Colaboração pelo Futuro Comum
A construção planetária de um caminho para o desenvolvimento sustentável começa com a primeira Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em 1972 em Estocolmo, e evolui com a própria criação desse Conceito cunhado no Relatório da Comissão Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (presidida por Gro Brundtland e publicada em 1987 sob o título "Nosso Futuro Comum").
As grandes novidades nisso foram a ideia de que é possível progredir ao mesmo tempo em que cuidamos do planeta; não existe esta oposição mas, é claro, há escolhas… e a percepção de que, em palavras simples, “estamos todos no mesmo barco” - nosso planeta é nossa casa comum.
Já se foram 35 anos dessa publicação e esta consciência ainda não está em toda parte e, mesmo onde está, faltam ações que nos levem a uma segurança de que nossa espécie pode seguir tranquila neste planeta. Ele - o planeta - sobreviverá, e as baratas também, mas e nós humanos?
Assim como nenhum homem é uma ilha, tal qual escreveu John Donne, nenhum país pode enfrentar sozinho o fenômeno global que são as mudanças climáticas.
Temos fases de retrocesso, de inconsciência (?) com ataques à natureza, como estamos vivendo atualmente aqui no Brasil, mas há também boas notícias e é delas que falo aqui.
Ao contrário da rica biodiversidade, cheia de oportunidades, que temos aqui no Brasil, a premissa - quase fato - de que as implicações das mudanças climáticas no Oriente Médio são catastróficas tem marcado a participação ativa, protagonista, de Israel em ações conjuntas dignas de acompanhamento:
- Fundado em 1994 (ano da paz com a Jordânia!) para proteger a água da região e fomentar projetos para enfrentar as mudanças climáticas, com vistas ao futuro da região, o Ecopeace in the Middle East (Ecoeme) é uma plataforma de colaboração de cientistas ambientais jordanianos, palestinos e israelenses que acreditam no poder da cooperação para resolver os maiores problemas do mundo.
- Em 2021 o presidente Herzog criou o Fórum Israelense do Clima para reunir soluções e apresentar na COP 27 (Conferência das Partes das Nações Unidas) que acontecerá em CAIRO em novembro próximo. Em maio/22 ocorreu a primeira convenção do Fórum.
Na abertura do Webinar “Falando das mudanças climáticas - de Tel Aviv a Sharm el-Sheikh“ nesta semana, o cientista político, membro da Knesset e presidente do Fórum do Clima Dov Khenin disse que no Oriente Médio “focar no conflito regional e não considerar as mudanças climáticas é como brigar dentro de uma cabine do Titanic algumas horas antes dele bater no iceberg; e por outro lado, atacar as questões climáticas guardando o conflito numa caixa não funcionará porque ela vai explodir de maneira inadequada.”
No webinar lembrou-se como a mudança do clima já vem há anos trazendo impactos sociais e geopolíticos na região: os movimentos migratórios em massa em busca de água para sobrevivência são realidade crescente, e o dos sírios há 10 anos influenciaram o que chamamos de Primavera Árabe e trouxeram a terrível guerra de repressão de Assad, com a contribuição iraniana.
Para criar uma resiliência e adequada adaptação regional há várias iniciativas, que buscam combinar compromisso com a paz, estabilidade e prosperidade compartilhadas cooperando em áreas como energia, economia, ações climáticas, preparação para emergências e contraterrorismo: em Março/22 ocorreu no kibbutz Sde Boker, no climaticamente ameaçado deserto, a conferência chamada de Negev Summit que reuniu Israel, Egito, Marrocos, Emirados Árabes Unidos e Bahrein, além dos EUA, os quais, apesar de trazerem expectativas muito diversas para a mesa, começaram a “costurar” importantes ações conjuntas; em Maio agora, a Declaração 3+1 reafirmou a união de propósitos entre Israel, Chipre e Grécia somados aos EUA no sentido de colaborar política e ambientalmente, criando até o próximo ano um “roadmap” com entregas tangíveis desta jornada.
O Instituto para estudos ambientais Aravá também estava presente no Webinar na pessoa de seu Diretor Executivo, Dr. Tareq Abu Hamed, primeiro palestino a dirigir uma instituição acadêmica em Israel - eles têm inúmeros programas de cooperação tecnológica entre jordanianos, palestinos e israelenses para fazer frente ao inimigo comum da mudança do clima sendo o mais recente o “uso solar duplo”, ou “dupla colheita do sol” que coloca placas fotovoltaicas (ou “agrivoltaicas”) em dois níveis que trabalham simultaneamente para a agricultura e para pecuária, equilibrando a gestão de energia. Tais instalações já estão ativas no Negev, na Cisjordânia, em Gaza e também em Marrocos. Também com este alcance outra tecnologia solar bem sucedida é para aquecimento de edificações no inverno, que chega a economizar 50% da energia elétrica tradicional. Mas, diz Dr. Abu Hamed, o principal sucesso tem sido a “construção de confiança" que acontece nos múltiplos programas de treinamento, de convivência diária de até 4 meses, cujos estudantes árabes jordanianos e palestinos, são um terço do total, e para o que ele aproveitou para convidar também os egípcios.
Recentemente uma nova vitória: pela primeira vez cidadãos de Gaza puderam nadar nas praias do território, assim como israelenses nas praias do sul de Israel, porque soluções de saneamento estudadas em conjunto e instaladas pelos técnicos locais treinados possibilitaram limpar as águas.
Um programa da Ecoeme é o acordo regional Verde Azul cujo objetivo é expandir e otimizar o uso da energia solar e da água do mar visando criar uma interdependência regional saudável, promover confiança e promover cooperação enquanto gerencia e mitiga os impactos ao meio ambiente e à segurança. Esta iniciativa ganhou o prêmio de Inovação em Democracia de 2021 no 9o Fórum Mundial para a Democracia , oferecido pelo Conselho da Europa.
Há inúmeras outras auspiciosas iniciativas com este enfoque que eu resumiria - “usar o amargo e azedo limão da concreta ameaça climática para fazer uma limonada que seja doce e nutritiva e ainda, saboreada em conjunto pelos vizinhos!”
Vamos acompanhar e celebrar!
Juliana Rehfeld
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