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segunda-feira, 11 de julho de 2022

VOCÊ SABIA? - Espanhol, uma língua neolatina.

 


Você sabia que o Espanhol - a terceira língua mais usada na Internet e falada por 580 milhões de pessoas - recebeu influência do povo Judeu em sua formação, desenvolvimento e expansão?

Was Spanish born in Jewish waters?

Segundo Mario Eduardo Cohen, escritor, pesquisador e Professor de História diplomado pela Universidade de Buenos Aires, não nos é possível estabelecer a hora exata do aparecimento do Espanhol, ou seja, em que momento foi publicamente reconhecido como uma nova língua, um idioma diferente do Latim.

Os mais antigos textos na variação de uma das línguas românicas que mais tarde seria conhecida como Espanhol datam do século IX, demonstrando que a língua do povo já não era o Latim popular ou Latinório, isto é, uma língua rude e sem refinamento.

Um grande avanço no estudo da língua foi a Escola de Tradutores de Toledo no século XIII e a interferência positiva e incentivadora do rei Afonso X, o Sábio.


Afonso X (1221 Toledo – 1284 Sevilla) com colaboradores em seu escritório real.


Ele criou políticas em benefício da economia e estabeleceu feriados para a população, mas sua maior e mais perene contribuição foi a incansável atuação no “royal scriptorium” por ele criado junto a especialistas encarregados de traduzir e editar textos sob sua supervisão. Os resultados foram trabalhos literários, científicos, históricos e jurídicos.

Afonso X fundou, supervisionou e muito participou da Escola de Tradutores de Toledo, com seus próprios textos em colaboração com um grupo de eruditos Cristãos, Judeus e Muçulmanos no intuito de criar uma grande produção literária o que consequentemente levou a uma ascensão da prosa em língua espanhola.

Praticando ao máximo a tolerância religiosa, ordenou a tradução do Corão, do Talmud e da Cabala para o Espanhol, sendo conhecido como “Rei de Três Religiões”.

Carlos Fuentes afirmou em seu discurso introdutório no III Congresso Internacional da Língua Espanhola em Rosário:

 

“Somos o que somos e falamos o que falamos porque os judeus eruditos da corte de Afonso, o Sábio, impuseram o espanhol, a língua do povo, em vez do latim, a língua do clero, para o editorial de história e leis de Castela”.



E Angel Alcalá ("Judeos Conversos na Cultura e Sociedade Espanholas") propôs o paradoxo de que “o espanhol foi praticamente batizado em águas judaicas”.

Enquanto os muçulmanos escreviam em árabe e os cristãos escreviam na língua de culto da época, o latim, os judeus eram proibidos, por seus costumes, de usar a língua sagrada do hebraico para assuntos cotidianos. Assim sendo optaram pelo Espanhol no exercício de comunicarem suas ideias. Como podemos constatar, no início do Espanhol, os judeus foram os primeiros a escrever na nova língua.

 

O Rei Afonso X, o Sábio, estava ocupado reunindo em Toledo todos os estudiosos judeus que haviam sobrevivido às matanças e perseguições. Os rabinos mais ilustres da Espanha Central reunidos em 1249 sob a proteção do rei Afonso, juntamente com os mais notáveis ​​sábios do cristianismo, criaram obras e projetos científicos.”


Américo Castro, em sua obra “A Espanha na sua História” realça:

 

"A única coisa que interessa agora é deixar bem claro que o Espanhol começou a servir como instrumento de alta cultura graças aos judeus que cercaram Afonso X, e dois séculos mais tarde, a situação permanece a mesma, pois são os judeus e não os cristãos que usam a nova língua para comentários sobre as Escrituras, prosa filosófica e estudos astronômicos.”

 

Sem Tob, um judeu de Carrion de las Countes (Palencia), foi o autor do primeiro tomo de poesia em Espanhol, já no século XIV.

