Você sabia
que o Espanhol - a terceira língua mais usada na Internet e falada por 580
milhões de pessoas - recebeu influência do povo Judeu em sua formação,
desenvolvimento e expansão?
Was Spanish born in Jewish waters?
Segundo Mario
Eduardo Cohen, escritor, pesquisador e Professor de História diplomado pela
Universidade de Buenos Aires, não nos é possível estabelecer a hora exata do aparecimento
do Espanhol, ou seja, em que momento foi publicamente reconhecido como uma nova
língua, um idioma diferente do Latim.
Os mais
antigos textos na variação de uma das línguas românicas que mais tarde seria
conhecida como Espanhol datam do século IX, demonstrando que a língua do povo
já não era o Latim popular ou Latinório, isto é, uma língua rude e sem
refinamento.
Um grande
avanço no estudo da língua foi a Escola de Tradutores de Toledo no século XIII
e a interferência positiva e incentivadora do rei Afonso X, o Sábio.
Afonso X
(1221 Toledo – 1284 Sevilla) com colaboradores em seu escritório real. |
Ele criou
políticas em benefício da economia e estabeleceu feriados para a população, mas
sua maior e mais perene contribuição foi a incansável atuação no “royal
scriptorium” por ele criado junto a especialistas encarregados de traduzir e
editar textos sob sua supervisão. Os resultados foram trabalhos literários,
científicos, históricos e jurídicos.
Afonso X fundou,
supervisionou e muito participou da Escola de Tradutores de Toledo, com seus
próprios textos em colaboração com um grupo de eruditos Cristãos, Judeus e
Muçulmanos no intuito de criar uma grande produção literária o que
consequentemente levou a uma ascensão da prosa em língua espanhola.
Praticando ao
máximo a tolerância religiosa, ordenou a tradução do Corão, do Talmud e da
Cabala para o Espanhol, sendo conhecido como “Rei de Três Religiões”.
Carlos
Fuentes afirmou em seu discurso introdutório no III Congresso Internacional da
Língua Espanhola em Rosário:
“Somos o
que somos e falamos o que falamos porque os judeus eruditos da corte de Afonso,
o Sábio, impuseram o espanhol, a língua do povo, em vez do latim, a língua do
clero, para o editorial de história e leis de Castela”.
E Angel
Alcalá ("Judeos Conversos na Cultura e Sociedade Espanholas") propôs
o paradoxo de que “o espanhol foi praticamente batizado em águas judaicas”.
Enquanto os
muçulmanos escreviam em árabe e os cristãos escreviam na língua de culto da
época, o latim, os judeus eram proibidos, por seus costumes, de usar a língua
sagrada do hebraico para assuntos cotidianos. Assim sendo optaram pelo Espanhol
no exercício de comunicarem suas ideias. Como podemos constatar, no início do Espanhol,
os judeus foram os primeiros a escrever na nova língua.
“O Rei
Afonso X, o Sábio, estava ocupado reunindo em Toledo todos os estudiosos judeus
que haviam sobrevivido às matanças e perseguições. Os rabinos mais ilustres da
Espanha Central reunidos em 1249 sob a proteção do rei Afonso, juntamente com
os mais notáveis sábios do cristianismo, criaram obras e
projetos científicos.”
Américo
Castro, em sua obra “A Espanha na sua História” realça:
"A
única coisa que interessa agora é deixar bem claro que o Espanhol começou a
servir como instrumento de alta cultura graças aos judeus que cercaram Afonso X,
e dois séculos mais tarde, a situação permanece a mesma, pois são os judeus e
não os cristãos que usam a nova língua para comentários sobre as Escrituras,
prosa filosófica e estudos astronômicos.”
Sem Tob, um
judeu de Carrion de las Countes (Palencia), foi o autor do primeiro tomo de
poesia em Espanhol, já no século XIV.
