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quinta-feira, 30 de abril de 2020

EDITORIAL: O Ontem e o Amanhã em Tempos de Corona

EDITORIAL: O Ontem e o Amanhã em Tempos de Corona


Hoje é dia 29 de abril de 2020 - estamos no meio da contagem do OMER, a contagem que é feita entre as festas de Pessach (Páscoa) e a de Shavuót (Semanas). São 49 dias que separam a saída do Egito do recebimento das Tábuas da Lei no Monte Sinai.








Hoje não só os judeus contam os dias, mas todos nós! O isolamento social afeta a todos e, ao mesmo tempo, dá a certeza que cada um de nós é responsável por decisões que vão afetar a todos. No Brasil, por questões que não cabem discutir neste editorial, a decisão de cada cidadão é ainda mais importante que em muitas outras nações, inclusive Israel, porque se de um lado os dados científicos, epidemiológicos e clínicos mostram a importância do isolamento social, por outro, alguns encontram outros argumentos para desqualificar esta medida.

Decisões Pessoais são muito importantes e marcaram a história judaica desde os tempos bíblicos. Decisões Pessoais foram determinantes para a longevidade do Povo Judeu.

Nesta semana, no Estado de Israel, foram lembrados os que morreram para que o Estado de Israel fosse criado e mantido ao longo dos últimos 72 anos e também aqueles que foram vítimas de atos terroristas que visam a extinção do único Estado Judeu. A seguir, os cidadãos israelenses comemoraram o Dia da Independência - o Iom Haatzmaut. Este foi o dia em que Ben Gurion, o primeiro Chefe de Estado Israelense (primeiro-ministro) leu a Declaração de Independência de Israel logo após o encerramento do Mandato Britânico da Palestina. Foi Ben Gurion que uniu as duas datas, para que fosse lembrado pelas futuras gerações não apenas o momento da criação do Estado, mas também àqueles que deram e continuam dando suas vidas para que este possa existir.
Morreram como homens livres e não por atos antissemitas como vinham morrendo os judeus nos últimos 1878 anos (queda de Jerusalém foi no ano 70 e a criação do Estado de Israel foi em 1948). Esta proximidade temporal permite que o luto seja imediatamente seguido da alegria e que a VIDA seja o bem maior. Anos depois, foi instituído que na semana anterior seriam lembrados os Mortos no Holocausto, e neste caso, o intervalo maior permitia que o Povo Judeu como um todo mostrasse que a VIDA de uma nação supera atos propositais para a extinção desta nação. Neste ponto é importante lembrar que o dia da Independência de Israel é comemorado por judeus e israelenses. No primeiro caso, estão incluídos judeus dos quatro cantos da Terra e no segundo pessoas de diferentes etnias e religiões. O Individual e o  Coletivo - independente da Crise e Independente dos Tempos devem ser considerados para que o Ontem e o Amanhã possam se beneficiar do HOJE - do presente.

No início deste texto comentamos sobre o judaísmo - e vamos terminar com judaísmo. Esta semana, a porção da Torá que está sendo lida nas sinagogas inclui duas porções: Arrarei Mot (Após a Morte) e  Kedoshim (Santos).

A sequência entre a morte dos filhos de Aron, o Sumo Sacerdote, e a enumeração de leis de conduta importantes para a sobrevida do indivíduo e a continuidade do povo são sequenciais e lidas nesta semana. E aqui vem um conceito dentro do judaísmo que gera muita polêmica e que tende portanto a polarizar opiniões. 



KEDOSHIM - SANTOS -
(L 19:1): E disse Adonai a Moises:
(L 19:2): Fale à toda a Comunidade de Israel e diga "Santos sereis que Santo Sou Eu Adonai Eloheichem".






E a seguir informa as regras de conduta individual e coletivas. Desta forma, estabelece condutas muito diferentes das que eram conhecidas naqueles tempos, mas ao mesmo tempo cria o conceito do SANTIFICAR, que é separar.

Da mesma raiz segue a oração KADISH - que separa as várias partes de uma reza formal na sinagoga, mas que também é rezada no momento da morte. Uma separação entre a presença e a lembrança.
Da mesma raiz vem a oração KIDUSH - que é feita antes de se tomar vinho - fonte de energia e alegria!

