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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

VOCÊ SABIA? - A história do Club Med



“Libertar o indivíduo dos seus constrangimentos, permitir que se reencontre e que regresse à felicidade original".
Gerard Blitz, idealizador e fundador do Club Med, logo após a Segunda Guerra.






Você sabia que a rede de hotelaria Club Med, localizada em lugares exóticos e considerada de alto luxo nos dias de hoje, foi criada para curar através da água os corpos e espíritos dos sofridos sobreviventes do Holocausto?






Esta ideia foi criada por dois jovens judeus que também sobreviveram à guerra e seus horrores e a seguir dedicaram-se a recompor as famílias rompidas, abaladas, dilaceradas pelo nazismo, oferecendo aos seus esparsos membros momentos de convalescença e cura. O carinho, a água, esportes, diversão, bons tratos e alimentos eram os ingredientes providenciados por estes jovens idealistas aos sobreviventes do Holocausto, numa tentativa de aliviá-los da dor, de oferecer-lhes descanso, recuperação das forças perdidas e mostrar-lhes que uma nova vida lhes acenava.






O jovem Gerard Blitz, descendente de uma piedosa família de judeus belgas comerciantes de diamantes, desde cedo aprendeu a nadar, participando de campeonatos internacionais de natação e polo aquático. Seu pai Maurício e seu tio haviam recebido medalhas de polo aquático nos jogos olímpicos de 1920 e 1924.
Com a invasão da Bélgica pelos alemães, Gerard e sua família - como a maioria dos judeus - procurou refúgio no sul da França. Ao completar 18 anos, ingressou na Resistência Francesa, numa unidade de elite composta em sua maioria por atletas, onde combateu os nazistas até o final da Segunda Guerra.


Gerard Blitz



Ao invés de voltar à casa, Blitz uniu-se aos seus companheiros da resistência na tarefa de encaminhar os sobreviventes do Holocausto de volta aos seus lares abandonados à força e às pressas. Esta não foi uma tarefa fácil; em muitos casos, foi simplesmente impossível. Blitz e seus amigos viajaram de campo em campo ajudando os judeus remanecentes e após vários meses chegaram em Alcudia, uma pequena ilha virgem no azul do Mediterrâneo espanhol.



“Blitz encantou-se com a costa e decidiu criar ali um local de repouso e férias para os sobreviventes do Holocausto onde seriam tratados com água, sim, água, sua grande paixão desde seus mais tenros dias.

Assombrado com as imagens daqueles seres exauridos que encontrara nos campos de concentração, lembrando seus aspectos moribundos, seus olhos sem brilho ou emoção, Blitz vislumbrou uma saída: levá-los por algumas semanas para este lugar paradisíaco, imergi-los diariamente no mar convidativo e refrescante, assim curando-os ao devolver-lhes a alegria e o prazer pela vida.”
E aí se inicia uma bela história de generosidade, amor e desvelo pelos menos favorecidos.
Blitz alugou um terreno na praia e sem dinheiro para construir um hotel, optou por barracas para seus hóspedes. Mas sem dinheiro para adquirir as necessárias tendas, voltou à Bélgica em 1946 na tentativa de obtê-las através de doações. Apesar de todos se sensibilizarem com seu louvável plano, nada conseguiu. Rumou então à França em busca de ajuda e contatou Trigano, um judeu argelino, cuja família fabricava barracas para o exército francês.

Trigano e Blitz

Gilbert Trigano, comediante bufão, ator de teatro amante de sua arte, tivera de abandonar os palcos quando Hitler invadiu a cidade. No final da guerra pensou em voltar aos seus sonhos, mas foi contrariado pelo pai que solicitava sua ajuda na fábrica da família.
Ao receber Blitz em sua loja, ficou curioso sobre seu projeto e logo deixou-se conquistar pela ideia de ajudar os sobreviventes do Holocausto. Trigano empolgou-se imediatamente com o plano e ofereceu parceria a Blitz.
Enquanto um dedicar-se-ia à cura diária pela água, o outro tentaria a cura pelo entretenimento, pelo humor, apresentando shows noturnos a todos os presentes no resort.
Mais alguém se emocionou com o projeto altruísta e humanitário: o Sr. Trigano, pai do jovem Gilbert, simplesmente doou as tendas aos dois novos parceiros que criaram então uma sociedade filantrópica e se dirigiram para Alcudia.
Em 1950, inauguraram o primeiro Club Med com pacotes de férias com tudo incluído, uma atividade precursora na história do turismo global. 



Blitz repetia “O objetivo da vida é ser feliz. O lugar para ser feliz é aqui. O tempo para ser feliz é agora.”
Em 1960 ele descobriu o Zen Budismo e passou a ser um grande iogue.
Na agenda da colônia de férias o dia absorvia os hóspedes com atividades aquáticas e, à noite, Trigano deleitava a todos com sua arte e humor. Estas duas características fazem parte do DNA do resort até nossos dias.



Em 1955 os dois fundadores perceberam que a operação estava cada vez mais complexa. Finalizaram a sociedade filantrópica e criaram uma companhia de turismo.


Blitz e Trigano foram sempre muito fiéis ao Judaísmo. Até os anos 1980, aproximadamente 80% de seus funcionários eram judeus. O Club Med por eles criado baseava-se nos valores judaicos de igualdade independente de religião, política e status. O objetivo era melhorar o ser humano. Os valores judaicos estavam presentes: família, crianças, comunidade e conexão.
A partir de 1957 mais clubes foram criados, variando os lugares, explorando as montanhas e outros recantos paisagísticos do mundo.

Uma ideia beneficente surgida no pós-guerra levou à criação de lugares cênicos e aprazíveis para receber viajantes turistas em seus dias de repouso sem preocupações com conforto, diversão e natureza.
Hoje há mais de 70 Club Meds no mundo. Em 1990 a empresa foi vendida para Fiat Automóveis.
As instalações já não são as mesmas, barracas e cabanas foram substituídas por modernas instalações, luxuosas suítes e amplos espaços para lazer e esporte.
Mas a ideia inicial dos jovens idealistas se perpetua no respeito a hóspedes e funcionários, na integração da família e no tratamento do ser total, visando o duplo aprimoramento humano: corpo e espírito.



Este texto é uma colaboração especial de Itanira Heineberg para os canais do EshTá na Mídia.


FONTES:






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