Em seus
Provérbios Morais, ano de 1365, encontramos estes versos:
“Quando a
rosa seca, chega a estação,
ainda tem
a água perfumada e rosada, que vale mais.”
Em um site da
delphypages.live sobre a Literatura Espanhola de seu início até os nossos dias,
encontramos o parágrafo abaixo sobre Sem Tob ou Santob de Carrión:
“Elementos
mais exóticos apareceram no Proverbios Morales (c. 1355) de Santob de Carrión
de los Condes em uma versão aragonesa da história bíblica de José, que foi
baseada no Alcorão e escrita em caracteres árabes. Baseando-se no Velho
Testamento, no Talmud e no poeta e filósofo hebreu Ibn Gabirol, o livro de
Provérbios de Santob introduziu a grave sentenciosidade e a concisão aforística
da poesia hebraica.”
Sem Tob inspirou
muitos outros poetas da Espanha e alhures.
Bem mais
tarde, já no século XVII, o judeu espanhol fugindo da Inquisição Daniel Levy de
Barrios, ou Miguel de Barrios de Amsterdã, segue o exemplo de Sem Tob colocando
em versos a distinta geografia da América:
“Em duas
grandes penínsulas nos separamos
Até se
juntar ao estranho Istmo:
O
australiano é chamado de peruano
E o do
norte é mexicano."
Este é apenas
um dos muitos poetas e escritores sefarditas que continuaram a escrever em Espanhol
fora da Espanha. Os escritores judeus de Amsterdã competiram com seus irmãos de
Espanha durante o Século de Ouro.
Entre os
poetas estabelecidos na cidade de Amsterdã estavam David Cohen de Lara, Miguel
de Silveira, Uriel da Costa e os poetas Isabel de Correa e Miguel de Barrios,
autor de “Flor de Apolo, Coro de Las Musas” entre outras obras.
Miguel de
Barrios, após sua peregrinação por países da Europa e África em busca de
segurança e paz, estabeleceu-se em Amsterdã onde produziu seus trabalhos de
poeta, escritor e historiador.
O famoso
quadro de Rembrandt, “A Noiva Judia” foi um retrato de suas núpcias com Abigail
de Pina.
Miguel de
Barrios nasceu em Montilla, Córdoba em1635 e faleceu em Amsterdã, 1701.
Fiquei
encantada e apaixonada por este assunto sobre a evolução e desenvolvimento da
língua espanhola.
Línguas
sempre foi um assunto que muito me interessou.
Mas minha
indescritível alegria foi descobrir a origem de um de meus quadros favoritos, A
Noiva Judia, o qual vim a conhecer em 1974 em um dos inumeráveis museus da
Holanda, e do qual guardo uma cópia até hoje.
E a história
não para por aqui.
Foi grande a
contribuição dos sefarditas já convertidos ao catolicismo à Literatura
Espanhola.
Segundo
Américo Castro os trabalhos satíricos foram a eles atribuídos: Juan de Mena,
Hernando del Pulgar, Rodrigo de Cota, Anton de Montoro.
Na realidade
há muito e muito mais a relatar mas como não temos aqui um tratado, vale a pena
concluir com este detalhe: uma vez expulsos da Península Ibérica, os judeus criadores
da primeira prensa móvel na África e Ásia se anteciparam dois séculos à
primeira prensa na Turquia.
Numa
conclusão precipitada pois não tocamos no Espanhol de nossos dias, falado em Israel
e em quase todo o mundo ocidental, fica-nos a certeza da relação próxima entre
os judeus e o nascimento da língua Espanhola!
FONTES:
Personalidades
Judias de Todos los Tiempos- Raul Voskoboinik – FACE BOOK
https://www.miamiarch.org/CatholicDiocese.php?op=Blog_15695109927410
https://www.larazon.es/cultura/historia/20211031/erfhnyaqgrellmp3peta2o4mgm.html
https://delphipages.live/pt/literatura/literaturas-do-mundo/spanish-literature
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