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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

ACONTECE: Difícil, mas necessário


Por Juliana Rehfeld




A gente aqui, como todos sabem, tem o objetivo de divulgar e analisar informações sobre Israel e o judaísmo que nem sempre são publicadas por aqui na imprensa, ou são muitas vezes distorcidas quando publicadas. A gente brinca que é o que “EshTaNaMidia” e principalmente, o que “NaoEshTá”! 

E então sempre estiveram presentes tanto inovações científicas como, do outro lado, resgates e curiosidades históricas e artísticas sobretudo nos lindos "Você Sabia?" da Itanira, além de análises de notícias e artigos internacionais.

Mas desde 7 de Outubro tem sido difícil não falar no Acontece semanal sobre a tristeza que envolve o dia-a-dia dos israelenses e nossa empatia em relação a isso. É difícil mas necessário.

Ao final de cada Shabat desejamos “Shavua Tov”! - boa semana, esperando que, sem jogo de palavras, vejamos uma luz no fim do túnel que é esta guerra contra o Hamas. E isso não se materializa.

Há três dias, não longe de onde foi resgatado o beduíno Kaid Farhan Elkadi na semana passada, foram encontrados os corpos de seis jovens executados com tiros na cabeça após gravarem mensagem. Seis lindos e sorridentes jovens há um ano, debilitados e assassinados agora. 

É difícil ler e ouvir isso, falar sobre isso, mas necessário. É uma homenagem a quem sofreu isso e um respeito às famílias e amigos que agora sabem que não os abraçarão mais. 

É terrível ler as manchetes internacionais que anunciam a morte deles como se ela tivesse sido de causas naturais… isto se chama distorcer! 

Reuniões para acordo acontecem, mas não progridem. Com estes assassinatos aumentaram ainda mais os protestos nas ruas - segundo o jornalista Henrique Cymerman, 250 mil pessoas só em Tel Aviv, metade da massa que saiu no país inteiro.

E há muitas declarações, em Israel e fora, de que Netanyahu está impedindo um acordo… sim, está, mas só ele? Anexamos um trecho de entrevista do jornalista britânico Douglas Murray sobre isso, nós incluímos a transcrição. 



transcrição em português 

Do minuto 10:20 ao 14:35

… Você não acha que algo precisa acontecer? Isto tem que ser resolvido de alguma forma? E o jeito de fazê-lo, como em todas as situações como esta, você tem que apresentar algum tipo de compromisso e o problema com o Netaniayu é que as pessoas pensam que ele é completamente incapaz de oferecer ao Hamas qualquer tipo de compromisso. Portanto não há acordo. As famílias dos refens que ainda estão lá é mais centenas de milhares de manifestantes em Israel estão agora mesmo nas ruas de Tel Aviv acreditam firmemente que é sua própria intransigente posição nisto que não vai permitir alcançar um cessar-fogo.

Pois é, é de novo a premissa de que é Netanyahu que não apresenta nenhum compromisso. Chegamos nisso novamente porque Netanyahu é um líder democraticamente eleito e acredita-se que pressão pode ser exercida sobre ele… mas na minha opinião não é Netanyahu que não se compromete mas é o Hamas que não apresenta nenhum compromisso: eles poderiam ter devolvido os reféns em outubro passado, eles poderiam não ter feito isso, poderiam ter tentado construir um Estado desde 2005 quando Israel se retirou de Gaza e entregou o lugar para eles, eles poderiam ter usado os bilhões de dólares , libras ou euros que os contribuintes de impostos europeus, britânicos e americanos deram a eles desde 2006, poderiam ter usado estes bilhões para construir Gaza, poderiam ter criado um  paraíso efervescente no Mediterrâneo , poderiam ter gerado riqueza para seu povo, mas você sabe o que fizeram? Eles construíram para baixo ao invés de para cima, fizeram uma rede de túneis mais extensa que o Metrô de Londres, por todos esses anos; eles esconderam o dinheiro da mesma forma que o Yasser Arafat tinha feito antes, e se tornaram ricos. Por que o Ismail Rainie valia bilhões de dólares , por que Kalid Mashal valia bilhões de dólares? Por que seus filhos vivem como príncipes em condomínios de apartamentos em Doha? Porque eles pegaram o dinheiro de americanos , ingleses e europeus, e o pegaram para si próprios e mantiveram a população de Gaza na miséria e pobreza. Desde 2005 há uma situação contrária ao que poderia ter acontecido mas a liderança do Hamas não queria isso, eles mesmos já afirmaram que querem usar crianças palestinas e suas vidas para pressionar o mundo. Eles são fanáticos, eles querem a morte de seus próprios cidadãos de forma a ganhar a opinião mundial contra Israel. De novo, como você negocia com isso? 

