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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Iachad (juntos - יחד) - por André Naves: Serifa

 



        Vocês repararam que eu mudei de fonte? Até aqui eu costumava escrever em “Times New Roman”, uma fonte serifada e que, ao meu sentir, facilita a leitura. Serifa é essa sainha das letras. Vou dar um exemplo. Esta fonte é serifada. Esta não é.

        É que eu quero falar de Walter Gropius e da Bauhaus, e para prestar minha homenagem a eles, resolvi apelar para uma fonte mais direta, objetiva. Nas palavras deles, mais moderna...

        Tinha acabado de terminar a 1a Guerra Mundial. Eu sempre me incomodo de escrever guerra com letra maiúscula. Vamos recomeçar?

        Tinha acabado de terminar a 1a guerra mundial. Aquele esgoto a céu aberto, impregnado de lodo, lama e fedor, ainda escandalizava a Humanidade.

Um grupo de artistas, que anos depois seriam estigmatizados como degenerados, vinha tentando experimentar novas estratégias estéticas, devido ao espanto e estranhamento causados pela nascente ordem mundial influenciada pelas opções tecnológicas que brotavam mais rápido a cada dia.

Esses artistas, também auto chamados “Modernistas”, se espalhavam por todo o mundo urbano e por todas as modalidades artísticas. Até aqui, no longínquo e exótico Brasil, suas sementes deram maravilhosas flores e frutos...

Abril em Weimar é época de flores e perfume. A primavera dá sabor a toda alegria. Ela explode em felicidade. Foi nesse mês, em 1919, que Gropius fundou a Bauhaus: um dos mais importantes centros de excelência e difusão do modernismo arquitetônico e do design.

Gropius, logo antes de morrer, 50 anos depois, ainda se divertia lembrando que eles eram os velhos degenerados... Era um grupo de artistas que convivia, e, por vezes, mesmo ao longe, se correspondia.

Eles CONVIVIAM!

Por isso mesmo, colaboravam...

Aliás, colaborar é trabalhar junto! Conviver é andar acompanhado pelos próprios caminhos... Cada um no seu quadrado, mas todos juntos! Eles eram flecha e eram arco!

O objetivo final era um só: encontrar a Beleza. Iriam atrás disso, nem que tivessem de eliminar tudo o que não fosse essencial... Tudo o que fosse acessório, adjetivo, vaidade!

Lembram das serifas? Na busca da alma da letra, eles cortaram o que não tinha utilidade.

No fim, eles se preocupavam com a Beleza essencial. Isso não tem nada a ver com a busca pelo bonito, mas sim com enxergar a alma de tudo!  Cortar o que é demais, castrar o que é só bonito para conseguir enxergar o belo! Era exatamente essa a missão da Bauhaus...

ENXERGAR!

Eis que as trevas se tornaram tão densas que qualquer expressão da Beleza era sufocada... As rosas murcharam, as folhas secaram e um inverno tenebroso se instalou na Europa!

Degenerada é a violência! O preconceito! A iniquidade!

E lá eles se dissolveram e lançaram seus sons pelo mundo, que retornaram ecos de musicalidade ímpar...

Todos nós já passamos por alguma feira de ciências em que aquela experiência de Newton é feita: um círculo colorido gira tão rápido que parece até branco!

Para respirar, a Bauhaus precisava das cores que encantam a diversidade! A dissonância é o âmago da criatividade... É a flor que cresce em fruto saboroso novo. É o alumbramento!

Talvez por isso a maior concentração do patrimônio arquitetônico da Bauhaus esteja lá, na Cidade Branca... Diversa e colorida... Perfumada e bela!

Escapando de um mundo de chumbo e névoas, parte da antiga turma se reuniu buscando o Sol na América... E os raios do diamante fulgurante inspiraram a construção de uma nova civilização bem no meio do Planalto Central sul-americano...

Mas isso já é uma outra história...

Ou seria a nossa história?

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.


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