Aqui, novamente temos os dois conceitos andando juntos - Santificar e Abençoar o individual e o coletivo - a morte e a alegria - porque o bem mais precioso é a VIDA em todas as suas dimensões e em todos os seus momentos.

Assim, esta semana, vamos continuar privilegiando a VIDA - LE CHAIM. Um brinde a todos.




Regina P. Markus

segunda-feira, 27 de abril de 2020

VOCÊ SABIA? - A arte de Ilana Yahav


A arte de Ilana Yahav
Por Itanira Heineberg


E foi assim...  a terra aos poucos invadida por eles: os intimidantes e assustadores “microbinhos”; invisíveis, mas fatais para humanos!



VOCÊ SABIA que até mesmo vírus maléficos, não convidados para os festejos de final de ano nem para o Carnaval mas que estão ameaçando a saúde de todos, tirando a liberdade de ir e vir e comprometendo a economia global, conseguem inspirar uma artista de areia talentosa como Ilana Yahav?



     

Ilana Yahav, artista israelense, desde menina se encantou com a praia do Mediterrâneo por onde passava diariamente em seu caminho para a escola. Na volta para casa sempre parava e desenhava uma história própria na areia. Criava, assim, um diário de suas atividades. E depois encantava-se ao ver as ondas avançarem e cobrirem seus desenhos até tudo desaparecer diante de seus olhos. 
    
Assim fala Ilana:

Eu gostava de rabiscar rapidamente, tentando acabar antes que a onda viesse e levasse tudo embora. Ficava totalmente encantada. Gostava de ficar e assistir até o desenho desaparecer, percebendo que tudo é transitório e temporário…”

Sim, tudo é transitório e temporário e assim seu trabalho sobre o corona vírus o demonstra! Que permaneçamos com saúde até tudo passar e podermos retomar nossas vidas à nossa maneira.

“Sand art” é uma prática de manusear areia modelando formas artísticas, tais como pintura de areia, esculturas e garrafas de areia.
Trabalhando só com as mãos e a alma, a arte de Ilana é jeitosa, detalhista, incomparável, inigualável. Tanta simplicidade cria uma arte que fascina e desafia.




Como toda criança na praia, Ilana encantou-se com as possibilidades que a areia lhe proporcionava, indo muito além dos castelinhos infantis, fossos e túneis.



“A arte de Ilana Yahav conta histórias super atraentes através de desenhos sensacionais. O mais interessante é a forma como eles são feitos, apenas com areia sobre uma mesa de luz.

Ilana e seus vídeos ganharam uma popularidade enorme na internet, sem falar das suas apresentações sempre lotadas.”





Desde pequena Ilana se interessou pela arte. Além das telas com areia, ela experimentou vários tipos de artes plásticas - a pintura e a escultura entre elas.


“Assim, ela ganhou reconhecimento internacional e passou a fazer performances com sua sand art em diversos países ao redor do mundo! O mais interessante é que todas as apresentações são únicas, feitas especialmente para aquela ocasião. Ou seja, a criatividade de Ilana parece ser infinita.”


Sand Art – Ilana Yahav – Let’s Get Together – Arte e Areia



Ilana sente-se atraída por assuntos que representem seus valores, suas crenças, enfim, sua personalidade: a paz, a amizade, a compaixão, o amor e a defesa da natureza.



Ilana Yahav - desenhos na areia



“Seu processo criativo também é bem interessante. Cada performance requer uma longa preparação em que ela faz muitos esboços em um caderno e somente depois passa a fazer os experimentos com a areia.
Entre esses passos (do caderno para a areia), geralmente a criação sofre mudanças bem extensas, pois a forma como a artista expressa suas emoções e sentimentos é completamente diferente na areia em relação ao papel.”

Sand Art - Casamento: Antes & Depois



Uma vez o projeto com a areia pronto, ela se concentra então na iluminação (às vezes colorida) e na música.

“Ilana escolhe a dedo uma trilha sonora que externe perfeitamente a mensagem que ela quer passar com sua arte.”

