Na semana passada, no dia 2 de novembro, a declaração de Balfour fez 100 anos. Enquanto comemoramos a data, muitos ainda questionam nossa celebração. A Declaração segue polêmica, mas não deveria, se compreendida com suas verdadeiras intenções. Theresa May, Primeira-Ministra britânica, em um inspirado discurso pelo centenário da Declaração, bem afirmou que a carta permanece como um assunto ainda não terminado porque sua visão fundamental de coexistência pacífica ainda não foi alcançada. É isso que todos desejamos.
Traduzimos a Declaração para o português para que muitos possam compreender a natureza da Declaração de Balfour e a busca que, a partir dela, continua existindo.
Leia, comente, compartilhe.
“Lorde Rothschild,
Primeiro Ministro Netanyahu, Rabino-chefe, distintos convidados, Lordes, Senhoras
e Senhores, tenho imenso prazer de estar aqui com os senhores nesta noite -
e de estar com o senhor, Lorde Balfour, nesta noite especial – quando
comemoramos o centenário da carta escrita por seu tio bisavô, que
acredito ser uma das mais significativas cartas da História.
Uma carta que fez nascer
um país extraordinário.
E uma carta que
finalmente abriu a porta para ajudar a tornar realidade a existência de uma
nação Judaica.
Foi uma das mais notáveis
cartas quando se considera sua extensão, seu contexto e sua sensibilidade.
Primeiramente, ela foi
excepcionalmente concisa – só 67 palavras em uma única sentença.
Na minha experiência, tal
concisão não é característica típica das cartas provenientes do nosso
Ministério das Relações Exteriores!
Em segundo lugar, devemos
considerar o contexto em que esta carta foi escrita.
Voltemos nossa atenção
para a situação em 1917. Numa era de poderes imperiais competitivos e estando a
Grã Bretanha ainda mergulhada na Primeira Guerra Mundial, a ideia de
estabelecer uma nação para o povo Judeu soaria como um sonho distante para
muitos e receberia oposição feroz de outros.
No entanto, foi neste
exato momento que Lorde Balfour teve visão e liderança para fazer essa
declaração profunda sobre a restauração de uma pátria consolidada e segura para
um povo perseguido.
Em terceiro lugar, foi
uma carta que permanece muito sensível para muitas pessoas ainda hoje – embora
não tenha ignorado essas sensibilidades.
De fato, Balfour escreveu
explicitamente que “nada deve ser feito que possa ferir os direitos civis e
religiosos das comunidades não judaicas existentes na Palestina ou os direitos
e a condição política desfrutados pelos Judeus em qualquer outro país”.
Assim, quando alguns
sugerem que nós deveríamos nos desculpar por esta carta, digo
absolutamente não.
Temos orgulho do nosso
papel pioneiro na criação do Estado de Israel.
Temos orgulho de estar
hoje aqui junto ao Primeiro Ministro Netanyahu e de declarar nosso apoio a
Israel. E temos orgulho das relações que construímos com Israel.
E quando comemoramos 100
anos da Declaração Balfour desejamos um futuro de relações ainda mais
estreitas.
Como acordado hoje mais
cedo em Downing Street, o Primeiro Ministro Netanyahu e eu aprofundaremos
nossos vínculos em áreas nas quais Israel é líder mundial – tais como
agricultura, saúde, ciência, tecnologia e inovação.
Israel é a verdadeira
nação “start-up” e nós temos orgulho de ser parceiro de vocês.
E estamos também
absolutamente comprometidos com a segurança de Israel.
Porque é só quando se
testemunha a vulnerabilidade de Israel que se compreende verdadeiramente
o perigo constante que os israelenses enfrentam – como pude ver durante a minha
visita em 2014, quando os corpos dos adolescentes Naftali Frenkel, Gilad Shaer
e Eyal Yifrah, assassinados, foram descobertos.
Sendo assim, tenho
clareza de que nós sempre apoiaremos o direito de Israel se defender.
E num mundo em que a
Grã-Bretanha e Israel se deparam cada vez mais com desafios e ameaças
comuns, eu tenho igual clareza de que nossos serviços de segurança
continuarão a aprofundar sua já excelente cooperação para manter nosso povo
seguro.
Assim, acredito que
devemos nos reunir aqui hoje à noite com grande orgulho de tudo o que
conseguimos juntos – e de tudo o que Israel significa como símbolo de abertura,
de democracia florescente e de modelo para o mundo quanto à afirmação dos
direitos da mulher e dos membros da comunidade LGBT.
Porém, comemorar esse
centenário não se limita àquilo que já foi alcançado.
Devemos reconhecer quão
difícil essa jornada tem sido às vezes – desde a expulsão dos Judeus dos países
árabes em 1948 ao sofrimento dos Palestinos afetados e deslocados quando do
nascimento de Israel – ambos os fatos completamente contrários à intenção de
Balfour em relação à salvaguarda dessas comunidades.
E devemos, creio, tomar
essa oportunidade para renovar nossas resoluções a respeito daquilo que ainda
precisa ser alcançado.
Pois, pesarosamente,
Balfour permanece como um assunto não terminado – porque sua visão fundamental
de coexistência pacífica ainda não foi alcançada.
