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quinta-feira, 26 de março de 2020

EDITORIAL: Corona: a palavra e a imagem


Ariel Kotzer 2020



Esta semana, recebemos muitas informações, ordens e contraordens de como agir em tempos de corona. Epidemiologistas estão determinando em tempo real a infectividade do vírus. Muitos consideram que devemos investir de forma importante na busca de fármacos e vacinas para tratar ou prevenir o mal; outros concordam que o isolamento será a forma ideal de evitar o problema da doença.
Neste editorial gostaria de focar na importância da ciência – da ciência de longo prazo, que se faz nos pequenos laboratórios trazendo conhecimento inédito que nunca sabemos quando será aplicado – e também na ciência organizada, que permite uma rápida reação em momentos de crise. Nas políticas de saúde que se aplicam ao momento. 

Um outro ponto que não poderíamos esquecer e que tem sido conversado entre as editoras do EshTá na Mídia é a relação entre Israel e os muçulmanos. Os muçulmanos israelenses – que são cidadãos de Israel - e os que moram nos territórios da Samaria e Judéia. Estes haviam sido expulsos destas terras em 1971, pelo Rei da Jordânia, após o Setembro Negro, e voltaram após a retomada destes territórios por Israel em 1973. Agora estão juntos com judeus e cristãos e os milhares de agnósticos lidando com o mesmo problema, e isto tem revelado importantes contatos humanos que destacamos através de nossos posts.

            Ciência – um vírus é algo entre uma estrutura química complexa e um ser vivo. Não é considerado vivo porque é apenas um envelope de proteínas e gorduras que protege o material genético. O vírus não consegue se multiplicar. Precisa entrar dentro de uma célula e então usa toda a complexa infraestrutura para multiplicar o material genético e este volta a usar a estrutura da célula invadida para formar novos envelopes de proteína e gordura. Após escravizar a célula em seu benefício, os milhões de vírus formados explodem a célula e vão continuar esta rotina.
            Portanto, o vírus precisa criar uma chave que permita abrir a porta. Esta chave, quando ajusta perfeitamente na fechadura, permite uma alta taxa de invasão. As portas para cada tipo de célula em cada tipo de ser vivo são diferentes, por isso existem vírus que infectam bactérias, fungos, plantas ou animais – e dentro de cada um destes reinos existe uma alta especificidade. O material genético do vírus é muito pequeno, e não muito bem controlado. Assim, ocorrem muitos erros nas edições, entendendo por erros que há diferenças importantes entre as gerações e mesmo entre indivíduos da mesma geração.

Assim surgiu o SarsCov2 – o terror do momento!




Ele parece uma coroa de espinhos – e na estrutura destes espinhos existe um sítio de ligação que interage com uma proteína presente em células do epitélio humano. Na realidade há duas modalidades de proteínas, mas eu vou focar em uma – e quero fazer uma viagem com todos os nossos leitores – uma viagem no tempo – e revelar algo sobre a Ciência Brasileira de que cada um de nós deveria se orgulhar.

O vírus entra em nossas células por uma porta chamada “enzima conversara de angiotensina II” (ACEII, na abreviação do inglês) e esta enzima também é conhecida por cininase II. Quanto nome – difícil! Indo direto ao ponto: os primeiros passos para o conhecimento destas moléculas e para o conhecimento de sua estrutura e aplicação em campos tão diversos como dor, hipertensão e agora pandemia do corona vieram da descoberta de uma molécula chamada bradicinina ("brad" de lenta e "cinina" de movimento) na década de 1940 por Maurício Rocha e Silva, e depois pela descoberta que o veneno da jararaca inibe a ACE I e II – por Sérgio Henrique Ferreira. Isso gerou a base para o desenvolvimento de remédios que diminuem a pressão arterial, a dor e agora estão servindo de molde para a entrada deste vírus. A vida se conecta através da química, e a química é a base de um idioma muito especial que conecta todo o nosso planeta. Esta semana, em que todos buscamos soluções, homenageamos brasileiros que já nos deixaram, Professores da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, importantes líderes que abriram com picaretas esta estrada que permite uma reação rápida a um problema tão sério. Ciência no Brasil é algo que também devemos conhecer.

            Convivência – mas não apenas a ciência é capaz de resolver esta situação criada pela natureza. Necessitamos de seres humanos que tenham a grandeza de poder trabalhar em conjunto, além das fronteiras e além do aqui e agora. Que possam usar este momento para pavimentar um futuro de paz e de respeito, onde a cada indivíduo seja dado o direito de SER e de TER. Nada mais emblemático que a foto enviada por Juliana Rehfeld, em suas buscas internéticas.




Um judeu e um muçulmano trabalhando juntos para salvar vidas. Orações que ocorrem à mesma hora. O judeu se volta a Jerusalém, e o mulçumano a Meca. O que devemos destacar: o fato de estarem rezando ao mesmo tempo e no mesmo lugar ou o fato de considerarem o lugar sagrado para onde devem ser dirigir diferentes? No Judaísmo, lugar (makom) é um dos atributos de D’us e Zman (tempo) é um atributo do homem. Esta imagem mostra que os homens estão rezando ao mesmo tempo, cumprindo um atributo humano e que consideram sagrados locais diferentes, deixando evidente que são muitas as moradas de D’us e que, independente da crença de cada um, salvar vidas é a mais importante missão e que ultrapassa qualquer diferença.


Este é um momento de grande colaboração. Cada vez mais, os contatos pessoais falam mais alto que lideranças que buscam a separação.

Até a semana que vem.
Regina P. Markus

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