O Judaísmo e a História do Povo Judeu se confundem ao longo dos milênios: a história do povo está ligada ao cotidiano e às suas realizações, permitindo que se entenda sua trajetória ao longo dos milênios. Já a religião, que muitas vezes é confundida com o próprio povo judeu e outras vezes é colocada completamente à parte, dá uma dimensão mística a essa longa existência.
O início da formação do Povo Judeu que remonta à sua saída do Egito também tem estas duas características - e a festa de Sucot, ou a Festa das Cabanas, revela o quanto estas duas dimensões caminham paralelas, mantendo a dimensão do que é pessoal e do que é eterno; a dimensão do hoje, unindo o ontem ao amanhã. Por uma semana as refeições são feitas em cabanas que têm uma estrutura muito peculiar. São 4 paredes de qualquer material, madeira, pedras, ou mesmo tijolos, mas o teto é feito de folhagem colhida recentemente. Pelos vãos destas folhagens é possível ver o céu.
Como em toda a festa judaica a refeição é ritual - e queijos e laticínios são a base de uma refeição de Sucot. Sete dias! As crianças decoram as paredes e especiarias com significado especial simbolizam esta festa.
Mas hoje vamos focar nas origens e nas transformações que teve ao longo dos anos. Estas transformações que tornam o Judaísmo e o Povo Judeu algo muito antigo e muito moderno, algo capaz de se adaptar e se adiantar ao tempo, e desta forma projetar um futuro, visto que a rigidez e a imobilidade tendem a impedir a sobrevivência.
Remontando aos tempos bíblicos, a festa de Sucot é a memória da construção do MISHKAN (Tabernáculo), do Santuário que foi transportado ao longo do deserto e que servia de morada para a Lei e para a Divindade, e também lembra o que é morar de forma precária. Mantendo a dualidade, a precariedade da morada é compensada pela alegria que caracteriza Sucot e as refeições leves e deliciosas que são feitas fora de casa.
Todos estes eventos são lidos em Êxodo 36:3; No dia 10 de Tishrei, Iom Kipur, D'us perdoou o pecado do Bezerro de Ouro, e Moisés chega com a segunda versão das Tábuas da Lei. No dia seguinte começa a ser construído o Mishkan. O povo trouxe material durante dois dias, também por ordem de Moisés, e no dia 15 de Tishrei, quando inicia a festa de Sucot, está escrito que D'us volta a proteger o Povo Judeu, deixando o episódio do bezerro de ouro no passado.
Na própria Torah encontramos a segunda conotação da Festa de Sucot; A Festa da Colheita. Em Levíticos 23:39 está escrito que "aos quinze dias [...] quando recolherdes os produtos da terra, celebrareis a festa do Eterno por sete dias". Aqui temos a dimensão do aqui e agora. Morar em cabanas é estar nos campos, é realizar o trabalho de recolher da terra os frutos para o ano. O trigo, a cevada e aquilo que a terra der.
A Rabina Fernanda Tomchinsly-Galanterni em sua prédica sobre Sucot em 2017 deixa uma mensagem que eu gostaria de compartilhar com todos vocês: "Existe um elemento essencial que une ambas as situações. Uma de fragilidade explícita como viver no deserto, porém com a comida garantida pelo maná. A outra, de fragilidade implícita, uma vida estabelecida, mas sem garantia de que a plantação dê frutos." O oscilar do pêndulo. Pratos de uma Balança. São dois estados como o dia e a noite - e não dois conceitos excludentes. Não há o certo ou o errado, há a possibilidade de conviver com as diferenças, com a dualidade, com a diversidade.
E é entre os dois mundos e as duas dimensões que podem ser preferenciais para uma ou outra pessoa que o Judaísmo e a História do Povo Judeu, como um todo, flutua ao longo dos tempos, projetando o ontem no amanhã.
Chag-Sameach
Regina P. Markus
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