Acontece! Acontecimentos nos cercam, nos envolvem, nos inebriam às vezes.
Algo louvável Aconteceu esta semana em Recife: mais uma celebração do tradicional Festival da Cultura Judaica, evento realizado anualmente na cidade que recebeu a primeira sinagoga das Américas, a venerável Kahal Zur Israel - Rocha de Israel - no século XVII, durante o Domínio Holandês.
Esta festa tão esperada por todos estava planejada para o final de outubro/novembro de 2023, porém após o violento massacre de 7 de outubro uma grande nuvem de pavor, tristeza, ansiedade e dúvida pairou sombria no ar.
A comunidade em choque chorou, se apoiou, refletiu e aguardou. Assim como todos os judeus do mundo, este povo de Recife sofreu e falou: “Nunca Mais! Nunca Mais é Agora!” E juntando todas as forças possíveis e inimagináveis naquela hora, decidiram lutar e não mais prantear.
Resolveram Acontecer, uma característica e faculdade do Povo Judeu na História da Civilização do Mundo.
Juntos reagiriam novamente, assim como todos anteriormente, a cada investida bárbara e inexplicável de seus vizinhos.
A solidariedade vibrou mais forte do que nunca, reuniram-se, adotaram o movimento Pin for Peace e escolheram nova data para o Festival da Cultura Judaica em Recife.
Voltando aos planos antigos, focaram na essência do Festival sem perder de vista seu propósito original: acolher a todos em seu ambiente, um Cabalat Shabbat santo e envolvente na primeira sinagoga da cidade, hoje também Museu Judaico, oferecer a beleza da música Klezmer através de um jovem conjunto de São Paulo, o Klezmer Três Rios, trazer a presença da cantora Fortuna, uma voz que conquistou o Brasil e os continentes, e também uma apresentação de teatro com a leitura dramática do texto do Dibuk de Shloyme Zanvl Rappoport (1863, Chashniki – 8 de novembro de 1920, Otwock) por Sch. An-Ski, ator russo.
Fortuna e grupo paulista Música Klezmer – Três Rios
Jornal do Commercio Cultura
Recife, 25 de fevereiro de 2024
EXPOSIÇÃO
Sinagoga Kahal Zur Israel celebra Shabbat e abre exposição inédita
Cerimônia marcou a abertura oficial da exposição que resgata a história dos 23 judeus que saíram do Recife para colonizar Nova Iorque
A abertura da cerimônia foi ciceroneada pela presidente da Federação Israelita de Pernambuco, Sônia Sette, que saudou a todos presentes e destacou a importância do evento para celebrar a comunhão com muitos momentos de reflexão sobre o que propiciou a existência da Sinagoga Kahal Zur Israel e resgatar toda a história de luta dos 23 judeus que fugiram do Recife rumo a Nova Amsterdã.
Abandonar suas casas tem sido uma constante na vida dos judeus.
A celebração do Shabat foi feita pelo Rabino Dario Bialer e contou com a participação da cantora e compositora brasileira de origem judaica Fortuna e do Klezmer 3 Rios, grupo paulista de música judaica que busca dialogar contemporaneamente a errante sonoridade Klezmer do leste europeu com elementos musicais da diáspora brasileira.
Sempre Acontecendo, o teatro judaico entrou em cena nesta movimentação da cultura do povo.
Da esquerda para a direita, Silvio Band no papel principal, Ayala, a avó de Lea e Lea, a noivinha sofredora, interpretada por Roseane Taschlitsky e a coordenadora do grupo de dança “Le Dor Va Dor”.
Considerado o Romeu e Julieta judaico, o texto O Dybuk ganhou leitura dramática no sábado no Teatro Apolo seis décadas depois de ter feito história em São Paulo, com a encenação do Teatro de Arte Israelita Brasileiro.
Um dos nomes presentes na montagem original, Sylvio Band veio ao Recife para reviver esse momento. “Há 60 anos, fui protagonista. Hoje, volto a esse texto como diretor. Quanta emoção”, diz.
