Marc
Chagall
1887
Pestkovatik, Rússia
1985
França
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Eu
e a Aldeia - 1911
(tela
surrealista antes do surgimento oficial do Surrealismo)
|
VOCÊ SABIA que Marc Chagall chegou a Nova York em 1941 fugindo da perseguição
nazista com uma notória fama de artista mas com pouca bagagem, uma vez que a
alfândega espanhola apreendera suas telas - a única riqueza que possuía?
Autorretrato Marc Chagall |
Organizações judaicas americanas e colecionadores de arte pagaram a passagem no intuito de salvar a vida do artista judeu perseguido pelo nazismo rotulado de pintor degenerado.
Por
dois anos o casal fugira do cerco aos judeus, saindo de Paris em 1939 em
direção ao sul, sempre carregando em sua bagagem as obras do pintor.
E
qual não foi sua surpresa em Nova York ao descobrirem que os caixotes com as
telas, vindos em outro navio, ainda estavam em solo europeu!
Devido
à pressa na saída eles não tiveram tempo de preparar uma alternativa de escape
para sua filha única Ida e seu esposo Michel Gordrey, que não puderam ser
incluídos no visto americano.
Tinham agora grandes preocupações de recuperar dois tesouros: a filha
querida e as obras de arte.
Ida
Chagall e seu pai em 1945
|
E
assim as telas coloridas com vacas voadoras, violinistas e camponeses russos
não chegaram para a prometida exposição do artista no famoso MoMA.
Chagall
escreveu para Ida no sul da França e ela deu início ao heroico esforço de
recuperar o trabalho de seu pai perdido pela guerra. Dirigiu-se à Espanha na
tentativa de liberar os caixotes apreendidos. Alguns dias depois, Michel a
seguiu e foi preso na fronteira espanhola, tendo Ida agora uma dupla função de
resgate: liberar o esposo e as obras de seu pai.
Com
argúcia e dedicação, a jovem de 25 anos obteve sucesso nas duas questões. Ida
insistiu contra a burocracia com sabedoria e insistência, recorrendo a todas as
fontes existentes.
Porém
mais uma vez surgiram impedimentos; havia escassez de navios saindo da Europa.
Em
meados de 1941 navios de refugiados, como o Mouzinho que levara Chagall à
América, eram raros.
Michel
teve sorte e com dinheiro doado por seus pais adquiriu dois caríssimos tickets
(US$ 11,000 cada em nossos dias) em um navio de refugiados onde conseguiram embarcar
vivos e com um considerável caixote contendo as telas de Chagall.
Mesmo
com dinheiro não era fácil contrabandear obras de arte da Europa durante a
Segunda Guerra.
A
colecionadora de arte Peggy Guggenheim comprou obras de artistas contemporâneos
em Paris naquela época e as levou para os Estados Unidos enrolando as telas e
escondendo-as em embarques de cobertas e lençóis.
Mas
não foi tão confortavelmente assim que Ida e Michel conseguiram acomodar as pinturas
de Chagall em 1941.
O navio a vapor espanhol Navemar era
uma embarcação de carga construída para 15 pessoas e que acabou transportando
1.180 e 4 bois vivos para alimentar a população nos 40 dias de travessia. Não
havia refrigeração e as condições de higiene e acomodação eram péssimas porém a
última solução para os refugiados. Febre de 40 graus Celsius, falta de
remédios, pouca água e alimentos. Muitos adoeceram e os que morriam eram
jogados ao mar.
Navemar - 1941 |
Ao ser inspecionado por Dr. Joseph
Schwartz antes da partida, este o declarou um campo de concentração flutuante.
Os tripulantes viviam como animais,
entre animais.
Ida e Michel optaram por viajar no
convés, junto aos bois, para proteger as pinturas do mofo dos compartimentos
inferiores. Esta decisão salvou as telas pois tudo o mais apodreceu no navio e
foi jogado fora ao chegarem ao porto de Nova York.
“They Came on the Navemar” Eles vieram no Navemar
|
“Navio espanhol, Navemar, ajuda
milhares de judeus europeus a fugirem do nazismo”: assim relata o jornalista
americano.
Ida
e Michel sobreviveram e venceram o desafio de trazer as obras de arte em uma
embarcação reservada a salvar vidas humanas.
Em
1946 Chagall finalmente teve sua exposição individual no MoMA, conforme
planejado no início da guerra.
O
evento foi uma volta à normalidade na vida do artista após tantos anos de
preocupações, fugas e sofrimentos.
Após
a carnificina e o caos do Holocausto a obra de Chagall iluminou os salões do
museu com suas figuras inigualáveis: casais de enamorados flutuando nas nuvens,
rabinos pensativos, violinos nas florestas, personagens estes que com certeza
teriam perecidos não fossem os esforços e a determinação de Ida e Michel.
FONTES:
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