Assim como em ”Green Dream”, sua mensagem para um mundo mais verde e feliz:



      

E para finalizar apresentamos um trabalho magnífico onde Ilana, abençoada por Deus com seu talento, retrata a história de seu casamento, as lutas de seu esposo soldado pelo país, suas perdas e dores, usando simplesmente as mãos, areia e sua alma!
Com esta obra de arte Ilana venceu o concurso Israel’s Got Talent em 2018:






FONTES:



quinta-feira, 23 de abril de 2020

EDITORIAL: IOM HA SHOÁ - DIA DO HOLOCAUSTO


Marcela Fejes e Raul Meyer acendendo a vela de Iom haShoá


No dia 21 de abril* deste ano foi lembrado o Dia da Lembrança do Holocausto (SHOÁ). Este dia acontece uma semana antes da comemoração do Dia da Independência de Israel (Iom Haatzmaut), que é precedido pelo Iom ha Zikarón (Dia da Lembrança), quando são lembrados os que morreram pelo nascimento do Estado de Israel. Estas datas são lembradas por judeus do mundo inteiro, mas comemoradas de forma especial pelos israelenses. E no decorrer dos anos as datas diretamente ligadas com o Estado de Israel são celebradas por israelenses de diferentes religiões e etnias, pois todos se orgulham de em 72 anos terem participado da criação e de viverem em um estado democrático que abriga várias religiões e seitas e que tem na ciência e no avanço do conhecimento a sua principal fonte econômica. Este é um estado em que religião e ciência não competem - ao contrário. Religião e ciência andam par e passo.

As três datas - lembrar do holocausto, lembrar dos que deram suas vidas por um sonho e lembrar do dia em que este sonho tornou-se realidade é a forma que têm os israelenses e o povo judeu de lidar com a VIDA. A vida é composta de muitos momentos diferentes. Alguns, tão ruins que parecem inimagináveis antes de acontecer. Uma das formas de NUNCA MAIS é lembrarmos de forma pró-ativa o que aconteceu, e contarmos para as próximas gerações o que aconteceu.

Mas, será que há disposição para escutar? O mundo todo tem opiniões diversas e, não preciso aqui repetir o que já foi dito muitas vezes. Mas, como o Estado de Israel trata da questão? Como é possível que todos lembrem que existiu um Holocausto? Há várias ações coletivas, desde reunir sobreviventes e escutar suas histórias, ler livros e frases daqueles que já se foram, manter um Museu - YAD VASHEM - onde são guardadas memórias do holocausto e onde também são reverenciados OS JUSTOS (TSADIK) do mundo. Mas, e aqui vem o segundo "mas" do parágrafo, como ter certeza que apenas uma vez por ano todos os cidadãos israelenses dirijam suas mentes para esta tragédia da humanidade?

O GRITO mais eloquente, o ato que atinge a todos é o SILÊNCIO - é estar quieto e parado por 1 minuto e que neste minuto todos à sua volta também fiquem olhando para dentro de si e participando do NUNCA MAIS.

O video que ilustra este editorial é uma das formas com a qual Israel lembra os que se foram - tudo e todos param ao som de uma sirene - e quer nas ruas, em casa, ou onde quer que seja, é guardado ao mesmo tempo um minuto de silêncio.

O silêncio que registra a história a cada ano e que garante que esta história será contada para as futuras gerações.

Fiquem em casa - e fiquem bem!

Regina P. Markus



*O Dia comemorado em 21/04 é também da Gvurá, do Genocídio e do Heroísmo. Lembra e homenageia em especial o Levante do Gueto de Varsóvia e a bravura de tantos que salvaram companheiros ou desconhecidos e se tornaram assim o que chamamos Justos entre as Nações. Com o silêncio, lembramos e honramos a todos os seres humanos que pereceram nesta barbárie que a humanidade permitiu acontecer, e com reflexões e ações olhamos para o passado que levou a esta situação - preconceito, falta de oposição, silêncio da maioria - e continuamos a combater isso em nossos dias. Esta data é fundamental para que nós da atual geração e das próximas, de todas as crenças e costumes, efetivamente busquemos o NUNCA MAIS na História da Humanidade.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

VOCÊ SABIA? - AI como aliada na pandemia






ISRAEL - Tecnologia Antiterror reconhece rostos de profissionais de saúde atrás de suas máscaras.
Por Itanira Heineberg





Você sabia que tecnologias avançadas de reconhecimento facial de bandidos mascarados, em vista da nova realidade pandêmica, são agora implantadas com outro objetivo? O de reconhecer e salvaguardar pessoas usando máscaras protetoras, especialmente funcionários de hospitais.

