Acontecendo... PONTE - A PASSAGEM QUE UNE O PASSADO AO FUTURO... das ruas de Israel à Festa da Liberdade
Por Regina P. Markus 30/03/2023
Azerbaijão instala sua embaixada em Jerusalém |
Israel em todos os jornais do mundo, Israel andando por vielas complicadas construindo a sua história, Israel se preparando para Pessach - enquanto comemora o Ramadã e aprecia a chegada da Páscoa. Nas últimas semanas acompanhamos a opinião de muitos amigos que enxergaram o AQUI e AGORA como um momento de ruptura dentro do Estado de Israel. MAS... o sonho de existir um Estado Judeu tocou as mentes e houve uma flexibilização de muitos atores de forma a criar uma brecha no tempo. A Histadrut - o sindicato geral de Israel, que foi chave para a criação do Estado - desarticulou a greve geral e outras noticias afloram... esta passagem estreita no tempo pode ser chamada de Páscoa, tradução grega da palavra Pessach! Hoje, conto para vocês as muitas coisas que aconteceram nestes últimos dias confirmando que AM ISRAEL CHAI VE KAIAM.
Há uma semana e por cerca de 4 meses, as bandeiras azuis e brancas dominam todas as paisagens de Israel. Fica evidente a revolta que dominou grande número de israelenses. Participando de algumas marchas, via celular, era evidente que a cor predominante em pequenas cidades ao norte de Tel Aviv e em Jerusalém era o Azul e Branco. O arco íris e bandeiras vermelhas eram vistos nos jornais e revistas que chamavam atenção para a pluralidade dos eventos. Juntando as duas informações fica patente que houve adesão de importante parte da população e que a ideia que O Povo de Israel é um Povo entre as Nações vale também para classificar internamente os judeus. Ser um entre muitos significa MANTER A IDENTIDADE.
E esta atitude frente à vida é exaltada a plenos pulmões.
Claro que os antissemitas sempre de plantão, e que usam a famosa linguagem de efeito desde a antiguidade, alteraram o conceito de povo entre os povos para criar o termo mais curto... "povo eleito". Mais ainda, os que fizeram o cisma no século I diziam que os judeus se autodenominavam "povo eleito". Esta é uma fake news que singra por milênios. Ser único e diferente de todos não é ser melhor ou pior, é admitir a diversidade! Saber que a verdade única é uma falácia e que esta pode ser atingida por milhares de rotas.
Esta semana vem confirmar a veracidade destas afirmações. Ações e reações do governo e da população levaram à proposição de uma greve geral! A suspensão da votação das reformas, vontade declarada da oposição e alguns membros do governo de abrir um debate, permitiu que a Hitadrut suspendesse o chamamento de greve e o país entrasse no clima do Ramadã, Pessach e Páscoa. A ordem é de acordo com o calendário deste ano! Ramadã já começou e Pessach e Páscoa serão na semana que se inicia. Olhar o copo cheio ou o copo vazio.... uma expressão muito usada, mas muitos esquecem que o foco é olhar o copo! Ter acesso aos fatos.
Na semana que hoje se encerra são muitos os fatos de alta relevância e que não chegaram à mídia.
1 - A FIFA retira a competição SUB-20 de futebol da Indonésia. Este país se recusa a receber atletas israelenses em seu território. Antes que muitos iniciem falas sobre grupos que têm como lema a retirada do Estado Judeu do mapa, vamos lembrar que na Knesset, parlamento de Israel, há deputados árabes, judeus, cristãos e ateus. Lembramos que desde os tempos bíblicos houve a separação entre estado e igreja. Entre a condução política do povo e a condução religiosa. Desde os tempos de Arão e Moshé e os tempos dos juízes e reis, a função de sumo-sacerdote era completamente separada da função de líder político. Assim, é muito bem vinda a decisão da FIFA!
2 - Um trabalho conjunto das forças de segurança de Israel, incluindo o Mossad e as forças de segurança da Grécia, desbaratou um projeto de aterrorizar turistas israelenses na Grécia. Esta é uma época em que israelenses viajam e aproveitam as férias de Pessach. A Grécia é um destino muito apreciado e a troca de turistas é muito bem vinda. O grupo terrorista desmascarado tinha o objetivo de assassinar cidadãos israelenses em férias na Grécia.
