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sexta-feira, 15 de julho de 2022

VOCÊ SABIA? - A ESNOGA PORTUGUESA DE AMSTERDÃ

 

Por Itanira Heineberg



Você sabia que a sinagoga portuguesa construída pelos judeus lusófonos em 1675 no coração de Amsterdã e até hoje em funcionamento era a maior sinagoga do mundo na época, conhecida como “o Século de Ouro” da Holanda?

 

Considerada uma das mais lindas sinagogas do mundo, o templo construído com jacarandá oriundo do Brasil - presente de Moisés Curiel - e com mobiliário produzido com esta mesma preciosa madeira, apresenta dimensões catedralícias e hoje constitui também uma grande atração turística na cidade.



Esta construção magnífica e suntuosa representa de maneira concreta a liberdade que os judeus vivenciaram na Holanda durante o século XVII e lembra sua importância como comunidade, uma comunidade formada por  judeus prósperos, cultos, honrados e respeitados por seus concidadãos.  

A obra arquitetônica é um monumento da história do ensino e da educação, da luta pela sobrevivência e pela religião em meio à fuga da Inquisição através das mudanças de tradições e valores pelas quais trafegaram os judeus da Península Ibérica: a reorganização e reconstrução de seus conhecimentos e crenças trazidos para a Holanda transformados em uma florescente comunidade.

 


A esnoga - sinagoga em português arcaico - é ortodoxa, onde homens e mulheres sentavam separadamente durante os serviços religiosos; os homens no andar de baixo e as mulheres nas galerias ao alto, tendo o Sefardi como língua litúrgica.



A Grande Sinagoga Portuguesa de Amsterdã foi motivo de grande orgulho para seus frequentadores, pois na Diáspora os judeus não obtinham permissão para construir prédios monumentais.

Egon Erwin Kisch, jornalista checo, afirmou em seu livro de 1934 ”Emigrantes: local de Residência - Amsterdã:

 

 "A Sinagoga Portuguesa não poderia jamais ser descrita como um local negligenciado, instável e escondido que servia de ponto de encontro para imigrantes ilegais - não, muito ao contrário, é uma construção esplêndida, poder-se-ia dizer, mesmo, uma "catedral judaica". Seu interior, sustentado por pilares de granito, ergue-se aos céus, quase o atingindo...".

 

A história teve início em novembro de 1670 quando o rabino Isaac Aboab da Fonseca lançou a ideia de se criar uma sinagoga na cidade. A proposta foi aceita com alegria pelos membros da comunidade Talmud Torá e em 1671 compraram um terreno frente à Grande Sinagoga Asquenazita recentemente inaugurada na rua Houtgracht, no centro do bairro judaico.




Então vem a surpresa:

 

“Para projetar e executar a obra foram contratados dois não-judeus pois, tolerância à parte, os judeus não eram admitidos em várias guildas, associações de artesãos de um mesmo ramo. O trabalho de marcenaria ficou a cargo de Gillis van der Veen, enquanto o arquiteto Elias Bouman, que mantinha laços profissionais e de amizade com membros da comunidade sefardita, seria responsável pelo projeto e execução da obra. Os dois profissionais também tinham colaborado na construção da Grande Sinagoga Asquenazita.”

 

O rabino desta nova Sinagoga foi o próprio Isaac Aboab da Fonseca, o primeiro religioso judeu a pisar no Recife do governo de Maurício de Nassau, durante a ocupação holandesa no Brasil. Após uma dezena de anos em terras brasileiras como rabino da sinagoga Zur Israel, a primeira construída no continente americano, ele regressou à Holanda e sonhou com uma sinagoga no país.

Em agosto de 1675 a esnoga foi inaugurada com solenidade e festividades que duraram 8 dias. Como explicar tamanha grandeza e pompa na cerimônia de abertura de uma sinagoga na Diáspora?

 

Segundo cronistas da época, o Núncio Papal de Colônia, que visitou a cidade um ano após a inauguração, manifestou-se "horrorizado de ver que ao povo judeu era permitido erguer tão esplêndida obra".

 

De lá para cá a sinagoga permaneceu forte e imponente, não sendo bombardeada durante a Segunda Guerra, fato interessante frente às muitas e muitas sinagogas europeias destruídas pelos nazistas.

Fala-se que Hitler a protegeu no intuito de inaugurar ali um museu da cultura judaica perdida.

 

“O salão principal da sinagoga permanece, até hoje, praticamente inalterado. O interior é muito claro, pois 72 grandes janelas permitem a entrada de luz natural, durante o dia. À noite, o salão principal é iluminado por mais de 1.000 velas, em 26 grandes lustres de bronze polido e em castiçais colocados ao longo dos bancos. Esta iluminação permanece até o presente. Os números 26 e 72 foram escolhidos por representar o valor numérico do nome do Criador.”




A Esnoga passou por pequenas reformas, uma em 1850 e outra em 1950 e, atualmente, guarda muita semelhança à construída há 320 anos. Até hoje, não possui luz elétrica nem aquecimento. Nas primeiras décadas do século 20, o edifício foi tombado como Monumento Histórico Nacional e a comissão holandesa encarregada da preservação do Patrimônio Arquitetônico Nacional não permitiu alterações internas, pois segundo sua avaliação, "a Sinagoga Portuguesa é um edifício de tal beleza e com linhas tão proporcionais que nenhuma modificação em seu interior poderia aperfeiçoá-la".



Finalizando nosso texto sobre a esnoga dos lusófonos de Amsterdã, reservamos um detalhe edificante que seria como a cereja em cima de nosso bolo cultural.

“Dentro da Sinagoga Portuguesa há uma rica biblioteca; sua coleção é considerada a mais antiga Biblioteca judaica em funcionamento no mundo.”

 

Um prédio de tamanha importância para guardar os valores religiosos, as tradições e a cultura de um povo também conhecido como “ Opovo dos Livros.”

Sofrendo tantas injustiças, perseguições e mortes patrocinadas pela Inquisição, ao chegar em Amsterdã os judeus portugueses sentiram-se livres para viver segundo os preceitos de sua crença, dedicando-se ao estudo bíblico e da literatura judaica.

 

“Amsterdam tornou-se não apenas centro da maior expressão arquitetônica da cultura sefardita no mundo como também da formação escolar, da erudição, de colecionadores de livros, da cultura bibliotecária e da arte da impressão.”



Esta biblioteca “Ets Haim - Livraria Montezinos” de 20.000 obras de estudos hebraicos e sefarditas alberga valiosos livros de judeus de ascendência portuguesa.

 

Encontrei um pensamento que muito me fez pensar:

Portugal e Espanha, durante o período das grandes navegações e descobertas de novas terras, eram os países mais desenvolvidos de seu tempo no século XV.

Com a expulsão dos judeus de seus territórios e como consequência, o aniquilamento de seus professores, médicos, filósofos, economistas, astrólogos, navegadores e cientistas, estes países vieram a perder muito de sua importância e desempenho na Europa até os nossos dias.

 

FONTES:

http://revista.brasil-europa.eu/140/Sinagoga-de-Amsterdam.html

https://www.conexaoamsterdam.com.br/o-que-fazer-em-amsterdam-um-passeio-pelo-bairro-judaico/

https://www.musement.com/br/amsterda/amsterdam-in-the-golden-age-the-portuguese-synagogue-8963/

http://revista.brasil-europa.eu/140/Biblioteca-sefardita.html

https://domtotal.com/noticia/1373052/2019/07/os-judeus-de-amsterda/

http://www.morasha.com.br/comunidades-da-diaspora-1/a-esnoga-de-amsterda.html


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