Assumimos sempre e hoje aqui no Ocidente , porque somos  “gordos e preguiçosos “ , na nossa expectativa de que a paz é a norma, historicamente é a norma , somos tão cheios dessas nossas premissas e presunções que sempre pensamos que as guerras terminam por algum tipo de compromisso. E vem em torno da mesa, para usar um chavão. Elas não terminam por isso: historicamente a maioria delas termina porque um lado ganhou e o outro perdeu. É uma das razões na minha opinião porque há intermináveis ciclos de guerra nesta região é que os israelenses nunca são autorizado a ganhar e o Hamas, neste caso, é sempre autorizado a empatar. E acho que isso coloca sempre o cenário para o próximo conflito . Se o Hamas sair disso agora com capacidade de combater então haverá um nova rodada desta guerra daqui a alguns anos. Então, quando David Lamy e outros, dizem o que precisamos chegar a um acordo de paz eu pergunto: em que termos? Todos querem a paz, exceto o Hamas e os fanáticos, todos os outros querem paz, todas as pessoas no Sul, os kibutznikim e os participantes do festival, e outros que foram assassinados em 7 de outubro, todos sonhavam com a paz com seus vizinhos palestinos e irmãos e irmãs…quem interrompeu esta paz de acontecer ? O Hamas, desde 2005 e agora novamente…


E a sempre incrível conexão que se consegue fazer do mundo hoje com a Parashá da semana: Shofetim (Juízes). Antes de 7 de outubro de 2023, houve 10 meses de protesto nas ruas contra a chamada “reforma judicial” que tentou reduzir o poder do Supremo Tribunal israelense. Tentou deixá-lo nas mãos do parlamento, a Knesset. Não conseguiu. Na Parashá que leremos neste Shabat é instituída uma “constituição“, a governança da Terra prometida, o Grande Sanhedrin (do termo grego original Sinédrio, conselho) supervisor dos conselhos municipais. Com funções políticas e religiosas, dirigido por uma dupla (vejam a atualidade da governança executivo e conselho!) e composto por 71 anciãos, a nova instituição passaria a ter a última palavra, acima de qualquer erudito que antes ditava regras…

Deus diz “não julgarás de maneira injusta (“unfair”), não julgarás com parcialidade, não aceitarás suborno porque suborno cega os olhos dos que discernem, e perturba o pleito do justo”, e ainda o famoso “Tsedek, tsedek tirdof….” “justiça, justiça você perseguirá, para prosperar e ocupar a terra que seu Deus está lhe dando”. Este é o maior valor judaico, e, seja com enorme pesar e desespero, com violenta ira ou com profunda devoção, os israelenses se amontoam ruidosamente nas ruas de Israel.

Nesta Parashá ainda é colocada a forma pela qual será decidido quem reina e como, de que forma se relacionar com os povos em volta e, pasmem, quais as regras a seguir em caso de guerra! E é incrivelmente atual esta discussão, é disso que os cidadãos hoje se ocupam diariamente.

Nesta última fala de Moisés ao povo há ainda o atualíssimo recado: “…em caso de batalhas, de ocupação… não destrua as árvores de alimentos (frutíferas), aquelas que ainda darão frutos…” em palavras atuais, e técnicos, preserve a natureza no seu território pelos seus serviços ambientais…

Reinterpretar e rediscutir estes textos é muito complexo, muitas vezes difícil, mas necessário: é esta reflexão continuada que nos aprimora, e a comunidade, e o país e o multidiverso mundo.

Como será o dia seguinte a esta longa e penosa guerra? Que Israel sairá dessa batalha? Como reocupá-la, como preservá-la, como prepará-la para “reprosperar“ e para que sus novas gerações, feridas e doloridas, possam prosperar, num mundo tão difícil? 

Estas são as reflexões que precisamos perseguir, por mais difícil que seja. 

Por hoje, desejo-nos força, e um Shabat Shalom.

Juliana Rehfeld

Um comentário:

  1. VIVIAN HAMERMESZ SCHLESINGER6 de setembro de 2024 às 13:48

    Obrigada pela entrevista com Douglas Murray, ele é brilhante.

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