obra... Teriam noção da admiração de Villa por Pixinguinha!

          “A música clássica, no Brasil, é o Amazonas no Mar! É rir e chorar!”, sempre gostava de brincar, explicando que o Chorinho, nesse diminutivo tão brasileiro, era a Erudição Tropical!

          O Chorinho era um Bach adubado: influências de uma Europa oriental ainda pouco conhecida misturadas com a brasilidade mestiça e alegre... Das Bachianas para os Choros é beleza e força. É completude! Paz!

          Rubinstein também era, como Villa, um forasteiro. Acho que foi por isso que essa amizade entre os dois deu tão certo. Enquanto Villa gostava do barulho da floresta, Rubinstein apreciava o silêncio da neve...

          “Nada como os sons do silêncio”, repetia. Entre uma nota e outra há um silêncio que faz parte da melodia. Mais do que notas se sucedendo, não seria a música os silêncios entre os sons? Um rio nunca seria como é se não fossem as margens...

          No fim era isso: entre a fúria do som e a paz do silêncio, nasce a música... E, com ela, os sentimentos humanos: o sorriso, a lágrima, a beleza, a repulsa, a rosa... A música nos faz imortais...

          Todo mundo conhece o Pixinguinha, o Villa, o Rubinstein e vários outros. Ninguém lembra quem foi o boçal que falou demais, no plenário da Câmara dos Deputados e terminou dando bom dia para o cavalo!

André Naves

Defensor Público Federal com mais de 15 anos de atuação Previdenciária. Membro do Fórum Interinstitucional Previdenciário do TRF3. Diretor Adjunto dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário. Membro do Fórum Paulista para a Acessibilidade e a Inclusão da Pessoa com Deficiência. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Professor. Comendador Cultural. Ganhador do Prêmio Best Seller, pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP. Colunista do “Esh tá na Mídia”, além de diversas outras mídias de comunicação. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def


 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

‘Mitzvá Legal’ - Maioridade penal e suas consequências

MAIORIDADE PENAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Por Angelina Mariz de Oliveira



Na maioria das culturas humanas bebês e crianças são compreendidos

como pessoas indefesas, dependentes, ingênuas, incapazes de compreender

a vida, as relações humanas e a sociedade. Por isso são definidos como

‘inocentes’, aqueles que são vulneráveis e sem conhecimento suficiente

para entender o sentido de ‘prejudicar’ ou ‘machucar’. Consequentemente

não é reconhecido o direito dos chamados ‘Menores de Idade’ de decidirem

plenamente sobre a realização de suas vontades e o destino de sua vida.


Até que a sociedade na qual vivem reconheça que adquiriram conhecimento

das regras comunitárias e a capacidade de compreenderem as

consequências de seus atos, os Menores serão cuidados por pessoas

consideradas adultas, preferencialmente pais e familiares. Mas como definir

quando uma pessoa atinge esse nível de ‘amadurecimento’?


As legislações costumam definir expressamente as idades para casar,

realizar contratos, integrar os exércitos, responder por crimes. Atualmente

também existem definições de idades a partir das quais é possível votar,

dirigir veículos, beber e fumar etc. Quando analisamos as leis de diversos

países vamos encontrar uma grande variedade de definições sobre a idade

em que é alcançada a ‘Maioridade’.


A Maioridade civil no Brasil é de 16 anos para votar (Constituição Federal,

art. 14, §1º, II, alínea c) e de 18 anos para todos os demais atos (Código

Civil, art. 5º), lembrando que existe a possibilidade de emancipação para

casamento e exercício de atos contratuais a partir dos 16 anos. No Estado

de Israel atualmente a maioridade plena é alcançada aos 21 anos.


O Talmude já considerava que a idade mínima para uma menina casar seria

de 12 anos, declarando expressamente ser proibido casar meninas menores

de idade (Tratado Kidushim, 41a): “É proibido uma pessoa noivar sua filha

com um homem quando ela é menor, até ela crescer e dizer: Eu quero me

casar assim e assim”. Para os meninos, o Tratado de Pirkei Avot (5:21)

define que a idade mínima para casamento seria de 13 anos, sendo a idade

ideal entre 16 e 18 anos, no máximo até 20 anos.


A definição de idade a partir da qual a pessoa adquire a capacidade de

responder por atos ilegais, a Maioridade Penal, é uma questão mais

complexa, pois envolve punições, restrições de direitos, prisão. As

legislações preveem condenações inclusive para ‘Menores de idade’,

demonstrando como a prática de crimes é vista como um sinal de que a

pessoa perdeu aquela inocência e vulnerabilidade da infância, que adquiriu

maturidade.


Nesse sentido, a maioridade penal na Austrália é a partir dos 7 anos de

idade. Na Escócia é aos 8 anos, mas a Inglaterra adota a idade de 10 anos.

No Irã, meninas a partir de 9 anos de idade são penalmente responsáveis,

mas os meninos atingem essa maioridade aos 15 anos. Em Israel os jovens

são considerados menores de idade para fins penais até os 14 anos; no

entanto, se estiverem envolvidos em atos terroristas, a maioridade é

considerada a partir dos 12 anos.


No Brasil a Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 228 que

“são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos”, o que significa

que até essa idade os jovens não podem ser processados, julgados e

condenados pelos crimes e penas previstas no Código Penal e nas demais

leis penais. Esse artigo 228, porém, em sua segunda parte estabelece que

menores de 18 anos que praticarem atos criminosos serão submetidos a

uma legislação especial. Essa legislação é encontrada na parte do Estatuto

da Criança de do Adolescente que trata sobre os Atos Infracionais.


