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segunda-feira, 25 de julho de 2022

VOCÊ SABIA? - Anton Schmid

 

“Eu apenas me comportei como um ser humano ...”

Anton Schmid - 1900 Viena – 1942 Vilnius. Um Justo entre as Nações.


Por Itanira Heineberg




Você sabia que graças ao reconhecimento de condenados por ele salvos, ficamos conhecendo a história de Anton Schmid, um sargento alemão que não aceitou a barbárie de seus superiores nazistas, resgatou os perseguidos judeus dos campos de extermínio e acabou executado em 13 de abril de 1942?

Na Lituânia ocupada pelos nazistas, este oficial alemão desobedeceu a seus dirigentes salvando 250 judeus (mulheres, homens e crianças) ao escondê-los, fornecer-lhes proteção e documentos falsos que lhes permitiram escapar da tragédia reinante durante o Holocausto.

Em meados de 1941 iniciou-se na Lituânia uma campanha genocida de assassinato em massa e deportações para campos de extermínio, eliminando cerca de 180 mil judeus em três anos. Foi uma ação nazista de destruição da vida cultural, intelectual e política judaica da Europa.

Hoje há apenas 6 mil judeus no país.

Esta história de “humanidade corajosa” chegou ao meu conhecimento por um belo texto de Sérgio Campregher:

 

Anton Schmid possuía uma pequena loja de rádios em Viena. Após a Anschluss (anexação) de 1938, o eletricista foi convocado para o exército alemão, sendo posicionado cerca de Vilnius, capital da Lituânia, no outono de 1941.

Sargento da Wehrmacht, presenciou o tratamento dado a judeus em dois guetos e o fuzilamento de milhares deles nas proximidades de Ponary.

Em uma carta para sua esposa, Stefi, descreveu seu sofrimento ao ver o “assassinato em massa e as crianças sendo espancadas no caminho". Ele continuou: "Você sabe como meu coração é mole. Eu não conseguia pensar e tive que ajudá-los."

‘Eu quero te contar como tudo isso aconteceu. Os militares lituanos arrebanharam muitos judeus para um prado fora da cidade e atiraram neles, cada vez cerca de duas mil a três mil pessoas. No caminho eles mataram as crianças jogando-as contra as árvores, etc., você pode imaginar.’

- Anton Schmid em uma carta à família, 9 de abril 1942

 

No início de setembro de 1941, 3.700 judeus de Vilnius foram presos e mortos fora da cidade, nos poços de extermínio de Ponary.

Do ponto onde estava, Schmid deparou-se com cenas de muita brutalidade e não abandonou quem o procurou.

 

“O primeiro judeu a quem ele ajudou foi Max Salinger, um judeu polonês de Bielsko Biala fluente em polonês e alemão; muito provavelmente Salinger se aproximou de Schmid. Schmid deu a Salinger a caderneta de pagamento do soldado Max Huppert, um soldado da Wehrmacht que havia sido morto, e o empregou como datilógrafo no escritório.”

 

E Salinger sobreviveu. Mais tarde, ele visitou a esposa de Schmid contando-lhe tudo o que se passara com ele e a apoiou financeiramente.

 

“A segunda judia que Schmid resgatou era uma jovem lituana de 23 anos chamada Luisa Emaitisaite. Ela foi pega do lado de fora do gueto após o toque de recolher, que era punível com a morte. Escondida em uma porta, ela viu Schmid passando e implorou por sua ajuda. Schmid a escondeu temporariamente em seu apartamento e depois a contratou para o escritório, onde seu conhecimento de vários idiomas e estenografia foi útil. Sua permissão de trabalho a protegeu e ela também sobreviveu à guerra.”

 

E assim se seguiram as ajudas na seção de carpintaria e estofamento que Schmid dirigiu nos territórios conquistados, no seu próprio escritório, e no transporte de judeus nos caminhões da Wehrmacht até a cidade próxima de Lida, Bielorrússia, onde estariam mais seguros. 

