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quinta-feira, 6 de março de 2025

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: As vidas da matriarca

 



         Escrever me faz muito bem...

É que a literatura é uma Arte e, assim, abençoada. Quando a gente fala que uma criança “pinta o 7” ou é “arteira”, a gente tá falando, na verdade, que ela recebe uma chuva abençoada toda vez. Mas, o que é Arte e por qual motivo ela é tão importante?

         A Arte é tudo que faz a gente ENXERGAR!

Enxergar é perceber a essência das outras pessoas com a nossa alma. A poluição cotidiana, o corre-corre da vida, o barulho, buzinas, o “pega pra capar”... Frenesi! Por vezes, nós acabamos ficando, por conta da poluição do dia a dia, meio que insensíveis aos dramas que não são nossos.

A Arte, então, é esse azeite que lubrifica nossa insensibilidade, limpa nossas sujeiras e ferrugens, e abre nossos olhos da alma.

         Tudo aquilo que abre nossa percepção para as outras pessoas... Arte! Eu já falei, mas não custa repetir, de uma crônica do Rubem Alves em que ele fala que hoje todo mundo quer fazer cursos de oratória, mas ninguém quer aprender, nem praticar, a “escutatória”. Arte é isso!

“Escutatória” pura! 

Por isso que todo trabalho bem feito, por mais simples ou complexo que seja, é artístico. Se o trabalho faz com que a gente enxergue... BINGO! É Arte!

Por isso que eu sempre sorrio quando ganho novos leitores. Quando eu tô caminhando e alguém vem comentar de um texto que escrevi, isso é o meu maior lucro. Comentários, críticas... Virtuais ou reais. Elas que me lembram que o Universo é muito maior que meu umbigo!

É engraçado... A maioria desses comentários que recebo é de mulheres... Um leitor me disse uma vez que era por causa da minha sensibilidade feminina. Esse comentário acabou alugando um triplex na minha cabeça... Não que eu fique ofendido! Pelo contrário! É uma honra enorme!

É que eu acredito que não exista sensibilidade feminina, assim como não há sensibilidade masculina. Só temos sensibilidade! Escutamos! Enxergamos! Será que todo homem, mulher, pessoa enfim, não carrega dentro de si uma sensibilidade gritante?

É igual falar de mulheres fortes... Não seria melhor falar só de mulheres?

Minha vó Tereza teve 6 filhos. Criou mais 6, da irmã dela. Meu avô, de memória extremamente abençoada, morreu quando meu pai, o caçulinha, tinha 6 anos... Criou sozinha 12 filhos. Isso é uma mulher forte ou uma mulher?

Minha avó Rosinha teve “só” 5 filhos... Isso faz dela menos forte, por acaso? Aliás, a força tem de ser algo que a gente vê? Será que toda mulher, homem, pessoa enfim, não carrega dentro de si uma fortaleza gigante? 

A Força não seria inerente a toda pessoa humana, igualzinho à sensibilidade? Não estariam elas ali, à espreita, só esperando a hora certa de aflorar?

De repente a lágrima escorre, tão sensível e forte quanto o mar!

Aliás, não estariam todas as características humanas, tudo junto e misturado, dentro de cada pessoa, de cada indivíduo? Cada uma delas mais ou menos desenvolvida, mas todas elas ali. É por isso, acho, que a gente precisa do outro... De mãos dadas, todos juntos!

Lembra daquela musiquinha dos Saltimbancos, Todos Juntos? Cada pessoa tem seus pontos fortes, mas também tem os seus pontos fracos, e juntos, de mãos dadas, a gente consegue superar as questões da vida.

Ter fragilidades não é vergonha! Não oferecer a mão que é!

Durante nossa existência cada uma dessas nossas qualidades vai sendo desenvolvida, e, de acordo com o que a gente passa, vai tomando protagonismo. Ou seja, elas vão dominando a nossa vida!

Durante a vida a gente tem várias vidas!

Não falam que cada dia tem sua agonia? Mas esquecem de falar das delícias da superação. Agonia superada é alívio na aflição. É vida... Cada dia tem sua agonia: uma oportunidade coletiva para as delícias da vida!

Sempre penso muito em várias coisas...

A minha Ana Rosa vive reclamando que eu adoro ficar no sofá, na quietude escura da meditação... Ela não! Ela é luz, é bagunça, é música... E perfeitamente, como as peças de um quebra-cabeças que se encaixam, nós fomos feitos um para o outro...

Vidas dentro da vida...

Sara foi filha, amiga, irmã, líder, madrasta e mãe...

Ela teve, e tem, várias vidas dentro da vida...

Várias existências dentro da existência que ganham novos, e melhores, sabores quando de mãos dadas: uma filha precisa de um pai assim como uma mãe precisa de um filho, e assim por diante!

Sara sempre esteve viva!

Sara sempre esteve de mãos dadas!

AS VIDAS DA MATRIARCA!

André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política - PUC/SP. Cientista Político - Hillsdale College. Doutor em Economia - Princeton University.  Comendador Cultural. Escritor e Professor.

www.andrenaves.com 

Instagram: @andrenaves.def


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