A avançada tecnologia biométrica de reconhecimento facial desenvolvida para agências de inteligência e policiais israelenses para capturar criminosos em fuga agora é usada para identificar profissionais de saúde que precisam usar máscaras médicas para proteção”, escreve The Jerusalem Post.




Esta tecnologia foi elaborada pela Corsight, subsidiária da Cortica, empresa fundada em 2007 por pesquisadores do famoso Technion - Instituto Israelense de Tecnologia - em Haifa, que orgulha-se de suas mais de 250 patentes registradas em Inteligência Artificial.


Cortica está desenvolvendo tecnologia de inteligência artificial que simula o processamento natural de informações no córtex de mamíferos. A IA autônoma está alimentando os cérebros de máquinas e robôs de última geração para entender o ambiente em um nível humano – revolucionando a inteligência visual para um mundo mais inteligente e seguro.”


O reconhecimento facial biométrico de nível militar israelense funciona com máscaras faciais. 13 Abr 2020| Luana Pascu


Ofer Ronen, chefe de segurança interna da Cortica, afirma que a tecnologia antiterror será usada com excelentes resultados ao identificar as pessoas durante a pandemia atual que impõe o uso mandatório de máscaras.

As bem-criadas capacidades que construímos para o uso do governo e para combater o terror, permitindo-nos reconhecer uma pessoa por apenas parte de seu rosto, agora fornecem uma solução para reconhecer as pessoas durante a crise do coronavírus", disse Ofer Ronen.

A ideia é que o reconhecimento facial substitua muitas superfícies que requerem toque físico:  abrir portas em escritórios, manipular carimbos de impressões digitais, médicos usando máscaras ao tocar maçanetas de portas, indo de sala em sala... todos estes toques físicos são maneiras de transferir doenças e usando a tecnologia, a chance das bactérias se alastrarem será menor.

A tecnologia desenvolvida pela empresa requer exposição de menos de 50% do rosto para garantir um reconhecimento exato, resolvendo problemas surgidos pelos requisitos atuais de cidadãos usarem máscaras faciais.

“Para um reconhecimento preciso, o algoritmo precisa que menos de 50% da superfície esteja visível, diz a empresa. Ele identifica pessoas mesmo sob luz baixa.”





“Ronen acredita que as pessoas de agora em diante estarão mais interessadas na tecnologia sem contato, de modo que o reconhecimento facial será um substituto para muitos sistemas quando a pandemia terminar. A tecnologia foi implantada pela segurança nacional, para prevenção de fraudes e na inteligência visual automotiva. Em setembro de 2019, a Cortica lançou uma plataforma visual automotiva após uma colaboração com a Continental, Toyota e BMW.”




A Cortica desenvolveu também uma tecnologia que permite aos carros e aos computadores ver e entender seus arredores imitando a função do cérebro dos mamíferos.


Esta é mais uma conquista da IA – Inteligência Artificial! Até onde ela alcançará?

Yuval Noah Harari, conhecido historiador, investigador e professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, dez vezes vencedor do Prêmio Polonski para Criatividade e Originalidade nas Disciplinas de Humanidades, tem alertado seus leitores e fãs sobre os perigos da inteligência artificial e da engenharia genética. Ele cita o poder da Big Data que passa a conhecer uma pessoa melhor do que ela mesma. Ele não tem smartphone pois não aceita ser hackeado pela tecnologia.

E então eu me pergunto: será esta poderosa tecnologia capaz de interpretar os sonhos humanos?

Toda a noite vou dormir com a intrigante expectativa das aventuras inesperadas que viverei em meus sonhos. Quem reencontrarei, que dor sentirei, quem me testará?

Muitos estudos e pesquisas sobre o assunto foram realizados através dos séculos mas pouco se descobriu. Será que estamos perto desta descoberta?