Silvio Band em 1963 e em 2023
Algumas décadas depos Silvio revive seu trabalho em São Paulo na Casa do Povo e um ano mais tarde, em 2024, nos enriquece com sua majestosa participação no Dybuk, um cânone da literatura judaica.
Silvio Band, o Rabino
Na leitura, atores como Roseane Tachlitsky, Germano Haiut Ivo Barreto, Ayala Band, José Mário Austregésilo, Albemar Araújo, Renato Phaelante, Samuel Hulak, Ricardo Mourão, Daniela Travassos, Arilson Lopes, Domingos Soares, André Lombardi e Marcos Gandelsman, entre outros, participaram da recriação da obra do russo Sch. An-Ski.
Aconteceu também o lançamento da exposição “Recife – Nova York: Essa História Começou Aqui”, com curadoria de Daniela Levy.
Para nosso grupo paulista foi uma grande bênção participar e conhecer esta comunidade ativa, feita de solidariedade e amor, disposta a continuar a sagrada trajetória do Povo Judeu pelo mundo apesar de nossos inimigos.
Ao tentar assimilar tudo o que Aconteceu neste Festival, tudo o que vi, escutei e aprendi , debrucei-me levemente sobre a Torá tentando entender o trabalho desta vibrante colmeia judaica, uma entre as muitíssimas vivendo nos 4 ou 5 continentes:
Nesta semana temos a parashat Ki Titza, onde lemos que a mitsvá de construir o Mischcan, ou tabernáculo, surgiu após a Revelação do Monte Sinai.
“O ponto focal do Mishcan era a Arca Sagrada, que continha as duas Tábuas. Não faria mais sentido primeiro preparar o local para colocar as Tábuas e então recebê-las? Por que o Mishcan não foi construído primeiro?”
A resposta pode ser que ao colocar a construção do Mishcan após a revelação no Monte Sinai, a Torá está nos lembrando a não perder de vista este propósito. As Tábuas e os Dez Mandamentos nelas gravados são o mais importante: a Arca Sagrada que os contém é secundária. Mais tempo deveria ser gasto aprendendo e honrando a Torá que aprimorando a Arca que a contém. Será a cobertura da chalá ou a chalá nosso maior foco de atenção, a bela sinagoga como santuário ou as preces que lá são ditas? Não devemos jamais deixar de lado nossa prioridade de cumprir as mitsvot de D'us ao máximo de nossas capacidades."
Tentei colocar aqui a Comunidade Recifense com seu objetivo de divulgar a Cultura Judaica num Festival abrangente e acolhedor que a todos receberia. O terror do massacre não lhes permitiu cumprir sua mitzvá no tempo planejado.
O que seria aqui mais importante?
Desistir do evento ou esperar melhores dias ?
O foco era divulgar Judaísmo para a população recifense. O ataque do Hamas inflamou assustadoramente o antissemitismo! Parecia que o mundo havia parado.
Mas o Festival seria a concretização do foco. E a comunidade, tendo o Tikun (construir o mundo) como foco, levou a cabo sua proposta, respeitou seu propósito, realizando o festival em pouco tempo, trabalhando para cumprir as mitsvot de D’us da melhor maneira possível.
Uma imagem Acontece e fala muito...
E o mundo não para de Acontecer.
Itanira Heineberg
FONTES:
https://impresso.diariodepernambuco.com.br/noticia/cadernos/viver/2024/02/giro-22-02.html
https://digital.jc.ne10.uol.com.br/edicao?ed=1853&materia=62138
https://jc.ne10.uol.com.br/cultura/2024/02/23/sinagoga-kahal-zur-sedia-exposicao-inedita-sobre-papel-dos-judeus-na-formacao-de-nova-york.html
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2023/11/o-dybuk-classico-judaico-ganha-leitura-que-celebra-60-anos-de-montagem-historica.shtml
Beleza de texto, Itabnira!
ResponderExcluirSorry. Itanira.
ResponderExcluirObrigada!
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