Você sabia que o Barão Moritz von
Hirsch, maior filantropo judeu de todos os tempos, responsável por ter salvo um
número expressivo de judeus das misérias e perseguições religiosas na Europa,
ao perder seu filho Lucien por problemas pulmonares aos 31 anos de idade,
declarou: “Meu filho eu perdi, mas não meu herdeiro. A humanidade é
minha herdeira!”?
Barão Hirsch e sua esposa Clara dedicaram-se
com empenho a causas sociais, condoídos com a miséria e os sofrimentos dos
judeus desamparados e sujeitos a perseguições religiosas pelos governantes das
terras onde se encontravam.
Esta é a história de um homem
dinâmico, inteligente, milionário e empreendedor que soube compadecer-se de
seus semelhantes injustiçados, carentes e sem perspectivas de uma vida melhor,
mais digna e humana.
“Maurice de Hirsch nasceu a 9 de dezembro de 1831 em
Munique. A situação de sua família contrastava com a pobreza e as limitações
impostas à grande maioria das comunidades judaicas da Europa do século 19.
O avô entrou para a história como primeiro judeu a possuir
terras na Bavária; seu pai, banqueiro, recebeu o título de barão em 1869. A mãe, Karoline
Wertheimer, responsabilizava-se por supervisionar que o filho recebesse aulas
densas de hebraico e de judaísmo.
Hirsch ampliou os horizontes financeiros de sua família e
segundo algumas estimativas, chegou a ter uma das cinco maiores fortunas da
Europa naquele momento. O século 19 apresentava como um dos empreendimentos
mais cobiçados e rentáveis a construção e exploração de estradas de ferro. E ,
dono de visão aguda, o barão Hirsch percebeu uma oportunidade dourada em
paragens orientais do continente. Mergulhou, em 1869, na construção de uma
ferrovia entre duas importantes capitais imperiais: Viena e Istambul
(Constantinopla).
O grande empreendedor judeu se aproximou muito das autoridades otomanas.
O grande empreendedor judeu se aproximou muito das autoridades otomanas.
Além dos recursos acumulados nas finanças e no mercado de
açúcar e de cobre, o patrimônio do barão Hirsch listava a administração de
ferrovias que incluiu a origem da lendária Orient-Express.”
E foi em suas andanças pela Turquia
que ele percebeu com tristeza e aflição a miséria de seu povo, o povo judeu. Ao
contrário do que se esperaria, Hirsch compadeceu-se mais com a vida miserável
dos judeus da Turquia do que com os da Europa do Leste e Central.
Também sua preocupação cresceu ao
perceber as perseguições cometidas pelas tropas do Czar às pequenas aldeias
russas, os shtetls.
Em 1881, o Czar Alexandre II foi assassinado e como consequência
ocorreram terríveis progroms, levando os judeus russos a fugirem
desesperadamente para as fronteiras alemãs.
Constatando o que acontecia na
Rússia, o Barão Hirsch cada vez mais procurava soluções para os sofrimentos de
seu povo. Iniciou-se assim a sua grande ajuda filantrópica em prol deste povo.
Tentou negociar repetidamente com o poder
czarista, com o intuito de melhorar a vida dos judeus na Rússia e como não
obtivesses resultados satisfatórios, passou a acreditar que não havia mais
chances para os judeus no Velho Mundo, voltando então seus olhos para as
Américas.
Em 1889 foi fundada a colônia de
Moisesville (homenagem ao Barão, cognominado o Moisés das Américas) em Santa
Fé, Argentina, em terras adquiridas por Hirsch em parceria com o projeto
colonizador de um otimista judeu lá radicado, Wilhelm Loewenthal.
Em 1890 havia na nova colônia argentina
68 famílias emigradas ocupando 4350 hectares de terras adquiridas pelo Barão
Hirsch.
No livro “Em terras gaúchas - A história da imigração judaico-alemã”, Gladis Blumenthal relata
que a imigração judaica no Brasil teve início em 1904, cinco anos após a
proclamação da República.
Por via marítima, com o auxílio
financeiro, interesse, determinação e repetidos esforços do Barão Hirsch,
chegam ao sul do país os primeiros membros da comunidade judaica e logo são
alocados no centro do estado do Rio Grande do Sul, criando a colônia judaica “Philippson“,
em terras compradas pela Jewish Colonization Association – JCA.
Entre 1911 e 1912 é fundada a colônia
Quatro Irmãos, com famílias advindas da Argentina e outras emigradas da
Bessarábia. No ano seguinte, cento e cinqüenta famílias da Rússia unem-se aos
habitantes de Quatro Irmãos.
Em 1926 surge a colônia Barão Hirsch
com judeus da Lituânia e Polônia.
Logo em seguida, outras colônias
foram fundadas: Clara, com aproximadamente 60 famílias também vindas da Polônia
e Lituânia, e colônias Pampa e Rio Padre com famílias da Lituânia.
Entre os anos 1920 e 1930 vieram
contingentes de Sefaradis de origem turca que se estabeleceram em núcleos
urbanos, assim como grupos de jovens solteiros, do sexo masculino, vindos da
Europa Oriental, radicando-se nas mesmas áreas.
A jovem JCA acreditava nas chances de
reabilitar os judeus do leste europeu, seguindo cuidadosamente o objetivo
definido em seu estatuto:
“Ajudar e promover a emigração de judeus de qualquer
parte da Europa ou da Ásia – e principalmente
de países nos quais eles podem estar sujeitos a qualquer tributação especial ou limitações políticas
ou de outra natureza – para qualquer parte do mundo, e formar e estabelecer
colônias em várias partes da América do Norte e do Sul e outros países, para
fins agrícolas, comerciais ou outros”.
Ao criar colônias agrícolas em terras
por ele compradas, os objetivos de Hirsch nada mais eram do que contribuir para
a “regeneração” do povo judeu e acabar com o antissemitismo.
“Maurice de Hirsch patrocinou um amplo leque de
iniciativas filantrópicas responsáveis pela construção de comunidades e escolas
judaicas a partir do século 19 em locais tão distintos como Brasil, Israel,
Estados Unidos, Turquia, Argentina e Canadá. Uma trajetória impressionante que
lhe valeu o epíteto de “o Barão da Tzedacá”.
A mão do barão Hirsch deixou marcas indeléveis na história da comunidade judaica brasileira.
Fundou em 1891, na capital britânica, a Jewish Colonization Association, conhecida pela sigla JCA, envolvida na imigração de judeus da Europa oriental, para viver no Rio Grande do Sul no começo do século passado.”
A mão do barão Hirsch deixou marcas indeléveis na história da comunidade judaica brasileira.
Fundou em 1891, na capital britânica, a Jewish Colonization Association, conhecida pela sigla JCA, envolvida na imigração de judeus da Europa oriental, para viver no Rio Grande do Sul no começo do século passado.”
Após muitas viagens, projetos, estudos e trabalhos, em 21 de abril de
1896 o Barão Hirsch faleceu na Europa.
Nas Américas, o jornal The New York Times deu a notícia de sua morte,
ressaltando a sua generosidade e obstinação:
“Sua filantropia era tão
ilimitada quanto sua fortuna.”
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do grupo Esh Tamid.
FONTES
Pierre
Assouline "A Megillah do Barão M. de Hirsch ou a Glória da Filantropia"
Dominique
Frischer "Le Moise dês Ameriques – Baron de Hirsch" - 2002
Gladis
Blumenthal "Em terras gaúchas – A História da Imigração Judaico-Alemã"
Tem algum livro publicado sobre a família do Barão?
ResponderExcluirladislau@brett.com
Grato
Ladislau