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segunda-feira, 12 de abril de 2021

VOCÊ SABIA? - Audrey Hepburn

 

A Segunda Grande Guerra, que aconteceu entre 1939 e 1945, foi a maior catástrofe do século XX: desestabilizou o planeta, devastou a população mundial, não provou a supremacia de raças, e deixou a marca de sofrimento na alma de todos que a experimentaram.

Por Itanira Heineberg


Audrey Hepburn presenciou os trens que levavam judeus para os campos de extermínio e assim escreveu em seu diário: “Em minha adolescência conheci a garra fria do terror humano. Eu o vi, o ouvi e o senti. É algo que não desaparece. Não foi um pesadelo. Eu estive lá, e tudo isso aconteceu”.



Você sabia que os traumas de Audrey Hepburn decorrentes de suas experiências e privações durante a Segunda Guerra a impediram de viver Anne Frank no cinema?

Quando convidada a encarnar a jovem judia num filme biográfico, Audrey sentiu-se incapaz de viver o papel de Anne Frank devido à semelhança com suas próprias experiências durante a ocupação nazista na Holanda.

Audrey e Anne tiveram muito em comum: tinham a mesma idade, moravam no mesmo país, viveram a mesma guerra e sofreram muitas carências.


Anne Frank à esquerda e Audrey Hepburn à direita.



Ambas viveram a invasão de Hitler e encararam muitos perigos, sofrimento e fome.

Neste período da dominação nazista na Holanda uma menina escreveu: "Nós nos mantínhamos com uma fatia de pão feito com qualquer cereal e um prato de sopa aguada elaborada com uma só batata (...). Os que suportavam isso continuavam com vida, e se continuávamos com vida então não estávamos mortos".

Mas esta menina foi... Audrey Hepburn.

Como judia, Anne sofreu muito mais do que Audrey - perseguição, medo, fome, e a morte em Bergen-Belsen.

Audrey sobreviveu e se tornou uma atriz famosa, mesmo chegando ao ponto de quase morrer de inanição (foram 20 mil mortos na Holanda por escassez de alimentos) e de carregar pelo resto de sua vida as sequelas da guerra, nunca mais podendo dedicar-se ao balé, sua grande paixão de menina.  

 

“As vidas de Anne Frank e Audrey Hepburn estão entrelaçadas, não só por terem compartilhado — até certo ponto — todo aquele horror do nazismo e da guerra, mas também por notáveis coincidências. Quando Hepburn leu O Diário de Anne Frank, deparou-se com uma passagem em que a jovem judia escrevia: "Cinco reféns executados hoje". Sentiu um calafrio: a data da entrada era a mesma de 1942 em que os nazistas haviam fuzilado seu querido tio Otto van Limburg. A atriz, conta Donald Spoto em sua biografia de referência (Audrey Hepburn, Penguin, 2006), foi uma das primeiras leitoras desse livro que viria a comover as consciências de tantos milhões de pessoas no mundo todo: "Li O Diário de Anne Frank quando saiu e fiquei destroçada. Eu me senti muito identificada com aquela pobre menina que tinha escrito o que eu tinha experimentado e sentido, e que tinha a minha idade”. Hepburn nasceu em 4 de maio de 1929, e Anne Frank em 12 de junho do mesmo ano.”



“Se em algo se diferenciam muito as vidas da atriz e de Anne Frank é na qualidade do pai. O de Hepburn foi um antissemita seguidor de Oswald Mosley que tinha chegado a almoçar em Munique com o líder dos fascistas britânicos, Valkyrie Mitford, e com o próprio Hitler. A Hepburn mocinha, muito diferente de seu progenitor, fez durante a ocupação algumas atividades em prol da resistência que poderiam tê-la conduzido no mínimo à deportação. Participava dançando em reuniões artísticas clandestinas nas quais se coletavam recursos para os resistentes. Spoto conta que levava mensagens à resistência e inclusive que se envolveu no salvamento de um paraquedista britânico escondido.”

 

Depois da batalha que devastou a cidade e do fracasso da operação Market Garden para acelerar o final da guerra, seguiu-se um inverno muito duro de fome que provocou mortes e doenças em toda a Holanda perante a indiferença dos alemães. Hepburn esteve a ponto de ser um dos quase 20.000 civis holandeses que morreram de fome.

Quando chegou a liberação, a garota sofria um caso extremo de desnutrição e um soldado norte-americano quase a matou ao lhe dar cinco tabletes de chocolate, que ela devorou imediatamente. As sequelas físicas daquela época contribuíram para que Audrey Hepburn nunca cumprisse seu sonho de chegar a ser uma estrela do balé, e provavelmente estiveram na raiz de que sofresse tantos abortos. Mas ela, diferentemente de Anne Frank, tinha um futuro à sua espera — e transbordante de tudo aquilo que a vida pode oferecer.”


Em 2019 Robert Matzen escreveu uma nova biografia sobre Hepburn - Dutch Girl: Audrey Hepburn and World War II.

(“Menina holandesa :Audrey Hepburn e a Segunda Guerra Mundial”)



Em seu relato aprendemos que as vidas de Anne e Audrey novamente se cruzaram quando o diário de Anne virou filme em 1959 sob direção de George Stevens e Otto Frank, único sobrevivente da família, sugeriu que Audrey fizesse o papel de sua filha na tela.

Mas Audrey não se sentiu confortável; ficara tão traumatizada com o livro de Anne e com sua própria experiência de guerra, que não se considerou capaz de interpretar o papel que lhe fora oferecido. A estreante Millie Perkins a substituiu.

Hepburn afirmou que sentia o drama de Anne como se fosse de uma irmã sua, porque “em certo sentido ela foi minha irmã de alma”.

Matzen fala ainda da extraordinária coragem da atriz:

“Ao ser testada das maneiras mais difíceis e inimagináveis ​​em uma idade muito jovem, Hepburn demonstrou incrível porte, bravura e abnegação. Não é de admirar que, tendo sofrido tanto quando criança, depois de se aposentar como atriz, ela devotou sua vida a melhorar a vida de crianças que viviam em circunstâncias terrivelmente difíceis.” 



Audrey Hepburn demonstrou afeto por seus semelhantes, praticando amor, caridade e ações para melhorar o mundo em que viveu.

Este é um conceito do Judaísmo, Tikun Olam, fazer do mundo um lugar melhor, olhar para fora de si e agir, perceber o sofrimento do outro e consertar.

 

Consertando o mundo.


FONTES:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/audrey-hepburn-protagonista-de-bonequinha-de-luxo-vivenciou-os-horrores-do-nazismo.phtml

https://www.csmonitor.com/Books/Book-Reviews/2019/0516/Dutch-Girl-shows-Audrey-Hepburn-s-wartime-courage

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/10/cultura/1554907062_772631.html

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