A
cada semana, trabalhamos de forma conjunta para elaborar um tema e trazer para
os nossos leitores sabores, fatos e histórias de Israel. Hoje será diferente. Recebemos,
nos últimos dias, o relato de um soldado que está no front de batalha, na cerca
entre a Faixa de Gaza e Israel. Este relato foi enviado por Zilda Kotzer, uma
brasileira que vive em Israel há mais de 50 anos e vive em Jerusalém. Lá, criou
seus filhos e netos. Acompanhou as duas gerações pelos anos em que estiveram - alguns
ainda estão - no Exército de Defesa de Israel. Tem orgulho de seu país, de suas
realizações no campo da ciência e tecnologia e também no campo da inclusão
social. Em sua capacidade de receber estrangeiros e de conviver com pessoas de
diferentes culturas. No momento, trabalha como voluntária no Museu de Israel e
ciceroneia muitos brasileiros nos percursos históricos e artísticos.
Este
relato é também um pedido - que decidimos acolher e passar para todos vocês. O
pedido de um soldado que está servindo no front com Gaza, contando a sua
experiência e pedindo que esta seja compartilhada com o mundo. O relato que se
segue é uma transcrição feita no dia 08 de junho de 2018 e traduzida por
Dagoberto Mensch.
“Você
já viu 4000 pessoas correndo em sua direção cheios de ódio gritando Alah
Akbar?”
Palavras
não podem descrever as situações pelas quais meus colegas e eu passamos. Na
primeira vez que chegamos à fronteira, não podíamos imaginar como seriam os
próximos quatro meses. As primeiras orientações de meu oficial foram: “A cerca
é uma METÁFORA. A fronteira está onde o Exército de Israel estiver
presente". Não podíamos imaginar o quanto ele tinha razão. Pelos últimos 4
meses, minha unidade esteve responsável por esta fronteira. No momento, a
fronteira mais difícil de Israel.
Dia
da Independência de Israel, dia de nakba, dia do prisioneiro, dia da
Inauguração da Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém - e nós na fronteira. Sabe o que foi mais difícil? Não foi
ficar por uma semana sem tirar os sapatos ou tomar banho. Não foi ficar sem
falar com a família ou amigos por toda aquela semana ou dormir apenas 4 horas
por noite. O mais difícil foi que no
fim de tudo vimos as críticas da mídia sobre como “matamos inocentes palestinos".
PRECISO ESCLARECER, já que estou aqui e faço parte do processo.
Você já viu 4000 pessoas correndo na
sua direção cheios de ódio e gritando "Alah Akbar"?
Uma
faca pode matar! Coquetéis
molotov matam! Bombas! E AK-47! Esta é a ameaça diária na
fronteira. Meus amigos e eu sentimos todas as ameaças acima.
Nós VIMOS 4000 pessoas correrem em
direção à cerca. Dispararam tiros contra nós. Vimos uma bomba explodir cujo
alvo éramos nós. Nós vimos pessoas correndo em nossa direção com facas e
machados que se destinavam a MATAR-NOS.
O
sentimento que percorre o teu corpo depois de tudo isso é indescritível.
Temos o direito de defender nosso
povo, nossa família e nossos amigos. Sabemos que se eles passarem por nós irão
atrás deles. Nosso último recurso é atirar. Antes disso, enviamos documentos e panfletos descrevendo que não queríamos fazer
isto. Mandamos "bombas" com cheiro desagradável para mantê-los
afastados. Nenhum país do mundo faz isso.
Depois de tudo isso, eles continuaram
vindo.
Cada tiro requer a aprovação de 2 pessoas diferentes. Cada tiro é
registrado por escrito e verificado por oficiais.
A primeira regra para o atirador de
elite é não fechar os olhos para não deixar escapar nenhum detalhe. As vezes
você vê coisas que nunca esquecerá.
Considerando
tudo, posso dizer que não nos arrependemos de um único tiro que demos. Cada vez
que disparamos foi para proteger alguém que amamos.
Esta
foi uma oportunidade única, de poder “ouvir” uma pessoa que está lá. Não é possível
colocar foto ou nome de um soldado de elite do exército de Israel – e é por
isso que o texto não pode estar devidamente creditado – mas decidimos pela sua
publicação pois ele representa o que se ausenta da mídia, a verdade pela qual
tanto lutamos. Além, é claro, de ter vindo de fontes em que confiamos.
Precisamos
“ouvir” esse depoimento. Não de um comandante, não de um político, mas aquele
que assume a responsabilidade de defender os seus e que sabe que sua posição é
a última fronteira entre a VIDA e a MORTE.
ENTRE
o BEM e o MAL à
ESCOLHA A VIDA.
(Dvarim
30: 11; Deuteronômio)
Regina,
Marcela e Juliana
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