“Eu apenas
me comportei como um ser humano ...”
Anton Schmid
- 1900 Viena – 1942 Vilnius. Um Justo entre as Nações.
Por Itanira Heineberg
Você sabia
que graças ao reconhecimento de condenados por ele salvos, ficamos conhecendo a
história de Anton Schmid, um sargento alemão que não aceitou a barbárie de seus
superiores nazistas, resgatou os perseguidos judeus dos campos de extermínio e acabou
executado em 13 de abril de 1942?
Na Lituânia
ocupada pelos nazistas, este oficial alemão desobedeceu a seus dirigentes salvando
250 judeus (mulheres, homens e crianças) ao escondê-los, fornecer-lhes proteção
e documentos falsos que lhes permitiram escapar da tragédia reinante durante o
Holocausto.
Em meados de
1941 iniciou-se na Lituânia uma campanha genocida de assassinato em massa e
deportações para campos de extermínio, eliminando cerca de 180 mil judeus em
três anos. Foi uma ação nazista de destruição da vida cultural, intelectual e
política judaica da Europa.
Hoje há
apenas 6 mil judeus no país.
Esta história
de “humanidade corajosa” chegou ao meu conhecimento por um belo texto de Sérgio
Campregher:
Anton
Schmid possuía uma pequena loja de rádios em Viena. Após a Anschluss (anexação)
de 1938, o eletricista foi convocado para o exército alemão, sendo posicionado cerca
de Vilnius, capital da Lituânia, no outono de 1941.
Sargento
da Wehrmacht, presenciou o tratamento dado a judeus em dois guetos e o
fuzilamento de milhares deles nas proximidades de Ponary.
Em uma
carta para sua esposa, Stefi, descreveu seu sofrimento ao ver o “assassinato em
massa e as crianças sendo espancadas no caminho". Ele continuou:
"Você sabe como meu coração é mole. Eu não conseguia pensar e tive que
ajudá-los."
‘Eu quero
te contar como tudo isso aconteceu. Os militares lituanos arrebanharam muitos
judeus para um prado fora da cidade e atiraram neles, cada vez cerca de duas
mil a três mil pessoas. No caminho eles mataram as crianças jogando-as contra
as árvores, etc., você pode imaginar.’
- Anton
Schmid em uma carta à família, 9 de abril 1942
No início de
setembro de 1941, 3.700 judeus de Vilnius foram presos e mortos fora da cidade,
nos poços de extermínio de Ponary.
Do ponto onde
estava, Schmid deparou-se com cenas de muita brutalidade e não abandonou quem o
procurou.
“O
primeiro judeu a quem ele ajudou foi Max Salinger, um judeu polonês de Bielsko
Biala fluente em polonês e alemão; muito provavelmente Salinger se aproximou de
Schmid. Schmid deu a Salinger a caderneta de pagamento do soldado Max Huppert,
um soldado da Wehrmacht que havia sido morto, e o empregou como datilógrafo no
escritório.”
E Salinger
sobreviveu. Mais tarde, ele visitou a esposa de Schmid contando-lhe tudo o que
se passara com ele e a apoiou financeiramente.
“A segunda
judia que Schmid resgatou era uma jovem lituana de 23 anos chamada Luisa
Emaitisaite. Ela foi pega do lado de fora do gueto após o toque de recolher,
que era punível com a morte. Escondida em uma porta, ela viu Schmid passando e
implorou por sua ajuda. Schmid a escondeu temporariamente em seu apartamento e
depois a contratou para o escritório, onde seu conhecimento de vários idiomas e
estenografia foi útil. Sua permissão de trabalho a protegeu e ela também
sobreviveu à guerra.”
E assim se
seguiram as ajudas na seção de carpintaria e estofamento que Schmid dirigiu nos
territórios conquistados, no seu próprio escritório, e no transporte de judeus
nos caminhões da Wehrmacht até a cidade próxima de Lida, Bielorrússia, onde
estariam mais seguros.
Schmid também
conseguia multiplicar mais e mais licenças para salvar vidas, recrutando mais
de uma centena de judeus em vários empregos.