Schmid também conseguia multiplicar mais e mais licenças para salvar vidas, recrutando mais de uma centena de judeus em vários empregos.

Segundo testemunhos prestados, Schmid tratou seus trabalhadores sem distinção - tanto judeus como prisioneiros de guerra soviéticos - humanamente - e até conseguiu resgatar alguns que foram levados para a prisão de Lukiškės para execução.

 


Schmid também escondeu Hermann Adler, judeu nascido em Bratislava, membro da resistência, e sua esposa Anita em seu apartamento em Vilnius de novembro de 1941 até janeiro de 1942, quando foi preso. O apartamento de Schmid também serviu de ponto de encontro de guerrilheiros judeus.

 

Em uma declaração a Hermann Adler, Schmid falou:

 

“Todos nós devemos morrer. Mas se posso escolher morrer como assassino ou como ajudante, escolho ajudante.”

 

Ao ser descoberto como participante do movimento de resistência judaica, Schmid foi preso no início de 1942 e ficou detido na prisão Stefanska em Vilnius, sendo condenado à morte em 25 de fevereiro do mesmo ano nos termos do artigo 90 do código penal militar e do artigo penal do Reich. A acusação era ter ajudado judeus a fugirem do gueto. Assim, foi executado em 13 de abril de 1942 e sepultado na orla do cemitério militar Vilnius-Antokol.

No julgamento de Eichmann em Israel seus feitos vieram à tona e todos ficaram cientes da generosidade deste homem que ao ajudar outros, arriscava sua própria existência.

Em seu livro “Eichmann in Jerusalem”, Hannah Arendt escreve:

 

“Durante os poucos minutos que Kovner levou para contar sobre a ajuda que tinha vindo de um sargento alemão, um silêncio tomou conta do tribunal; era como se a multidão tivesse decidido espontaneamente observar os habituais dois minutos de silêncio em homenagem ao homem chamado Anton Schmid. E naqueles dois minutos, que foram como um súbito clarão de luz no meio de uma escuridão impenetrável e insondável, um único pensamento se destacou claramente, irrefutavelmente, sem dúvida – quão completamente diferente tudo seria hoje neste tribunal, em Israel, na Alemanha, em toda a Europa, e talvez em todos os países do mundo, se ao menos mais histórias desse tipo pudessem ser contadas.”



Abba Kovner ao centro, julho de 1944, com judias partisans em Vilnius, depois da liberação da cidade, por eles reconquistada dos alemães.

Kovner nasceu na Rússia em 1918 e estudou em Vilnius, considerada a Jerusalém da Europa.

Participou do movimento Ha-shomer e ao escutar das execuções desumanas dos nazistas perto de Ponar, organizou grupos de guerrilheiros judeus e iniciou a resistência judaica que durou até o final da guerra. Segundo ele, judeus deviam lutar como judeus, criando seus próprios grupos ao invés de participar de grupos de russos ou lituanos.


Anton Schmid, “um dos poucos e mais poderosos exemplos de resistência ao terror totalitário”, passou então a receber homenagens, sendo declarado Justo entre as Nações pelo Memorial de Yad Vashem em 1964 quando sua viúva recebeu a medalha e o certificado de honra pelas mãos do embaixador de Israel na Áustria.

 

Em 1968 um documentário intitulado Sergeant Achmid foi transmitido pelo canal de televisão alemão ZDF.



Sargento Anton Schmid: Um Herói da Humanidade, por Wolfram Wette



Israel, o cruzamento Anton Schmid, da rodovia na entrada sul de Haifa

 

Monumentos e homenagens a um homem simples que seguia seu coração, sentimentos e crenças.



Anton Schmid, um Herói Austríaco

 

 

FONTES:

SÉRGIO CAMPREGHER

http://www.auschwitz.dk/Schmid/Schmid.htm

https://aurora-israel.co.il/anton-schmid-el-hombre-que-eligio-no-ser-indiferente/

https://www.ecured.cu/Anton_Schmid

https://dirkdeklein.net/2017/07/19/anton-schmid-austrian-hero/


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