A Segunda
Grande Guerra, que aconteceu entre 1939 e 1945, foi a maior catástrofe do
século XX: desestabilizou o planeta, devastou a população mundial, não provou a
supremacia de raças, e deixou a marca de sofrimento na alma de todos que a experimentaram.
Por Itanira Heineberg
Você sabia que os traumas de Audrey Hepburn decorrentes de suas experiências e privações durante a Segunda Guerra a impediram de viver Anne Frank no cinema?
Quando
convidada a encarnar a jovem judia num filme biográfico, Audrey sentiu-se
incapaz de viver o papel de Anne Frank devido à semelhança com suas próprias experiências
durante a ocupação nazista na Holanda.
Audrey e Anne
tiveram muito em comum: tinham a mesma idade, moravam no mesmo país, viveram a mesma
guerra e sofreram muitas carências.
Anne Frank à
esquerda e Audrey Hepburn à direita. |
Ambas
viveram a invasão de Hitler e encararam muitos perigos, sofrimento e fome.
Neste
período da dominação nazista na Holanda uma menina escreveu: "Nós nos
mantínhamos com uma fatia de pão feito com qualquer cereal e um prato de sopa
aguada elaborada com uma só batata (...). Os que suportavam isso continuavam
com vida, e se continuávamos com vida então não estávamos mortos".
Mas esta menina foi... Audrey Hepburn.
Como
judia, Anne sofreu muito mais do que Audrey - perseguição, medo, fome, e a
morte em Bergen-Belsen.
Audrey
sobreviveu e se tornou uma atriz famosa, mesmo chegando ao ponto de quase morrer
de inanição (foram 20 mil mortos na Holanda por escassez de alimentos) e de
carregar pelo resto de sua vida as sequelas da guerra, nunca mais podendo
dedicar-se ao balé, sua grande paixão de menina.
“As vidas
de Anne Frank e Audrey Hepburn estão entrelaçadas, não só por terem
compartilhado — até certo ponto — todo aquele horror do nazismo e da guerra,
mas também por notáveis coincidências. Quando Hepburn leu O Diário de Anne
Frank, deparou-se com uma passagem em que a jovem judia escrevia: "Cinco
reféns executados hoje". Sentiu um calafrio: a data da entrada era a mesma
de 1942 em que os nazistas haviam fuzilado seu querido tio Otto van Limburg. A
atriz, conta Donald Spoto em sua biografia de referência (Audrey Hepburn,
Penguin, 2006), foi uma das primeiras leitoras desse livro que viria a comover
as consciências de tantos milhões de pessoas no mundo todo: "Li O Diário
de Anne Frank quando saiu e fiquei destroçada. Eu me senti muito identificada
com aquela pobre menina que tinha escrito o que eu tinha experimentado e sentido,
e que tinha a minha idade”. Hepburn nasceu em 4 de maio de 1929, e Anne Frank
em 12 de junho do mesmo ano.”
“Se em
algo se diferenciam muito as vidas da atriz e de Anne Frank é na qualidade do
pai. O de Hepburn foi um antissemita seguidor de Oswald Mosley que tinha
chegado a almoçar em Munique com o líder dos fascistas britânicos, Valkyrie
Mitford, e com o próprio Hitler. A Hepburn mocinha, muito diferente de seu
progenitor, fez durante a ocupação algumas atividades em prol da resistência
que poderiam tê-la conduzido no mínimo à deportação. Participava dançando em
reuniões artísticas clandestinas nas quais se coletavam recursos para os
resistentes. Spoto conta que levava mensagens à resistência e inclusive que se
envolveu no salvamento de um paraquedista britânico escondido.”
Depois da
batalha que devastou a cidade e do fracasso da operação Market Garden para
acelerar o final da guerra, seguiu-se um inverno muito duro de fome que
provocou mortes e doenças em toda a Holanda perante a indiferença dos alemães.
Hepburn esteve a ponto de ser um dos quase 20.000 civis holandeses que morreram
de fome.
Quando
chegou a liberação, a garota sofria um caso extremo de desnutrição e um soldado
norte-americano quase a matou ao lhe dar cinco tabletes de chocolate, que ela
devorou imediatamente. As sequelas físicas daquela época contribuíram para que
Audrey Hepburn nunca cumprisse seu sonho de chegar a ser uma estrela do balé, e
provavelmente estiveram na raiz de que sofresse tantos abortos. Mas ela,
diferentemente de Anne Frank, tinha um futuro à sua espera — e transbordante de
tudo aquilo que a vida pode oferecer.”
Em 2019
Robert Matzen escreveu uma nova biografia sobre Hepburn - Dutch Girl: Audrey
Hepburn and World War II. (“Menina
holandesa :Audrey Hepburn e a Segunda Guerra Mundial”) |
Em seu
relato aprendemos que as vidas de Anne e Audrey novamente se cruzaram quando o
diário de Anne virou filme em 1959 sob direção de George Stevens e Otto Frank,
único sobrevivente da família, sugeriu que Audrey fizesse o papel de sua filha
na tela.
Mas Audrey não se sentiu confortável; ficara tão traumatizada com o livro de Anne e com sua própria experiência de guerra, que não se considerou capaz de interpretar o papel que lhe fora oferecido. A estreante Millie Perkins a substituiu.
Hepburn afirmou que sentia o drama de Anne como se fosse de uma irmã sua, porque “em certo sentido ela foi minha irmã de alma”.
Matzen fala ainda da extraordinária coragem da atriz:
“Ao ser
testada das maneiras mais difíceis e inimagináveis em uma idade muito jovem, Hepburn demonstrou incrível porte, bravura e abnegação. Não é de admirar que, tendo sofrido tanto
quando criança,
depois de se aposentar como atriz, ela devotou sua vida a melhorar a vida de
crianças que viviam em circunstâncias terrivelmente difíceis.”
Audrey
Hepburn demonstrou afeto por seus semelhantes, praticando amor, caridade e
ações para melhorar o mundo em que viveu.
Este é um conceito do Judaísmo, Tikun Olam, fazer do mundo um lugar melhor, olhar para fora de si e agir, perceber o sofrimento do outro e consertar.
Consertando o mundo. |
FONTES:
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