Por Juliana Rehfeld
Esta foi uma semana de retrocessos que não queríamos ter que presenciar. Depois de nos alegrarmos e celebrarmos em Purim, e enquanto relíamos a parashá Ki Tissá e relembrávamos o compromisso que fizemos com as dez leis básicas e a conquista da condução de Deus a caminho da Terra prometida, estava voltando a se definir um desacordo entre os negociadores por Israel e pelo Hamas. O sonho que vínhamos sonhando nas semanas passadas, de retorno dos reféns que não nos devolveram e de uma merecida calmaria na terra prometida, desenhava-se um novo desacordo, um encontro de políticas espúrias e ódio continuado; Israel e Hamas voltaram à guerra, voltaram os bombardeios, não teremos ninguém devolvido, e voltou a extrema direita ao governo.
Situação essa que se anunciava mas, mesmo assim, uma “ducha de água fria” na esperança da grande maioria do mundo, que veio, aos poucos, ouvindo relatos aterradores… Há também uma guerra de versões na mídia sobre isso, mas prevalece em mim esta sensação de misto de profunda tristeza e preocupação com quem ainda não está em casa e sobre como estará quando, e se, voltar, com ao mesmo tempo, uma profunda decepção e vergonha pela complicada engrenagem política a que seres humanos chegaram. Essa engrenagem que os impede cada vez mais de voltarem a ser humanos, de voltarem a ter empatia com o sofrimento e voltarem a buscar a paz.
Minha sensação inclui ao mesmo tempo um enorme cansaço e falta de energia de ler e ouvir as inúmeras notícias sobre o assunto que trocam acusações, reaprofundam as diferenças, desconstroem pontes levantadas a duras penas e fazem esperanças desabarem no abismo que existe no meio do caminho.
Voltaram os números de vítimas declaradas pelo famoso Ministério da Saúde de Gaza, voltaram as sirenes, a corrida aos abrigos por toda Israel e mísseis ao centro do país, voltando Ben Gvir. Todo o circo de horrores.
Ontem, como uma triste ironia, foi divulgado o relatório sobre a Felicidade Mundial em 2024. Na semana passada mostramos um ranking errado mas demos a fonte. Hoje, direto do relatório de quem coleta os dados e produz as análises e o ranking, o Centro de Pesquisas sobre Bem Estar da Universidade de Oxford, incluímos o ranking certo de Israel e o que melhorou e piorou.
Parece estranho falar em felicidade em um mundo tão machucado por desentendimentos, guerras e violência de maneira geral, e especialmente em Israel, país tão cercado por inimigos, em alerta constante e recentemente, ferido nas entranhas desde 7 de outubro de 2023. Imaginei a princípio que os sorrisos “fake” ou a crescente alienação das redes sociais fossem participar das conclusões de tal pesquisa, mas não!
O quesito no qual a avaliação do Centro focou este ano para atribuir “felicidade” é o impacto do cuidado e compartilhamento na felicidade das pessoas - o cuidado é “duplamente abençoado”, abençoa tanto quem oferece como quem recebe. E o relatório foi investigar isso! E analisou o compartilhamento de refeições, o compartilhamento do lar, a importância das conexões sociais, do apoio ao outro, da confiança mútua e finalmente, do ato de doar dinheiro ou de ser voluntário … como tudo isso traz e proporciona felicidade…
Acho que no nível de desconfiança e descrença que muitos de nós pelo mundo estamos, apenas conhecer este relatório já traz felicidade..
Uma percepção clara que nós temos disso é nossa atividade comunitária, ela, de maneira geral nos faz bem e, com certeza, compartilharmos momentos muito tristes, como os que estamos passando esta semana, nos ajuda a enfrentá-los, torna-os mais leves para cada um de nós.
É possível ser feliz em um mundo difícil, em retrocesso, cheio de violência? Parece, dizem análises acadêmicas, que sim - se não nos isolarmos, se cuidarmos uns dos outros, se compartilharmos alegrias e, sobretudo, as tristezas…as pesquisas confirmam.
Shabat Shalom!
Concordo!! Mesmo apesar de estranhar as cambalhotas do mundo...
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