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terça-feira, 28 de novembro de 2017

VOCÊ SABIA? - Sinagoga Kahal Zur Israel, Recife - PE

Você sabia que a primeira sinagoga das Américas, Kahal Zur Israel - Santa Comunidade Rochedo de Israel, foi construída no Brasil, em Recife, no século XVII, por judeus sefaraditas portugueses refugiados na Holanda, e para cá vindos durante o Domínio Holandês ?


Muitos entendem o nordeste brasileiro como uma nova Terra Prometida para conversos e judeus portugueses e espanhóis durante os séculos XVI e XVII. Com a inquisição galopante na península ibérica, o oceano vasto e desconhecido surgia como uma barreira segura, um escudo protetor, para aqueles que desejavam fugir das conversões forçadas, das perseguições; os mares bravios acenavam-lhes com uma esperança de liberdade religiosa.
O Domínio Holandês no Brasil, de 1624 a 1654, permitiu que muitos judeus portugueses de Amsterdã para cá viessem e foi assim que desenvolveram várias atividades entre elas a produção e o comércio de açúcar, colaborando intensamente no início da colonização das novas terras.



Entre 1636 e 1637, construíram a primeira sinagoga das Américas, na Rua dos Judeus, hoje Rua do Bom Jesus.


Assim, neste período de paz para os judeus do novo mundo, eles puderam praticar abertamente sua religião.  O regulamento de 69 itens de Haia, elaborado pelos Estados Gerais para as Colônias Holandesas nas Índias Ocidentais, incluía a liberdade religiosa e foi implementado por Maurício de Nassau, um de seus altos funcionários.


Primeiro Rabino do Novo Mundo – Isaac Aboab da Fonseca – aqui chegou em 1641 e ficou até 1654.

Mas os portugueses não se conformavam com a perda de seu valioso território, grande produtor de açúcar, bem localizado, uma das capitanias que realmente prosperaram, e  na segunda  Batalha dos Guararapes os holandeses foram expulsos do Brasil pelos heróis luso-brasileiros e os judeus receberam um curto prazo para deixar o país.

Os judeus pernambucanos, após a derrota dos holandeses, fugiram em várias direções com medo da volta da temível inquisição portuguesa às terras recém-conquistadas.
A decisão de 150 famílias foi rápida e todos retornaram à Holanda no navio Valk. Porém, destas, 23 famílias foram deixadas presas na Jamaica depois de um ataque de piratas espanhóis à embarcação Valk . Após sua libertação, tomaram um navio francês para a América do Norte, chegando à vila de Nova Amsterdã, na ilha de Manhattan, em 1654. E lá, no mesmo ano, fundaram a primeira comunidade judaica da América do Norte, a Congregação Shearit Israel - Remanescentes de Israel, a única na cidade até 1825.


Atual e imponente prédio da Sinagoga Shearit Israel em Manhattanh, em frente ao Central Park, fundada há mais de 360 anos no sul da ilha.

“Após a saída dos holandeses de Pernambuco, os portugueses tinham como objetivo primordial eliminar qualquer vestígio da presença judaica na região. Assim, suas casas foram doadas aos luso-brasileiros e os locais nos quais funcionavam sinagogas foram entregues a João Fernandes Vieira, em 1679, que os repassou à congregação ortodoxa de padres católicos, estes expulsos no século XIX.

As propriedades foram então transferidas para a Santa Casa de Misericórdia. Em 1999, a prefeitura de Recife desapropriou-as e cedeu-as em comodato por 99 anos à Federação Israelita de Pernambuco. A descoberta de um bairro judaico na capital pernambucana foi possível graças a uma coleção de mapas, plantas e documentos organizados pelo arquiteto José Luiz da Mota Menezes, que está acompanhando os trabalhos. Com esses documentos, foi possível identificar o bairro no qual os judeus viveram no tempo de Nassau.”

No século XXI iniciou-se um projeto de restauração da antiga sinagoga que procurou manter-se o mais fiel possível à arquitetura e às decorações originais. Vejamos a seguir o relato sobre a pesquisa histórica do professor Albuquerque:

"Segundo o professor Albuquerque, o rio tinha o seu curso exatamente na área onde viviam os judeus, o que significa que a rua que abrigou a sinagoga não  existia no início do período colonial. Os judeus teriam começado a aterrar as margens, conquistando terreno ao longo do rio. Logo atrás do terreno, foram encontradas as muralhas que protegiam a cidade há 350 anos. Esta muralha tem 88 cm de largura e 1,60 m de profundidade em relação ao piso da casa. Albuquerque diz ainda que o fato de os alicerces das casas não estarem amarrados à muralha é uma prova que o muro é anterior a elas, e a parte dos fundos da sinagoga foi construída sobre ele. Desde que se iniciaram as escavações, foram retiradas dezenas de toneladas de terra e entulho.

A prova maior de que uma sinagoga foi construída na Rua dos Judeus entre as paredes dos sobrados 197 e 201 veio com a descoberta de um poço que, ao que tudo indica, seria uma mikve. Sua autenticidade foi confirmada por um conselho rabínico chefiado pelo rabino David Weitman. Após minuciosas medições, constatou-se que fora construída de acordo com os rígidos preceitos judaicos. O poço encontrado tem capacidade para 648 litros de água natural, profundidade de 1,50 m, mas recebia água somente até 1,30 m. A mikve será mantida exatamente como foi encontrada.

Mikvah -  banhos de purificação

Em 2002, após a conclusão da reforma, a Sinagoga foi aberta ao público - não mais como uma casa de orações, mas como um museu onde todos podem ver in loco um local considerado um dos berços do judaísmo na América.



Este texto é uma colaboração de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.

FONTES:

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