3 - AZERBAIJÃO, capital BAKU. Este país, que fica entre o Mar Cáspio e as montanhas do Cáucaso, faz fronteira com a Rússia e Geórgia, Armênia, Turquia e Irã, mantém relações diplomáticas com Israel desde 6 de abril de 1992 e instalou sua embaixada em Jerusalém no dia 29 de maço de 2023. Reconheceu Jerusalém, a cidade sede do governo de Israel, localiza o Parlamento e o Governo como Capital. E assim, das terras do oriente vem novamente a dupla visão. Os que renegam a existência dos judeus e aqueles que reconhecem que são um Povo Entre os Povos. Ter oportunidade de acompanhar todos estes acontecimentos em uma mesma semana mostra o quanto vivemos em tempos agitados e de muitas opiniões.
A Academia há séculos aprecia os fatos à luz do que pensam os ilustres. Muito comum ver textos relevantes baseados em citações de forma a validar a opinião do articulista, escritor e cientistas. Com isso, as idéias ganham um movimento circular de auto-alimentação, e ideias novas ou mesmo antigas que não ganharam holofotes são esquecidas ou mesmo desacreditadas. Há uma passagem estreita entre o novo e o mais do mesmo. Judaísmo há muito usa esta passagem estreita, a passagem do debate de idéias e não de mentores ou sábios.
Assim chegamos em uma PASSAGEM estreita que permite vislumbrar um caminho que transforma heranças em legados e atravessa gerações. Chegamos à semana de PESSACH, quando sentamos à mesa em família e em comunidade para contar a história do início do povo judeu. Um jantar com muitos rituais. Nenhum deles sagrados ou insubstituíveis. Apenas compare as tradições ashkenazis, sefaradis, mizrachi, etíopes e muitas outras. Ainda no mundo ashkenazi podemos comparar as comidas, ditas tradicionais. Há variação para tudo. O famoso "guefilte fish", que é comido gelado em algumas regiões, é degustado quente em outras. Apenas lendo a frase anterior é possível imaginar que a região de onde vem a família de quem está escrevendo tem o hábito de comer quente!
Pessach, a passagem é estreita, o anjo da morte é orientado a pular as residências dos judeus, a comida que falta é complementada pelo maná que cai dos céus. As pessoas cometem muitos erros e são punidas ou perdoadas, na dependência da porção que estamos lendo... quantas controvérsias, quantas variações. É este espírito o maior legado de Pessach e da Torah, que conta de forma exemplar a PASSAGEM da escravidão à liberdade.
Esta PASSAGEM, por mais estreita e conturbada que tenha sido, perdurou por milênios e continuamos a sentar à mesa de Pessach e contar a HAGADÁ. Será que são os hábitos e costumes que mantêm nossa tradição por milênios? Vou me atrever a emitir minha opinião, sem usar as muletas dos que me precederam. Considero que a grande variedade de judeus e as controvérsias que existem entre grupos e pessoas estão na base de nossos alicerces. A amálgama que une todas estas diferenças é o Talmud. Mais do que os textos (que são importantíssimos), a forma como é construído. Textos de leis e textos de discussão e elaboração de opiniões controversas. A diversidade desde as diferença entre as Casas de Shamai e Hillel (século -I a I) até opiniões de rabinos da Babilônia, Jerusalém e Europa, estão registradas. A cada século as conclusões podem mudar, mas devem ser acompanhadas. O grande legado é o método de discussão. Tão parecido com o método científico, que é baseado em hipóteses e não em conclusões. Os avanços são decorrentes da forma de perguntar. Portanto, PERGUNTAR, DUVIDAR, PESQUISAR é preciso.
Pessach nos ensina que todos os filhos são importantes. Mas temos que ter a sensibilidade de conversar com cada um em sua linguagem. E a Hagadá nos ensina que o protagonista que conhecemos nem sempre é o dono de toda a verdade. Tanto que Moshé não é citado nominalmente.
ACONTECE... Pessach acontece a cada ano, a cada geração! E como é bom sentar à mesa e lembrar o passado. Mesmo aquele que não vivemos, mas apenas ouvimos falar!
CHAG SAMEACH!
Regina P. Markus