Você sabia que a primeira sinagoga das Américas, Kahal Zur
Israel - Santa Comunidade Rochedo de Israel, foi construída no Brasil, em
Recife, no século XVII, por judeus sefaraditas portugueses refugiados na
Holanda, e para cá vindos durante o
Domínio Holandês ?
Muitos entendem o nordeste brasileiro como uma nova Terra
Prometida para conversos e judeus portugueses e espanhóis durante os séculos
XVI e XVII. Com a inquisição galopante na península ibérica, o oceano vasto e
desconhecido surgia como uma barreira segura, um escudo protetor, para aqueles que
desejavam fugir das conversões forçadas, das perseguições; os mares bravios
acenavam-lhes com uma esperança de liberdade religiosa.
O Domínio Holandês no Brasil, de 1624 a 1654, permitiu que muitos
judeus portugueses de Amsterdã para cá viessem e foi assim que desenvolveram
várias atividades entre elas a produção e o comércio de açúcar, colaborando
intensamente no início da colonização das novas terras.
Entre 1636 e 1637, construíram a primeira sinagoga das Américas, na
Rua dos Judeus, hoje Rua do Bom Jesus.
Assim, neste período de paz para os judeus do novo mundo, eles
puderam praticar abertamente sua religião.
O regulamento de 69 itens de Haia, elaborado pelos Estados Gerais para
as Colônias Holandesas nas Índias Ocidentais, incluía a liberdade religiosa e
foi implementado por Maurício de Nassau, um de seus altos funcionários.
Primeiro Rabino do Novo Mundo – Isaac Aboab da Fonseca –
aqui chegou em 1641 e ficou até 1654.
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Mas os portugueses não se conformavam com a perda de seu valioso
território, grande produtor de açúcar, bem localizado, uma das capitanias que
realmente prosperaram, e na segunda Batalha dos Guararapes os holandeses foram
expulsos do Brasil pelos heróis luso-brasileiros e os judeus receberam um curto
prazo para deixar o país.
Os
judeus pernambucanos, após a derrota dos holandeses, fugiram em várias direções com medo da volta da temível inquisição portuguesa às terras recém-conquistadas.
A
decisão de 150 famílias foi rápida e todos retornaram à Holanda no navio Valk. Porém, destas, 23 famílias foram deixadas presas na Jamaica depois de um ataque de
piratas espanhóis à embarcação Valk . Após sua libertação, tomaram um navio
francês para a América do Norte, chegando à vila de Nova Amsterdã, na ilha de
Manhattan, em 1654. E lá, no mesmo ano, fundaram a primeira comunidade judaica
da América do Norte, a Congregação Shearit Israel - Remanescentes de Israel, a
única na cidade até 1825.
Atual
e imponente prédio da Sinagoga Shearit Israel em Manhattanh,
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“Após a saída dos holandeses de
Pernambuco, os portugueses tinham como objetivo primordial eliminar qualquer
vestígio da presença judaica na região. Assim, suas casas foram doadas aos
luso-brasileiros e os locais nos quais funcionavam sinagogas foram entregues a João Fernandes Vieira, em
1679, que os repassou à congregação ortodoxa de padres católicos, estes
expulsos no século XIX.
As propriedades foram então transferidas para a SantaCasa de Misericórdia.
Em 1999, a
prefeitura de Recife desapropriou-as e cedeu-as em comodato por 99 anos à
Federação Israelita de Pernambuco. A descoberta de um bairro judaico na capital
pernambucana foi possível graças a uma coleção de mapas, plantas e documentos
organizados pelo arquiteto
José Luiz da Mota Menezes, que está acompanhando os
trabalhos. Com esses documentos, foi possível identificar o bairro no qual os
judeus viveram no tempo de Nassau.”
As propriedades foram então transferidas para a Santa
No século XXI iniciou-se um projeto de
restauração da antiga sinagoga que procurou manter-se o mais fiel possível à
arquitetura e às decorações originais. Vejamos a seguir o relato sobre a
pesquisa histórica do professor Albuquerque:
"Segundo
o professor Albuquerque, o rio tinha o seu curso exatamente na área onde viviam
os judeus, o que significa que a rua que abrigou a sinagoga não existia no início do período colonial. Os judeus teriam começado a
aterrar as margens, conquistando terreno ao longo do rio. Logo atrás do
terreno, foram encontradas as muralhas que protegiam a cidade há 350 anos. Esta
muralha tem 88 cm de largura e 1,60 m de profundidade em relação
ao piso da casa. Albuquerque diz ainda que o fato de os alicerces das casas não
estarem amarrados à muralha é uma prova que o muro é anterior a elas, e a parte
dos fundos da sinagoga foi construída sobre ele. Desde que se iniciaram as
escavações, foram retiradas dezenas de toneladas de terra e entulho.
A prova maior de que uma sinagoga foi construída na Rua dos Judeus entre as paredes dos sobrados 197 e 201 veio com a descoberta de um poço que, ao que tudo indica, seria uma mikve. Sua autenticidade foi confirmada por um conselho rabínico chefiado pelo rabino David Weitman. Após minuciosas medições, constatou-se que fora construída de acordo com os rígidos preceitos judaicos. O poço encontrado tem capacidade para
Mikvah - banhos de purificação |
Em 2002, após a conclusão da reforma, a Sinagoga foi
aberta ao público - não mais como uma casa de orações , mas como um museu onde todos
podem ver in loco um local considerado um dos berços do judaísmo na
América.
Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.
FONTES:
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