Jacó sonhou com uma escada apoiada na terra e seu topo alcançava os céus. Anjos de Deus subiam e desciam por ela.
Escada de Jacob por William Blake (c. 1800, British Museum, Londres)


FONTES:

quinta-feira, 16 de abril de 2020

EDITORIAL: O Mundo Não Foi Feito em UM DIA


A escola Alef Peretz, em Paraisópolis


O mundo não foi feito em UM dia
Por Regina P. Markus

Nestes dias de isolamento, cresce a vontade de falar a cada um dos leitores de forma particular. Aumentou a distância que nos separa dos vizinhos e dos colegas de trabalho, mas aproximou daqueles que moram em outras cidades e outros países. 

Há uma grande semelhança quando conversamos com amigos aqui no Brasil, em Israel, nos Estados Unidos, na França... há sempre a noção que os mais ricos e cultos teriam mais acesso a recursos para se defenderem desta pandemia, enquanto os menos favorecidos estariam novamente sendo prejudicados. 

Temos até desculpas para que países como o Egito ou o Peru estejam submetidos a menor virulência do que os países europeus. Em Israel também há uma grande divergência. Como é um país formado por muitas etnias e dentro de cada grupo muitas subdivisões, há os que seguem as regras de isolamento social e há aqueles que até uma semana atrás as achavam desnecessárias. Um governo central impõe regras que possam reduzir os danos e faz um enorme esforço para que toda a população seja testada. 

Hoje quero olhar um pouco para o Brasil e para a minha cidade, São Paulo. Quero compartilhar lições aprendidas por meio de vivências pessoais e de conclusões que mostram que as diferenças são superadas com medidas possíveis para cada comunidade, mas a educação é uma mola propulsora de boas soluções.

Tenho contato pessoal com uma família que mora atrás do Horto Florestal. Conversas e troca de informações com frequência mais do que semanal permitiram saber que visitadoras do SUS passam semanalmente ali e, se precisar, até com maior frequência - em todas as casas. Quando a visitadora indagou à minha conhecida se ali morava alguma pessoa de idade, ela informou que neste momento de isolamento trouxe para sua casa um senhor da família para a qual trabalhava. Ele estava na casa! Mas precisava de remédios e ela não queria ir à rua. A visitadora prontificou-se a trazer os remédios e ao ler a lista informou que todos eram da lista do SUS. Registrar casos que enobrecem a vida é um forma de salvar vidas. Um serviço deste não é criado em um dia!

São Paulo também foi notícia por outra razão. A Comunidade de Paraisópolis, onde moram 100.000 pessoas, foi notícia na G1 (clique aqui para ler). É um exemplo de oganização e solidariedade, criando uma outra forma de enfrentar a pandemia. Sem tirar o mérito e dando todas as honras para os líderes da comunidade, vale lembrar que esta vem sendo assistida há anos pela comunidade judaica por meio de projetos de saúde (como este) e educacionais (ALef-Peretz na Paraisópolis). Uma busca no Google sobre escolas disponíveis dentro desta comunidade retorna 21 escolas diferentes! E aqui vem a lição desta semana de Pessach, desta semana em que lembramos a saída do Egito e da obrigação de ENSINAR às próximas gerações! O poder do conhecimento, o poder do ensino, o poder de ter centros de educação como locais de convivência. É que compreendemos que para podermos reagir e sobreviver a momentos difíceis temos que estar preparados para o inesperado.

Educar não é Treinar – Educar não é Nivelar – e... Educar é ir além do hoje de forma a poder enfrentar o amanhã.

Fiquem Seguros – Fiquem Bem – Le Chaim – para a vida
Regina P. Markus

segunda-feira, 13 de abril de 2020

VOCÊ SABIA? - Confiabilidade em tempos de coronavírus




Tempos de corona vírus: até que ponto podemos confiar na higienização das pessoas que nos cercam? Como saber se já estão contagiadas, infeccionadas?
Este é um dilema que surgiu com a pandemia do novo COVID 19: CONFIABILIDADE.

Por Itanira Heineberg

VOCÊ SABIA que ao ser testada positivamente com o vírus da nova pandemia, a pessoa tem obrigação moral de informar os seres com os quais teve contato durante as duas semanas que antecederam a doença?







Estão aí incluídos família, convizinhos, colegas de trabalho e mesmo atendentes de lojas e restaurantes por ela frequentados.
Não há razão para a pessoa sentir-se envergonhada e esta informação será crucial para a saúde de todos os envolvidos.


