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quinta-feira, 9 de março de 2023

Acontece - Crescemos, nos multiplicamos, nos diversificamos

Por Juliana Rehfeld




Lemos esta semana na parashá Ki Tissá - que se eleve (ou alce voo?) - que Deus pede a Moisés que faça um censo, conte os cidadãos e o estabeleça a contribuição de cada em meio shekel - uma contribuição igual para todos (bem, todos os contáveis). Evidentemente não se consideravam as mulheres, os menores de 20 ou os maiores de 60 anos de idade. E eram cerca de 600 mil cidadãos, na longa e intensa caminhada dos hebreus pelo deserto em direção à Terra Prometida. Nesse período Deus e Moisés produziram 2 conjuntos de leis para reger a convivência do povo na era do templo, de modos diferentes, em momentos diferentes - o primeiro vem pronto nas mãos de Moisés, que então se depara com um produto do povo que longamente o aguardara e acabou criando um ídolo para lhes dar segurança e conforto, um bezerro dourado. Vendo este pecado (idolatria já havia muito era condenada), Moisés quebra as tábuas e sobe novamente para encontrar Deus e pedir que não destrua a todos pelo erro, que não mate aqueles que com tanto esforço foram salvos do Egito. As leis seriam reescritas, com colaboração de Moisés e seriam adotadas, valorizadas, guardadas. A essas leis os cidadãos se ergueriam como cidadãos. 

E só então em Vayak'hel, com o conteúdo definido, seguiram as instruções para a embalagem; a construção do tabernáculo que as abrigaria, as preservaria.

Muito tempo se passou, lemos, estudamos e debatemos continuamente essas porções da Torá enquanto fomos nos multiplicando e nos reconhecendo como diferentes entre nós. E fizemos isso junto às mais diversas culturas e nas mais diversas geografias, enquanto dispersos pós destruição dos Templos. 

Somos hoje, de acordo com o último censo, mais de 15 milhões de judeus em mais de 50 países (jewishvirtualibrary.com).

E a grande redistribuição, ou melhor dizendo, "re- concentração", se deu a partir da criação do Estado de Israel em 1948, onde a população passou de 800 mil a 7 milhões hoje. E nesse Estado cresceram com os judeus várias outras culturas, num total israelense de mais de 9 milhões, e se diversificaram como nós: são cerca de 2 milhões de árabes. 

São 4,6 milhões de mulheres - pouco mais da metade dos cidadãos; cerca de 12% dos cidadãos são homossexuais, basicamente concentrados em Tel Aviv.

45% dos judeus de Israel se autodeclaram “seculares”, 10% haredi (ultra-orthodoxos); 33% masorti ('tradicionais'); e 12% dati ('religiosos' ou 'ortodoxos'). 

Entre os árabes israelenses, 83% são muçulmanos, 8% druzos e 8% cristãos. (respectivamente cerca de 19%, 2% e 2% da população total). 3% da população se declara sem religião.   

A humanidade desde os tempos da Torá vem aprimorando a duras penas sistemas robustos de leis e suas várias instâncias, mas não são muitos os Estados em que estes sistemas se mantêm consistentes e são reconhecidos e respeitados mundialmente. Israel é um deles. 



Desde 1948 muitas leis seculares também se multiplicaram em Israel para gerir a convivência da multiplicidade de perfis que vimos. No momento vem sendo aprovada, em etapas mais rápidas do que a rotina, uma reforma judicial que “pretende simplificar os procedimentos”.  Boa parte da imprensa e centenas de milhares de manifestantes pedem para que a reforma seja melhor discutida. As alegações da oposição, na imprensa e nas ruas, são de que se estão retirando poderes da Suprema Corte (a qual hoje tem grande representatividade dos perfis) e reduzindo instâncias de julgamento. Entre os manifestantes já aparecem membros do partido do primeiro-ministro, o Likud, altos oficiais do Exército.

As mulheres, homenageadas esta semana no mundo todo, representam mais da metade da população israelense e cerca de 30% da Knesset, vêm participando firmemente nas decisões, e atualmente do debate sobre o judiciário. 

Esta semana, em homenagem às conquistas da mulher na história mas preocupado com as grandes restrições ainda enfrentadas em vários lugares, o ministério de assuntos exteriores fez uma moção de apoio às mulheres do Irã.

As tábuas das leis precisam continuar a ser escritas a muitas e diversas mãos, debatidas por muitas e diversas bocas, respeitadas e cumpridas por todos os cidadãos por mais diversos que sejam. Espero que os esforços para que sejam respeitados os desejos das minorias tenham o resultado positivo junto à maioria. Este é o delicado mas indispensável equilíbrio que a democracia significa.

Shabat Shalom!

Juliana

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