Segundo testemunhos prestados, Schmid tratou seus trabalhadores sem distinção - tanto judeus como prisioneiros de guerra soviéticos - humanamente - e até conseguiu resgatar alguns que foram levados para a prisão de Lukiškės para execução.
Schmid também
escondeu Hermann Adler, judeu nascido em Bratislava, membro da resistência, e
sua esposa Anita em seu apartamento em Vilnius de novembro de 1941 até janeiro
de 1942, quando foi preso. O apartamento de Schmid também serviu de ponto de
encontro de guerrilheiros judeus.
Em uma
declaração a Hermann Adler, Schmid falou:
“Todos nós
devemos morrer. Mas se posso escolher morrer como assassino ou como ajudante,
escolho ajudante.”
Ao ser
descoberto como participante do movimento de resistência judaica, Schmid foi
preso no início de 1942 e ficou detido na prisão Stefanska em Vilnius, sendo
condenado à morte em 25 de fevereiro do mesmo ano nos termos do artigo 90 do
código penal militar e do artigo penal do Reich. A acusação era ter ajudado
judeus a fugirem do gueto. Assim, foi executado em 13 de abril de 1942 e
sepultado na orla do cemitério militar Vilnius-Antokol.
No julgamento
de Eichmann em Israel seus feitos vieram à tona e todos ficaram cientes da
generosidade deste homem que ao ajudar outros, arriscava sua própria
existência.
Em seu livro “Eichmann
in Jerusalem”, Hannah Arendt escreve:
“Durante
os poucos minutos que Kovner levou para contar sobre a ajuda que tinha vindo de
um sargento alemão, um silêncio tomou conta do tribunal; era como se a multidão
tivesse decidido espontaneamente observar os habituais dois minutos de silêncio
em homenagem ao homem chamado Anton Schmid. E naqueles dois minutos, que foram
como um súbito clarão de luz no meio de uma escuridão impenetrável e
insondável, um único pensamento se destacou claramente, irrefutavelmente, sem
dúvida – quão completamente diferente tudo seria hoje neste tribunal, em
Israel, na Alemanha, em toda a Europa, e talvez em todos os países do mundo, se
ao menos mais histórias desse tipo pudessem ser contadas.”
Abba Kovner
ao centro, julho de 1944, com judias partisans em Vilnius, depois da liberação
da cidade, por eles reconquistada dos alemães.
Kovner nasceu
na Rússia em 1918 e estudou em Vilnius, considerada a Jerusalém da Europa.
Participou do
movimento Ha-shomer e ao escutar das execuções desumanas dos nazistas perto de
Ponar, organizou grupos de guerrilheiros judeus e iniciou a resistência judaica
que durou até o final da guerra. Segundo ele, judeus deviam lutar como judeus,
criando seus próprios grupos ao invés de participar de grupos de russos ou
lituanos.
Anton Schmid,
“um dos poucos e mais poderosos exemplos de resistência ao terror totalitário”,
passou então a receber homenagens, sendo declarado Justo entre as Nações pelo
Memorial de Yad Vashem em 1964 quando sua viúva recebeu a medalha e o
certificado de honra pelas mãos do embaixador de Israel na Áustria.
Em 1968 um
documentário intitulado Sergeant Achmid foi transmitido pelo canal de televisão
alemão ZDF.
Sargento
Anton Schmid: Um Herói da Humanidade, por Wolfram Wette
Israel, o
cruzamento Anton Schmid, da rodovia na entrada sul de Haifa
Monumentos e
homenagens a um homem simples que seguia seu coração, sentimentos e crenças.
Anton Schmid,
um Herói Austríaco
FONTES:
SÉRGIO
CAMPREGHER
http://www.auschwitz.dk/Schmid/Schmid.htm
https://aurora-israel.co.il/anton-schmid-el-hombre-que-eligio-no-ser-indiferente/
https://www.ecured.cu/Anton_Schmid
https://dirkdeklein.net/2017/07/19/anton-schmid-austrian-hero/
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