O Rabino Shlomo Brody, diretor do Tikvah Overseas Students Institute, New York, escreveu recentemente sobre o assunto, levantando até a dúvida: informar outros sobre sua condição de contaminado seria uma obrigação haláchica (religiosa) do paciente para proteger os que o rodeiam? E logo afirma categoricamente que SIM, é uma obrigação baseada nas leis religiosas judaicas, derivadas da Torá Escrita e Oral.

A pessoa não tem culpa de ter sido contagiada! Não deve temer ser discriminada ou acusada.

Segundo a Torá, no passado, a pessoa portadora do mal de Lázaro, deveria sempre anunciar que estava com lepra, gritando nas ruas “ Impura, impura”, assim prevenindo os outros de se contagiarem e oferecendo-lhes a oportunidade de por ela rezarem.

Em Leviticus 13:45 o texto ordena que portadores de doenças infecciosas informem os passantes sobre sua condição de saúde.

”E o leproso portador da praga deve rasgar suas roupas, andar com a cabeça descoberta, cobrir sua boca e gritar, Impuro, Impuro!”

Rabino Shlomo lembra regras medievais de como lidar com situações semelhantes, encontradas no Sefer Hasidim, um trabalho ético extraordinário que trata das preocupações da vida do dia a dia. Apesar de datarem de mais de 700 anos, as anotações do autor, Rabino Yehuda He Chasid, são incrivelmente expressivas para o momento atual.

Yehuda cita o poderoso trio de versos bíblicos:

1 – Não colocarás uma pedra de tropeço perante o cego.
2 – Não ficarás sem ação perante o sangue de teu irmão.
3 – Ama teu próximo como a ti mesmo.

O último verso é o mais significativo para nossos tempos!

Conforme alerta Rabino Shlomo, “Responsabilidades mútuas exigem que infectados informem os que a eles forem expostos para que tomem as indispensáveis medidas preventivas.”






Na Idade Média, os doentes eram obrigados a carregar um sino. As badaladas avisavam de longe que o passante devia ser evitado. Alguns leprosos carregavam uma vara comprida com um saco pendurado na ponta para receber esmolas sem que os doadores deles se aproximassem.

Hoje devemos todos nos proteger, proteger os outros, e a máscara usada mundialmente é um símbolo desta pandemia.

Após muito ler e ver, acredito firmemente que as máscaras protejam pessoas e ambientes das gotículas letais indesejadas.

E atualmente no mundo inteiro máscaras estão sendo produzidas, manualmente, em casa, ateliers, em fábricas, de maneiras criativas, usando-se uma grande variedade de materiais disponíveis e adaptáveis à situação. Na verdade este fato é um esforço de guerra. Máscaras são escudos que protegem os dois lados do combatente.



A artista plástica Ofra Grinfeder confecciona máscaras em seu atelier no Morumbi para seus vizinhos de Paraisópolis.





Também acredito na obrigação moral de informarmos nossos semelhantes caso nossa saúde seja afetada pelo vírus e não permitir que se aproximem de nós ou que nos visitem e oferecer-lhes tempo suficiente de consultarem seu estado clínico após o contato conosco.


Confiabilidade é outra arma contra o COVID 19.

A lepra deixou de ser um estigma em 1873 quando o norueguês Armauer Hansen identificou a bactéria causadora da doença e eliminou as crenças de que a hanseníase (nome dado à lepra em homenagem ao seu descobridor) era hereditária e fruto de pecados ou castigos divinos.

Porém a lepra abalou a Humanidade por milhares de anos.

“O nome da doença tem origem no termo grego λέπρ (léprā), derivado de λεπ́ς (lepís; "escama")”

Graças à ciência, nos últimos 20 anos, 16 milhões de pessoas foram curadas em todo o mundo.


Estamos agora sofrendo as consequências de uma doença maligna que já levou a um número inacreditável de óbitos em todo o planeta.

Todos se perguntam como será a vida após a pandemia. Até quando este vírus vai nos aterrorizar e afetar nossos dias, nossos relacionamentos, a economia global?





Médicos checam passageiros de carro por sintomas de covid-19 em Guarulhos, São Paulo, 04/04

Alguns países estão pesquisando uma vacina para eliminar este mal.
Israel já declarou que está em fase de descoberta desta vacina e que em julho ela já poderá ser usada em humanos.

