Vocês repararam
que eu mudei de fonte? Até aqui eu costumava escrever em “Times New Roman”, uma
fonte serifada e que, ao meu sentir, facilita a leitura. Serifa é essa sainha
das letras. Vou dar um exemplo. Esta
fonte é serifada. Esta não é.
É que
eu quero falar de Walter Gropius e da Bauhaus, e para prestar minha homenagem a
eles, resolvi apelar para uma fonte mais direta, objetiva. Nas palavras deles,
mais moderna...
Tinha
acabado de terminar a 1a Guerra Mundial. Eu sempre me incomodo de escrever
guerra com letra maiúscula. Vamos recomeçar?
Tinha
acabado de terminar a 1a guerra mundial. Aquele esgoto a céu aberto, impregnado
de lodo, lama e fedor, ainda escandalizava a Humanidade.
Um grupo de artistas, que anos depois seriam
estigmatizados como degenerados, vinha tentando experimentar novas estratégias
estéticas, devido ao espanto e estranhamento causados pela nascente ordem
mundial influenciada pelas opções tecnológicas que brotavam mais rápido a cada
dia.
Esses artistas, também auto chamados “Modernistas”, se espalhavam por todo o mundo urbano e por todas as modalidades artísticas.
Até aqui, no longínquo e exótico Brasil, suas sementes deram maravilhosas flores
e frutos...
Abril em Weimar é época de flores e perfume. A
primavera dá sabor a toda alegria. Ela explode em felicidade. Foi nesse mês, em
1919, que Gropius fundou a Bauhaus: um dos mais importantes centros de
excelência e difusão do modernismo arquitetônico e do design.
Gropius, logo antes de morrer, 50 anos depois,
ainda se divertia lembrando que eles eram os velhos degenerados... Era um grupo
de artistas que convivia, e, por vezes, mesmo ao longe, se correspondia.
Eles CONVIVIAM!
Por isso mesmo, colaboravam...
Aliás, colaborar é trabalhar junto! Conviver é
andar acompanhado pelos próprios caminhos... Cada um no seu quadrado, mas todos
juntos! Eles eram flecha e eram arco!
O objetivo final era um só: encontrar a Beleza.
Iriam atrás disso, nem que tivessem de eliminar tudo o que não fosse
essencial... Tudo o que fosse acessório, adjetivo, vaidade!
Lembram das serifas? Na busca da alma da letra,
eles cortaram o que não tinha utilidade.
No fim, eles se preocupavam com a Beleza essencial.
Isso não tem nada a ver com a busca pelo bonito, mas sim com enxergar a alma de
tudo! Cortar o que é demais, castrar o
que é só bonito para conseguir enxergar o belo! Era exatamente essa a missão da
Bauhaus...
ENXERGAR!
Eis que as trevas se tornaram tão densas que
qualquer expressão da Beleza era sufocada... As rosas murcharam, as folhas
secaram e um inverno tenebroso se instalou na Europa!
Degenerada é a violência! O preconceito! A
iniquidade!
E lá eles se dissolveram e lançaram seus sons pelo
mundo, que retornaram ecos de musicalidade ímpar...
Todos nós já passamos por alguma feira de ciências
em que aquela experiência de Newton é feita: um círculo colorido gira tão
rápido que parece até branco!
Para respirar, a Bauhaus precisava das cores que
encantam a diversidade! A dissonância é o âmago da criatividade... É a flor que
cresce em fruto saboroso novo. É o alumbramento!
Talvez por isso a maior concentração do patrimônio
arquitetônico da Bauhaus esteja lá, na Cidade Branca... Diversa e colorida...
Perfumada e bela!
Escapando de um mundo de chumbo e névoas, parte da
antiga turma se reuniu buscando o Sol na América... E os raios do diamante
fulgurante inspiraram a construção de uma nova civilização bem no meio do
Planalto Central sul-americano...
Mas isso já é uma outra história...
Ou seria a nossa história?
André Naves
Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos,
Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.
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