E acredito que isto nos
exige atualmente uma decisão renovada de apoiar uma paz duradoura que é do
interesse tanto dos Israelenses quanto dos Palestinos – e do interesse de todos
nós.
Assim, tenho o prazer de
ver o Secretário de Comércio dos EUA Wilbur Ross aqui conosco nesta noite e,
Wilbur, você pode ter certeza do apoio do Reino Unido, de coração, em relação
aos esforços que a administração Trump está fazendo de unir as partes para
alcançar um tratado de paz.
Um tratado de paz que
deve ser baseado numa solução de dois estados, com um Estado de Israel seguro e
consolidado junto com um Estado Palestino viável e soberano.
E sejamos mutuamente
honestos: precisaremos de compromissos de ambos os lados se queremos ter uma
oportunidade real de atingir esse objetivo – incluindo o fim da construção de
novos assentamentos e também o fim da provocação pelos Palestinos.
Mas ao trabalharmos
juntos em direção à visão de Balfour de uma coexistência pacífica, precisamos
também ter clareza de que nunca poderá haverá qualquer desculpa para boicotes,
desinvestimentos ou sanções: estes são inaceitáveis e esse governo não fará
comércio com aqueles que apoiarem tais iniciativas.
Da mesma forma, nunca
deverá haver qualquer desculpa para o antissemitismo em qualquer de suas
formas. Igualmente, não há desculpa para o ódio contra Muçulmanos, Cristãos ou
quaisquer outras pessoas com base nas religiões pacíficas que escolhem, no seu
local de nascimento ou na cor da sua pele.
E sim, isto significa
reconhecer que hoje há uma forma de antissemitismo nova e perniciosa que usa
críticas às ações do governo de Israel como justificativa vil para questionar o
próprio direito de existência de Israel.
Isto é deplorável e nós
não apoiaremos.
Esta é a razão pela qual
o Reino Unido tem estado à frente de um esforço internacional para criar uma
nova definição de antissemitismo que explicitamente denuncia essa tentativa
indesculpável de justificar o ódio.
Então deixe-me ser clara. Criticar as
ações de Israel não é – nem nunca deverá ser – uma desculpa para questionar o
próprio direito de Israel de existir,
assim como criticar as ações da Grã-Bretanha não poderiam ser uma
desculpa para questionar nosso direito de existir.
E criticar o governo de Israel não é – e
nunca poderá ser – uma desculpa para ter ódio ao povo judeu – da mesma forma
como criticar o governo da Grã-Bretanha não poderia ser uma desculpa para ódio
contra os britânicos.
Simplesmente, não pode haver desculpas
para qualquer tipo de ódio contra o povo judeu.
Nunca houve nem nunca haverá.
E deixe-me dizer também: nunca
esqueceremos onde este ódio e preconceito pode levar.
É por isso que é correto que o Reino
Unido tenha um permanente e adequado Memorial Nacional ao Holocausto ao lado do
Parlamento junto com um centro de aprendizagem que nos ensinará lições sobre o
Holocausto para a sociedade de hoje e atuará como uma voz contra o ódio no
mundo atual.
E estou extremamente feliz porque na
semana passada a multipartidária Fundação para o Memorial do Holocausto do
Reino Unido anunciou que os arquitetos Sir David Adjaye, Ron Arad e os
paisagistas Gustafson Porter e Bowman ganharam o concurso internacional de
projeto para o memorial e centro de aprendizagem com seu projeto conceito
evocativo para este novo marco nacional no centro de nossa democracia.
Ao dizer tudo isso não subestimo a
dimensão dos desafios que enfrentamos juntos.
O desafio de lutar contra o ódio de todas
as formas.
O desafio de unir as pessoas.
O desafio de realizar a visão de Balfour
de uma coexistência pacífica.
Mas também não subestimo a dimensão do
ganho que está em questão.
Vislumbrei um pouco deste ganho no último
sábado quando assisti a um concerto beneficente com a orquestra Oeste-Leste
Divan na margem sul de Londres – uma orquestra que coloca juntos jovens músicos
israelenses e palestinos, além dos de outros países árabes para promover a
coexistência e o diálogo intercultural (n.t. regida por Daniel Barenboim). Eles
estavam tocando juntos para captar dinheiro para o Fundo Tributo a Jacqueline
du Pre que auxilia no apoio à pesquisa contra a Esclerose Múltipla, e através
de seu amor compartilhado pela música eles escapavam das divisões de sua
história para uma causa comum. Em suas ações, e em muitas outras similares, o
espírito de Balfour continua vivo.
Então vamos nos deixar inspirar por este
espírito esta noite.
Vamos reconhecer a contribuição de
Balfour para realizar o que foi apenas um sonho de dois mil anos para um povo
perseguido.
Vamos nos inspirar nesta visão que ele
nos mostrou enquanto trabalhamos juntos para aquele futuro no qual árabes e
judeus poderão viver em coexistência pacífica.
E ao olharmos para aquele futuro vamos
marcar com orgulho o que foi conseguido com a criação do Estado de Israel e –
nas palavras do próprio Balfour – “um lar nacional para o povo Judeu.”
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