Mas até lá muitos serão eliminados de nossos relacionamentos, muita tragédia ocorrerá sem grandes curas eficazes.

Encaremos com seriedade este momento que nos acomete, lutemos com as armas que nos são oferecidas pela OMS, pelos estudiosos, cientistas, nunca esquecendo e praticando a obrigação moral e religiosa da Confiabilidade.






FONTES:
g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1170904-5603,00-ACHADO+ARQUEOLOGICO+SUGERE+QUE+LEPRA+SURGIU+NA+INDIA+HA+CERCA+DE+ANOS.html


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Editorial: PESSACH – 5780 – 2020 – A “REINVENÇÃO”






Ao chegar aos meus 70 anos como se tivesse 20, havia muitas coisas que eu considerava garantidas. Um delas era festejar Pessach em família e em comunidade. 

Esta é uma das festas mais importantes no calendário judaico. O termo "Páscoa" deriva, através do latim Pascha e do grego bíblico Πάσχα Paskha, do hebraico פֶּסַח (Pesaḥ ou Pesach), a Páscoa Judaica.  Esta derivação não é uma simples coincidência. O Seder de Pessach é uma Ceia, um Jantar muito especial. 
A palavra Kadosh, em hebraico, que significa sagrado, tem a mesma raiz da palavra Kadish, nome da reza que separa cada um dos momentos da liturgia judaica. Separar, distinguir, diferenciar são formas de tornar sagrado. E esta forma de santificação atinge o seu mais alto valor no Seder de Pessach, quando a criança mais nova da mesa faz QUATRO PERGUNTAS:

1 - Por que em todas as noites podemos comer pão fermentado e nesta noite apenas pão não fermentado (Matzá)?
2 - Por que comemos qualquer tipo de ervas ou verduras, e nesta noite ervas amargas (Maror)?
3 - Por que não nos preocupamos especificamente em lavar ou mergulhar os alimentos em água, e esta noite lavamos duas vezes?
4 - Por que em geral comemos sentados ou reclinados, e esta noite reclinamos com todo o conforto?

A resposta é longa e feita para quatro filhos, os muito inteligentes, os espertos, os diligentes e também para os que não sabem perguntar. Sim, o momento é tão importante que todos devem ter condição de entender o que está acontecendo.

Este é o momento em que um povo nasceu e que deixou as amarras da escravidão para assumir a liberdade de construir o seu futuro. E nesta resposta é distinguido o indivíduo. Cada um é especial, como cada povo deve ser diferente do outro. São explicitados valores universais, e estes estão explicitados por muitos outros povos e muitas culturas, E é colocada a fórmula para que o Povo Judeu possa continuar comemorando a saída do Egito por mais de 3 mil anos. Um elo de conhecimento e história que deve ser ensinado de uma geração para a outra. Estudo é a base da continuidade.

Ao chegar nos meus 70 anos como se tivesse 20, no ano de 2020, aprendo que a vida pode nos surpreender. Na maioria dos países do mundo, e em todos os lugares onde moram pessoas de minha família, estamos celebrando o Seder de Pessach de forma isolada. Entre casais, entre pais e filhos e, muitas vezes sozinhos. E, este ano entendemos o que quer dizer santificar – separar – ser diferente – ser especial, e ao mesmo tempo pertencer a uma família, pertencer a um povo, pertencer a um país e fazer parte da humanidade. 

PESSACH – a passagem da escravidão para a liberdade é o momento de “REINVENÇÃO”.

E que este ano todos possam passar por esta noite de forma especial e que seja celebrada por muitos anos na frente como o momento em que a humanidade se encontrou para saber que a força do coletivo é baseada na de cada um, e que o coletivo só permitirá um real avanço se formado por indivíduos livres e diferentes entre si.




Chag Sameach – Feliz Pessach – Feliz Páscoa!

segunda-feira, 6 de abril de 2020

VOCÊ SABIA? - Scapegoat




Ao despontar de uma epidemia no mundo surgem acusações veladas, dedos em riste e olhares desconfiados procurando logo um “scapegoat” – bode expiatório: um culpado ou responsável para pagar pela desgraça recaída sobre todos.