Nesses casos o ECA (Lei nº 8.069/1990) define como criança as pessoas até

12 anos incompletos, e como adolescentes aqueles que tenham entre 12 e

18 anos. Assim, no Brasil, crianças e jovens também respondem por seus

atos criminosos, mesmo que seja por uma legislação especial para eles, que

busca sua proteção, educação e amparo social e estatal.


As várias definições legais sobre a idade da Maioridade procuram

estabelecer a partir de qual momento uma pessoa pode assumir

compromissos sociais. Sabemos, no entanto, que apenas com a experiência

concreta de contratar, casar, votar, empreender, dirigir veículos etc. é que

as pessoas compreendem realmente as consequências concretas dos

compromissos assumidos e de suas decisões.


A questão se torna mais complexa quando é preciso definir uma idade a

partir da qual a pessoa seja capaz de compreender que determinados atos

não devem ser praticados, como fraudes, infrações, crimes. Mas podemos

dizer com segurança que um escocês de 8 anos de idade é plenamente

capaz de entender as consequências das práticas de atos errados? E que

uma brasileira de 17 anos não tem essa condição de maturidade?


Na estipulação de direitos de ‘Menores’, e responsabilidades de ‘Maiores’ as

sociedades tentam lidar com o dilema de como devem ser julgados crianças

e jovens envolvidos em atos criminosos. Como aquele ser inocente se

transformou em uma pessoa indesejada, perigosa, e o que fazer com essa

situação?


O que o Judaísmo nos diz sobre esse desafio social?


Na Torá existe o célebre caso do filho rebelde e contumaz, que deveria ser

apedrejado (Devarim 21:18 a 21:21). O crime seria desrespeito à

autoridade do pai e da mãe. A Torá não define a idade desse filho, mas nos

traz duas pistas: é homem (‘ben’) e já ingere bebidas alcoólicas (‘beberrão’,

‘ébrio’). Não é apenas uma criança birrenta, é uma pessoa que tem

capacidade de decidir e fazer por si só.


Por isso o Talmude definiu no Tratado de Sanhedrin (71a:14) que essa

pessoa teria no mínimo 13 anos de idade, o que seria uma definição de

maioridade penal. Porém, a maioria dos sábios concluiu que esse seria um

caso hipotético, que nunca existiu.


Outra hipótese é de que a Maioridade penal na Torá seja a partir dos 20

anos. Isso porque quando os hebreus se desesperam com o relato dos dez

exploradores enviados por Moisés a Canaã, que concluíram serem fracos

demais para enfrentar a conquista da Terra Prometida, Deus condena todos

os maiores de 20 anos a morrerem no deserto (Bamidbar, 14:29).


Com isso, as crianças e jovens não seriam responsáveis por seus erros,

pecados e crimes. Responsáveis eram seus pais, por não terem educado

adequadamente o filho. No caso das mulheres, sempre eram tuteladas pelo

pai, irmão, ou marido.


Ao longo de mais de três mil anos a Tradição Judaica vai desenvolver um

sistema de interpretação da Torá e formulação de halachot sempre

buscando evitar que as pessoas cometam crimes e que sejam condenadas a

punições, buscando-se sempre evitar especialmente a pena de morte.

Através do caminho do estudo semanal da Torá deve ser dada a

oportunidade de que todos possam conhecer seus deveres, as

consequências pelos descumprimentos, e o aprendizado de profissões e de

como tratar com respeito a esposa, os pais, e as autoridades. Mas não

deixemos de lembrar que essa é uma proposta de uma sociedade ideal, que

ainda não foi estabelecida por nenhuma comunidade judaica.


Atualmente, em nível internacional, 196 países da Assembleia Geral da ONU

assinaram em 20 de novembro de 1989 a Convenção sobre os Direitos da

Criança. Nesta norma é proibida a condenação às penas de prisão perpétua

ou de morte para menores de 18 anos de idade (Artigo 37). É prevista,

porém, a responsabilização por crimes praticados por menores de idade,

punível com pena de prisão, conforme a legislação de cada país. O Artigo 40

vai estabelecer o dever dos países signatários de ”buscar promover o

estabelecimento de leis, procedimentos, autoridades e instituições

especificamente aplicáveis a crianças, que alegadamente, teriam infringido

a legislação penal ou que sejam acusadas ou declaradas culpadas de ter

infringido a legislação penal”. Também é determinado que deve ser

estabelecida “uma idade mínima antes da qual se presumirá que a criança

não tem capacidade para infringir a legislação penal”.


No Brasil, em cumprimento a esse Artigo 40, como vimos, foi promulgado

em 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente. Como sabemos, é uma

regulamentação que não impede o constante aumento da criminalidade de

crianças e jovens, e o consequente crescimento das mortes violentas nessa

camada social. E isso ocorre porque o cuidado com a educação, formação

profissional, e oportunidades de trabalho – aquelas condições que a

Sabedoria Judaica estabeleceu como essenciais para evitar a criminalidade – infelizmente não são acessíveis a todos os brasileiros.


Por isso, a discussão sobre redução da idade de ‘Maioridade’ penal e de

instituição de condenações mais duras, ou mesmo a existência de aplicação

concreta de penas ilegais de tortura e de morte, não são soluções para a

obtenção de segurança. Enquanto a sociedade brasileira não for capaz de

eleger representantes que tenham real comprometimento com a formação

educacional das crianças, ela será responsabilizada como aqueles pais

bíblicos que não educaram os filhos, e sofrerá coletivamente pelos atos de

jovens que crescem sem perspectivas de integração social.