Em seus Provérbios Morais, ano de 1365, encontramos estes versos:

 

“Quando a rosa seca, chega a estação,

ainda tem a água perfumada e rosada, que vale mais.”

 

Em um site da delphypages.live sobre a Literatura Espanhola de seu início até os nossos dias, encontramos o parágrafo abaixo sobre Sem Tob ou Santob de Carrión:

 

“Elementos mais exóticos apareceram no Proverbios Morales (c. 1355) de Santob de Carrión de los Condes em uma versão aragonesa da história bíblica de José, que foi baseada no Alcorão e escrita em caracteres árabes. Baseando-se no Velho Testamento, no Talmud e no poeta e filósofo hebreu Ibn Gabirol, o livro de Provérbios de Santob introduziu a grave sentenciosidade e a concisão aforística da poesia hebraica.”

 

Sem Tob inspirou muitos outros poetas da Espanha e alhures.

Bem mais tarde, já no século XVII, o judeu espanhol fugindo da Inquisição Daniel Levy de Barrios, ou Miguel de Barrios de Amsterdã, segue o exemplo de Sem Tob colocando em versos a distinta geografia da América:

 

Em duas grandes penínsulas nos separamos

Até se juntar ao estranho Istmo:

O australiano é chamado de peruano

E o do norte é mexicano."

 

Este é apenas um dos muitos poetas e escritores sefarditas que continuaram a escrever em Espanhol fora da Espanha. Os escritores judeus de Amsterdã competiram com seus irmãos de Espanha durante o Século de Ouro.

Entre os poetas estabelecidos na cidade de Amsterdã estavam David Cohen de Lara, Miguel de Silveira, Uriel da Costa e os poetas Isabel de Correa e Miguel de Barrios, autor de “Flor de Apolo, Coro de Las Musas” entre outras obras.



Miguel de Barrios, após sua peregrinação por países da Europa e África em busca de segurança e paz, estabeleceu-se em Amsterdã onde produziu seus trabalhos de poeta, escritor e historiador.

O famoso quadro de Rembrandt, “A Noiva Judia” foi um retrato de suas núpcias com Abigail de Pina.


Miguel de Barrios nasceu em Montilla, Córdoba em1635 e faleceu em Amsterdã, 1701.

Fiquei encantada e apaixonada por este assunto sobre a evolução e desenvolvimento da língua espanhola.

Línguas sempre foi um assunto que muito me interessou.

Mas minha indescritível alegria foi descobrir a origem de um de meus quadros favoritos, A Noiva Judia, o qual vim a conhecer em 1974 em um dos inumeráveis museus da Holanda, e do qual guardo uma cópia até hoje.

E a história não para por aqui.

Foi grande a contribuição dos sefarditas já convertidos ao catolicismo à Literatura Espanhola.

Segundo Américo Castro os trabalhos satíricos foram a eles atribuídos: Juan de Mena, Hernando del Pulgar, Rodrigo de Cota, Anton de Montoro.

Na realidade há muito e muito mais a relatar mas como não temos aqui um tratado, vale a pena concluir com este detalhe: uma vez expulsos da Península Ibérica, os judeus criadores da primeira prensa móvel na África e Ásia se anteciparam dois séculos à primeira prensa na Turquia.

Numa conclusão precipitada pois não tocamos no Espanhol de nossos dias, falado em Israel e em quase todo o mundo ocidental, fica-nos a certeza da relação próxima entre os judeus e o nascimento da língua Espanhola!

 

 

FONTES:

Personalidades Judias de Todos los Tiempos- Raul Voskoboinik – FACE BOOK

https://www.miamiarch.org/CatholicDiocese.php?op=Blog_15695109927410

https://www.larazon.es/cultura/historia/20211031/erfhnyaqgrellmp3peta2o4mgm.html

https://www.dn.pt/mundo/portugal-ao-expulsar-os-judeus-deu-mundos-ao-mundo-e-ficou-a-perder-10211135.html

https://delphipages.live/pt/literatura/literaturas-do-mundo/spanish-literature

 


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