Por Itanira Heineberg





Você sabia que, ao surgir um vírus letal e destruidor, os membros da comunidade atingida saem logo em busca de um bode expiatório para pagar pelos pecados cometidos?





Assim tem acontecido desde o princípio dos tempos. E como conta a História, os acusados foram sempre os judeus!

Na metade do século XIV a Peste Negra devastou a Europa destruindo um terço da população. Rumores surgiram e rapidamente espalharam-se apontando os judeus como criminosos e, como consequência, eles sofreram uma perseguição atroz e maus tratos.


Peste Negra – Médico e máscara

Martin J. Blaser, professor de Medicina e Microbiologia e diretor do Centro Avançado de Biotecnologia da Universidade de Rudgers, Nova Jersey, esclarece: “Quando acontecem grandes epidemias as pessoas se assustam. Imediatamente procuram culpar algo ou alguém, em geral estrangeiros ao lugar. Isto tem acontecido especialmente com os judeus”.

Segundo Blaser, a pior perseguição aos judeus antes do Holocausto foi a Peste Negra no continente europeu quando eles foram indiciados por envenenarem os poços de água.


Massacre dos Judeus em Lisboa – 1506 -  D.Manuel I, o Venturoso, fugiu da cidade com sua comitiva, como sempre os nobres faziam quando uma epidemia atacava as cidades, e o povo revoltado e com medo cometeu um massacre inenarrável e arrasador.


Memorial em Lisboa em homenagem aos judeus de 1506.

Comunidades inteiras de judeus foram massacradas nesta época, segundo relatos literários do autor espanhol Ildefonso Falcones em “A catedral do Mar” e no extraordinário romance histórico de Richard Zimler, “O Último Cabalista de Lisboa” que se passa em1506.




O fato de poucos judeus serem atingidos pela peste levantava suspeitas! De acordo com Blaser, este fato pode ter relação com a limpeza dos depósitos de grãos realizada anualmente pelos judeus na véspera da festa de Pessach (Páscoa Judaica). Os judeus limpavam os silos de cereais seguindo a tradição religiosa de manter as casas limpas e livres de pães fermentados, o que eliminava a presença dos ratos transmissores do bacilo “Yersinia Pestis”.





Desde então os judeus têm servido de bode-expiatório até recentemente, em 2019, com o surto do sarampo nos Estados Unidos.

Apesar das estatísticas provarem que a causa do ocorrido foi a negligência das pessoas, desta vez apontaram os judeus ortodoxos como culpados por não vacinarem devidamente suas crianças. Alunos não vacinados foram retirados das escolas e sinais de antissemitismo apareceram, como pedestres atravessando a rua e desviando-se de judeus, motoristas de ônibus não permitindo sua entrada em seus veículos e gritos de “Judeu sujo” nas ruas.

Blaser lembra um fato interessante: durante a Gripe Espanhola em 1918, a “influenza” pandêmica que matou aproximadamente 50 milhões de pessoas no globo, os judeus não foram incriminados, desempenhando um papel central na luta contra a doença.






O departamento de saúde de San Francisco era encabeçado por vários judeus, incluindo Lawrence Arnstein, responsável por organizar a resposta da Cruz Vermelha à epidemia.
Também Matilda Esberg, presidente da Congregação Emanu-El Sisterhood, envolveu-se na supervisão do projeto.

No momento presente, com o surto do coronavírus no mundo, outro bode-expiatório foi apontado: chineses e asiáticos são agora os scapegoats!
Como o vírus originou-se na China, seus habitantes e dirigentes são acusados pela pandemia. Além de receberem a culpa e serem discriminados pelo resto do mundo, já se ouve falar de empresas chinesas em desaceleração devido ao afastamento de antigos clientes.

Vendo paralelo entre o tratamento dado aos judeus e agora aos chineses, no surto da pandemia, Blaser afirma, “É a mesma mentalidade popular. Encontrar uma vítima. Infelizmente para o povo chinês eles vão ter de suportar a culpa por agora.”

O perdigoto letal encontrou o réu!

Mas quem disse que a História esqueceu os judeus?

Alguns ainda insistem que o grande fabricante do vírus, mais uma vez, é o povo judeu!


FONTES:

https://www.cnn.com>health