“Quem
fala demais dá bom dia a cavalo!”
“Pixinguinha e os Batutas estão
denegrindo a música brasileira perante Paris! Quem aquela corja pensa que é
para destruir a imagem cultural brasileira perante a sociedade europeia?
Precisamos fazer algo, reagir, urgentemente!”
Infelizmente essas palavras carregadas
do mais fétido odor do chorume preconceituoso e do ódio racial estão grafadas e
eternizadas nos anais da Câmara dos Deputados brasileira... Pelo menos esse
inculto ignorante não se esconderá sob os mantos covardes do anonimato...
Arthur Rubinstein falava que era
melhor ser surdo do que ouvir certas nojeiras. No nosso caso, ler... É que ele
ficou sabendo dessa burrice colossal pela boca de seu grande amigo, Villa
Lobos, num sarau, na cidade Luz. Villa ria de como o cipó de aroeira costuma
cantar no lombo de quem tenta açoitar.
É que para “reparar” a imagem da
música brasileira, depois do “estrago” feito por Pixinguinha, os deputados
mandaram Villa Lobos para uma série de concertos parisienses.
Nunca
se deram ao trabalho de, ao menos, pesquisar minimamente a obra e as
influências dele: se o fizessem saberiam da centralidade do popular, do
chorinho, da brasilidade amazônica, em sua obra... Teriam noção da admiração de
Villa por Pixinguinha!
“A música clássica, no Brasil, é o
Amazonas no Mar! É rir e chorar!”, sempre gostava de brincar, explicando que o
Chorinho, nesse diminutivo tão brasileiro, era a Erudição Tropical!
O Chorinho era um Bach adubado:
influências de uma Europa oriental ainda pouco conhecida misturadas com a
brasilidade mestiça e alegre... Das Bachianas para os Choros é beleza e força.
É completude! Paz!
Rubinstein também era, como Villa, um
forasteiro. Acho que foi por isso que essa amizade entre os dois deu tão certo.
Enquanto Villa gostava do barulho da floresta, Rubinstein apreciava o silêncio
da neve...
“Nada como os sons do silêncio”,
repetia. Entre uma nota e outra há um silêncio que faz parte da melodia. Mais
do que notas se sucedendo, não seria a música os silêncios entre os sons? Um
rio nunca seria como é se não fossem as margens...
No fim era isso: entre a fúria do som
e a paz do silêncio, nasce a música... E, com ela, os sentimentos humanos: o
sorriso, a lágrima, a beleza, a repulsa, a rosa... A música nos faz imortais...
Todo mundo conhece o Pixinguinha, o
Villa, o Rubinstein e vários outros. Ninguém lembra quem foi o boçal que falou
demais, no plenário da Câmara dos Deputados e terminou dando bom dia para o
cavalo!
André Naves
Defensor Público Federal com mais de 15 anos de atuação Previdenciária. Membro do Fórum Interinstitucional Previdenciário do TRF3. Diretor Adjunto dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário. Membro do Fórum Paulista para a Acessibilidade e a Inclusão da Pessoa com Deficiência. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Professor. Comendador Cultural. Ganhador do Prêmio Best Seller, pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP. Colunista do “Esh tá na Mídia”, além de diversas outras mídias de comunicação. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.
www.andrenaves.com
Instagram: @andrenaves.def
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