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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

EDITORIAL: Tisha be AV - 9 de AV - UM DIA PARA LEMBRAR


Viver intensamente, por milênios, espalhados por todos os cantos da Terra e mantendo uma identidade baseada em tradições e cultura poderia ser considerado uma proeza. Fazer tudo isto tendo perdido por quase 2.000 anos um referencial territorial - e portanto, não tendo um local neste planeta que pudesse ser considerado um porto seguro para reunir estas pessoas - também parece beirar o impossível. Segundo o biólogo e filósofo francês, que também é talmudista, a vida se desenrola entre o Cristal e a Fumaça - entre o muito sólido e o totalmente efêmero. E assim, a vida tem que estar em constante movimento, sem perder importantes referenciais. A água é ela mesma, não importa se estiver na forma líquida, sólida ou gasosa.

Trazendo isto para nós, humanos, temos que ter referenciais sólidos para manter nossa perspectiva de vida e ao mesmo tempo uma capacidade enorme de adaptação para que possamos não só dar conta das mudanças como também prever cataclismas. Mas ao mesmo tempo, temos que viver o dia a dia de forma agradável e prazerosa.

9 de Av é uma data reservada para a memória dos momentos mais difíceis da história do povo judeu. Neste mesmo dia foram destruídos o primeiro e o segundo Templo - que deram origem ao exílio babilônico e ao exílio românico, que durou 2.000 anos! Com o correr dos anos outras barbaridades ocorreram no mesmo dia. O Rei Eduardo I da Inglaterra, em 1290, e os Reis Católicos da Espanha, em 1492, assinaram éditos que expulsaram os judeus de seus respectivos países. Séculos de diferença, mas o dia é o mesmo: 9 de Av.

Neste dia os judeus jejuam e lembram de tragédias do passado, mas ao mesmo tempo, os sábios que instituíram esta data de memória sabiam que a vida é sempre mais importante que o passado e o hoje é a base do judaísmo. Assim, quando este dia terrível cai em um sábado, o jejum e todas as lembranças trágicas são adiadas de um dia, porque o sábado é o dia do descanso e este não deve ser peerturbado!

Esta semana, ao escutar a aula do Rabino Ruben Sternschein da Congregação Israelita Paulista, soube de uma interessante proposta de encurtar o jejum de 9 de Av no Brasil, porque coincide com o dia dos Pais, um dia de reunião familiar. Nesta mesma linha, muitos em Jerusalém não deixam de chamar atenção para o fato de esta cidade estar em um momento de grande esplendor, abrigando um dos mais fantásticos ecosistemas de inovação do mundo. Um cidade de 3.000 anos à frente de seu tempo, na vanguarda do século XXI.

Sim, para ter uma sobrevida de mais de 3000 anos um povo deve manter suas tradições e lembrar o passado, mas acima de tudo deve manter o ritmo da vida.

Jejuar, lembrar e dispertar para o futuro.
Le Chaim

Regina P. Markus

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